TRANSPORTE COLETIVO POR ÔNIBUS EM MANAUS...
Por Paulo Ricardo de Souza Rodrigues | 22/10/2016 | EngenhariaTRANSPORTE COLETIVO POR ÔNIBUS EM MANAUS: ANÁLISE DAS LINHAS NO CONTEXTO NORTE-SUL
Paulo Ricardo de Souza Rodrigues
Vinicius de Moura Oliveira
Faculdade Metropolitana de Manaus
Universidade Federal do Amazonas
RESUMO
A política urbana de circulação nas grandes cidades é um movimento dinâmico. A concentração de automóveis nas grandes cidades representa estagnação, porém a posse de veículos mantém um status social a nível político e cultural. Neste meio, o pedestre, principal agente da mobilidade urbana, sofre com o descaso e as consequências diretas na mobilidade. Todavia, o modo de se locomover nas cidades é uma questão de escolha. Historicamente, Manaus registra problemas estruturais e políticos no setor de transporte público e a mobilidade urbana na cidade é nó a ser desamarrado. Para tanto uma boa rede de transporte público exerce influência positiva na economia e também relevância social na medida em que reduz estresse e tempo no transito para as atividades cotidianas. As linhas convencionais de ônibus distribuídas na cidade apresentam um volume e fluxo de passageiros além de seus limites, uma vez que, cerca da metade da frota de ônibus da malha rodoviária urbana está se dirigindo para o centro da cidade. Este trabalho pretende quantificar a distribuição das linhas nas avenidas Constantino Nery e Djalma Batista no município de Manaus-AM.
INTRODUÇÃO
A grande maioria das cidades foram adaptadas para atender e priorizar os sistemas rodoviários; “o simbolismo do automóvel mudou radicalmente nas últimas décadas. O sonho da estrada a perder de vista deu lugar à realidade da escravidão do congestionamento de trânsito e ao massacrante transporte pendular de cada dia.” (WALL, 2012. p. 97) A perspectiva de hoje é buscar uma estrutura urbana de transporte satisfatória nos espaços públicos nas grandes metrópoles mundiais, na paisagem e nas características do desenho urbano de cada cidade.
Estudiosos dessa nova busca preocupam–se em agrupar diferentes formas de se locomover nas áreas urbanas da melhor maneira possível, levando em conta vários fatores, tais como os sociais, econômicos e ambientais. Neste cenário, a priorização dos transportes motorizados particulares nas cidades aconteceu de forma expansiva e cruel, desprezando aspectos ambientais e sociais. O transporte urbano não pode ser desmembrado do planejamento urbano, pois em todas as decisões, políticas e técnicas, devem satisfazer a necessidade de um crescimento da malha urbana de forma sustentável e equilibrada.
No Brasil, a cidade de Curitiba se destaca por ter uma rede de integração modal e um planejamento urbano eficiente para os seus usuários. “Entre 1972 – 74 é implantado na cidade de Curitiba um sistema trinário composto de uma via central de tráfego lento e duas laterais de tráfego contínuo.” (STIEL, 2001. p. 158). Na pista central segue o ônibus articulado ou biarticulado que circula em pistas separadas de outros veículos. O crescimento da cidade se ele elevou em função do transporte, caracterizando-se assim como ponto crucial para integração de outros veículos. Neste parâmetro de desenvolvimento do Transporte Urbano associado ao planejamento urbano que a cidade de Manaus não obteve tanto sucesso como Curitiba.
No apogeu do ciclo da borracha, a cidade de Manaus se desenvolveu estruturamente com pavimentação de ruas, saneamento básico, sobretudo “com a chegada de contingentes de nordestinos, e com a vinda de europeus que se ocupavam com a abertura de restaurantes, lojas de tecidos, joalherias, casas de louças e ferragens e de importação de roupas feitas.” (CORRÊA, 1966. p. 64)
Nesse cenário, a necessidade de atender aos deslocamentos haviam se tornado mais extenso e, portanto o transporte público exerce influência positiva na economia e também relevância social na medida em que reduz estresse e tempo no transito para o trabalho. No entanto, na medida em que a cidade se expandia, a necessidade de transporte nas áreas periféricas já era visível.
Até o final da década de 50 existiam bondes que circulavam no perímetro urbano, em que “o objetivo era de atender à elite que necessitava de meio de locomoção” (MAGALHÃES, 2014) Com o crescimento desordenado da cidade e uma frota crescente de 650.650 veículos (DENATRAN, 2015), Manaus ainda apresenta aspectos de transito violento e caótico.
Hoje, o sistema público de transporte manauara fundamenta-se em sua frota de ônibus e micro-ônibus, desta feita, a cidade ainda não possui uma rede de transporte coletivo digno de uma metrópole.
Destacam–se no transporte coletivo das grandes cidades, o ônibus urbano, o VLT (Veículo Leve sobre Trilho), o BRT (Bus Rapid Transit) e o Monotrilho. Esses três tipos de transporte coletivo apresentam características próprias e devem ser estudados de acordo com os parâmetros locais e planejamento próprio em cada cidade. Estes merecem destaque pelo seu custo de implantação no meio citadino.
Dada à necessidade de mudanças no cenário do sistema de transporte urbano de Manaus, questiona-se: como podemos organizar as atuais linhas de ônibus em função de transportes de média capacidade? Faixas exclusivas para ônibus: reorganização ou solução paliativa na mobilidade urbana?
