Transfusão

Por Teixeira Pinto Bartolomeu | 09/02/2010 | Contos

TRANSFUSÃO

Franklin era desquitado há anos, vivia sozinho em seu belo apartamento em uma das áreas nobre da cidade. Tinha um amigo com quem praticava Esportes. Caminhada, corrida, natação e também, praticava alpinismo. Naquele domingo, como fazia sempre, acordou cedo, desceu ate a rua comprou o jornal, frutas frescas e ovos e, subiu para preparar o café que, sempre era reforçado quando ia praticar algum esporte. Tinha acertado com o amigo pra subir a pedra do pavão, era uma encosta íngreme, e eles vinham programando aquela escalada há tempos. Entrou no apartamento foi ate a cozinha preparar o café, enquanto preparava sua refeição matinal, ouvia a TV e uma noticia chamou sua atenção tinha ocorrido um engavetamento nos cruzamentos das avenidas que dão acesso a cidade. Um acidente horrível, um caminhão com combustível tinha explodido. Por conta do acidente, ele e seu amigo não poderiam sair para pegar a estrada que leva a saída em direção a pedra do pavão, pois o acidente foi exatamente no entroncamento para quem saí da cidade. Enquanto está absorto ligado na noticia o amigo entra cumprimenta-o, e ficam olhando o acidente, os dois conversam entre eles sobre o ocorrido, resolvem marcar outra data para subir o penhasco. Após a saída do amigo, Franklin deita-se no sofá estica as pernas e fica confortavelmente assistindo a TV. Já não esta vendo o acidente assiste a um programa qualquer só pra passar o tempo, enquanto arruma outra coisa para fazer. Ele Fechou os olhos e voltou a pensar no acidente, procurou visualizar as posições dos carros envolvidos no acidente, em sua visualização enxergou um carro pequeno que estava prensado entre duas carretas, tão prensado que as pessoas que estavam na rua perto do acidente não viam o carro direito. De repente como num passe de mágica abriu-se em sua mente uma coisa como uma grande janela e ele pode ver quem estava dentro daquele carro prensado, era uma mulher, muito machucada, mas ainda viva Franklin chegou bem perto daquela mulher não sabia como era possível mais ele estava bem ali, tentou pegar na porta do carro mais sua mão atravessou a lataria do veiculo e isto o assustou tanto que ele acordou daquele sonho maluco, suado, o coração disparado, já não estava deitado no sofá, mas em pé com as costas colada na parede, como foi para lá, não sabia. Quando se recuperou do susto, pegou as chaves do carro em cima da mesa da sala e saiu trancando a porta do apartamento. Desceu direto para a garagem, entrou no carro e saiu. Destino? A saída da cidade onde tinha ocorrido o acidente. Ia dirigindo e pensando, o que teria sido aquilo, um sonho ou uma visão em primeiro grau?”segundo os místicos, quando você é levado em espírito para...” o fato é será que ele viu mesmo o que pensa que viu? Para isso ele terá que ir lá pessoalmente para tirar aquela duvida horrível. Parou o carro distante do acidente, pois o tumulto era grande, muita gente procurando ver aquele triste acidente, correu a pé em direção as carretas, e com facilidade esgueirou-se por debaixo daquele amontoado de ferro retorcido procurando ver da mesma posição que viu quando em visão, foi ai que um guarda puxando ele pela camisa mandou que ele saísse dali, ele se voltou para o guarda e disse que ali tinha uma mulher que ainda estava viva, o guarda insistiu para que ele saísse sem da ouvidos ao que ele dizia.Franklin insistiu ate que  o guarda foi ver mais de perto, teve um trabalho enorme para chegar ate o carro, de repente o guarda deu um grito para os bombeiros confirmado que realmente havia uma mulher dentro daquele carro, tão amassado que mais perecia um monte de ferro velho.usaram maçarico,martelo, alavanca,e macaco hidráulico para retirar aquela mulher daquela ferragem, era impossível  reconhecer quem era pois seu rosto estava coberto de sangue tinha fratura exposta nas pernas e braços,colocaram-na na maca ainda no chão. Ele se aproximou daquela mulher desconhecida para ele, sentiu vontade de pegar na mão dela e assim o fez, aquela mulher apertou a sua mão como se quisesse dizer-lhe alguma coisa. Levaram-na para o hospital, enquanto isso, o guarda veio conversar com o Franklin, queria saber como é que ele sobe que tinha uma pessoa dentro daquele carro? Franklin pensou em contar a verdade, mais depois achou que o guarda ia dizer que ele era doido, achou melhor dizer que foi um pressentimento normal. Assim o guarda o deixou em paz. O paramédico que estava prestando socorro às vitimas perguntou a Franklin se ele não queria chegar ate ao hospital para doar sangue, assim ele estaria ajudando aquelas vitimas. Na hora ele aceitou o convite, pegou seu carro e foi para o hospital doar sangue. A caminho do hospital ele não conseguia deixa de pensar naquele aperto de mão, por incrível que pareça, ele já tinha apertado aquela mão antes, quem era aquela mulher? No hospital procurou o setor de hemograma conforme o paramédico tinha-lhe orientado. Explicou pra a moça sobre o acidente, ela disse que já estava informada e que a necessidade de sangue era muito grande, e que as pessoas saudáveis deveria criar o habito de doarem sangue.  Franklin foi logo encaminhado para os exames preliminares e depois para a sala onde se retira o sangue. Ele terminou os exames e estava se dirigindo pra a sala de doação quando alguém gritou:- tem alguém ai do grupo sanguíneo “O” positivo? Franklin respondeu que sim, ele era deste grupo sanguíneo. Um enfermeiro pegou-o pelo braço gentilmente dizendo:- amigo, tem uma moça muito grave e precisa de uma transfusão de sangue, o senhor se prontifica a fazer, perguntou o enfermeiro? Franklin nunca em sua vida tinha passado por algo parecido, mais não podia se negar, não naquela situação. Respondeu que estava pronto e que Deus o protegesse. Seguiu o enfermeiro pelo corredor do hospital na direção de onde estava a pessoa que ia receber a transfusão de sangue. Passou pelas pessoas sentadas em longos bancos de espera aguardando serem atendidas. Não parou, continuou seguindo o enfermeiro que entrou na sala, onde iam ocorrer os procedimentos medico para se dá inicio a transfusão. Deitado naquela cama fria e com todos aqueles tubos e agulha não parava de pensar naquela mulher. Interrompendo seus pensamentos, entra no quarto vários médicos e enfermeiras empurrando uma maca com um paciente, Franklin levantou um pouco a cabeça para ver quem era; Deus do céu é a moça do acidente. Para sua surpresa, atrás daqueles médicos e enfermeiras, entrou também Uma mulher chorando sendo amparada por um homem um pouco mais velho que ela, de aparência agradável e gentil. Franklin olho aquele casal e imediatamente reconheceu aquele homem e também aquela mulher. Neste momento voltou aos seus dezessete anos em sua cidade natal quando conheceu Cristina, também com dezessete anos, ela não mudou muito continuava bela como sempre foi. Os olhos de um castanho claro contrastavam com seu cabelo preto que descia ate a cintura. Ela foi sua primeira namorada, amor de adolescente que deu muito que falar naquela pequena cidade. Eles se encontravam as escondidas, suas famílias eram inimigas mortais, ate hoje ainda o são. Aquele homem era seu melhor amigo, pelo menos era o que Franklin pensava naquele tempo, mas foi este homem, agora mais velho, que denunciou os encontros que Franklin e Cristina mantinham as escondidas. Aquele namoro durou uns seis meses ate ser descoberto pelo pai da Cristina e pelos pais do Franklin. Foi horrível, nos separaram a força, Cristina recebeu uma curra do pai, assim como também Franklin que foi surrado para aprender que, um “Isidoro” não pode misturar seu nobre sangue com os malditos “Cerqueiros” e assim, Franklin foi mandado estudar no Rio de Janeiro e A Cristina foi para a Capital do estado. Passado algum tempo Franklin soube que Cristina tinha casado som o Vavá

