Um Brasil de todos

Por Renato Medeiros de Souza Mendes | 28/10/2016 | Crônicas

Para refletir! 

O Brasil não é só Verde, Anil e Amarelo

O Brasil também é Cor de rosa e Carvão

Patrimônio de António, Anônimo, Nômade

Homem que rompe Adão com facão.

Trecho da música- Seo Zé de Marisa Monte. 


Meu coração é vermelho, hei ! hei !

De vermelho vive o coração, ê, ô ! ê, ô !

Tudo é garantido após a rosa vermelhar.

Tudo é garantido após o sol vermelhecer.

Vermelhou no curral a ideologia do folclore avermelhou.

Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória vermelhou.

Vermelhou no curral a ideologia do folclore avermelhou.

Música de Fafá de Belém - Vermelho


Analisando os trechos apresentados, a cor de rosa, expressada na primeira estrofe, representa a cultura popular do Norte do Brasil, conhecida como “a lenda do boto”, relata os mais antigos, que era usada para justificar a ocorrência de uma gravidez fora do casamento. Ainda nos dias atuais, principalmente na região amazônica, costuma-se dizer que uma criança que é filha do boto, quando não se sabe quem é o pai. E o vermelho da segunda estrofe, representa a cultura do Norte e Nordeste do País através a dança folclórica do bumba meu boi que é um dos traços culturais marcantes na cultura brasileira, principalmente na região Nordeste. A dança surgiu no século XVIII, como uma forma de crítica à situação social dos negros e índios. O bumba meu boi combina elementos de comédia, drama, sátira e tragédia, tentando demonstrar a fragilidade do homem e a força bruta de um boi. Na mesma estrofe a cor carvão, representa o trabalho escravo das crianças nos carvoeiros, das famílias marginalizadas e exploradas pelo trabalho forçado e regado pela miséria e pela falta de oportunidade, fruto de uma histórica desigualdade. Patrimônio de Antônio, Anônimo, Nômade, Homem que rompe Adão com facão, representa a verdadeira figura da grande maioria do povo Brasileiro. Podemos então compreender que o Brasil é de fato um País de todos. Não somente verde e amarelo mas também vermelho, cor de rosa e carvão. A ideia dessa narrativa não é aprisionar o pensamento, ou delimitá-lo a um campo ideológico dominante, ao contrário disso, é mostrar a beleza que emerge do que é diferente, seja: de cor, raça, simbolos. Contudo, a cor que acrescentaria nessa avaliação seria sem dúvida a cor da tolerância,  mas com pitadas provocativas de reflexão sobre "alguns elementos culturais" que podem alimentar inconscientemente a aceitação da desigualdade social, da falta da dignidade humana, embasados por costumes , crenças e tradições que podem beneficiar uns e prejudicar outros, o que favorece uma ideologia dominante estabelecendo elementos de pouca diversificação cultural, e baixa pluralidade. Contudo,  as cores apresentadas, simbolizam um povo diverso e marcado por um processo histórico de colonização que até hoje resiste para garantir privilégios de uns e miséria de outros. Que a diversidade de cores possam representar uma diversidade cultural não marcada pela intolerância, mas pelo respeito as diferenças e as singularidades de cada povo. 

 

                                                                Renato Medeiros de Souza