Tragicomédia da vida privada
Por William Konigsberg | 06/04/2011 | ContosUm
"Alô, Norah? Sou eu, Canova. Espero por você por volta de meia-noite. Não se atrase, tenho uma surpresa."
"Estarei lá. Mas também tenho uma surpresa para você."
"Tomara que seja o ménage, tomara que seja o ménage.", pensou Canova.
"Pode tirar o cavalinho da chuva! Não vai haver ménage nenhum! Na verdade, está mais pra proposta do que para surpresa. Tchau!"
Canova sentiu algo de estranho e sombrio na voz de sua namorada. Norah era um tipo de mulher que ele sempre sonhou em se relacionar: Longos cabelos encaracolados, loira, pés e mãos, ambos delicados, um belo sorriso e pernas torneadas. Mas especialmente nessa semana, Canova percebeu que Norah estava agindo estranhamente: Dedicava muito do seu tempo com ele, estava aceitando todo o tipo de fantasia que ele pedia na intimidade (exceto o ménage). Era de se estranhar, até porque, Canova não era nenhum tipo galã. Não podemos negar que Canova era muito inteligente. Era o melhor diretor de fotografia de uma grande empresa de comerciais de tevê (Imagens Esquizofrênicas de uma vida solitária) Todos na empresa se perguntavam como ele conseguiu fisgar o coração de Norah.
"Nossa! Como o Canova, gordo e baixo assim, conseguiu fisgar o coração de Norah?", perguntou Lloyd, colega de escritório de Canova. (Viram só como todos se perguntavam? Então...)
"Não consigo imaginar.", respondeu outro funcionário dispensável na história.
Canova contou os minutos para se encontrar com Norah no hotel de sempre. Ele estava pensando em um jeito de terminar o relacionamento com Norah. Para ele, estava tudo mecânico, eles não dormiam mais juntos, Norah, há exatos 30 dias, parou com grave de sexo, e resolveu ? como eu já disse acima, realizar qualquer fantasia que ele pedia. Canova entendeu que isso era um sinal negativo. Quando uma mulher muda totalmente o comportamento, ou está tendo um caso com outra pessoa, ou vai fazer você acordar em uma banheira com água, sem os rins. Ele tentou encontrar uma desculpa esfarrapada para terminar o namoro, mas não conseguiu. Jogou todas as fichas no improviso e foi de encontro com Norah.
"Você está atrasado.", disse Norah, assim que Canova entrou no quarto do hotel. "Mas hoje e noite vai ser nossa.", ao dizer isso, como em um passe de mágica, se livrou das peças de roupa e pulou sobre Canova.
"Vamos com calma. Preciso conversar com você.", disse Canova. "Tudo isso está estranho..."
"Shh.", Norah colocou o dedo na boca de Canova, para que ele ficasse em silêncio. "Eu também tenho algo para você. Mas não estou falando de conversas."
Fizeram amor loucamente. Canova compensava toda falta de beleza corporal com uma impressionante técnica sexual. Norah começou a sussurrar coisas no ouvido de Canova durante o sexo. Ele não conseguia prestar atenção em nada que ela sussurrava. Para ele, o sexo é um momento sagrado. Sua mãe sempre o ensinou que hora de comer é hora sagrada.
Depois de algumas horas ? oito horas, para ser exato ?, o casal finalmente pôde conversar: "Preciso que você me ajude a sabotar a nova campanha da empresa.", disse Norah, subitamente.
"Como assim?", espantou-se. "Você ficou louca?"
"Está vendo isso?", perguntou Norah, apontando para o telefone celular.
"Sim, mas..."
"Meu celular está repleto de números das mulheres mais lindas da cidade. A qualquer momento, eu posso ligar para uma, ou cinco, se você preferir. Podemos realizar o ménage que você tanto me pede."
"Quem você pensa que eu sou? Sou um homem de princípios! Não vou atrapalhar a empresa que trabalho por causa de uma fantasia sexual! Está fora de cogitação."
"Conheço trigêmeas bissexuais..."
"Estou dentro!", respondeu Canova. "O que tenho que fazer?"
"Você tem que enviar os emails com os dados errados. Fazendo com que a campanha atrase o lançamento.", respondeu Norah.
"Tudo bem, mas... qual o motivo de você sabotar a empresa? Lembro que você lutou para conseguir o cargo de gerente de produção..."
"Esta empresa maldita matou meu irmão", respondeu Norah. "Ele trabalhou aqui durante muito tempo. Certo dia, ele passou mal e foi mandado para o médico da empresa. Esse médico deixou meu irmão no quarto e foi paquerar a enfermeira. Meu irmão tentou alcançar uma revista sobre a mesa, e acabou caindo no chão..."
"Seu irmão morreu ao cair no chão?", perguntou Canova.
"Não. O médico ao ouvir os gemidos de dor do meu irmão, foi até ele e tampou a boca dele com um pedaço de fita. Meu irmão estava sonolento devido à anestesia, então acabou tropeçando e caindo pela janela do oitavo andar."
"Nossa! Que morte horrível!"
"Ele não morreu com a queda. Ele caiu sobre um caminhão de travesseiros que estava estacionado. Mas ao voltar à sala do maldito médico, levou um susto ao ver o médico completamente nu. Então se jogou da janela novamente..."
"Sujeito de sorte. Caiu sobre os travesseiros, não foi?"
"Não! Ele caiu sobre a grade do muro."
"Como no Mortal Kombat!"
"Isso! Como no Mortal Kombat!", concordou Norah. "Então, prometi a mim mesma que iria acabar com a raça de todos nesse lugar."
"É uma história triste. Eu toparia ajudar você mesmo sem nenhum ménage."
"Então nesse caso, vou ligar para meninas e cancelar."
"Você ficou louca?", respondeu Canova ao arrancar o telefone das mãos de Norah. "Como vamos fazer?"
"É muito simples. Eu já tive um caso com o Phill..."
"Phill? O vigia?", perguntou Canova.
"Ele mesmo. Um amante e tanto! Enfim, você tem que tropeçar sobre ele amanhã, na hora em que todos estão almoçando. Você finge uma fratura e eu entro para pegar a maleta de primeiros socorros, mas na verdade, irei sabotar os e-mails. Não tem erro!"
"Boa idéia! Agora chame as trigêmeas."
