TREZE ANOS DO 11 DE SETEMBRO E O ESTADO ISLÂMICO (ISIS)
Por Paula Bezerra de Jesus | 13/09/2014 | Política11 de Setembro de 2001. Um dia que começou como qualquer outro. Moroso e rotineiro, mas que entrou para a história como um momento que jamais será esquecido. No exato instante em que o segundo avião se chocou com uma das torres do World Trade Center, a realidade se abateu sobre o mundo. Ninguém estava seguro. O pensamento que ainda nos acalentava quando íamos para a cama a noite se destruiu por completo. Não era apenas a violência urbana que colocava nossas vidas em risco. Havia um perigo maior nos rondando, espreitando, um capaz de adentrar no modelo capitalista e ocidental de maior sucesso no início dos anos 2000. Nem nos pensamentos dos mais pessimistas - a não ser o roteirista e diretor de "Nova York Sitiada", Edward Zwick, que acabou criando três anos antes uma prévia do que ocorreria, uma coincidência assustadora, mas que nem de longe foi fiel a realidade - uma tragédia das proporções do atentando aos Estados Unidos, a civilização ocidental, ao capitalismo, ao "American Way of Life" poderia ocorrer. Sabia-se da existência do extremismo islâmico, de como os Países do Oriente Médio eram governados aquele momento, por tiranos e assassinos da pior espécie, que Saddam Hussein era um homem perigoso, mas todos esses fatores pareciam algo tão distante, que deviam apenas assustar as nações vizinhas. Estávamos seguros perante toda essa loucura. Mas quando o mundo parou, na frente das TVs, assistiu-se não só as duas torres em chamas, e as informações dos demais aviões que caíram em solo americano. Observamos nossos sonhos ruírem e a terrível realidade cair sobre nossas cabeças. O mundo não era mais seguro e havia um bicho-papão solto por aí e pronto para atacar. O fundamentalismo Islâmico derramou o terror sobre nós. O terrorismo não era apenas uma conversa das salas fechadas das reuniões dos alto escalões dos Governos. Era assunto para todos e com consequência para todos. Bem-vindo ao Século XXI. Após esse despertar mundial do sonho coletivo, os Estados Unidos sofreram as consequências da tragédia, quase 3000 mortos, o miolo do centro comercial do País em frangalhos, empresas em colapso, investidores com medo, pessoas em pânico, o Ocidente em luto, Países aliados com medo de sofrer iguais consequências por parte dos terroristas. O caos havia se instaurado. E foi nesse momento que se ouviu falar amplamente em Al-Qaeda e Osama Bin Laden. Fechando o quadro, havia uma equipe despreparada a frente da nação, o que as decisões pós atentado logo mostrariam. George W. Bush era o homem errado no momento errado. Era estarrecedor ver sua face de pânico perante a situação nas entrevistas coletivas. Não que outro conseguisse fugir do medo, havia uma avalanche prestes a desabar sobre sua cabeça, mas era nítido que ele não fazia a menor ideia de como agir, mesmo prometendo vingança. Algo precisava ser dito para calar a opinião pública dos Estados Unidos. O Ocidente precisava ser vingado. Uns bons anos depois, li o interessantíssimo "Bush em Guerra" e muitos detalhes ficaram claros. Com uma análise posterior a todo o ocorrido, consegui até sentir pena do Bush. Ele foi envolto em uma teia de imediatismo e péssimos conselhos da maioria da sua equipe. No final, ele não teve tanta culpa assim da estratégia falha, apenas se mostrou incapaz de lidar com uma situação de crise. 2001 era uma tragédia anunciada, não para nós, reles mortais, mas para o alto escalão do Estado. Osama Bin Laden já estava no radar da CIA há anos. Sua cabeça era desejada por membros do Governo, mas por questões diplomáticas, aliadas a falhas da CIA para lidar com os espiões e a sagacidade de Bin Laden em sua eterna rota de fuga, o líder da Al-Qaeda nunca foi morto ou sequer capturado. Esses fatores e a falha crucial do FBI, em não vigiar devidamente um dos terroristas, esse marroquino, que fora detido enquanto tomava aulas de pilotagem, forneceram o cenário propício que culminou com o ocorrido em 11 de Setembro. Foi arrogância ou ineficácia? Complicado saber, mas acredito que a constatação dos erros que permitiram os ataques levou-os a meter ainda mais os pés pelas mãos, e piorar algo que por si já era tenebroso o bastante. Bush foi alertado a ter cautela sobre a retaliação, mas a opinião pública queria destruir a Al-Qaeda e ele também. Ele queria ser lembrado, e com isso uma guerra foi declarada. A guerra entre o Ocidente e o Oriente Médio. Para eles, uma guerra santa, contra os infiéis, para o Ocidente, uma vingança, sangue por sangue e uma reafirmação do poderio de um estilo de vida, que havia sido atacado no seu maior alicerce. Havia como fugir da guerra? Obviamente não, mas a estratégia desenvolvida para a mesma foi simplista em vários aspectos. Os dias passaram, meses, anos e o que Bush prometeu em cadeia mundial não se concretizava. O bicho-papão não morria, muito pelo contrário, estava muito bem escondido nas cavernas do Afeganistão, e continuava com os atentados contra Países aliados. Não se contava com tamanha resistência. Estados Unidos, Inglaterra, França e demais membros da OTAN mandaram tropas ao território inimigo, as baixas de soldados Americanos e aliados aumentavam, gastou-se quantias excessivas de dinheiro