Transplante Ósseo

Por Matheus Filipe | 02/11/2009 | Saúde

TRANSPLANTE ÓSSEO

¹ Filipe, M.

² Aquino, C.

³ Lana, C.S.

4 Bréder, V.

¹,² Alunos de Graduação do Curso de Biomedicina – UNIPAC - Campus Ipatinga-MG

³,4 Docentes do Curso de Biomedicina da UNIPAC – Campus Ipatinga - MG

O Transplante de ossos e tecidos é um procedimento relativamente novo. O Transplante Ósseo começou a ser realizado durante a Segunda Guerra Mundial, quando não existia alternativa de tratamento para os soldados gravemente feridos. No Brasil, o transplante ósseo começou a ser realizado durante a década de 70 na ortopedia médica e, no inicio do século 21 passou a ser realizado pela Odontologia brasileira, com a finalidade de implante dentário. Assim como existem bancos de sangue, também existem os bancos de ossos e tecidos, tendo em vista que eles podem ser armazenados para serem aproveitados posteriormente, diferentemente do que acontecem com órgãos vitais como coração, rins, pulmão entre outros.

O Ministério da Saúde é o órgão responsável pela regulamentação dos bancos de ossos instalados no país e, para garantir a confiabilidade dos transplantes ósseos realizados, o Ministério da Saúde, juntamente com o Sistema Nacional de Transplantes são responsáveis pelo cadastro e credenciamento dos bancos de ossos. A grande maioria dos bancos de ossos do país segue as orientações da American Association of Tissue Banks (AATB), órgão que regulamenta os processos para a obtenção, processamento e esterilização dos enxertos ósseos (Bruna Oliveira, ABOMI).

Apesar da doação de ossos e tecidos ser desconhecida de grande parte da população brasileira, existe uma demanda muito grande pela doação de tecidos músculos-esqueléticos (tendões, ligamentos, músculos e, é claro ossos). O que acontece é que em grande parte dos hospitais, ainda não se tem profissionais aptos a explicar como é o procedimento de retirada dos ossos, prejudicando o processo de captação (Bibliomed, 25 de junho de 2003).

Perguntas e Respostas:

1.   
 O QUE É A DOAÇÃO DE OSSOS?
É um processo de doação de tecidos músculo-esqueléticos para posterior implantação cirúrgica naqueles pacientes que apresentam deficiência deste tipo de tecido.

2.    QUAL A RAZÃO DA PEQUENA QUANTIDADE DE DOAÇÕES DE OSSOS?

Além da falta de conhecimento de grande parte da população, e da falta de notificação da morte de um possível doador à Central de Transplantes, o preconceito da família é o principal motivo da quantidade de doações estarem bem abaixo do esperado, uma vez que a família do doador teme que a aparência do corpo não seja preservada para o velório após a retirada dos ossos. Mas, a aparência do corpo não muda, uma vez que a legislação brasileira exige a perfeita reconstrução do corpo do doador, inclusive partes que ficam visíveis à família como mãos e rosto nunca são tocados. O material retirado é substituído por material sintético num rápido procedimento no local.

Outro motivo para o pequeno número de doações é o reduzido número de hospitais que realizam a captação de órgãos. Por esses motivos muitos dos transplantes são adiados.

3.    QUAIS OS OSSOS QUE PODEM SER DOADOS?

Em geral, podem ser doados os ossos longos das extremidades (úmero, no braço; rádio e ulna, no antebraço; fêmur, na coxa; e tíbia e fíbula na perna. Além deles podem ser retiradas a patela (rótula, no joelho), o calcâneo e o tálus, no pé e os tendões. No momento da doação, a família pode escolher os ossos de quais membros podem ser retirados, já que é ela quem tem que dá o aval para a retirada.

      4. QUEM NÃO PODE SER DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS?
Dentre as normas da AATB (American Association of Tissue Banks), não podem ser considerados doadores pessoas portadoras de doenças infecto-contagiosas (AIDS, sífilis, hepatite, tuberculose), câncer ou doenças metastáticas, assim como aqueles que apresentam evidências de doenças sistêmicas ou localizadas nos ossos e tecidos moles, vítimas de envenenamento, entre outras. Os portadores de neoplasias primárias do sistema nervoso central podem ser doadores de órgãos. Também não podem ser doadores: pessoas sem documentos de identidade e menores de 21 anos sem a expressa autorização dos responsáveis.

      5. QUANDO PODEMOS DOAR?
A doação de ossos só poderá ser realizada depois do óbito do doador ou nos pacientes com morte encefálica, o que tem dificultado muito as doações, já que as famílias temem pela aparência dos corpos.