"Você não presta!", respondeu Norah.
(As loiras trigêmeas contorcionistas, enfim chegam)
Na manhã seguinte, Norah e Canova estudam os movimentos de Phill durante toda a manhã. Ao notarem o silêncio nas salas, vão de porta em porta verificando se estão totalmente a sós. Ao notarem o caminho livre, saem pelos fundos e vão de encontro a Phill: "Boa tarde, Phill."
"Boa tarde, senhor Canova. Boa tarde Norah."
(Canova tropeça)
"Senhor Canova! Acorde senhor Canova!", disse Phill com o corpulento Canova nos braços.
"Segure ele por um momento! Irei até enfermaria e pegarei a mala de primeiros socorros!", disse Norah, E saiu em disparada prédio afora.
"Pobrezinha...", disse Phill. "Era só pedir ao senhor Blake, ele está no prédio."
"O quê você quer dizer com isso?", perguntou Canova, que em um segundo, estava de pé, ao lado de Phill. "Blake está no prédio?"
"Ele ficou um pouco mais. Você sabe... os chefes sempre trabalham mais que os outros. Por isso que são ricos..."
"E cornos.", completou Canova.
Norah finalmente chegou até a sala de Blake. Sentou-se á mesa e começou a sabotar o email. Quando estava prestes a enviar, ouviu a descarga do banheiro de Blake, e a porta se abrindo. Ao vê-la sentada em sua mesa, Blake teve um ataque de raiva: "Mas que diabos você está fazendo na minha sala?"
"Eu, eu... só estava... Canova me obrigou a sabotar a empresa e trocar as datas da campanha. Mas não faça nada contra ele... ele está com problemas. Por muitas vezes tentei convencê-lo de procurar ajuda. Mas ele não me ouve..."
"Filho da mãe! Eu sempre o ajudei aqui nessa empresa. Mas você fez em bem em ter me contado. Vou resolver isso tudo agora mesmo. Pode se retirar.", Blake ligou imediatamente para Canova. "Seu desgraçado! Você está despedido! É um sem vergonha mesmo! Usando a pobre namorada para poder sabotar a própria empresa. Suma da minha empresa!"
"Mas..."
"Mas, nada!", gritou Blake. "Você tem sorte de eu não meter um processo em você."
Norah não conseguiu olhar Canova nos olhos. O gosto amargo da vergonha penetrava em sua boca. Fez força para encarar Canova e disse com os olhos: "Perdoe-me."
Dois
Foi um choque, Canova não esperava essa facada pelas costas da própria namorada. O prazer carnal fez com que perdesse o emprego: Se não fosse o maldito ménage com as loiras, ele teria terminado com Norah, estaria empregado e com dignidade. Tentou colocar a cabeça no lugar; andou sem rumo pelo centro da cidade até se ver sentado em uma mesa de um bar esfumaçado: "Como pude ser enganado assim? Logo eu, que sou um dos mais inteligentes que conheço. Sou o mais inteligente de todo o meu grupo de três amigos.", pediu café ao garçom. Olhou à sua volta; notou dois policiais caminhando em sua direção.
"Senhor Canova?", perguntou o policial com jeito bondoso. O outro tinha um aspecto maligno e vingativo ? sim! Assim como em filmes e seriados. "O senhor deve nos acompanhar até a delegacia."
"Mas eu não fiz nada!", respondeu Canova.
"Escute aqui seu verme, ou você vem por bem, ou vou bater tanto nessa sua cara gorda que quando você chegar em sua casa, seu filho vai preferir morar com aquele seu vizinho pedófilo!", gritou o policial maligno.
Nesse momento o bar ficou em silêncio e todas as doze pessoas olharam em direção ao tumulto. O dono do bar, um sujeito com ar excêntrico olhou para o policial bondoso e disse: "Não quero bagunça em meu bar. Se querem dar seu show, que façam isso lá fora!"
"Tudo bem, desculpe o transtorno.", respondeu Seymour. ? Seymour era o policial simpático e educado. O policial vingativo e rancoroso era conhecido por Fargas. "Escute senhor Canova, nós podemos conversar em um tom agradável e amigável, mas se o senhor não ajudar, terei que deixar Fargas tomar conta da situação. Ao reparar que Fargas estava segurando um taco de basebol, resolveu cooperar.
"Qual é a acusação?"
"Formação de quadrilha e chantagem.", respondeu Fargas. "O sujeito força a pobre namorada a sabotar a própria empresa...", olhou para Canova e balançou a cabeça com reprovação. "Ao invés de sumir, o sujeito caminha até a espelunca mais próxima."
"Vá com calma, Fargas.", interveio Seymour. "Ele está sendo razoável. Vamos fazer assim, senhor Canova: Para não passar vergonha, nós vamos sair na frente, e, após exatos 10 minutos o senhor sai calmamente e entra na viatura."
"E não tente gracinhas! Sou o melhor atirador dessa porra de cidade! Se você tentar algo, se der um passo errado, estouro seus miolos, coloco em uma panela, frito, como, vomito, frito novamente e levo até o seu filho cabeçudo!", Ameaçou Fargas.
"Entendido.", respondeu Canova.
Como combinado, Canova ficou calmamente folheando um jornal, tentando imaginar um jeito de sair do bar sem ser visto pelos policiais. Viu que o bar só tinha uma pequena porta. Nem mesmo Michael Scofield conseguiria tal façanha. Percebeu que teria que fazer o que Fargas e Seymour pediram.
"Garçom, a conta.", pagou o café e caminhou lentamente até a viatura.
Durante os dez anos em que ficou preso, Canova elaborou um complexo plano de vingança. Com esse plano, ele acabaria com a vida de todos os envolvidos em sua prisão e condenação. Blake denunciou Canova por estuprar Norah ? o que foi fácil de provar, pois, na noite anterior ao flagra, Norah e Canova fizeram amor como se depois do sexo fossem assistir qualquer um dos horríveis filmes da saga crepúsculo ? ou seja, morrer: Norah estava com várias marcas pelo corpo e o depoimento das trigêmeas ? que receberem uma satisfatória quantia em dinheiro para denunciar Canova - acabou com as dúvidas dos policiais envolvidos no caso.
"Canova!", disse o carcereiro. "Você está livre, pode sair."
