Transtornos de aprendizagem na escola: uma questão a ser analisada

Por FERNANDA SIMONY PREVIERO CIARLO | 24/01/2012 | Educação

1.      Introdução:

O trabalho a seguir fará um breve resgate dos conteúdos e reflexões realizadas no texto “Problemas de Aprendizagem Verbais e Não Verbais”, escrito pelo professor Clayton dos Reis Marques do curso de Pós Graduaçãoem Educação Inclusiva, do Centro Universitário de Araraquara.

 Serão relatados os principais pontos abordados pelo autor no que se refere às dificuldades enfrentadas pelos estudantes em aprender determinados conteúdos, de maneira que serão especificadas algumas deficiências relacionadas à leitura, escrita e aos cálculos matemáticos, bem como, as relações que essas síndromes desempenham com as funções cerebrais.

Ainda serão discutidos quais são os sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade e alguns aspectos importantes a serem considerados na sala de aula.

Por fim, serão realizadas algumas considerações finais sobre o tema, ressaltando a importância do trabalho dos diferentes especialistas para a identificação precoce e tratamento adequado aos alunos com dificuldades de aprendizagem.

 2.      Dificuldades de Aprendizagem:

O autor inicia o texto apontando que recentemente existe uma compreensão a respeito dos motivos que levam crianças atentas, comprometidas e inteligentes a fracassarem na aprendizagem verbal e não verbal.

Ele ressalta que o processo de ensino e aprendizagem não depende apenas do comprometimento do professor, mas também da participação eficaz do aluno e, ao nos depararmos com situações em que todas as etapas do processo estejam adequadas (tais como, a dedicação das pessoas envolvidas, um conteúdo apropriado, estrutura familiar funcional e saudável, questões emocionais resolvidas, questões sociais e políticas isentas de influência sobre o problema) e, mesmo assim, o resultado positivo não aparecer, muitas vezes, pode ser um caso de distúrbio de aprendizagem. O que é bastante delicado em se tratando da educação formal, uma vez que esse problema não apresenta causas diretamente observáveis e consequências tão nítidas.

O autor indica que as dificuldades de aprendizagem estão conectadas a funções cerebrais específicas, dependentes de estruturas neuronais que podem ter sido comprometidas ou alteradas por várias razões em diferentes momentos da vida, de maneira que, mesmo com todas as condições favoráveis, o indivíduo com disfunções cerebrais apresenta resultados insatisfatórios.

Baseado em Fonseca (1995), Marques afirma que o conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro, que é o órgão da aprendizagem, permite maior entendimento de suas relações com o processo de aprender.

O autor explica que o cérebro se divide em hemisférios direito e esquerdo e que há funções diferentes assumidas por cada um, ao mesmo tempo em que, outras são divididas entre os dois. Assim, a função da linguagem e da comunicação, por exemplo, se encontram do lado esquerdo, enquanto as capacidades artísticas e de percepção espacial encontram-se do lado direito.

É importante salientar que o cérebro utiliza os dois hemisférios em interação o tempo todo, contudo já existe a informação que admite impor funções de forma predominantemente a cada um dos hemisférios.

Ainda no que se refere à aprendizagem, partindo da análise de Fonseca (1995), é ressaltada a importância que a maturação gradual do sistema nervoso desempenha, já que, ao desconsiderar esse aspecto do desenvolvimento, podemos exigir dos alunos habilidades que não foram contempladas por sua maturação neurológica, além disso, é preciso ter em mente que cada criança tem um ritmo diferente.

Assim, problemas de aprendizagem podem ter origem na falta de estimulação no início do desenvolvimento ou também em erros de sequenciamento, quando o aluno é colocado diante de atividades equivocadas em sua sequência, por exemplo, estimular à linguagem e o cálculo, funções desenvolvidas no hemisfério esquerdo, antes de trabalhar adequadamente o hemisfério direito com atividades que estimulem a percepção do ambiente.

