Transtorno do Déficit de Atenção
Por Evandro Caversan de Godoy | 20/11/2008 | Saúde1.0 INTRODUÇÃO
O Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade é conhecido há aproximadamente cem anos, contudo, sua caracterização clínica não está finalizada. Em 1902, o médico inglês, G. Still descreveu pela primeira vez as características desse transtorno, desde então denominado de Disfunção Cerebral Mínima, passando posteriormente a ser chamado de Hipercinesia ou Hipercinese. Logo a seguir, Hiperatividade, nome que ficou mais conhecido e perdurou por mais tempo. Em 1987, passou a ser chamado de Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH), segundo a quarta Edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV), da Associação Americana de Psiquiatria (APA).
Segundo Silvares (2000), esse transtorno envolve a apresentação de níveis acima da média de desatenção, impulsividade e hiperatividade. É um transtorno de início precoce, ou seja, os sintomas geralmente se apresentam antes dos sete anos, e são notáveis na maioria dos ambientes como lar, escola e comunidade. O TDAH, afeta aproximadamente 3 a 5% de uma média de aproximadamente 3:1 a 5:1 (Barkley, 1990), e tende a ser crônico, sendo que 50% ou mais das crianças com TDAH continuarão a apresentar sintomatologia significativa na adolescência e idade adulta (Barkley, Fischer, Edelbrock e Smallish, 1990; Gittelman, Manuzza, Shenker e Bonagura, 1985; Weiss e Hechtman, 1993). Além disso, as crianças com esse transtorno têm um risco acima da média de apresentarem problemas educacionais, comportamentais e sócio-emocionais.
Muito se tem discutido a respeito da causa do TDAH. Estudiosos concordam que não há uma causa única, e sim uma combinação de fatores, em que dentre eles, a genética aparece como fator básico na determinação do aparecimento dos sintomas.
As crianças com TDAH, possuem características que as diferenciam de outras. Na escola, a criança comumente se torna um estorvo a mais numa classe já tumultuada. E, provavelmente, não só deixará de receber atenção adequada, como também será marginalizada pelos colegas, educadores e pais dos seus colegas. Com a progressão do quadro, não é raro que a criança seja convidada a se retirar da escola e que, ao ingressar em outra, o ciclo se repita. Neste quadro, notamos que a formação dos educadores brasileiros pode ser deficitária e, em função disso, a maioria deles possivelmente, não está preparada para diagnosticar e/ou encaminhar adequadamente as crianças com o TDAH.
Com isso, este artigo de pesquisa, tem a finalidade de conhecer teoricamente as características comportamentais e emocionais dessas crianças, discorrendo sobre essas no decorrer desse trabalho, e ainda avaliar o nível de conhecimento de seus professores acerca das características do TDAH, pois será que estes professores possuem algum conhecimento sobre o assunto? Se possuem, qual a capacidade destes de identificar uma criança com TDAH?
É de suma importância, para os educadores, possuírem esse conhecimento, pois avaliações errôneas sobre o comportamento de crianças com TDAH são feitas freqüentemente, havendo uma grande rotulação dos alunos.
2.0 APRESENTAÇÃO DO CASO
2.1 ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS E EMOCIONAIS
O TDAH é caracterizado por uma série de sintomas nem sempre claros e facilmente distinguíveis de outras patologias. "A característica essencial do TDAH é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais freqüente e severo do que aquele tipicamente observado em nível equivalente de desenvolvimento" (APA 1994, p.7). Este padrão, aparece em pelo menos dois contextos diferentes do cotidiano da criança (exemplo: na escola e em casa), com evidência clara de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. Na escola, há um comprometimento no desempenho, dificultando as relações interpessoais e provocando baixa auto-estima com o passar do tempo.
Segundo Ênio Roberto de Andrade (1999), o TDAH é uma síndrome, um quadro caracterizado basicamente por distração e inquietação na criança ou adolescente, dificuldade com o controle inibitório manifestada por impulsividade comportamental e cognitiva. É relativamente freqüente e está presente em todas as áreas do mundo. Ocorre mais com o sexo masculino, numa proporção variável de 4:1 a 9:1, dependendo da população e da cultura.
Em indivíduos com TDAH, logo nos primeiros anos de vida, notam-se alterações no processo de desenvolvimento neurológico e emocional. Algumas crianças, desde cedo, mostram-se mais irritadiças, choram muito nos primeiros meses de vida, mexem-se muito durante o sono e acordam várias vezes durante a noite. Quando começam a andar, os pais passam a perceber que elas são mais agitadas e necessitam ser constantemente vigiadas, pois vivem "fazendo arte", quebram com freqüência os seus brinquedos, perdem rapidamente o interesse por brinquedos ou situações, necessitando sempre de novos estímulos. Outra manifestação que pode estar associada ao quadro é a inabilidade motora, o que leva essas crianças a serem rotuladas de desajeitadas ou desastradas.