Três
Ao colocar os pés fora da prisão, Canova respirou o ar poluído de que tanto sentia falta. Pôde perceber quanto uma cidade muda durante 10 anos. Andou até a casa de sua mãe, onde seu filho estava vivendo. A mãe e o filho eram os únicos a acreditar em sua inocência. Ao ser recebido com um abraço pelo filho ? agora com treze anos ? cogitou seriamente em esquecer a vingança e refazer sua vida junto ao filho, mas esse arrependimento durou apenas cinco segundos.
Depois de alguns dias com a mãe e seu filho, Canova disse que iria resolver uns assuntos e ficou fora durante todo o dia. Entrou em contato e se encontrou com Bishop em um bar perto da casa de sua mãe. Bishop é um amigo ex-arquiteto da empresa "Imagens Esquizofrênicas de uma vida solitária" que foi demitido por processar a empresa, que não pagou o combinado pelo contrato. Ambos com vontade de fazer justiça, pretendem matar a todos os envolvidos.
"Mas é claro que estou dentro. Mas como vamos fazer isso?", perguntou Bishop. "Precisamos de outra pessoa."
"Já pensei em tudo.", disse Canova. "Vou ligar para uma ex-namorada que é loucamente apaixonada por mim. Ela tenta me conquistar desde quanto eu tinha dezesseis anos. Sem contar minha mãe e meu filho, ela foi a única a me visitar na prisão. Vai ser fácil de fazê-la aceitar..."
"Então está tudo certo. Vou providenciar tudo!"
"Positivo, entro em contato com você, até mais."
Ambos levantaram e saíram do bar em direções contrárias. Canova foi até a casa de Melinda, sua ex-namorada. Depois de uma tarde de prazeres, conseguiu facilmente convencê-la.
"Mas como vamos matá-los?", perguntou Melinda.
"Já tenho tudo programado. Você vai forçar encontros com cada um deles. Homens são todos iguais: Se uma mulher se oferece, eles não pensam duas vezes em fazer sexo com ela. Vai ser fácil! Você só tem que fazer com que eles passem a noite fora de casa. Bishop e eu vamos fazer o resto."
"Gostei do plano... mas... e a Norah? Também vou dormir com ela?", perguntou Melinda.
"Acho que vai ser mais fácil se o Bishop saísse com ela.", respondeu Canova. "Até porque, ela não curte mulheres."
"Não sabe o que está perdendo.", respondeu Melinda.
"Até hoje não sei o motivo de não ter te dado valor...", disse Canova. "Você é tudo que um homem quer. Bonita, bissexual, promíscua e toma calmantes."
"Os homens atuais não gostam de mulheres problemáticas. Preferem chamar uma prostituta, que na verdade é um travesti. Mas agora é sua chance de me domar.", disse Melinda, pulando nos braços de Canova.
Quatro
Depois de algumas horas, Melinda, Canova e Bishop começaram a planejar a vingança. Bishop foi o primeiro a começar os assassinatos. Depois de observar os movimentos de Norah ? que agora era amante de Blake ?, Bishop percebeu que ela deixou de almoçar na empresa, pois os pratos servidos por Cedric estavam ficando piores a cada dia. Ela almoçava em um restaurante de luxo próximo da empresa. Bishop escolheu a mesa mais cara do restaurante e ficou a espera de sua vítima.
Norah surge à porta do restaurante: Andar era gracioso e sensual. Ela usava um vestido preto muito justo, deixando suas curvas destacadas. Sentou-se em uma mesa próxima de Bishop, que por sua vez, esperava o momento certo de agir.
"Com licença", disse Bishop. "Notei que você é dona daquele carro ? Bishop apontava para o luxuoso carro de Norah. ?, estou cansado de ser roubado pelos empregados de onde meu carro é revisado, e como percebi que seu carro está impecável, pensei em te pedir o endereço de onde seu carro é revisado."
"Qual é o seu carro?", perguntou Norah.
"Aquela Mercedes 2010.", respondeu Bishop, apontando para o carro alugado por Canova.
"Belo carro. Vamos fazer assim: Almoce comigo e depois vamos até meu apartamento pegar uma coisa, e depois, vamos à revisão. Está bom para você?", perguntou Norah.
"Está perfeito!", respondeu Bishop. "Isso vai ser muito moleza.", pensou Bishop. "Esta vadia é muito fácil. Nunca foi tão fácil conseguir sexo assim. O que um carro alugado não faz..."
Norah e Bishop almoçaram juntos, conversaram sobre várias coisas. Bishop tentou descobrir alguma coisa sobre seu passado com Canova; mas ela desconversava. Depois de almoçar, foram até o apartamento de Norah: fizeram amor como se não existisse o amanhã.
"Nossa, você é uma máquina."
"Pelo visto, não é apenas o carro que vai precisar de uma revisão."
"Estou acabada. Mas... Diga-me... Onde você vivia?", perguntou Norah, totalmente esgotada.
"Moro em Londres. Sou dono de uma rede de hotéis na Inglaterra.", mentiu Bishop. Aliás, essa era uma arma muito perigosa. Certa vez, ele conseguiu ? através da mentira ? fazer um grupo de italianos conversarem em voz baixa. "Morei no Brasil até quatorze anos. Depois me mudei para Londres e nunca mais voltei. Só estou no Brasil para poder ajudar um antigo amigo."
"Meu sonho é morar em Londres.", investiu Norah. "O que preciso fazer para você me levar para lá?", brincou.
"Não ser ciumenta. Pois tenho quatro amantes inglesas.", já que o assunto é mentir, não custa nada aumentar a moral diante de Norah.
"Isso não é problema.", respondeu Norah enquanto levantava e ia caminhando em direção a cozinha.
"É agora!", pensou Bishop. Pegou a faca que estava escondida em sua maleta e colocou embaixo de seu travesseiro.
"Vamos, volte para cama. Estou com vontade de repetir.", disse Bishop enquanto se olhava no espelho do teto do quarto de Norah. "Que vagabunda!", pensou. "Será que tem alguma câmera escondida?", pensou. "Essas vagabundas ricas costumam fazer esse tipo de coisa.
"Já estou indo.", respondeu Norah. "Estou retocando a maquiagem."
"Você já se filmou fazendo amor?", perguntou Bishop.
"Está louco? Não sou esse tipo de pessoa. Não gosto de aparecer; prefiro agir nos bastidores.
