Turismo e Patrimônio
Por Grace Yamaguti Nifosci | 16/04/2010 | Sociedade16/04/2010
Introdução
Os bens históricos, naturais e culturais são a identidade de um povo e por isso devem ser preservados. Nesse sentido é importante refletir sobre a importância dos museus e de seus acervos, dos órgãos de preservação patrimonial e da conscientização e educação da sociedade referente à valorização e à conservação dos patrimônios.
Museu e Seu Valor à Hitória e à Cultura
O museu é uma instituição que abriga objetos de valor artístico, histórico ou científico, com o objetivo de colecionar, conservar, estudar, interpretare expor para o entretenimento ou educação do público. A palavra museu vem do latino museum, derivado do grego mouseion que significa "templo das musas", sendo que em Alexandria já era usado para designar o local destinado ao estudo das artes e das ciências. A primeira exposição de objetos organizados aconteceu por intermédio do Papa Pio XI e tratava-se de artefatos religiosos. Com o Renascimento, onde a centralização do universo passa a ser o homem, os acervos ganharam mais requinte fazendo com que muitas famílias da alta burguesia doassem coleções particulares para a apreciação. No Brasil, o primeiro museu foi fundado em 1862 em Pernambuco (Museu do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambuco), e muitos outros durante o século XX, tendo como destaque o MASP – Museu de Arte de São Paulo.
O conceito de museu mudou muito nos últimos anos. Antigamente associava-se muito a depósitos de coisas antigas, visitados com o objetivo de estudo, ou a galerias de arte percorridas em um enorme silêncio. Atualmente já estão sendo vistos como ponto de encontro ou centro cultural e de lazer. Muitos museus oferecem salas de leitura, bibliotecas, cafeteria, oficina de atividades práticas, auditório, centro de convenções, laboratórios de conservação e restauro, serviço educativo, e etc. Segundo o Conselho Internacional de Museus, organismo ligado à Unesco, o atual conceito de museu é: "uma instituição permanente, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que investiga, incorpora, inventaria, conserva, interpreta, expõe e divulga testemunhos do homem e da natureza, com o objetivo de aumentar o saber, salvaguardar o patrimônio e valorizar a identidade, e a educação e o deleite".
O público que visita os museus é variado, podendo ser crianças, idosos, estudiosos, apreciadores, e isso é importante, pois engloba toda a sociedade permitindo a educação e integração entre as pessoas. Passa a ser fundamental então projetos educativos amplamente acessíveis que visem facilitar a interação do público com o museu, uma vez que a importância do projeto educativo não recai sobre o acervo, mas sim sobre a maneira como o público o vê. Isso faz com que os projetos educativos possibilitem a interpretação dos acervos e que o público preste mais atenção neles, sem os deixar passar despercebido. Deve também levar em consideração estratégias educacionais para cada tipo de público. Entre as atividades educativas, destacam-se a interpretação das coleções por meio de exposições permanentes, temporárias ou especiais, visitas guiadas, conferências e roteiros, programas de televisão e rádio, projeção de filmes e representações artísticas. Divulgar e informar sobre os acervos são fundamentais, por isso os museus costumam publicar catálogos sobre suas coleções e exposições contendo ilustrações e informações sobre os objetos, sua origem, sua história e a função desempenhada.
Os museus por abrigarem acervos raros e obras originais é necessário que cuidem da segurança e da conservação das peças, por isso a museologia também trabalha nessa dimensão formando profissionais especializados a cuidar dos museus, tanto em preservação como em ação. Em geral os profissionais que trabalham nos museus são museólogos, bibliotecários, arquitetos, iluminadores, restauradores e pesquisadores. E ainda há os funcionários secundários que contribuem para o bom funcionamento dos museus.
Existem vários tipos de acervos e diversas categorias de museus. Entre elas destacam-se os museus de arte expondo quadros, esculturas e outros objetos de arte, os museus de historia natural abrigando plantas, insetos e fósseis, os museus científicos expondo máquinas e experiências mecânicas, os museus históricos guardando objetos que contam a história de uma civilização ou de um local e os museus ao ar-livre que mostram em seu ambiente natural a arte rupestre, a arquitetura de construções, e etc.
Todos os objetos mantidos em coleções e preservados em museus têm o seu motivo de estar expostos, podendo ser o seu valor, a sua autenticidade, a sua beleza, a raridade ou pelo o que representam. Alguns exemplos de temas de exposições são: a obra de um artista, a vida de um personagem histórico, um povo, uma época, uma crença, uma cultura, um movimento artístico, um lugar, uma técnica, entre outros.