Muitas das crianças com TDAH, especialmente os meninos, apresentam certa lentidão no desenvolvimento da fala e uma expressão fonoarticulatória. Manifesta-se por meio de trocas, omissões e distorções fonéticas. Também pode estar associada à alteração no ritmo da fala, especialmente num ritmo mais acelerado, caracterizando uma taquilalia (fala sem parar). Quando não diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível, tais alterações poderão, mais tarde, acarretar dificuldade ou mesmo alteração no processo de alfabetização da criança. Alem disso, não é raro que as crianças com TDAH desenvolvam de forma inadequada, a noção de tempo e espaço. Essas funções, que nas demais crianças são desenvolvidas quase naturalmente, naquelas com TDAH, são difíceis de serem adquiridas, levando a um desgaste emocional nelas próprias e em seus familiares.
Geralmente, mesmo se o comportamento da criança passa despercebido pelos pais, quando ela entra na escola até os casos mais leves tornam-se evidentes, uma vez que lá sua atenção é mais exigida e torna-se necessário ficar por mais tempo parada num mesmo local.
Os problemas na área afetivo-emocional geralmente estão associados ao insucesso escolar e à dificuldade de relacionamento com outras crianças. Afinal, os portadores de TDAH têm mais dificuldade em aguardar a sua vez e não resistem à intromissão freqüente em assunto dos outros, Tais hábitos, podem colaborar para que o indivíduo seja, no futuro, um desajustado social e cometa atos delinqüentes.
Em resumo, estas crianças demonstram uma fonte de energia acima da média, estão sempre em movimento, não conseguem ficar paradas mesmo sobre pressão de outras pessoas(familiares e professores).
2.2 SINAIS DE ALERTA
Se professores ou familiares suspeitam que a criança seja portadora de TDAH, devem observar atentamente; pois este distúrbio pode ser detectado segundo critérios baseados em proposta da Associação Americana de Psiquiatria. Estes sintomas podem ser observados a partir dos 7 anos de idade. Para melhor observação, o comportamento da criança é avaliado em dois módulos:
2.2.1 – MÓDULO 1
DESATENÇÃO
Verificar se a criança apresenta seis ou mais dos sintomas abaixo relacionados, por mais de seis meses.
·Falha em dar atenção a detalhes ou comete erros grosseiros nas atividades escolares.
·Tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.
·Parece não escutar quando lhe falam diretamente.
·Não consegue seguir à risca instruções, nem terminar tarefas escolares ou atividades domésticas.
·Tem dificuldade em organizar tarefas e atividades.
·Evita, não gosta, ou fica relutante ao se engajar em atividades que necessitem de esforço mental contínuo.
·Perde coisas necessárias para a atividades ou trabalhos (brinquedos, lápis, livros, coisas pessoais).
·É facilmente distraído por estímulos externos.
·Se esquece das atividades diárias.
2.2.2MÓDULO 2
Verificar se a criança apresenta seis ou mais dos sintomas abaixo relacionados, por mais de seis meses.
HIPERATIVIDADE
·É inquieto, fica com as mãos e pés se mexendo, constantemente, quando sentado.
·Deixa o seu assento na classe ou em outras situações quando se espera que permaneça sentado.
·Corre ao redor, ou tropeça nas coisas, em situações em que isso não é apropriado.
·Tem dificuldade em brincar ou se engajar em atividades de lazer de forma quieta.
·Está "pronto para decolar" ou age como se estivesse "ligado a um motor".
·Fala excessivamente.
IMPULSIVIDADE
·Responde de forma intempestiva, antes que a pergunta esteja completamente formulada.
·Tem dificuldade para aguardar pela sua vez.
·Se intromete ou interrompe os outros ( em conversas ou jogos).
2.2.3TIPOS DE TDAH QUE PRECISAM DE TRATAMENTO.
·São consideradas, predominantemente desatentas, aquelas crianças que apresentam seis ou mais sintomas de desatenção e alguns de hiperatividade e/ou Impulsividade.
·São consideradas, predominantemente Hiperativas/Impulsivas aquelas crianças que apresentam seis ou mais sintomas de hiperatividade e/ou Impulsividade e alguns de desatenção.
·São consideradas, desatentas e hiperativas/impulsivas, aquelas crianças que apresentam seis ou mais sintomas de desatenção e de hiperatividade/impulsividade.
2.3 DIAGNÓSTICO
Muitas pessoas são interpretadas injustamente de serem desatentas ou desequilibradas, sendo que na verdade, são portadoras de TDAH, que as fazem agir de maneira impulsiva e desatenta.