"Se ela estiver falando a verdade, o caminho está limpo.", pensou Bishop. "Vamos, venha para continuarmos nosso joguinho."
"Que touro indomável!", exclamou Norah.
Quando estava perto de atingir o orgasmo, Bishop pegou sua faca e mirou exatamente a nuca de Norah. Esperou o momento em que ela parasse de pular, mas aquela mulher parecia feita de mola. Não via ninguém pulando em uma cama assim desde a menina Regan. Por fim, chegou o momento perfeito. Pegou sua faca, ergueu os punhos, mas ouviu o telefone tocar. Norah tirou Bishop de dentro do seu corpo e foi até a cozinha para atender o celular.
"Merda!", pensou Bishop. "Aposto que deve ser o patrãozinho ligando, preocupado com o atraso da namorada vagabunda."
"Quem era?", perguntou Bishop, quando Norah voltava da cozinha.
"Não era ninguém...", desconversou. "Era engano. Vamos, onde eu estava?"
Continuou o drama de Bishop: Encontrar o momento perfeito para terminar aquele primeiro serviço. Ele tinha que achar uma posição em que Norah ficasse de costas. Mas ela se movia com muita rapidez, sabia exatamente o que fazer e quando fazer. Bishop quase chegou a esquecer o plano e levar Norah com ele à Londres. Em sua cabeça, começou um drama pessoal: Levar o plano até o fim, ou levar Norah para Londres? A amizade com Canova falou mais alto.
"Isso, fique nesta posição. É assim que mais gosto", disse Bishop.
"Meu Deus! Você é maravilhoso, como aprendeu a fazer amor tão bem?"
"Lembra de Kika?", perguntou Bishop.
"Claro! Como poderia me esquecer? Um dos melhores filmes espanhóis que já assisti."
"Pois então, de tanto ver e rever esse filme, as técnicas do mito Paul Bazzo foram totalmente decoradas por mim.", novamente, quando notou que o orgasmo estava perto. Pegou a faca e acelerou os movimentos. Gemidos de dor misturavam-se com gemidos e gritos de prazer de ambos quando Bishop desferiu vários golpes no pescoço e costas de Norah; seu corpo foi parando lentamente de se mover e por fim, caiu sobre a cama.
"Esta parte está terminada.", pensou Bishop. "Agora tenho que tomar um banho e sair desse lugar durante a madrugada."
Bishop ficou durante horas no apartamento de Norah, bebeu seus melhores vinhos, limpou seu pênis na cortina, pois sabia que isso era o terror de toda mulher. Assistiu a um filme na tevê e acabou caindo no sono. Horas depois, já de madrugada, acabou despertando do sono. Ao sair do apartamento, pôde observar que Norah, apesar de morta, estava com um sorriso no rosto.
"Sinal de que fiz bem feito.", pensou Bishop. Caminhou calmamente até a sala das câmeras e cortou todos os fios das câmeras e roubou todas as fitas filmadas naquele dia. Ateou fogo em todas as fitas, dentro de uma lata de lixo do outro lado do bairro.
Caminhou calma e elegantemente até seu carro alugado e resolveu não esperar o dia seguinte, precisava contar o sucesso do plano à Canova. Parou em um posto de gasolina e pediu uma cerveja no AM/PM.
"Completa.", disse ao frentista. Jogou as chaves do seu lindo carro alugado e foi até uma das mesas vazias.
"Alô, Canova. O primeiro quarto do jogo foi ganhou com sucesso.", disse Bishop ao celular.
"Sem pistas?", perguntava Canova do outro lado da linha. "Você sabe que qualquer erro, estamos fodidos."
"Nenhum erro. Entramos ao meio dia em meu apartamento e saí pouco depois das três da madrugada. Ninguém nos viu, entrando, desliguei as câmeras e roubei as fitas."
"Maravilha! Começamos bem. Agora o próximo passo é com Melinda. Até amanhã."
"Até.", Bishop desligou o celular, entrou em seu carro e saiu sem pagar o frentista. Nessa noite, dormiu como um anjo.
Cinco
Duas semanas mais tarde, Canova encontrou-se com Melinda em seu apartamento. Melinda, mesmo com todos os problemas com neuroses, era uma mulher atraente e criativa. Seu apartamento era de uma beleza extraordinária: Belos móveis antigos, peças de decoração de muito bom gosto e até uma lareira ela possuía.
"Muito bem.", começou Melinda. "Qual vai ser o meu papel nessa parte do plano?", pegou uma duas taças de vinho tinto e ofereceu uma à Canova. "Aceita?"
"Muito obrigado.", deu um gole demorado, que quase acabou com o vinho. "Nossa! Um dos melhores que já tomei!", acendeu um cigarro e começou: "Você vai se aproximar do Phill. Vai ser fácil, ele está solteiro e, exatamente as sextas-feiras ele costuma fazer o happyhour em um famoso bar no centro da cidade."
"Vai ser fácil.", disse Melinda. "Como você acha que devo me vestir? Algo fatal, ou algo mais comportado?"
"Use algo comportado na parte de baixo. Uma calça justa por exemplo. E na parte superior, abuse de decotes. Nenhum homem consegue resistir a um par de seios batendo em sua cara."
"Como?", perguntou Melinda. "Assim?", e soltou seus lindos seios diante dos olhos de Canova. "Acha que assim vou conseguir?"
"Perfeito!", disse Canova, quase perdendo o ar entre os seios de Melinda.
"Vamos até meu quarto. Tenho que ensaiar com você o que pretendo fazer com ele.", ao dizer isso, Melinda se afastou de Canova e andou lentamente até a sua cama. "O que você está esperando?"
"Filha da mãe!", pensou Canova.
Canova voltou até a casa de sua mãe. Passou um longo tempo com seu filho e assistiu à novela com a mãe, pois era um costume entre as mulheres da família. Canova resolveu ir contra seus princípios e assistiu a uma horrível novela com a mãe. Depois que sua mãe foi dormir, Canova vestiu um casaco e foi de encontro com Bishop. Pegou um taxi e foi para um bairro muito pobre da cidade, alugaram um barraco para poderem se reunir sem suspeitas. Quando finalmente chegou, Bishop já estava o esperando.
"Tudo certo?", Canova perguntou.
