Trecho de um diálogo psicanalhítico ou sobre a for-A-inclusão do nome-do-pai
Por FELLIPE KNOPP | 11/10/2010 | Filosofiasegunda-feira, 11 de outubro de 2010
Trecho de um diálogo psicanalítico ou sobre a for-A-inclusão do nome-do-pai
FELLIPE:
- Falem mais sobre esse padecimento de "excesso de Real" do Autista, meus colegas, por gentileza. Sua questão é com o "nome-do-pai" estritamente, isto é, suspensão da função fálica, ou ininiscrição do sê-lo? Não está muito claro, para mim, que não sou psicanalista, e já li o Magno há algum tempo, da distinção radical de estrutura dita "psicótica" para a "autista". Foraclusão ou inexistência? O autista o eliminou totalmente? Ou simplesmente não se efetuou clivagem nenhuma?
F:
"...Apreendi razoavelmente bem a macroestrutura psicótica e suas microestruturações. Deveras o que me escapa é a distinção radical entre a psicose e o autismo. Se o psicótico passa por um processo de pôr de fora o significante nome-do-pai, numa suspensão da função fálica em que o real inunda o imaginário e se perde a rigor essa distinção em alguns momentos e relações, no autista parece simplesmente não haver, não haver simbólico, ou só haver Real: para onde vai o "desejo" psicótico, ao que suponho - pois é para lá que se foraclui, não? Nesse caso não é acesso ao Real que o psicótico não tem: ninguém o tem, talvez apenas o autista o tenha, ou não, já que parece não haver dialética. No psicótico esse Real invade o imaginário e onde ele empoça torna-se indistinto. No psicótico o que falha é o princípio de realidade, assegurado pelo nome-do-pai que foi foracluído e se igualou àquele: o "desejo" do psicótico se perde no surto justamente pq é posto lá onde (não) deveria estar, no Real, ele o Realiza. Perde o liame simbólico com a foraclusão do significante ambivalente que é o nome-do-pai: negar o acesso ao Real e com isso fundar o desejo do Outro, metáfora de real(-). O desejo é um paradoxo em si, se funda justo em sua impossibilidade de realizar-se, daí que para o neurótico, nós, o Real é impossível! e a satisfação frustrada, é sempre para frustrar-se necessariamente (strictu senso). Mas o "autista", foraclusão ou eXcusão (eXcuso)? Falta-lhe clivagem, nele não há recalque?"
FELLIPE KNOPP,
Ateu
______________
domingo, 10 de outubro de 2010
Um pouco de Sartre: Fenomenologia ontológica
"O fenômeno é o que parece"
Interessante a riqueza e perspicácia analítica dessa sentença de Sartre de O Ser e o Nada. com a sentença devemos entender a relação de aparição de toda manifestação do existente como aquilo que nos permite sua identificação mais primária à percepção seus dados objetivos fundamentais. Mas, também diz de uma relação intersubjetiva muito prática, isto é, relações eminentemente sociais, discursus. O fenômeno é aquilo que posso apontar em desconstrução e fazer emergir como dado identificável à superfície à mediação dos sentidos, desdobrado por procedimento metodológico. Mas, em todo caso, o fenômeno é aquilo que posso identificar e comunicar - esse é o aspecto mais realista e praxista infenso nessa frase. O fenômeno é aquilo que se manifesta, e já como se manifesta, das formas que serão tomadas pela percepção para a designação de um sujeito a outro. Para quase todos os efeitos práticos, um fogão de cozinha, uma caneta, ou um carro, são do modo como se os percebe! Quando uso meu fogão para fazer meu café, não importa a hipótese do universo paralelo imbricado no tempo espaço coexistente e suas implicações a 200 milhões de anos luz, ou a estrutura molecular dos materiais do fogão ou do gás. Relaciono-me com o fogão que vejo e do qual espero determinados padrões de resposta, quando o manipulo, a uma determinada finalidade. Relaciono-me com uma determinada composição estética e determinadas funções que presumem-se perceptíveis a todos os demais sujeitos. Então, o fenomeno fogão é uma certa complexidade de relações aparentes comunicáveis como dados suscitados daquilo que manifesta seu existente. O fenômeno fogão é aquilo que circunscrevo para certas finalidades e para qual minha percepção se inclina. Não uso nem comunico suas moléculas, e ninguém mais além dos físico-químicos que desnaturam e desconstroem seu objeto o fazendo mudar de natureza, transformando-o num outro fenômeno: o fenômeno das substâncias e das reações, mesmo que ainda o chamem por fogão. Já é outra coisa, outra relação, logo, outro fenômeno, porque ali o que se manifesta são moléculas ou ligações químicas. E o são como/até parecem, do modo como se os vê e alternadamente como sua possibilidade outra. Parecer é ambíguo: é aquilo que se mostra e contém em si a potência de um outro. Mas esse potencial é denotação especulativa, é meu fenômeno corolário, depois que aparece, e é o que parece se manifestar, pois é o que vejo e aponto, uma vez mais. É meu fenômeno cognoscitível. O fenômeno é aquilo que parece ser. O fenômeno é o que aparece, e pode desaparecer. O fenômeno é o que se comunica.
FELLIPE KNOPP,
Ateu
Postado por THEORIKÓNDOXAS