Tu sabes quando é verdadeiro

Por Cristiana Pinho Fonseca | 06/09/2015 | Literatura

Tu sabes quando é verdadeiro quando a encontras no meio da multidão e é apenas o sorriso dela que vês; quando olhas para ele e não vês mais nada à tua volta; quando ela te corresponde e esquece de tudo o resto. O tempo pára, a música que ouvias bem alto torna-se música de fundo, as pessoas que estavam perto desaparecem, a conversa flui de uma forma que não achavas possível e os olhares são penetrantes. 

Tu sabes que é verdadeiro quando desistes de sair com os teus amigos para aquela festa onde toda a gente vai depois dali; quando enquanto esperas que ele te venha buscar ao carro da tua amiga sentes uma ansiedade incontrolável e acabas por entrar aos tropeções no carro. O destino é desconhecido mas tu só queres um sítio para sentar e conversar sem teres que tomar conta das horas. A noite vai longa e tu detestas caminhar de salto alto, mas pela primeira vez aquela calçada junto ao rio, que tu conheces há muitos anos, convida-te a caminhar ao lado dele. E descobres umas escadinhas de pedra onde podes admirar a outra margem do rio. E sentam-se a descobrir aquilo que os olhos ainda não tinham visto. Sabes que é verdadeiro, quando resistes ao frio de estar à beira-rio só para teres a companhia dela e o lenço dela em tua volta. 

Tu sabes quando é verdadeiro quando na volta a casa paras o carro numa praia deserta só porque ela quer dançar duas ou três músicas, ali. Ali na calmaria da tal praia deserta com uma capela iluminada ao fundo. E ela dança, fica corada, fica envergonhada... mas está feliz. Só porque és tu que estás com ela. Não sentes o frio e pela primeira vez ela conta-te algumas lembranças de quem já partiu da sua vida. E tu não sabes o que fazer para lhe limpares a mágoa. A única coisa que te ocorre é o beijo, mas ele teima em se acanhar.

Tu sabes que é verdadeiro quando na hora de a deixares em casa decides que vais ficar com ela. Quando na hora da despedida sentes um aperto no peito que logo é transformado num sorriso ao saberes que ele vai ficar e vai partilhar o resto da noite contigo. Sentes-te uma menina outra vez. Tímida ficas na companhia dele e que a noite vos ajude a passar os melhores momentos da vossa história. 

Tu sabes que é verdadeiro quando acordas e a vês despenteada e a achas linda, como quando ela estava na festa no cimo do seu salto alto. Quando ela te diz bom dia a sorrir. Nunca acordas bem disposta mas ao lado dele é impossível estares de outra forma. E o Sol, que sempre te incomodou mal abrias os olhos, de repente é a luz que te mostra o lindo sorriso dele. A tua vontade é parar o tempo. Como quando dançavam na praia. O abraço e o carinho estão tão presentes. O beijo... esse volta a acontecer tal e qual como antes de adormecerem.

Tu sabes que é verdadeiro quando ela te conta aquilo que mais quer manter em segredo. Ela confia em ti. Ela não te quer mentir nem omitir nada da vida dela. E mostra-te que talvez não seja a mulher perfeita para ti. Tu sabes que o teu olhar a está a magoar, mas ela arranja uma forma de tornar o momento novamente perfeito. E tu sabes que não é qualquer mulher que se abre como ela se abriu. Tu sabes que ela teve muita coragem em te contar os seus segredos e assumir que a imperfeição é o seu forte.

Tu sabes que é verdadeiro quando finalmente chega a hora da despedida e o teu coração aperta tanto que te parece que o mundo vai acabar ali. E então fazes aquilo que sabes fazer melhor... dizes-lhe que vais desistir dele. Porque o teu coração não aguenta mais uma tentativa falhada. Porque tens falta de coragem! E o pior... o pior é que o consegues convencer que o melhor para ele é exactamente isso. Sair de perto dele é como se te estivessem a apertar o peito e não consegues respirar direito.

Tu sabes que é verdadeiro quando ela, desesperada, te envia uma mensagem e te pede desesperadamente que não desistas dela. Porque é só isso que ela precisa que tu faças. Que lhe digas que não a vais deixar esconder-se debaixo dos seus medos e que vais lutar para que dê certo. Porque tu sabes que mesmo não sendo a mulher que tu imaginavas para ti, ela é aquela que te fez desistir dos planos daquela festa a que ias com os teus amigos, lembras-te? Ela é aquela que te fez caminhar no frio, que te cobriu com o lenço dela e te abraçou para te aquecer, aquela que dançou contigo na praia deserta e te mostrou um pouco da sua fragilidade. Aquela que te confessou que não era perfeita para ti... Aquela que tu sabes que tem tanta coragem quanto medos...

Volta para ela...

Cristiana Pinho Fonseca