TRISTES TRÓPICOS II... Abuso de psicotrópicos. Justo nos Trópicos?
Por Solineide Maria Oliveira | 26/11/2013 | CrônicasUma matéria veiculada num jornal fez com que relembrasse uma pesquisa em A.D[1]. realizada no quinto semestre de 2009 no Curso de Letras (UESC). Nesta, tive a oportunidade de investigar sobre a solidão.
O objeto de estudo foi o livro de Rilke, Cartas a um jovem poeta. Utilizei teóricos da Linguagem e outros da área de Psicologia. A pesquisa transformou-se um artigo, publicado na Revista Linguasagem (UFSCAR). [2]
A matéria que rememorou minha investigação dizia que, “apesar de serem de uso controlado, os ansiolíticos, ou antidepressivos, os psicotrópicos, estão entre os medicamentos mais consumidos pelos brasileiros” (...).
Para que a pesquisa fosse justamente embasada, investiguei bastante sobre a solidão e sua recepção no ente. Sobretudo, na contemporaneidade. Foi melancólico verificar que o homem não admitiria a solidão como um componente positivo para seu crescimento pessoal.
Averiguou-se, por exemplo, que os indivíduos realizariam uma espécie de fuga da solidão e a qualquer custo: envolvimentos frívolos, doentios e/ou as duas propostas ao mesmo tempo.
Também surgiu outro elemento preocupante: o exagerado uso de antidepressivos para combater “o tão horrível monstro”: a solidão...
Supostamente, os humanos ainda não saberiam lidar com perdas e frustrações - grandes ou ínfimas. E igualmente não teriam habilidade em lidar com ganhos: felicidade, alegria, fortuna. Pior: não conseguiriam enfrentá-los de cara limpa, de peito aberto, com a alma combalida, mas de pé.
Na pesquisa o uso de calmantes e antidepressivos liderava a única saída apontado para o caminho da paz. Muitos nem sequer estavam, de fato, doentes ou algo do tipo, mas por terem acesso a um médico “amigo”, já chegavam a seus consultórios atestando “depressão” e solicitando um psicotrópico[3].
Para a maioria, supostamente, o sentimento da solidão (emoção?), seria malvisto, pois determinaria que aquele que tem alguma afinidade com esta, poderia ser classificado como uma “pessoa esquisitona”.
Para serem inseridas no grupo e mais bem acolhidas, as pessoas que não suportam suas dores, ansiedades, estresses, tem de se entregar ao “abraço quente” de um psicotrópico?
Um amigo, amante da Linguagem e do Discurso, companheiro de curso e de reflexões, chegou a uma possível nova hipótese: “o Brasil seria um país repressivo e repressor”. Afinal, o que explicaria o descomunal uso de antidepressivos, justo num dos trópicos mais charmosos do mundo: o Rio de Janeiro?
Por sermos tão forçados a sorrir e termos a obrigação de esbanjar felicidade o tempo inteiro e 100% – já que estamos nO País do Carnaval, do Futebol e da Caipirinha – o brasileiro se envergonharia em admitir o fracasso, a tristeza, o fim do casamento, do relacionamento, da relação, a falta de um diploma, o desemprego etc. Então, assim “frágil”, assim “cansado”, “envergonhado” e com a OBRIGAÇÃO de ser alegre e feliz, o brasileiro se entregaria cada vez mais ao caliente beijo de um psicotrópico. Mas justo nesses nossos trópicos quentes, onde o clima é agradável e, não raro, o dia pode ser claro e bom?
“Tristes Trópicos II” poderia ser título de outro livro do magnífico STRAUSS, agora discutindo outra questão: a de termos nos transformado em índios tristes e abatidos pela colonização de nossas "tristezas".
Solineide Maria de Oliveira
Poetisa
Escritora
Professora de Produção Textual
Graduação em Letras – UESC
Pós-Graduada em Educação - Formação Docente para atuação em EaD
Referências
CRUTCHFIELD, R. S.; KRECH, D. Elementos de Psicologia. Tradução de Dante Moreira Leite e Miriam L. Moreira Leite (mimeo).
< http://www.youtube.com/watch?v=AA7-jCVmzAM> Acesso em 14/03/2012 - às 21h34min.
[1] Disciplina: Análise do Discurso. <http://sociologyofcommunication.blogspot.com.br/2008/03/o-que-anlise-do-discurso.html>
[2] <http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao13/art_ic_03.pdf>
[3] (Organização Mundial da Saúde - OMS, 1981): são aquelas drogas que "agem no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, apresentando grande Psicotrópicos: propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de auto-administração" (uso não sancionado pela medicina). Em outras palavras, estas drogas levam à dependência.