Tudo vira bosta
Por Mário Paternostro | 05/03/2011 | CrônicasÉ no supermercado que muitos desconhecidos se conhecem e velhos amigos se reencontram. Em meio a estantes cheias de produtos com datas de validade, alguns amores até nasceram e trocaram telefones. A validade aí é de acordo com quem agüenta mais a rotina.
No supermercado da pra notar a condição financeira de cada um que passeia pelos boxes, o bom gosto pra comer e beber e até quem faz festa com a xepa. Os carrinhos abarrotados de alimentos gordurosos apontam um obeso mórbido e aquela cestinha com frutas e verduras denuncia alguém preocupado com a saúde. Quanto tá o quilo da carne de primeira? Grita um cliente com seu dinheiro contado. Nessa hora também percebe-se o quanto ganha cada cidadão e quantos cálculos faz um pai de família para que seu salário termine o mês.
É no supermercado que dá pra notar a festa da criançada quando passa pela estante de doces e brinquedos e os pais segurando o não, vão retirando do carrinho cada sonho que a meninada quer. Em momentos de contenção de despesa muitos cortam o necessário e se enganam dizendo pra si mesmos que era o supérfluo. Das tripas corações, ou melhor, a feijoada de domingo é o desabafo do trabalhador, que passa pela prateleira de bebidas importadas e vai direto pra a caixa de cerveja em lata e uma boa "meota" pra esquentar.
É no supermercado que apertos de mãos são dados com sorrisos promocionais e afagos a varejo. Tudo dura enquanto não terminam as compras, enquanto aquela velha listinha feita horas antes não é conferida. A vida circula no supermercado, ela pulsa nos corredores e vai se acabar no caixa, onde se colocam as compras, os vícios e os sacrifícios.
Depois de encerrada a etapa da consumação e dos encontros furtivos, alguns pagam com dinheiro e outros com cartões, mas tudo, tudo no outro dia vira bosta.