no conflito, Bin Laden não era encontrado e não havia um vislumbre do fim. Agora, mais de uma década, a Guerra ao Terror está praticamente encerrada, milhares morreram no conflito, o Afeganistão está em frangalhos, os Estados Unidos enfrentou seus piores pesadelos após o atentado (crise econômica, bolha de crédito), construiu-se um gigante memorial no local em homenagem as vítimas, Bush deixou sua megalomania e péssimos conselhos de uma parte da sua equipe incentivá-lo a invadir o Iraque, com uma desculpa infundada sobre a presença de armas químicas no País, capturou e executou Saddam Hussein, levando uma pequena parte do mundo que ainda o apoiava, após suas trapalhadas habituais no período da guerra, a criticá-lo duramente, abrindo espaço para que a próxima eleição se baseasse a ataques a sua gestão, e como um castigo derradeiro, o seu sucessor chegou ao objetivo que em anos ele não conseguiu, a captura do bicho-papão. Osama Bin Laden enfim foi riscado da humanidade. O mundo respirou aliviado, mas por muito pouco tempo. Há uma discussão acerca do número 13. Se representa ou não o azar. Muito complicado afirmar, mas impossível não fazer uma analogia com esse fato, porque no décimo terceiro aniversário da tragédia, um novo monstro se apresenta em sua magnitude, o Estado Islâmico do Levante - ISIS. No momento, há uma certa nuvem de fumaça sobre o grupo extremista, que levou os níveis de crueldade a um novo nível. O ISIS começou com alguns objetivos, criar um califado, implantar os preceitos do Islamismo, resgatar suas raízes e converter uma Síria que já se encontrava em total desequilíbrio político e social, anulando qualquer resquício do Cristianismo na Nação. Viu que podia ir mais longe e se uniu a outros grupos extremistas para expandir seus ideais para o Iraque, que em termos de instabilidade interna deixa pouco a desejar a Síria. Aos poucos, o grupo atingiu uma complexidade e parece ter seguido outro rumo, pois a maioria dos aliados se desvincularam, por pasmem, achar as práticas muito radicais. No início do ano, a Al-Qaeda rompeu com o ISIS. Ler esse fato e Al-Qaeda na mesma frase, e retornar a alguns anos, pensando em tudo que o grupo causou a humanidade, torna a perspectiva do Estado Islâmico realmente apavorante. Há dúvidas que permeiam o ISIS: Quem os financia? Há algumas suposições a respeito, que vão desde algum País do Ocidente, para criar o caos em um já belicoso Oriente Médio, passa por Israel e retorna para grandes organizações Ocidentais, teorias também apontam os roubos de petróleo e mercadorias praticados pelo grupo. Mas a crucial verdade é que ninguém sabe ao certo quem dá suporte financeiro ao Estado Islâmico. Por que Ocidentais deixam suas casas e partem para defender um grupo que os odeia? Como eles recrutam? A velocidade da informação ajuda, mas qual o ponto de atração? Há um forte sistema de manipulação, fato, mas como atraem os Ocidentais? Uma coisa é se convencer um Árabe que passou toda a sua vida sendo ensinado a abominar o capitalismo, a América, os infiéis. Outra é fazer tamanha lavagem cerebral que torne uma pessoa que viveu dentro de uma cultura democrática, tão contrária ao estilo a ponto de decidir partir em busca de uma cruzada, dizimando seu próprio povo, como o terrorista que matou James Foley, o repórter Americano que virou as costas ao seu passado para defender a Síria, e acabou sendo assassinado pelo que ousou defender, mesmo sabendo que era um intruso ali. Não há aliados ou inimigos dentro do Estado Islâmico, não há regras, não há um padrão. A imprevisibilidade desse grupo o torna ainda mais assustador. Nada é mais perigoso do que um inimigo inteligente, misterioso e que foge a qualquer regra preexistente. Fazendo um parâmetro entre a Al-Qaeda e o ISIS, a primeira desde sua revelação para o mundo, tinha seu objetivo claro. Destruir o grande inimigo, o grande infiel, o Ocidente. O ISIS afirmou que deseja vingança contra os Estados Unidos, certo, até aí seria um padrão, mas houve um pequeno desvio, é possível enxergar certas tendências capitalistas em algumas táticas de atuação, o que é um tanto estranho. Quando se fala de grupos extremistas, se pensa em pessoas morrendo em nome de Alá, as 7 virgens esperando no Paraíso. Todo o sacrifício é pela causa. Posso estar enganada, mas me parece uma grande inovação os pedidos e negociações de resgate envolvendo os diversos reféns do grupo. E são negociações coerentes e direcionadas, eles sabem o que querem. Não é blefe, não é apenas por terrorismo psicológico, Eles desejam o dinheiro. Isso me leva a pensar que talvez a propagação do Regime Islâmico seja apenas o pano de fundo para objetivos ainda maiores, e esse alistamento de cidadãos ocidentais para o grupo me parece ainda mais incomum. Ocidentais não são bem vistos dentro do Islã, ainda mais se tratando da parte mais extremista. O único fator determinante, e até uma coincidência incômoda, para o aniversário sangrento de 11 de Setembro, é que novamente a pessoa errada está no comando dos Estados Unidos, no momento de confrontar uma grande ameaça a paz e segurança mundial. Tanto George W Bush não estava quanto Barack Obama não está preparado para essa situação e as consequências do que se aproxima podem ser muito piores do que no passado.