Nesse sentido, o autor menciona que as atividades que estimulam o hemisfério direito do cérebro são poucas e, quando estão presentes, não são realizadas com a mesma importância que as atividades atribuídas ao hemisfério esquerdo, o que acaba provocando um déficit que é sanado de forma mais satisfatória por poucos alunos. Dessa maneira, para um desenvolvimento mais completo é interessante estimular o cérebro de forma mais integrada e global.

Marques destaca que outro aspecto importante para compreender a maturação do sistema nervoso é o entendimento sobre o neurônio, sua unidade básica. Ele aponta que cada percepção, armazenamento de informação, interpretação, impulso de ação, voluntária ou não, é realizada por neurônios.

Os neurônios estabelecem conexões entre si, de modo que podem transmitir aos demais os estímulos recebidos, criando assim uma reação em cadeia e permitindo que as células do cérebro “conversem entre si”. Essa comunicação acontece através das sinapses, que é a transmissão das informações de uma célula para a outra, de maneira que quanto mais sinapses se desenvolverem, maior será o aprendizado ao longo da vida, já que é por meio destas trocas que ocorre a aprendizagem. Desse modo,  é possível afirmar que quanto mais o ser humano, estimular o cérebro, maior será a sua capacidade de aprender.

Podemos perceber que a organização integrada do sistema nervoso e do cérebro garante que as aprendizagens aconteçam e quaisquer alterações neste sistema irão dificultar a capacidade do individuo aprender. É o que acontece com o disturbio de aprendizagem chamado de dislexia, em que a pessoa, mesmo que não apresente qualquer alteração na capacidade de linguagem, tem dificuldade específica para a leitura e/ou soletração.

O aluno disléxico tem codificação lenta, sofrida e difícil, mas compreende o que é codificado. Eles não possuem consciência fonológica e a capacidade de manipular e refletir sobre a estrutura sonora das palavras.

Marques explica que os atos de ler e compreender o que está sendo lido estão ligados a duas funções do cérebro humano: a capacidade de análise e a capacidade de síntese. A habilidade analítico-sintética é a destreza de trabalhar e compreender as relações entre o todo e suas partes e entre as partes na formação do todo. O hemisfério direito observa o todo, avalia a imagem visual, porém não faz a análise, assim, o hemisfério esquerdo, ao receber a informação, percebe uma diferença entre o contexto e a imagem. Ao entender esse erro a pessoa volta e realiza a leitura analiticamente.

O autor também orienta quanto ao cuidado para avaliar as crianças em busca de sinais de dislexia e aponta que o diagnóstico deve contar com uma equipe multidisciplinar, visando maiores chances de sucesso. Além disso, o aluno deve ter no mínimo dois anos de atraso no desenvolvimento da leitura, com o aumento dessa defasagem ao longo do tempo.

Além da dificuldade na leitura, existem outras dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelos alunos na sala de aula. Em relação à linguagem escrita há três tipos: disgrafia, disortografia e erros de formulação e sintaxe.

A disgrafia é um distúrbio de integração visual e motora. Segundo Marques, a criança possui capacidade visual e controle manual adequados, não apresenta problemas de coordenação motora, de maneira que consegue desenhar normalmente quando faz o desenho partindo de sua própria imaginação. Porém, não copia o mesmo desenho, já que essa tarefa exige a coordenação visomotora.

A disortografia é a inabilidade de transcrever perfeitamente a linguagem oral, de modo que o aluno comete trocas ortográficas e confunde as letras, o que deve ser muito bem diagnosticado, uma vez que, no início da alfabetização são comuns essas trocas ortográficas. Assim, é necessário prestar atenção ao tempo e ao processo de aquisição da relação entre o som e a palavra impressa.

Os erros de formulação é a incapacidade de estabelecer pensamentos de maneira adequada para a comunicação escrita. As pessoas são competentes para se comunicar oralmente, copiar, visualizar e soletrar corretamente as palavras. Contudo, não conseguem escrever da mesma forma que se expressam oralmente, devido à dificuldade de estruturar em símbolos gráficos o próprio pensamento.

Quanto às dificuldades de aprendizagens na capacidade da linguagem matemática, é preciso ter cautela, pois existem distúrbios que não são específicos da área aritmética, mas que influenciam o raciocínio e a compreensão aritméticos. Além disso, não é possível realizar um diagnóstico quando o conteúdo é insuficiente ou o método de ensino é inadequado.