 

Seu melhor amigo. Todos estes pensamentos ocorreram em questão de segundos. Como é incrível a capacidade de armazenar lembranças este nosso cérebro. Enquanto a cabeça do Franklin dava voltas pelo passado, ali no presente as coisas não paravam, era dado inicio a transfusão, tudo corria bem dentro do esperado. Ele lembrou-se de todos os detalhes, mas onde é que entra esta moça acidentada? Qual a ligação entre ela e a Cristina? Estas perguntas foram respondidas pela própria Cristina, quando veio ate a cama do homem que estava doando sangue para a sua filha. Ela parou a beira da cama para cumprimentar aquele homem, mas sua voz não saiu seus olhos não podiam acreditar no que estava vendo, a surpresa era tanta que ela recuou um pouco para traz, vindo em seu socorro o homem que estava com ela. Ambos agora, estupefatos a olhar para Franklin. Ate que, o próprio Franklin, iniciou a conversa dizendo:- Você continua linda como sempre foi, e você Vavá, apesar dos pesares ainda lhe tenho como amigo. Mas antes, me digam o que vocês têm a ver com esta moça?Foi Vavá quem respondeu; ela é nossa filha, quer dizer, é minha porque eu a criei mais não sou o pai biológico, ela veio a São Paulo procurar o pai verdadeiro, ela o encontrou, e estava indo pra casa dele, ela queria fazer uma surpresa quando sofreu este triste acidente. Enquanto Vavá conversava com Franklin Cristina estava ao lado da cama da filha, olhava para ela e depois para Franklin, Cristina aproximou-se da cama onde o seu marido conversava com Franklin, queria saber como foi que ele se envolveu em tudo aquilo. Franklin contou para os dois tudo o que tinha acontecido com ele naquela manhã, de como foi levado sem saber como ate o acidente, de como viu a mulher dentro do carro, e tudo mais ate aquele momento. Quando terminou o seu relato Cristina disse:- Aquilo que fizeram conosco no passado,tentando impedir que nossas famílias se unissem, impedindo que o amor brotasse para dar frutos, e talvez, quebrasse aquele ódio, aquela arrogância de ambas as famílias, em nossas pessoas, não deu resultado, pois hoje se ver que o destino voltou a nos unir novamente, Esta moça que você esta salvando com o seu sangue têm o nome da sua mãe Franklin,

Ela chama-se: “Gloria. E tem também o seu sobre nome, Isidoro”

Franklin entendeu tudo, era demais para ele, em seu peito, abriram-se verdadeiras comportas de emoções nunca imaginadas e, torrentes de energias emocionais foram derramadas em formas de abundantes lagrimas. Como é possível um pequeno músculo como o coração suportar tamanha pressão?O de Franklin suportaria sim, sem duvida alguma era o coração mais feliz do mundo, e o mais apreensivo, pois sabia que, além de doar o seu sangue teria que orar a Deus pela vida daquela moça. Precisava tela nos braços, beija abraçar forte e dizer baixinho em seu ouvido:- Seja bem vinda, eu amo você Minha Filha.

 

 

AUTOR: Bartolomeu Pinto Teixeira