Um Brasil e várias Áfricas

Por jocimar vieira dos santos | 17/08/2016 | História

Este texto tem como objetivo, discutir e analisar as ideias de dois autores que trata  sobre a cultura afro-brasileira, mais propriamente em rituais trazidos da África pelos escravos, ganhando assim um novo significado com os santos católicos, o Congado.

Logo, nossa atenção sera voltada para visões consonantes de Edimilson de Almeida Pereira e Leda Maria Martins, ambos doutores, sendo o primeiro doutor em cultura e comunicação pela UFRJ e o outro doutora em literatura comparada pela UFMG.

Pois, ao aludir sobre as populações afro-brasileiras e suas contingências históricas do tráfico na readaptação no Brasil e da formulação de uma nova identidade no continente americano se desenhou através da oralidade, partindo daí as informações sobre africanos e seus descendentes no Brasil, assim elucidando o entendimento dos autores.

O Congado pode ser caracterizado, em linhas gerais, como um sistema religioso sincrético,”que acolheu no contexto brasileiro colonial e pós-colonial representações simbólicas de grupos bantos e do catolicismo europeu” (Pereira 2010,p.87), assim fazendo parte dos festejos em homenagem a santos protetores das comunidades negras no Brasil, os congados demonstram o poder dos chefes do Congo, de Matambo e de Angola nos séculos XVII e XVIII.

Então, para entender o congado no Brasil precisamos olhar a sua história, pois, em 1624, o governador de Angola, Fernão de Sousa escreveu uma carta ao rei de Portugal, referindo-se às estreitas relações entre os chefes do Congo e os holandeses, com que comerciavam apesar das recomendações contrárias dos portugueses, que se julgaram seus senhores.

Ameaçado de ser atacado pelo exercito de João Corrêa de sousa, o antigo governador português, o minicongo, ou rei do Congo, Garcia I, tratou de informar aos holandeses, através de carta, o pedido de ajuda militar. Por conseguinte, ao saber da chegada de uma armada na costa, o mani de Bamba. “indicado na carta como sendo a segunda pessoa do reino do Congo, festejara muito e sangara, que é festejar esgrimindo com espadas nuas”(Souza e Mello 2012,p.23).

Já em 1660, Jinga rainha de Matamba, estado vizinho do Congo e Angola, recebeu por meio dos missionários capuchinhos uma carta do papa Alexandre VII, em resposta ao recado que lhe endereçara anos antes. Um padre descreveu as cerimônias com que se celebrou o recebimento dessa carta. Um cortejo formado por guardas armados, escravos pintados, chefes enfeitados, músicos, damas que carregavam arcos, cestos, vasos e um estandarte, acompanhou a rainha à igreja, onde foi celebrada uma missa.

Já, no contexto histórico afro-brasileiro, essas danças que simulavam batalhas e embates chegaram ao Brasil pelas mãos dos africanos escravizados, assim, inventaram novas formas de convívio social e de exercício de religiosidade no centro  do sistema escravista.

Em vista disto, Edimilson de Almeida expõe três perspectiva sócio-cultural, sendo a: 1° social, “o Congado constitui uma experiência de comunidades menos favorecidas, situadas em áreas rurais e periféricas dos centros urbanos” (Pereira 2010,p.87).

2° étnico, “é formado por negros, mulatos e brancos”.

3° religioso, “articula-se  a partir de matrizes identificadas através das metáforas da ingoma (que designa a presença de Zambi e Calunga, divindades Bantos, e o culto aos antepassados, reconhecidos como antigos papai, mamãe, vovô, vovó, nego veio de Angola) e do Rosário( significa a apropriação e a reelaboração de elementos do catolicismo através da devoção a Nossa senhora do Rosário e aos santos de cor, com são Benedito e santa Efigênia)”(Pereira 2010,p.88).

Então o auto religioso do Congado se apoia essencialmente sobre três princípios: a coroação do Reis e Rainhas, os cortejos e as embaixadas, e as danças rituais.

Agora, partindo para visão de Lede Martins em valores estéticos e filosóficos sobre os Congados(Reinados), ela descreve em traços históricos sobre os apagamentos incompletos decorrentes das diásporas, entalharam-se nos adjetivos que, em inúmeros modos,transcritos e comportamentais na presença nas Américas.

“Dentre outras formas de expressão, as performances rituais, em todos os seus elementos constitutivos, oferecem-nos um rico campo de investigação e de conhecimento.”(Martins 2010,p.64).

Consequentemente em sua estrutura, quer nos modos de axioma que caracterizam sua performance, logo o ato representado não alude  ao universo significativo da ação reapresentada, mas constitui, em si mesmo, a própria ação, assim, “não é apenas um modo alternativo de expressão de certas crenças, mas certas coisas só podem ser expressas pelo ritual”(Martins 2010,p.64).

Assim, a autora vai além, dizendo que a cultura afro-brasileira é o lugar das “encruzilhadas”, pois na sua formação pode-se observar variados processos característicos da paisagem cultural brasileira derivado dos cruzamentos de diferentes povos e sistemas alegóricos: africanos, europeus e indígenas.

Logo, na “esfera do rito e, portanto, da performance , a encruzilhada é lugar radial de centramento e descentramento, interseções e desvios, texto de traduções, confluências e alterações, influências e divergências, fusões e rupturas, multiplicidade e convergência, unidade e pluralidade, origem e disseminação”(Martins 2010,p.65).