"Tudo na mais perfeita paz.", respondeu Bishop. "Vou te contar, viu. Essa mulher é um animal na cama! Agora entendi como ela conseguiu sua ajuda para sabotar a empresa. Quase fui obrigado a levá-la pra morar em Londres."
"Londres? Do que você está falando?", perguntou Canova, confuso.
"Longa história... Tive que inventar uma história, alugar um carro caro."
"Enfim, a segunda parte do plano está pronta. Melinda já está sabendo os passos de Phill. Sexta-feira ela irá fazer uma aproximação."
"E como ela pretende matá-lo?"
"Ela não me contou, mas,", fez uma pausa para pegar uma cerveja na geladeira velha. "se ela tiver que transar com ele, é bem capaz de que ele morra durante o sexo. Aquela mulher é ligada em voltagem 220."
"Você tem sorte de ter alguém que ame você por tanto tempo. A única pessoa que me amou foi minha mãe."
"Que me ame e que tenha distúrbios emocionais. Pois aquela mulher é uma louca. Certa vez, ela colou meus testículos em minhas pernas."
"Deus do céu! E o que você fez?"
"Reclamei com ela, ora bolas! Só pedi para colar um dos testículos."
"Cada um com a sua loucura..."
"Então, é o seguinte. Ela vai executar o plano nessa sexta-feira. Quer dizer que domingo pela tarde, nós três nos reuniremos aqui. Agora vamos embora. Vamos sair pelos fundos.", levantou e jogou o resto da cerveja fora. Bishop fez o mesmo.
Sexta-feira, dez horas da noite. Melinda está dentro de um táxi. Com olhos atentos, ela observa seu alvo. Phill termina seu cigarro e entra no bar. Ela se olha no espelho do carro. Está muito bonita para parecer desesperada: Borrou a maquiagem. Toma fôlego e entra no bar. Phill está no balcão bebendo uísque. (Apesar de ser um simples segurança, Phill costuma freqüentar lugares caros.) Ela se aproxima e senta ao seu lado.
"Uma cerveja.", Melinda disse ao atendente.
Acontece uma troca de olhares. Melinda, aparentemente está lendo algo em seu celular que a faz chorar. Olha para Phill e começa a chorar com mais dramaticidade. Abre sua bolsa à procura de algo para enxugar as lágrimas. Phill oferece um lenço. Os dois se olham novamente, Melinda agradece sem dizer qualquer coisa.
"Perdão, não quero ser chato, mas, não pude deixar de notar... Posso ajudá-la em algo?", começou Phill.
"Acabei de receber uma mensagem de texto do meu namorado. O vagabundo terminou comigo! Terminou pelo celular. Não teve a coragem de olhar nos meus olhos depois de tudo que passamos juntos..."
"Existem homens que não dão valor ao maravilhoso tipo de mulheres que possuem ao seu lado. Ao primeiro problema, correm para uma ninfeta que possivelmente tem herpes genital.", disse Phill.
"Não estou pedindo muito. Só quero um homem carinhoso, romântico, que me trate como uma mulher e não como um objeto. Estou pedindo muito?", perguntou para si mesma.
"Realmente não existem muitos de nós por aí.", respondeu Phill. "Vamos, enxugue essas lágrimas. Não adianta chorar por quem não nos dá valor. Vamos até um lugar mais tranqüilo, esse lugar está lotado. Vamos conversar um pouco, ok?", Phill pagou as duas contas e levou Melinda até seu carro. "Onde você pretende ir?", perguntou.
"Gostaria de assistir um bom filme."
"Ótimo! Estava louco para ver um bom filme. Qual estilo você gosta."
"Nouvelle Vague.", respondeu Melinda. "No Cinefrench está em cartaz o novo filme do Godard, foi rodado na Argentina. Parece ser muito bom."
"Meu Deus! Uma daquelas cults chatas e vegetarianas.", pensou Phill. "Mas o que tenho a perder?", entraram em seu carro: "Ainda não fomos apresentados, prazer, meu nome é Philippe, mas todos me chamam de Phill."
"Melinda, muito prazer. Você deve estar pensando que sou uma louca. Aparecer chorando em um bar, aceitar ajuda de um estranho, entrar em seu carro assim tão facilmente..."
"De forma alguma. Estou aqui para ajudá-la"
"E então, Phillipe. Bonito nome, é o nome de um dos diretores franceses que eu mais gosto.", se tem uma coisa que Melinda faz com facilidade, é agir como se sua vida fosse um filme em preto e branco. Seus dias eram praticamente fictícios. Ela vivia nas nuvens.
"Qual Phillipe? O Garrel?", perguntou Phill, tentando passar um pouco de interesse.
"Esse mesmo. É um gênio!", respondeu Melinda.
"Isso é verdade. Mas às vezes eu me pergunto: Como é que um pai tão talentoso consegue aceitar que um filho narigudo drogado estrague seus filmes. Deus do céu, aquele moleque é horrível!"
"Concordo plenamente. Acho que mais um caso de filho adotivo. É a única explicação."
"E então, Melinda, sem querer ser indiscreto, mas já sendo... Qual foi o motivo que fez seu namorado te largar assim?"
"O jeito como gosto de fazer sexo. Existem homens que não conseguem manter meu ritmo. Mas a maioria pensa que só porque sou viciada em sexo, irei sair dando para qualquer um que encontre pela rua."
"Mas é claro que você não ia fazer uma coisa dessas."
"Na verdade eu fiz sim. Mas só quatro vezes. E ainda não o namorava. Maldito facebook! Mas agora estou tentando mudar..."
"Não!", gritou Phill. "Quer dizer, não faça isso. Não devemos mudar nosso jeito para agradar outras pessoas.", Phill percebeu que esta poderia ser a chance de sua noite terminar bem. Uma mulher carente, viciada em sexo! "Como é que eu poderia me sair melhor?", perguntou para si mesmo. "Tenho uma proposta, Melinda. Vamos até meu apartamento. Eu tenho todos os filmes do Phillipe Garrel. Até os ruins, em que seu filho atual. O quê você acha de assistirmos algum filme? Depois levo você até sua casa.", propôs Phill.
"Acho que não vai dar...", começou Melinda.
"Vamos, vai te fazer bem.", insistiu Phill.