Patrimônio Cultural da Humanidade X Destino Turístico
Possuir o título da Unesco dá uma grande destaque para qualquer localidade. Não podemos afirmar com certeza que o título, conseqüentemente, o tornará um destino turístico, mas na maioria dos casos isso ajuda sim. Algumas localidades reconhecidas pela Unesco ou outras que estão em andamento esperam se beneficiar através do título para melhorar o desenvolvimento turístico. Isso porque o fato de possuir o título desperta o interesse das pessoas contribuindo para a divulgação do patrimônio e do local, sendo até uma estratégia de marketing. Sendo assim, tornar-se ainda mais necessários projetos de educação e desenvolvimento sustentável.
A falta de planejamento turístico pode causar inúmeros riscos ao local, ao patrimônio e à comunidade. O crescimento turístico pode ocorrer rapidamente, seja através das intensas propagandas ou pelo surgimento espontâneo de destinos. Sem um devido controle o cotidiano da comunidade pode ser moldado pela chegada dos turistas com seus hábitos e costumes. Assim, com o tempo, características da comunidade podem desaparecer na medida em que os nativos para atender à demanda turística, vão adaptando seu cotidiano às necessidades dos turistas. Além disso, o crescimento do turismo inadequado tem agredido em variados níveis o meio-ambiente, as paisagens naturais e o patrimônio artístico-cultural, sendo uma das razões o mercado capitalista, uma vez que, o turismo siga a mesma lógica.
Quando há planejamento, participação da comunidade e apoio dos órgãos públicos, o desenvolvimento turístico na região pode ser positivo trazendo benefícios para o local. Felizmente nos últimos anos a preocupação com os efeitos negativos do turismo tem ganhado mais ênfase devido às mudanças que estão ocorrendo na natureza. Anteriormente, o enfoque ficava mais concentrado na parte econômica, na obtenção de lucros e no incremento na oferta de empregos. Enfim, planejar significa pensar na sobrevivência do meio-ambiente, da cultura e da comunidade, a fim de que a sua história possa ter continuidade e ser conhecida pelas gerações futuras.
Definição de Patrimônio e os Responsáveis pela Indicação e Fiscalização
Os patrimônios são bens naturais e culturais podendo ser materiais e imateriais que devido seu valor e significado devam ser considerados e reconhecidos pelos povos. Em 1972 a Unesco promoveu um tratado internacional chamado "Convenção Sobre a Proteção e a Preservação Mundial, Cultural e Natural" visandoa identificação, a proteção e a preservação dos patrimônios culturais e naturais do mundo. Os patrimônios são classificados em dois grandes grupos: naturais e culturais.
Os patrimônios naturais são os elementos que pertencem ao meio-ambiente: fauna, flora, rios, formações geológicas, áreas florestais, áreas de habitat de espécies animais e vegetais em extinção e sítios naturais. Todo que é da natureza é preciso respeitar e cuidar, mas os elementos naturais ganham mais destaque no sentido de preservação quando eles têm valor do ponto de vista científico, da conservação ou da beleza natural. Além disso, são recursos que não podem ser recuperados uma vez que foram destruídos.
Já os patrimônios culturais são os bens que possuem características de identidade e que são portadores de valores que podem ser legados às gerações futuras. Os patrimônios culturais podem ser construções (casas, edifícios, castelos, templos, igrejas, praças e locais que possuem valor histórico), pinturas, esculturas, artesanato, fotografia, documentos e acervos museológicos. E os patrimônios imateriais que fazem parte dos patrimônios culturais são as técnicas, os conhecimentos, as expressões, as práticas e os costumes de um povo, podendo ser as crenças, os rituais religiosos, os mitos, a linguagem, o folclore, a literatura, a música, a técnicas de trabalho e até mesmo a culinária. O patrimônio imaterial é transmitido de geração em geração, e é constantemente recriado pelos povos em função de seu ambiente. Sem dúvida é uma grande contribuição para identificação cultural e sua diversidade.
Apesar da importância dos patrimônios para a humanidade, nem sempre as pessoas lhes dão o devido valor, nesse sentido o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN órgão de nível federal atua na fiscalização, proteção, identificação, restauração, preservação e revitalização dos monumentos, sítios e bens móveis, além de ser responsável pelo tombamento de bens culturais no Brasil. Há também os órgãos estaduais como o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico – IEPHA, que tem a função de preservar o acervo cultural através de ações de proteção, fiscalização, conservação e restauração, além de, realizar estudos, pesquisas, cursos, assessoria e editar publicações para auxiliar os municípios que desejam preservar seus patrimônios.
Existem também projetos como o Tamar que atua em favor da conservação e fiscalização do patrimônio natural, como as tartarugas marinhas e as áreas naturais de Fernando de Noronha. E o Monumenta que é um programa do Ministério da Cultura com o apoio financeiro do Banco Internacional de Desenvolvimento – BID e da Unesco para garantir a sustentabilidade dos patrimônios, e tem como principal objetivo preservar as áreas que possuem patrimônio histórico e artístico urbano e estimular ações que possibilitem a conscientização da população sobre a importância da preservação.