As crianças geralmente são ativas e enérgicas, devendo-se ter cuidado para não se diagnosticar como TDAH, comportamentos apropriados à idade em crianças ativas. As vezes o desinteresse em uma sala de aula pode decorrer de um QI elevado ou menor que o diferencia da maioria dos amigos.
2.4 CAUSAS DO TDAH
De acordo com a pesquisa bibliográfica, os pesquisadores acreditam que o TDAH é causado por danos cerebrais, nutrição pré-natal deficitária, consumo de álcool ou drogas durante a gestação, alto nível de estress, condições físicas, neurobiológicas ou psiquiátricas, intoxicação por certos medicamentos. Assim, oTDAH pode ser considerado um distúrbio funcional do cérebro transmitido de pais para filhos. Pesquisas mostram que crianças com pais hiperativos, têm risco cinco vezes maior de ter o transtorno. Porém, o fator genético isolado não é suficiente para o aparecimento do TDAH. Fatores sociais também vêm sendo estudados como possíveis causas para o transtorno. A intensidade dos problemas experimentados pelos portadores, podem variar de acordo com suas experiências de vida.
2.5 TRATAMENTO
O tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre profissionais das áreas médica, saúde mental e pedagógica, em conjunto com os pais, que serão instruídos pelos profissionais no auxílio do tratamento.
Os professores deverão elaborar um programa pedagógico adequado, permitindo a adaptação da criança sem maiores conseqüências, podendo concluir seus estudos normalmente
Em alguns casos é necessário o uso de medicamentos prescritos por profissionais da área de saúde.
O trabalho terapêutico que envolve as atividades do cotidiano da crianças, é importante para reintegra-la junto a sociedade, possibilitando uma vida normal.
2.6 DICAS PARA LIDAR COM PORTADORES DO TDAH
Devido a dificuldade, dos pais e professores, em lidar com crianças diagnosticadas de TDAH. Abaixo segue um quadro com dicas importantes:
PROFESSORES
·Fazer com que a rotina da classe seja clara e previsível. Mudanças de rotina são difíceis de serem ajustadas por crianças com TDAH.
·Afasta-las de portas e janelas, para evitar que se distraiam com outros estímulos.
·Deixá-las perto de fontes de luz, para poderem enxergar bem.
·Não dar as costas quando estiver lecionando, manter sempre o contato visual.
·Repetir ordens e instruções, fazer frases curtas e pedir ao aluno para repeti-las, certificando-se de que ele entendeu.
·O aluno deve ter reforços positivos quando for bem-sucedido. Isso ajuda a elevar sua auto-estima.
·Estar sempre em contato com os pais levando as informções necessárias.
·Procurar inserir essas crianças em salas de aula pequenas. Um professor para cada oito alunos é o mais indicado.
PAIS
·Falar um pouco mais alto e dar ênfase às palavras mais importantes, que designem tempo, espaço e modo.
·Ser breve e evitar dar várias ordens ao mesmo tempo.
·Não os mandar fazer algo gritando de outro cômodo da casa. Eles não vão atendê-lo.
·Preparar um local de estudo adequado, com horários e rotina estabelecida para fazer as tarefas escolares.
3.0 CONCLUSÃO
Baseado no levantamento bibliográfico e informações adquiridas, foi possível identificar que o TDAH ( Hiperatividade) é bastante comum na atualidade, e que está sendo levado a sério pelas autoridades, educadores e profissionais da saúde, e por intermédio de estudos realizados, hoje sabemos que pode-se identificar o TDAH precocemente, através da avaliação do comportamento da criança, assim possibilitando o tratamento adequado para cada caso específico.
4.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
REINECKE, Mark A., DATTILIO, Frank M., FREEMAN, Arthur. Terapia Cognitiva com crianças e adolescentes. Manual para a prática clínica. Apresentação Aaron T. Beck. Artmed, 1999.
SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos (org.). Estudos de caso em Psicologia Clínica Comportamental infantil. Editora Papirus, 2000.
DOMINGUES,Muricy; HEUBEL, Marice Thereza Côrrea Domingues; ABEL, José Ivan.Bases Metodotóligas para o Trabalho Científico.Bauru, SP: EDUSC, 2003. 185p.
ANDRADE, Ênio Roberto de. Atenção Redobrada. Viver, São Paulo, 10-12, fevereiro 1999.
HIPERATIVIDADE. http://www.hiperatividade.com.br/index.php
BASTOS, Fernando L. & BUENO, Marcelo C. (2001) Diabinhos: Tudo sobre o Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (ADD). http://neurociencias.nu/pesquisa/add.htm