"Aceito, mas não posso ficar até de manhã. No máximo até as três da madrugada."
"Está ótimo!", respondeu Phill.
O caminho até a casa de Phill foi relativamente rápido. Ele morava em um condomínio de luxo na parte mais rica da cidade. Assim que entraram no apartamento, Phill pegou o casaco e a bolsa de Melinda e os colocou sobre uma linda mesa vintage. Foi até a cozinha e voltou com duas taças de vinho branco. Ao passar pelo Home Theater, colocou uma música agradável e sentou-se ao lado de Melinda.
"Como uma mulher linda como você aceita namorar um crápula?", perguntou Phill. "Você merece o melhor de todos. Afinal, você é modelo não é? Seu rosto não é estranho."
Melinda virou o copo de uma só vez e olhou Phill nos olhos: "Posso ser quem você quiser!"
"Isso é muito bom!", respondeu Phill, um pouco sem graça. "Diga-me, o que você pretende fazer agora? Digo, agora que está solteira."
"Não sei. Você salvou minha vida naquele bar. Eu estou com um veneno muito perigoso em minha bolsa. Se você não aparecesse ao meu lado, eu iria tomar aquilo e abandonar esse mundo de merda."
"Veneno? Sua bolsa estava tão pesada... imaginei ter uma marreta dentro. Mulheres e suas maquiagens...", Melinda riu. "Estou brincando. Mas é claro que você ia fazer uma bobagem. Uma mulher tão linda assim... Vamos, quer mais vinho?"
"Eu até já tinha feito uma carta de suicídio. Quer ver?", perguntou Melinda. "Escrevi essa cara milhares de vezes."
"Não acho uma boa idéia...", respondeu Phill.
"Pare com isso!", disse Melinda. "Eu só quero sua opinião. Quero saber se minha carta estava muito dramática."
"Tudo bem, deixe-me ver isto.", pegou a carta das mãos de Melinda e demorou a ler. Parecia estar estudando o quão dramático era a carta. "Ficou muito simples. Pra falar a verdade, ficou um pouco forçada. Eu escreveria de outro jeito."
"Como? Pode me mostrar?"
Phill pegou uma folha que estava em sua mesa e começou a escrever uma dramática e elaborada carta de suicídio. Alguns minutos depois, entregou à Melinda que leu sem tocar no documento: "E então, o que você achou?", perguntou Phill.
"Nossa! Se eu não soubesse, acharia que você é um suicida nato. Ficou perfeita.", deixou uma alça de seu vestido cair. Phill percebeu no mesmo momento.
"Nossa! Esse vinho pega rapidamente.", disse Melinda.
"Nem me fale. E olha que até estou agüentando bem. Eu ainda não comi nada hoje."
"E o que está esperando?", disse Melinda, que já estava nua, deitada no sofá.
A carta de suicídio de Phill ficou sobre a mesa da sua sala. Durante horas, ele e Melinda fizeram sexo como dois atores pornográficos: Era tudo muito perfeito, tudo sincronizado. Por fim, Phill caiu exausto no chão da cozinha. Melinda permanecia como se não tivesse feito nada. Era uma virtuosidade carnal fora do comum.
"Vamos repetir!", disse Melinda. "Meu recorde foi de seis horas seguidas!"
"Espere trinta minutos!", disse Phill. "Agora eu não vou conseguir. Tome ? jogou uma chave para Melinda ? naquele armário você encontra algo para poder ir se aquecendo.", buscou algo em seu bolso traseiro, jogou mais uma chave para Melinda: "Tome, essas são as chaves do outro armário. Lá você pode pegar as pilhas e o chicote de montaria."
"Deus do céu! Não sei se mato essa mulher, ou se caso com ela.", pensou Phill. "Preciso recuperar esse fôlego logo de uma vez. Não posso perder essa mulher por nada. Com essa baixa estima, podemos nos dar super bem."
"Você vem ou não vem? Esses brinquedos estão me deixando entediada.", disse Melinda.
"Vamos fazer assim, vá até a cozinha e prepare um energético para mim. Pelo visto, você não esta precisando.", disse Phill. Desabou sobre a cama de seu quarto. Quando Melinda levantou-se para preparar o energético, Phill acariciou o traseiro de Melinda e disse: "Por onde você andou esse tempo todo?"
"Por aí.", respondeu Melinda.
Com Phill exausto, foi muito fácil para melinda colocar o sonífero em seu copo. Caminhou até a sala, e pegou a marreta que estava em sua bolsa. Sem deixar Phill ver, Melinda escondeu a marreta debaixo da cama.
"Aqui está sua bebida.", disse Melinda entregando o copo à Phill.
"Isso está com um gosto estranho. Deve estar vencido..."
"Eu bebi um pouco na cozinha, me parece que está muito bom.", desconversou Melinda.
"Estou pronto!", disse Phill. "Vamos voltar ao serviço!"
Melinda subiu em Phill e começou a cavalgar sobre seu membro. Minutos depois, Melinda estava praticamente fazendo sexo com um homem desmaiado. Mas ela não parou até atingir o orgasmo. Depois de desabar sobre o corpo de Phill e dar um beijo em sua testa, deixou um dos braços escorregarem até a marreta que estava debaixo da cama.
"Phill... olhe aqui!", disse Melinda com a marrenta nas mãos. "Tenho uma surpresa para você.", quando Phill abriu os olhos, Melinda deu vários golpes em seu rosto. O rosto dele estava totalmente desfigurado. Só parou de golpeá-lo quando percebeu que ele já não respirava. Terminou o serviço jogando Phill pela janela do apartamento. Vestiu-se e caminhou lentamente pelos corredores do apartamento. Saiu pela garagem e fez sinal para um táxi que estava passando no momento. (É incrível como em filmes e livros, um táxi sempre aparece quando as pessoas precisam!)
"Está feito!", disse Melinda ao celular. "Até domingo, tchau.", pediu ao motorista que parasse quatro ruas antes de sua casa. Ao trancar a porta, e desabou em sua cama. "Por incrível que pareça, aquele homem acabou comigo essa noite!"
"Essa mulher é estranha.", pensou Canova. "Em certos momentos ela é um doce, já em outros, é completamente seca. Mas esse é o lado bom de ter relacionamentos com doidas. Nenhum dia é igual ao anterior.", pegou o celular: "Alô, Bishop. A segunda etapa está concluída. Espero por você domingo à tarde.", desligou.
