Um aspecto do antiessencialismo o pragmatismo de Richard Rorty

Por Magno Nascimento junior | 21/06/2011 | Filosofia

O pragmatismo tomado em linhas gerais ? como foi colocado por Richard Rorty ?
pode ser considerado como antiessencialismo, isto é, para os filósofos pragmáticos não há nos objetos uma natureza intrínseca, ou essência, não havendo também uma verdade absoluta. Eles tentam eliminar os dualismos metafísicos herdados da tradição grega: essência e acidente, realidade e aparência. Isso torna possível deixar de lado a idéia da relação entre sujeito-objeto, que a tradição metafísica veio construindo.

Para os pragmáticos não podemos falar em essência, ou numa realidade intrínseca da natureza, pois, o conhecimento está ligado às necessidades sociais do indivíduo, e as descrições feitas sobre a realidade com a pretensão de serem verdadeiras correspondem a suas necessidades sociais. Rorty aborda a metafísica aqui, como sendo a tentativa de libertar-se da sociedade, da convenção e dirigir-se à physis, natureza. Se aceitarmos que as descrições do mundo que vão formar nosso conhecimento são funções de nossas necessidades sociais, temos que concordar que a idéia da physis é apenas mais uma descrição que corresponde a alguma necessidade social. Com isso não podemos afirmar a existência de algo como a physis ou natureza. Deixando de lado a distinção convenção-natureza.

Não podemos nos precipitar e achar que para os pragmáticos as coisas não existem, e que são apenas produtos lingüísticos. É claro que as coisas existem, mas, só o que podemos falar sobre elas são seus aspectos relacionais com outras coisas, com o auxílio é claro da linguagem. É importante compreender o papel da linguagem que serve para o homem como um instrumento no relacionamento com os objetos, para atender suas necessidades sociais.

Um ponto importante no antiessencialismo é eliminar a distinção entre algo que é intrínseco a X (X aqui é um objeto qualquer) e algo que é extrínseco. Para isso o filosofo pragmático usa o argumento de que as descrições das características de X são apenas relacionais ? quando descrevemos, por exemplo, os aspectos de um carro: ele tem quatro rodas, é branco, tem duas portas, foi fabricado em 1980, sua estrutura é de metal, e por ai vai ? nenhuma das características de X esta mais próxima da natureza intrínseca de X do que outra, todas elas são apenas descrições úteis feitas sobre X.

Abandonar a distinção entre intrenseco-extrinseco torna possível abandonar a afirmação da tradição filosófica metafísica de que ter o conhecimento de X é alcançar a natureza intrínseca de X, enquanto utilizar X é estar relacionado com os aspectos extrínsecos de X. Os pragmáticos substituem essa idéia, dizendo que afirmar conhecer X é afirmar ser capaz de utilizar X, e também relacioná-lo com outros objetos. Com isso a idéia de conhecimento numa visão metafísica dualista herdada dos gregos (que já foi exposta a cima) é substituída por uma visão de conhecimento voltada para a descrição dos objetos. Para os pragmáticos não há uma essência a ser conhecida nas coisas, só o que podemos saber delas são as próprias descrições que fazemos delas.

Sem a distinção intrínseco-extrinseco não há mais a distinção realidade e aparência, essa é uma preocupação que não precisamos mais ter. A distinção entre aparência e realidade é substituída pela distinção entre "relativas utilidades das descrições", que para o pragmatismo e mais aceitável. Assim se encerra a discussão entre aquilo que X realmente é, e como ele parece ser para nós, agora podemos falar sobre que descrição de X é mais útil para um determinado propósito. A distinção objetivo-subjetivo também é abandonada e substituída pela "relativa dificuldade em obter consenso". Nas discussões entre os indivíduos não há mais a busca por um aspecto objetivo ou subjetivo em X, há agora a tentativa de se chegar a um consenso sobre X. A busca por uma essência é abandonada, o conhecimento ganha um sentido utilitário, o importante agora é chegar a um consenso sobre as descrições sobre os objetos que são mais ou menos úteis para os propósitos sociais humano.

Na perspectiva pragmatista não é possível chegar a uma verdade absoluta, já que para eles nossas afirmações são apenas descrições, logo, o pragmatismo não pode dizer que está mais correto do que a tradição metafísica, pois, se o fizer estará afirmando estar mais perto da verdade. Ciente disso o pragmatismo se vê e vê a metafísica, ambos como projetos humanos, cada um com suas perspectivas.




RORTY, Richard; MAGRO, Cristina; PEREIRA, Antonio Marcos. Pragmatismo: a filosofia da criação e da mudança. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2000. 190p.