TUDO É POESIA - PARTE 4
Por GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA | 18/06/2011 | PoesiasO poeta disse um dia:
Se os bichos falassem
O mundo regeneraria.
O leão pensou certa ocasião:
Se os homens pensassem,
Para eles, abriria meu coração.
O poeta disse um dia:
Se o homem não oprimisse o homem
Tudo seria motivo para poesia.
Um pássaro disse:
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Se os meus cantos chegassem
Aos ouvidos dos homens
Talvez, este não me ferisse.
Um peixe disse certa vez:
Se o homem fosse bom
Não existiria rede.
Eles comeriam os vegetais
Que não sentem dor,
Muito menos angustia
Então, eu mando o homem
Pensar em uma coisa importante.
Morrer afogado, é bom?
Também nós peixes
Morremos afogados na rede,
Por falta de oxigênio.
O que um homem faria
Em falta de oxigênio,
Bem no fundo do mar,
Dando a vida por um pouco de ar?
Seria motivo para poesia?
Um homem, em plena rua
Sobe em um banco do jardim
E brada bem alto,
Para quem quiser ouvir:
Eu não acredito em Deus!
Ele não existe!
Neste momento, passa o poeta,
Chama o homem à parte,
E depois de um trato
Leva o homem à sua casa.
Muitos curiosos o acompanham
Para ver do que se trata.
Ao chegar em casa do poeta
Este vira-se para o homem e diz:
Se esta mesa subir
Sem que ninguém a toque,
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Você acreditará em Deus?
E o homem responde: Sim.
Na presença dos curiosos
O poeta grita:
Deus! Se é que tu existes,
Fazei com que nesta mesa
Apareça muita comida,
E que todo o povo tenha comida em suas mesas.
Esperou-se meia hora
E nada aconteceu.
Então o homem disse:
Onde está a força divina
Meu caro poeta, e por que
Deus não ameniza a minha fome?
O fato da mesa não ter subido,
Não foi culpa do poeta.
Foi apenas ironia.
E neste dado momento,
Apareceu outro homem
Que dizia ser espírita
E, compreendendo a ironia do poeta
Disse-lhe:
Se eu pedir a Deus
Que mova esta mesa
Vocês acreditarão nele?
Ao que o homem faminto
Respondeu com voz cavernosa:
Se é que você pode conversar com Deus
Pergunte a ele, porque o imperialismo?
Pergunte a ele, porque o mundo passa fome,
E eu passo fome neste momento?
Se é que ele existe,
Que apareça mantimento,
Para que a negra fome
Não se apodere do povo,
E que o povo não morra de fome.
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Então o espírita disse:
Deus manda o alimento
Para toda a raça humana,
E cada um colhe seu fruto.
Então o poeta perguntou:
E de que serve, para a humanidade,
Uma mesa se mover?
Era apenas motivo para poesia.
Certa vez, o poeta passeava
Por um lindo jardim.
O jardim era público
Mas também particular.
Neste momento, o poeta
Apreciava o canto dos pássaros.
Gostou do canto dos chorões
E começou a assobiar
O canto desse pássaro.
De repente aparece um guarda
E lhe pergunta perturbado:
Que fazes aqui?
E o poeta respondeu:
Aprecio o canto dos chorões.
E o guarda perguntou:
Quem é você?
Sou um poeta
Que aprecio as flores
E o canto dos pássaros.
E o guarda respondeu:
Saia daqui. O jardim é particular.
O poeta assombrou-se.
Jardim particular em praça pública?
Onde já se viu isso?
E o guarda respondeu:
Aqui!
E a quem pertence?
O guarda não soube responder.
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O poeta vai ao cinema
Assistir a um filme americano.
O poeta fica decepcionado.
A única coisa que se vê
Daquele filme tão infame,
São mulheres nuas
Em poses comerciais.
A platéia que é inculta
Se extasia com seus ais.
Então, o poeta pensa:
Poluição sexual!
O filme não tem enredo,
Não tem principio nem fim.
O seu único objetivo
É corromper o povo
E ter sua renda que é garantida,
Pelo capitalismo e subdesenvolvimento.
Se fizerem um filme sadio
Como os filmes do Glauber Rocha,
Que mostra a realidade,
Ninguém vai assistir.
O filme exibido,
O filme americano,
Nada tem de poético.
A mulher nua só é poesia
Quando a temos em carne e osso,
E quando podemos amá-la,
E quando ela fica dengosa.
Aí é que o poeta confirma
Que é motivo para poesia.