Seis
Canova tirou o dia para fazer um programa em família. Mesmo estando em uma fase em que quer viver longe dos pais, Spector (filho de Canova) aceitou passar um tempo com seu pai. Foram ao cinema, jantaram em uma praça de alimentação em um famoso shopping da cidade. Depois de um longo jantar, foram comprar discos antigos, pois essa é uma paixão herdada por Spector de seu pai saudosista. Ao chegarem em casa, conversaram um pouco e todos os três foram dormir.
Domingo, dezessete horas. Canova está impaciente com o atraso de Melinda e Bishop. Fumou vários cigarros e acabou com duas garrafas de cerveja. Por fim, ambos entraram pela porta dos fundos, pegaram uma cerveja e sentaram-se à mesa.
"Como foi?", começou Canova, perguntando para Melinda. "Teve muito trabalho?"
"Meu trabalho foi muito prazeroso.", respondeu Melinda. "Qual é o próximo passo?"
"É o seguinte: Vocês dois vão se passar por um casal de namorados. Juntos, vão se matricular em um curso de culinária francesa e,", foi interrompido por Bishop.
"Gostei! Agora é a vez de o cozinheiro dar adeus aos seus pratos horríveis."
"Mas como vamos atrair a atenção dele?", perguntou Melinda.
"Simples.", respondeu Canova. "Logo na primeira aula, vocês vão simular uma discussão e Bishop vai abandonar a aula. Você começa a chorar e pede para sair da sala. Se tudo der certo, Cedric, mulherengo como é, vai se oferecer para ajudar. É nessa hora que você vai cedendo aos poucos... E o resto você já sabe.", deu mais um gole em sua cerveja.
"Faço ele me convidar para seu apartamento, e o resto eu já tenho em mente. Pode deixar.", respondeu Melinda, muito determinada.
"Mas,", interveio Bishop. "É importante você não ser vista com o francês. Vocês têm que se encontrar em um lugar neutro."
"Bem lembrado!", disse Canova. "Qualquer erro, estamos fodidos.", fez um carinho demorado em Melinda e só parou quando foi interrompido por uma tosse de Bishop.
"E eu? O que faço depois de sair da aula de culinária? Espero o telefone de um de vocês, ou sigo Melinda e o francês?"
"Disfarçadamente, você vai ficar nas proximidades do prédio do Cedric. Assim que receber o telefone dela, você a pega em seu carro e saem do local. Entendido?", perguntou Canova, bastante sério.
"Perfeitamente", Melinda e Bishop responderam ao mesmo tempo.
"Então... Isso é tudo. Aguardo telefonemas.", despediu-se de ambos e entrou em seu carro.
"Vamos, diga - lá. Como pretende matar o francês?", perguntou Bishop.
"Isto é um segredo. Você só vai ficar sabendo quando assistir ao noticiário.", respondeu. "Agora vamos embora. Preciso comprar algumas coisas."
"Aonde devo te levar?", perguntou Bishop.
"Ao açougue mais movimentado da cidade.", respondeu Melinda.
"Açougue?", perguntou Bishop, meio confuso.
"Preciso comprar uma máquina de moer carne."
"Santo Deus!", respondeu Bishop. "Você é louca!"
"A loucura é relativa. Quem pode definir o que é verdadeiramente são ou insano?"
"Belas palavras. Mesmo sendo totalmente doida e chapada de calmantes, até que você fala coisas bonitas.", disse Bishop.
"Na verdade não digo não. Essa frase é de um livro do Woody Allen.", respondeu Melinda. "Sabia que meu nome é uma homenagem a um filme dele?", perguntou.
"Olha, não quero ser rude com você, mas... não estou com saco para conversas sobre diretores adúlteros e seus filmes chatos.", respondeu Bishop, secamente.
O resto do caminho foi feito em silêncio. Ambos estavam muito pensativos, e Bishop estava preocupado em como iria articular sua próxima morte. Ao chegarem ao açougue, Melinda disse que iria embora de taxi. Despediu-se de Bishop e foi comprar o que tinha de ser comprado. Bishop resolveu algumas questões pendentes com alguns devedores e passou o resto do dia trabalhando em seu próximo assassinato.
Finalmente, o tão aguardado dia da aula de culinária havia chegado. O casal, agora chamado de senhor e senhora Nugent sentou-se e ouviu atenta e falsamente um bom pedaço da chata aula de culinária francesa. Assim como seus pratos, o sotaque francês de Cedric era qualquer coisa pra lá de horrível. Sem agüentar, Bishop deu início ao plano.
"Você é uma vadia que não sabe fazer um mísero prato dessa porcaria de aula! Vou-me embora desse local de merda!", e pariu em disparada.
Subitamente, Cedric e os alunos calaram-se para tentar entender o que estava acontecendo. O silêncio foi cortado por uma maré de comentários sussurrados pelos outros alunos. Melinda pediu licença à Cedric e saiu da sala aos prantos.
"Volto em um minuto.", disse Cedric. Foi direto ao banheiro feminino. Ao entrar correndo pela porta, acabou chocando-se com Melinda, que coincidentemente estava saindo do banheiro no exato momento.
"Mil perdões.", disse Cedric. "Não tive a..."
"Não. Eu é que tenho que pedir desculpas. Meu marido é um bruto! Um aninal! Não deveria ter sugerido essa aula. O mais difícil em um casamento é admitir que já esteja tudo estragado. Nós sempre achamos que é uma fase, que vai passar... Mas essa fase não passa. É nessa hora que o pior acontece.", disse Melinda.
"Não fique assim.", disse Cedric. "Vamos até o bar, você precisa de ar e água com açúcar."
"Muito obrigada. Você é um amor.", com ajuda de Cedric, Melinda foi até o bar do prédio.
"Desculpe perguntar, mas... que diabos aconteceu?"
"Como eu já disse, nosso casamento estava nos últimos dias. Não sei se você sabe, mas nessas circunstâncias, qualquer coisa é motivo de briga."
"Eu entendo...", respondeu Cedric. "A maioria dos casais, tem uma tara pela briga, pela discussão, pois usam o sexo para fazer as pazes. No meu casamento, eu, minha mulher e nossa amante... entrávamos em uma briga apenas para poder fazer amor com mais paixão.", ao dizer isso, percebeu que Melinda estava constrangida. "Desculpe, estou falando mais do que devia.