Em se tratando dos problemas específicos do pensamento quantitativo, alguns alunos têm dificuldade na compreensão de ordem. São crianças que não conseguem nem mesmo citar sequências simples. Elas conhecem, no entanto, não utilizam a ordem. Segundo o autor, as características apresentadas por alunos com dificuldades ligadas ao pensamento quantitativo podem ser ainda mais graves, eles podem ser incapazes de compreender e assimilar quaisquer princípios abstratos e conceitos matemáticos.

O autor ainda desenvolve uma reflexão a respeito do Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade, que é um processo biológico e está ligado ao funcionamento neurológico disfuncional. Ele aponta que o diagnóstico deve ser realizado por uma equipe especializada e que esse problema pode ocorrer com ou sem o componente de hiperatividade, ou seja, tanto em crianças agitadas e impulsivas como em crianças passivas e desatentas. Outro aspecto importante a ser levado em consideração é a inteligência dessas pessoas, pois como são distraídos ou apresentam dificuldade de foco, tem-se a impressão de que são lentos. Todavia, são inteligentes.

Quanto aos sintomas, os adultos com TDAH são distraídos, têm dificuldade de atenção, são inquietos, não relaxam, parecem esquecidos e desatentos. No entanto, os efeitos são mais brandos em adultos do que em crianças, o que permite concluir que, mesmo que não haja cura para essa dificuldade de aprendizagem, as pessoas podem criar estratégias para minimizar as consequências do transtorno.

Marques ressalta que os professores devem estar atentos para não confundir várias dessas características com falta de comprometimento, desmotivação, indisciplina e desinteresse por parte dos alunos. Ele orienta que muitos comportamentos podem ser ensinados a esses alunos e, através de um repertório mais amplo, suas limitações podem ser superadas.

Do mesmo modo, a motivação tem influência na capacidade de lidar com a atenção e ela pode aumentar quando o aluno participa do planejamento das atividades e das decisões que serão tomadas.

O autor também indica que deve ser construída uma parceria entre família e escola, de maneira que o professor compartilhe com os pais, as características, limites e necessidades do aluno.

 3. Conclusão:

Por meio das discussões levantadas anteriormente, podemos compreender que para pautar-se num trabalho inclusivo o educador deve estar preparado para atender as diferentes possibilidades de características apresentadas pelos alunos, dentre elas as Dificuldades de Aprendizagem verbais e não-verbais.

Foi possível perceber a importância que os estímulos desempenham para o bom desenvolvimento do educando, desde que essas intervenções sejam adequadas ao período de maturação neurológica da criança. Ao mesmo tempo em que, tendo em mente que as diferentes funções cerebrais amadurecem em ritmos variados, é essencial oferecer aos alunos diversos tipos de estimulação em diferentes momentos da aprendizagem.

Além disso, é importante salientar que as dificuldades de aprendizagem podem ter mais de uma causa. Deste modo, o professor deve ter clareza que não precisa conhecer tudo e resolver tudo sozinho, contrariamente, não há uma especialidade capaz de assumir com exclusividade toda a responsabilidade no diagnóstico, acolhimento, intervenções e cuidados necessários a esses alunos. Compete a todos os profissionais da educação e da saúde mobilizar esforços na identificação e nos tratamentos adequados dos diversos transtornos de aprendizagem, evitando que as crianças portadoras destas dificuldades sofram com baixa auto-estima e fracasso escolar.

Assim, cabe aos diferentes especialistas procurar orientações, esclarecer as dúvidas, receber informações mais específicas, conhecer experiências em conversas com a família, na busca pelo sucesso.

Na realidade não existe uma receita e, apesar de toda a ansiedade por parte do professor, gerada muitas vezes pelo desconhecimento sobre assunto e pela ausência de uma formação específica, não existe melhor maneira para assumir um trabalho inclusivo, de braços e coração abertos, com amor e respeito, acreditando na criança sem medo e apreciando-a além das eventuais dificuldades que ela possa apresentar.