Para respondemos a essas perguntas devemos compreender os personagens da mobilidade urbana. Se desejarmos ter um transporte eficiente em nossas cidades devemos perceber que “somos pedestres. Estamos motoristas, estamos passageiros” (DUARTE et al., 2012, p. 17). Só pautando nosso pensamento desta forma poderemos desenvolver um transporte humanizado.
Segundo Duarte et al. (2012), o principal personagem da mobilidade urbana é o pedestre, pois todas as pessoas em algum momento assumem esta posição. Para ele, “(...), podemos passar de ser pedestres, a estar motoristas ou a estar passageiros do serviço coletivo, determinando-se uma hierarquia que espelha prioritariamente um meio de transporte.” (DUARTE et al., 2012, p. 17).
Sendo assim, toda política para transporte urbano deve ser pautada primeiramente privilegiando o acesso, segurança e conforto do pedestre. Neste ponto devemos ressaltar a necessidade de calçadas amplas e seguras como diz o arquiteto paisagista Ed Wall:
[...] o pedestre é a consideração mais importante no projeto dos sistemas de transporte. Depois viriam os usuários de bicicletas, skates, patins, etc. Motocicletas, carros, caminhões e ônibus sempre deveriam dar prioridade aos modos de transporte menores e mais vulneráveis. No entanto, o que geralmente se vê nos contextos urbanos é o oposto, com pedestres confinados por guarda-corpos enquanto os automóveis passam em alta velocidade. Muitos lugares têm tentado inviabilizar totalmente o transito de pedestres, acabando totalmente com os passeios. (WALL, 2012. p. 102)
O deslocamento é vetorizado pela relação origem/destino que faz parte das necessidades cotidianas do homem moderno. “Dentro desta dinâmica, é fundamental perceber o conceito da cidade enquanto produção coletiva. Ninguém a faz sozinho.” (VASCONCELLOS, 2012, p. 9). Sendo uma construção coletiva, é necessário entender quais são os personagens construtores desta realidade que determinam o fluxo diário. No meio urbano, o conflito entre os atores é refletido na imprescindível circulação. “A necessidade de circular está ligada ao desejo de realização das atividades sociais, culturais, políticas e econômicas consideradas necessárias na sociedade” (VASCONCELLOS, 2005, p. 23) Como o uso do espaço de circulação não é uma atividade neutra, ou seja, os fortes se sobressaem diante dos fracos, o que vemos acontecer é os pedestres sendo desprezados por priorização dos automóveis e da fluidez deste, agravando em acidentes.
O objetivo deste artigo é comparar as relações da faixa exclusiva para ônibus na Avenida Constantino Nery, como elemento de ordenamento na circulação urbana, e o uso de faixas de rodagem compartilhada pelos ônibus na Avenida Djalma Batista. De fato, a priorização do transporte público deve urgir como elemento fundamental para o desenvolvimento das cidades. Porém, vale lembrar, que as faixas exclusivas para ônibus, tanto em pista central ou à direita, se não forem em sua estrutura, planejamento e estudo prévio, pode reverter a situação ocasionando confusão e transtorno no trânsito.
MATERIAIS E MÉTODOS
BREVE HISTÓRICO DO TRANSPORTE PÚBLICO DE MANAUS.
Até o início da década de 50 o transporte público na cidade de Manaus era realizado por bondes elétricos, mas a necessidade de maior número de veículos para atender a demanda da população por transporte público levou a implantação gradativa do sistema de ônibus, como observa Magalhães:
Apesar desse quadro de dificuldades, o ramo dos transportes desde o princípio atraiu investidores, começando a se delinear, desde os anos 1950, os primeiros contornos empresariais para o segmento de transporte de passageiros em Manaus, com pequenas viações que se formavam por meio de um agrupamento de pouco mais de três veículos. (MAGALHÃES, 2011, p. 111)
Diante destes fatores, a iniciativa por melhorias no transporte coletivo da população, resultou na criação de linhas de ônibus que circulavam na periferia da cidade. Sem estudo prévio e controle por parte do Estado sobre a circulação dessas linhas, os motoristas ou próprios proprietários dessas pequenas empresas baseavam os percursos de acordo com a quantidade de passageiros presentes de um local a outro. “[...] os transportes coletivos por ônibus não tinham a configuração que conhecemos dos dias atuais. A maioria dos veículos era de propriedade individual, sendo cada proprietário, responsável por todo tipo de serviço [...]” (MAGALHÃES, 2014. p. 83)
Com a implantação da Zona Franca de Manaus (ZFM) em 1967, a cidade tem novo boom de crescimento desordenado. Juntamente com a população, amplia-se a oferta de transporte público, porém a qualidade do serviço não acompanha o crescimento da frota, o que ocasionam grandes e violentas revoltas populares.
Com as transformações sociais e físicas que ocorreram na cidade até os anos 10 do século XXI, o sistema de transporte público ainda é insatisfatório e contrastante com o crescimento da cidade. Dessa forma, a criação e construção de uma rede de transporte para a cidade é vital para o funcionamento desta metrópole, uma vez que, de acordo com os últimos dados (IBGE, 2015), Manaus já conta com 2.057.711 milhões de habitantes.
A problemática do transporte público coletivo em Manaus é histórica. A falta de controle e monitoramento do Estado tem efeitos diretos no desenvolvimento urbano, “pois atendeu e atende somente a interesses econômicos e não cumpre o papel de serviço público vital a todos, elemento importante no desenvolvimento social e econômico de toda a população da cidade”. (SILVA, 2009)
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