      6.   COMO DEVO EXPRESSAR MEU DESEJO DE SER UM DOADOR DE ÓRGÃOS?
O interessado em doar seus ossos e demais órgãos deve comunicar seu desejo à família, pois, em caso de morte, mesmo que conste que a pessoa queria ser doadora, a retirada só será autorizada por parentes próximos ou representantes legal.

      7. COMO SER DOADOR NO MOMENTO DE ÓBITO DE UM FAMILIAR?
Um dos membros da família pode manifestar o desejo de doar os órgãos ao médico que atendeu o familiar, ou à administração do hospital, ou ainda, entrar em contato com uma Central de Transplantes que tomará as providências necessárias. Se a sua família quer mesmo adotar esta atitude de doação, aconselha-se que insista com a equipe médica do hospital para que as providências sejam tomadas. A família não paga pelos procedimentos de manutenção do potencial doador.

     8.  SOU DOADOR (A), MAS QUANDO CHEGUEI AO HOSPITAL NÃO ENCONTRARAM MEUS DOCUMENTOS NEM OS MEUS FAMILIARES. OS MEUS ÓRGÃOS SERÃO RETIRADOS PARA TRANSPLANTES?
Não. Pessoas sem identidade, indigentes e menores de 21 anos sem autorização dos responsáveis, não são consideradas doadoras.

     9. O QUE É MORTE ENCEFÁLICA?
Morte encefálica significa a morte da pessoa. É a interrupção definitiva e irreversível de todas as atividades cerebrais. Como o cérebro comanda todas as atividades do corpo, quando morre, os demais órgãos e tecidos também morrem.
A morte encefálica pode ser claramente diagnosticada e documentada através do exame da circulação cerebral por técnicas extremamente seguras, embora existam opiniões contrárias a esta afirmativa.
Por algum tempo, as condições de circulação sangüínea e de respiração da pessoa com morte encefálica poderão ser mantidas por meios artificiais (em UTI, com medicamentos que aumentam a pressão arterial, respiradores artificiais, etc.), até que seja viabilizada a remoção dos órgãos para transplante.
Para que a morte encefálica seja confirmada é necessário o diagnóstico de, pelo menos, dois médicos, sendo um deles neurologista, não podendo nenhum dos médicos fazer parte da equipe que realizam o transplante. Os exames complementares que inclui eletro encefalograma e arteriografia cerebral são realizados, pelo menos duas vezes, com intervalo de seis horas. Só então a morte encefálica pode ser confirmada. Ou seja, é um procedimento que dará a família do indivíduo, a certeza de que o estado dele é irreversível.

   10. HÁ CHANCE DE OS MÉDICOS ERRAREM NO DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA?
Não. Se for seguido o protocolo, a chance de erro não existe.

   11. É POSSÍVEL O DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA APENAS COM UM EXAME CLÍNICO?
Sim, mas pela legislação este diagnóstico deve ser confirmado com um método de análise mais sofisticado: eletro encefalograma, angiografia cerebral, ou outros.

   12.  QUANTO TEMPO APÓS A MORTE ENCEFÁLICA PODE-SE ESPERAR PARA O TRANSPLANTE?
Diferente do que acontece com outros órgãos, a retirada pode ser realizada até 12 horas após a morte. A maior dificuldade consiste em convencer a família a permitirem a doação.

    13. QUEM RETIRA E COMO É FEITA A RETIRADA DOS ÓRGÃOS DE UM DOADOR?
Desde que haja um receptor compatível, a retirada dos órgãos para transplante é realizada em um centro cirúrgico, por uma equipe de cirurgiões com treinamento específico para este tipo de ocorrência. Após o procedimento o corpo é devidamente recomposto com próteses (não ficará deformado) e liberado para os familiares. O tempo de todo o processo pode levar de 4 a 6 horas.

    14. QUAIS OS PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS PARA QUE UM TRANSPLANTE DE OSSOS OU TECIDOS ACONTEÇAM?

Para a ocorrência dos transplantes, o estabelecimento de saúde onde se encontram os restos mortais do doador deverá fazer um comunicado à Central Estadual de Transplantes relatando a possibilidade de doação. Em seguida, a equipe de Central fará a triagem do doador para diagnosticar doenças transmitidas pelo sangue, como hepatite, AIDS, malária, e que possam vir a infectar o receptor. A doação também não se concretiza quando são detectados casos de câncer, osteoporose, doenças infecciosas, reumáticas e neurológicas. A equipe técnica da Central de Transplantes irá realizar uma série de testes que comprovam a qualidade dos tecidos para decidir se eles serão aceitos ou não. Exames como os sorológicos, bacteriológicos e radiológicos minimizam os riscos para a saúde do receptor. Por fim, a família do possível doador terá que responder a um minucioso questionário clínico, com perguntas e informações sobre seu histórico de saúde.