Organismos Nacionais e Internacionais na Preservação dos Patrimônios
Os organismos que auxiliam na preservação dos patrimônios são de fundamental importância para a conservação dos mesmos e para a educação e conscientização da sociedade. Preservar os patrimônios melhora a qualidade de vida da comunidade, e consequentemente, reflete em seu bem estar material e espiritual, conserva a memória garantindo sua continuidade, e é nesse sentido que os organismos nacionais e internacionais agem.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco é um órgão internacional que trabalha impulsionada pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural e pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. A Unesco tem por objetivo, segundo a sua Constituição, "contribuir para a paz e a segurança, promovendo a colaboração entre nações através da educação, da ciência e da cultura, a fim de estimular o respeito universal pela justiça, pela obediência à lei e pelos direitos humanos e liberdades fundamentais assegurados aos povos do mundo, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião". No Brasil, as ações da Unesco tem contado com a colaboração dos governos e da sociedade civil, e atualmente são dezessete bens inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade.
Em nível internacional, o Conselho do Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração de Bens Culturais – ICCROM é uma organização intergovernamental que tem por objetivo melhorar a qualidade da conservação e elevar a conscientização dos cidadãos para tornar os patrimônios culturais um benefício para a humanidade.
No Brasil, há o IPHAN como já vimos anteriormente, assim como o Ministério da Cultura que apóia e cria projetos a favor da cultura, possibilitando sua divulgação, seu crescimento através de investimentos e sua conservação através de programas educacionais. Outro órgão é o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental do Município de São Paulo – Conpresp que é responsável pela formação de diretrizes a serem seguidas pela política de preservação e valorização dos bens no município de São Paulo, atuando ainda no tombamento de propriedades públicas e particulares.
Para preservar os patrimônios é necessário conhecê-lo através de pesquisa realizadas pelos órgãos responsáveis em conjunto com a comunidade. O seguinte passo são os programas educacionais para desenvolver o sentimento de valorização dos patrimônios e reflexão sobre as dificuldades de preservá-lo. A atuação do poder público deve ter caráter excepcional, quando faltarem recursos materiais, técnicos ou organizações capazes de assumir ações de preservação.
Conclusão
Como vimos o conceito de museu mudou muito nos últimos anos, deixou de ser visto como local de velharias e passou a ser um ponto de encontro não só de estudo, mas de lazer também. Isso devido às várias opções de entretenimento que os museus estão oferecendo aos seus visitantes. Os museus possuem a capacidade de revelar ao visitante que ele também faz parte do processo histórico e o faz refletir sobre as outras culturas, por isso, trabalhar a interpretação é fundamental. Assim surge a necessidade de programas educacionais e profissionais capacitados que consigam despertar no visitante o interesse de analisar, de interpretar e sentir as emoções e vibrações que os acervos possam transmitir para que a visita ao museu não seja um passeio desinteressante e que logo será esquecido. Afinal, as experiências do público têm papel fundamental para a dinâmica do museu e isso contribuiu para que hoje os museus sejam roteiros turísticos. E é sempre bom procurar saber sobre a história ou origem do museu, pois ele próprio pode ser um atrativo ou patrimônio.
O título de Patrimônio da Humanidade concebido pela Unesco sem dúvida é muito importante para as localidades que precisam de preservação, podendo até aumentar o fluxo turístico. Quando isso acontece tornar-se ainda mais necessários planejamentos que visem a melhoria da infra-estrutura para receber os turistas e o desenvolvimento sustentável para preservar os patrimônios. Além do destaque e divulgação que o título trás, o mesmo faz com que a comunidade valorize, respeite e proteja mais o patrimônio, despertando também o interesse dos governos e de ong´s na busca de sustentabilidade.
O turismo pode trazer muitos impactos negativos quando não há planejamento adequado para a atividade. Esses impactos podem ser o desequilíbrio entre o fluxo turístico e a capacidade de recebê-los, possível perda dos patrimônios materiais e imateriais, conflitos entre turistas e nativos, estereótipos e perda de recursos naturais para dar lugar à infra-estrutura turística.
Para combater esses impactos, desenvolvendo o turismo e beneficiando a comunidade, a cultura, a história e o local, é que existem órgãos nacionais e internacionais como a Unesco e o IPHAM que tem como principal objetivo beneficiar as comunidades através da preservação dos seus bens patrimoniais. Mas a comunidade também é responsável pelos seus bens e valores culturais, pois perde o sentido preservar se a própria comunidade não dá importância. A preservação é uma questão de cidadania.
Referências Bibliográficas
Museus ART Disponível em: www.museus.art.br
História Net Disponível em: www.historianet.com.br
Portfólio André Azevedo da Fonseca Disponível em: http://azevedodafonseca.sites.uol.com.br
Ministério do Cultura Disponível em: www.monumenta.gov.br
Unesco – Brasil Disponível em: http://www.unesco.org/pt/brasilia