Um domingo feliz

Edson Silva

Diferente do meu tempo de infância, quando aprendíamos na escola características das quatro estações do ano e, geralmente, elas ocorriam religiosamente, hoje não é fácil saber se estamos na Primavera, Verão, Outono ou Inverno. Antes, na primeira vinham flores; a segunda era do sol e muito calor; no Outono vinham frutos e o vento; enfim no Inverno eram folhas caindo e contraditoriamente deixando nuas as árvores que imóveis teriam de enfrentar o frio. Hoje, parece que tem dias que as quatro estações ocorrem simultaneamente.

Um domingo desses, ao sair pela manhã tive a certeza de tratar-se de um dia de Verão. O sol ia alto, embora não fosse tão tarde. Na praça que abraça quase todo o bairro parece que tomaram o cuidado de aparar toda grama e o que se podia ver era muita vida banhada pelo astro-rei. Pais e avós ensinavam crianças a empinarem pipas multicoloridas, certamente nenhuma delas com o perigoso cerol naquele momento.

E os pequenos, alguns de peitos nus, outros com diversificadas camisas de seus times de futebol preferidos, corriam de um lado para o outro, com demonstração clara de contentamento ao verem as pipas desenharem malabarismos no céu mais que azul. Alguns adultos passeavam com cães, os bichos de aparência ferozes traziam focinheiras, além de estarem presos em coleiras sustentadas por fortes correias ou correntes. Mais livres, os menores podiam até tirar onda com os maiores, sem correrem perigos, enquanto alguns donos até arriscam paqueras na praça.

Na calçada, em bandos, casais ou individualmente, idosos fazem salutar caminhada, sem se esquecerem no chapéu ou boné, do protetor solar e da inseparável garrafinha de água. O ritmo é forçado, mas nada de correr até o sem fim de onde o sol despertou para fazer sua longa jornada até puxar mais uma noite. Algumas meninas arriscam correr e lógico que a intenção é perder eternos dois quilinhos a mais que as perseguem de maneira crônica. Fico pensando como elas são exigentes, dois quilinhos a mais onde?

Religiosos visitam casas e falam com as pessoas sobre as mensagens de Cristo. Mas, de observador passo meio à que atleta, pois lembro que a padaria preferida fechará em minutos e não comprei uma companhia perfeita para aquele dia de sol: a cerveja geladinha, quem sabe até um sorvete de frutas? Minha corrida forçada traz comentários, tal como: "O Tiozinho está em forma...", mas nem fico chateado, até esboço sorriso, afinal nada pode atrapalhar mais aquele dia feliz.

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

edsonsilvajornalista@yahoo.com.br