    15.  COMO FUNCIONA O SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÓRGÃOS?
Se existe um doador em potencial (vítima de acidente com traumatismo craniano, derrame cerebral, etc.) a função vital dos órgãos deve ser mantida pelo hospital. É realizado o diagnóstico de morte encefálica e a Central de Transplantes é notificada (Há uma equipe especializada em remoção de ossos que é avisada quando um doador de órgãos e tecidos entra em óbito). A Central localiza e entra em entendimento com a família do doador e pede o seu consentimento mesmo que a pessoa tenha manifestado em vida o desejo de doar. Após isso, é realizado um rigoroso controle, desde o processo de captação, exames laboratoriais, limpeza até o armazenamento. Com tudo OK, a Central de Transplantes faz um cruzamento de compatibilidade com os pacientes em lista de espera, identifica um receptor e aciona as equipes de captação e de transplante.

   16. ONDE ESTÃO LOCALIZADOS OS BANCOS DE OSSOS NO BRASIL?

No Brasil, ainda é baixo o número de locais destinados a esse fim. Todos eles estão localizados na região Sul e Sudeste: o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), no Rio de Janeiro, Hospital das Clinicas do Paraná, Hospital das Clinicas de São Paulo, Hospital Universitário de Marília (interior paulista), Associação Hospitalar São Vicente de Paulo, em Passo Fundo (RS) e Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A maioria deles, por falta de doadores opera bem abaixo de sua capacidade máxima. Alguns deles, como o INTO, por exemplo, chega a outros estados através de projetos que levam mutirões de cirurgia na área de ortopedia ao restante do país.

     17. COMO SÃO ARMAZENADOS O MATERIAL RECOLHIDO PELOS BANCOS DE OSSOS?

Os ossos recolhidos são guardados congelados a uma temperatura em torno dos setenta graus negativos, em um congelador especial de ultra baixa temperatura.

     18. QUEM RECEBERÁ OS ÓRGÃOS DOADOS?
Os receptores são escolhidos com base em testes laboratoriais que confirmam a compatibilidade entre o doador e o receptor. Quando existe mais de um receptor compatível, a decisão de quem receberá, passa por critérios tais como tempo de espera e urgência do procedimento. Em princípio, a família do doador não escolhe o receptor. Na escolha do receptor, os médicos, o candidato a transplante e sua família levam em conta alguns aspectos para considerar o transplante: Todas as formas de tratamento foram consideradas ou excluídas? O paciente não sobreviverá sem o transplante? O candidato a receptor não tem outros problemas de saúde que inviabilizem o transplante?

    19.   COMO SÃO FEITOS OS TRANSPLANTES?

No caso do transplante de ossos, a sua maioria é feita com ossos inteiros ou pequenos pedaços, que são utilizados como enxertos. Eles podem ser utilizados na forma original ou em pequenos fragmentos, nas áreas de ortopedia, odontologia, neurocirurgia, oncologia, entre outras áreas. Como o recongelamento do material não é recomendado, pois sua estrutura enfraquece a cada processo, o material não utilizado é descartado. Se o local a ser transplantado for pequeno, poderá ser retirado um fragmento de osso do próprio paciente (enxertos autólogos), porém nem sempre esta é a melhor opção já que pode causar fortes dores no local onde foi retirado o enxerto, além de deixar cicatrizes e correr o risco da quantidade retirada ser insuficiente. Sendo possível utilizar ossos do banco de tecidos, seria a melhor a opção já que não causa dor no local e o risco de rejeição é baixíssimo.

    20. QUAL O RISCO DOS TRANSPLANTES?
Os principais problemas dos transplantes são: infecção e rejeição. No caso dos transplantes ósseos e de tecidos o risco de rejeição é quase nulo; os riscos de infecção, quando são seguidos todos os procedimentos devidos também são considerados desprezíveis, já que o controle realizado pela Central de Transplantes é bem alto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

http://www.doevida.org.br/

http://parana-online.com.br/canal/vida-e-saude/news/162308/

http://www.abomi.org.br/ossos.htm

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/12/21/materia.2007-12-21.5911736353/view

http://www.tacchini.com.br/conteudo.php?url=doacao-de-ossos

http://www.adote.org.br/oque_perguntas.htm