Último Trago
Por Tomaz Almeida | 01/02/2007 | ContosNoite de domingo, um dia frio, um vento arrogante me chateia com seu ruído, quando atravessa as frestas da janela; a chuva cai e sinto-me como se o céu no dia do fim estivesse desabando sob minha cabeça; pego meu sobretudo surrado, a única coisa que tenho para me proteger da chuva; proteção é uma efemeridade nesse caso o certo seria uma tentativa de proteção.
Saio para trabalhar, um turno numa noite como essa me faz pensar quanto tempo ficarei neste cargo de policial. Pego meu cigarro da marca "Angel of the luck" e acendo o mesmo, uma sensação de que a paz é uma efemeridade; sempre faço isso quando estou estressado.
Chego à delegacia e um colega de trabalho põe em minha mesa o caso do dia, na realidade ele não vai com minha cara desde o dia em que pus meus pés aqui, seu nome era Otávio; seu jeito arrogante me faria sentir o mesmo por ele; reciprocidade. O caso do dia me chamou muita atenção, era o de um homem acusado de molestar sexualmente uma jovem com seus dezoito anos de idade, o meliante não era comum, era o prefeito da cidade; aquela mesma história, ele era indiciado, mas seu título de prefeito era mais relevante e seria solto, porém a pobre garota que tivera sofrido a moléstia teria sua vida marcada pela crueldade; a verdadeira face da justiça? Tinha certeza de que o prefeito era o criminoso, meu sangue ferveu mais que a lava do "Etna", quando vi a impunidade ser tão real quanto o sofrimento daquela garota; decidi fazer justiça com as próprias mãos.
Passados alguns dias pensando sobre o caso, tomei uma atitude que mudaria minha vida para sempre; fui á prefeitura. Era noite e o prefeito não deixara a prefeitura por causa da intensa chuva; entrei. Com meu sobretudo molhado respingando gotas dágua sobre aquele chão que mais parecia um espelho, minha alma estava como se não estivesse em meu corpo, o clima gélido que perdurava favorecia á que meu coração fosse mais gelado que a qualquer outro equivalente, entrei na sala do prefeito com violência, ele logo exclamou, mas quando viu minhas feições nada amistosas se conteve a um determinado tempo, mostrei para ele a foto da garota que havia molestado, ele sorriu ironicamente e me disse que nada do eu fizesse iria desfazer o mal feito, dei um soco no miserável, ele exclamou que iria me prender por isso, eu disse que nada iria me acontecer depois do mal feito tão perfeito, o amarrei numa cadeira depois de have-lo espancado no topo da hierarquia citadina; a prefeitura. Acendi meu "Angel of the luck", o miserável me fez seu ultimo pedido; um último trago.
Eu não pude negar esse favor, peguei o cigarro, dei um trago, apaguei meu cigarro, aspirei a fumaça, peguei minha arma e a engatilhei, "clic", um estampido ao longe anunciava a morte de um indigente, fugi do local como um louco desesperado; porém aliviado. A policia chega ao lugar pela manhã, depois de ser chamada por um funcionário da limpeza. Viaturas e mais viaturas, policiais armados até os dentes, como se fossem enfrentar um exército, uma ação inútil, pois o que aconteceu foram horas atrás. O corpo do prefeito foi encontrado assentado numa cadeira no terraço do prédio, em suas mãos havia a foto da garota estuprada por ele, no verso da fotografia estava escrito: "A justiça não é uma efêmeridade". (...)
* To be continued