Portanto, desses processos de cruzamentos transnacionais e multiétnicos, variadas formações genuínas emergem, algumas vestindo novas faces, outras mimetizando, com sutis diferenças, antigos estilos. Isso possibilita a interpretação do trânsito sistêmico e epistêmico que emerge dos processos inter e transculturais, nos quais se confrontam e dialogam, nem sempre amistosamente, registros, concepções  e sistemas simbólicos diferenciados.

Fundindo-se dialeticamente numa relação dinâmica, retrospectiva e prospectiva, as culturas negras, em seu variados modos de asserção nos jogos de linguagem, intertextuais e interculturais. Promovendo assim, um dialogismo que tem sido designado, geralmente por sincretismo, termo que traduz com frequência certa fusão de códigos distintos em manifestações religiosas ou seculares, segundo Martins reduz as possibilidades  de apreensão de outros métodos constitutivos, derivados dos cruzamentos emblemáticos.

Portanto, ao fim dessa análise sintetizo algumas aulas com as informações desses dois autores trassando um paralelo com mais dois autores que abordam o tema, em fontes históricas.

Portanto, ao recorrer ao uso de fontes nas aulas de História pode ser importante por favorecer a introdução do aluno no pensamento histórico, a iniciação aos próprios processos de trabalho de historiador.

Assim, uso como primeiro recurso, a iconografia que vem do grego eiko (imagem) e graphia (escrita), ou seja, literalmente: “escrita da imagem”. Assim, compreende‐se a fonte iconográfica como um gênero documental integrado por imagens fixas, impressas, desenhadas ou fotografadas. Acredita‐se que com ela é possível fazer a leitura de diversos aspectos da realidade.

Desse modo, analiso as ideias do historiador Thiago da Silva Coelho sobre Fontes para Estudos Históricos da educação escolar.

Assim, ele explica que a fotografia em outros tempos não era vista com tanta importância e entusiasmo no campo da pesquisa histórica. Hoje ela está sendo valorizada e reconhecida como um documento importante e que propicia diferentes leituras. Deixando de ser entendida como espelho do real, como a imitação mais perfeita da realidade. Partindo, daí nós vemos a precocidade, pois, é a partir  dos últimos anos, especialmente na década de 1980, a imagem fotográfica vem sendo encarada como fonte de pesquisa e constituindo‐se num campo de investigação, embora ainda limitado, em virtude de bibliografia restrita sobre a interpretação da fotografia. Entretanto, atualmente além das imagens dos livros escolares, presencia-se a proliferação das imagens tecnológicas como recursos didáticos.

Mas, independente da origem da imagem, o problema central que se apresenta para os professores  é o tratamento metodológico que esse acervo iconográfico exige, pois precisa-se ter o cuidado de não ser usado como ilustração para um tema.

“Mas,considerá‐las como fontes históricas de abrangência multidisciplinar, decisivas para seu emprego nas diferentes vertentes de investigação histórica. Imagens fotográficas podem servir como ponto de partida para tentarmos desvendar o passado. Elas nos mostram um fragmento selecionado da aparência das coisas, das pessoas, dos fatos, tal como foram esteticamente congelados num dado momento de sua existência/ocorrência”.(Coelho 2012,p.4911).

Já, Circe Maria Fernades Bittencourt esta em conformidade com essa ideia, pois, percebe-se uma preocupação com métodos de analise dessas linguagens específicas criadas  pela industria cultural.

“Muitos trabalhos iniciais inspiraram-se na linha de pesquisa da Escola de Frankfurt, fundamentando-se no conceito de industria cultural de Theodor Adorno, por intermédio do qual analisavam a produção das imagens no contexto do capitalismo e da criação de mercadorias e formas de consumo manipuladoras e ideológicas.” (Bittencourt 2009,p. 362).

Sendo assim, os historiadores tem buscado ultimamente, diversificar seu objeto de estudo, as imagens abrem a essa busca do novo, fazendo que exista uma empolgação com a novidade.

Sendo, tomada como registro histórico realizado por meio de ícones, de imagens pintadas, desenhadas, impressas ou imaginadas e ainda, esculpidas, modeladas, talhadas, gravadas em material fotográfico e cinematográfico. “São registro com os quais os historiadores e os professores de História devem estabelecer um diálogo contínuo."(coelho 2012,p.446). Ou seja, os métodos de análise  dessas diferentes imagens necessitam estabelecer relações com outras fontes, especialmente com textos escritos. Logo, as imagens não se encerram em si, mas fazem parte de todo um conjunto de praticas sociais de uma comunidade complexa na qual as relações modificam-se diariamente. As imagens não exteriorizam nada, elas não falam, cabe ao professor historiador buscar compreender a obra, levando em deferência o universo no qual foi produzida.

Portanto ao investigarmos esses traços do real que permeiam o mundo das imagens, além de nos preocuparmos com o ponto de vista, é imperioso que se tenha a preocupação com a técnica empregada e com os símbolos que vagam entre o que vemos e entendemos e o que não distinguimos do real e simbólico.

Desta maneira, foi escolhida como fonte de pesquisa, a imagem, que demonstra um conjunto de práticas culturais e simbólicas que nos possibilita o entendimento do que não tá expresso.

Graças ao que, na imagem, é puramente imagem, podemos passar sem palavras e continuarmos a nos entender.