"Não! Você está falando uma coisa séria. Quantas vezes eu já causei ciúmes em meu marido apenas para gerar uma briga. Você sabe, nós, mulheres, necessitamos de atenção. Mas para meu azar, meu marido não sentia ciúmes das mulheres com quem eu flertava. Na verdade, esse era seu maior sonho."
"Mu-lhe-res?", perguntou Cedric.
"Sim, mulheres. Gosto de colocar uma, duas, ou até três mulheres na mesma cama com o homem que estou no momento.", olhou para o membro de Cedric, que já estava fazendo volume em sua fina calça e, levou uma de suas mãos até a virilha do francês. "Mas nem todos os homens conseguem acompanhar meu ritmo."
"Quais são seus planos pra hoje à tarde?", perguntou Cedric.
"Matar meu marido."
"E amanhã à noite?"
"Podemos discutir isso hoje à noite, em seu apartamento?", perguntou Melinda.
"Devemos!", respondeu Cedric. "Às vinte horas, no Pumpkin?s café. Combinado?"
"Mais do que combinado. Até mais tarde."
"Tome sua bolsa.", disse Cedric.
"Obrigado.", respondeu Melinda. "A maioria dos homens com que eu costumo sair reclama do peso da minha bolsa de maquiagem."
"Acho que é um peso dispensável. Uma mulher linda como você, não precisa dessas coisas."
"Que doce. Até mais."
Melinda aguardou até que Cedric voltasse para sua turma e foi de encontro com Bishop: "Marcamos para hoje à noite.", disse simplesmente.
"À noite é um termo muito vago. Que horas devo estar esperando? Vinte e duas? Vinte e três?"
"Meia-noite. Se tudo andar como planejo, estarei fora do prédio antes disso. A não ser que ele saiba galantear uma mulher.", deu uma risada à Bishop. "Se isso acontecer, posso demorar um pouco mais."
"Combinado.", disse Bishop. "Por falar em galantear... O que você acha de darmos uma esticada em meu apartamento agora?"
"Tome vergonha na cara! Olhe o que você está falando! Que tipo de mulher você acha que sou? Sou uma mulher de princípios, de respeito!"
"Sério?"
"Além do mais, tenho que estar totalmente disposta quando me encontrar com o francês. Se é que você está entendendo o que estou querendo dizer.", piscou.
"Santo Deus! Agora entendo o motivo de você estar envolvida nesse plano. Você é uma fria calculista. Sinto nojo de você!"
"Vindo de um assassino sádico, até que isso é um elogio!", retrucou Melinda.
"A cada momento que passo ao seu lado, mais vontade de vomitar eu sinto. Mas voltando ao assunto; vamos ao meu apartamento, sim ou não?"
"Você não desiste mesmo, não é?", disse ao sair do carro. "Tchauzinho.", Melinda deu uma piscadela e saiu caminhando pela calçada como se fosse uma modelo Top Model.
"Vadia.", pensou Bishop.
Bishop deu algumas voltas de carro e voltou à sua casa para pensar em como iria vestido ao encontro de Melinda e Cedric. Depois de algumas horas de indecisão quanto ao vestuário, ele finalmente percebeu que suas chances de conseguir algo com Melinda eram praticamente nulas. Vestiu qualquer roupa que viu pelo caminho e foi para uma das ruas próximas ao prédio de Cedric. De longe, pode ver o francês abrindo a porta de seu carro para Melinda sair. "Malditos franceses românticos!", disse para si mesmo.
Dentro do apartamento, o sensível francês abandonou o cavalheirismo e de uma hora pra outra, arrancou toda a roupa de Melinda com apenas uma mão. Com um movimento, jogou Melinda na cama e a cobriu de beijos ardentes e molhados. Melinda nem teve tempo de esconder sua bolsa de maquiagem. Cedric não dava trégua, agia como um extraordinário amante italiano. Melinda resolveu esquecer o plano por algumas horas e usou e abusou da técnica francesa de sucção genital usada por Cedric.
"Você é sempre assim com todas?", perguntou Melinda.
"Mas é claro que não! Isso só está acontecendo com você. Apesar de francês, sou um lorde inglês com as mulheres, só que possua boa dentição.", com uma repentina virada de braços, os corpos de Melinda e Cedric pareceram estar entrelaçados, como um uma rede de um pescador, ou como meus pêlos pubianos antes da depilação.
"Preciso de ar.", disse Melinda, entre as pernas de Cedric.
"Espere! Espere, estou quase lá!", gemeu Cedric. Depois de alguns minutos de gemidos que mais pareciam de um urso carioca ? não que eu saiba como um urso carioca geme ? Cedric saiu de cima de Melinda, que estava totalmente sem fôlego e não conseguia mover um músculo sequer. "Pronto! Daqui a cinco minutos estou pronto para outra.", disse.
"Pelo amor de Deus! Vamos com calma. Assim não irei agüentar míseras seis horas com você!", respondeu Melinda. "E não gosto de ter um rendimento ruim.", fez um carinho em Cedric: "Estou com sede, tem alguma coisa para bebermos?"
"Mas é claro. Casa de francês sem bebida é o mesmo que comida em festa de maconheiro: impossível.", levantou e foi preparar uma bebida.
Mais que prontamente, Melinda buscou sua bolsa que foi deixada ao lado da porta, pois com a rapidez de Cedric, ela nem conseguiu preparar o material. Colocou a bolsa embaixo da cama e se descobriu com os ricos lençóis de Cedric. Ficou nua, fazendo o máximo de charme possível para atrair seu alvo.
"Vamos, meu amor. Estou ficando com sede!"
"Já estou indo. Só um minuto."
Um minuto depois, Cedric apareceu no corredor com uma bandeja, dois copos e uma garrafa de champanhe. "Toda sua.", disse Cedric, entregando uma taça para Melinda. "Se não for o bastante, tenho muito mais em minha adega.", gabou-se.
"Humm, realmente está uma delícia. Essa foi uma das melhores champanhes que tomei na vida. Agora chega de papo furado! Quero você, e quero agora!", ao falar isso, deu um salto e caiu com o sexo sobre a cabeça de Cedric. "Vamos ver quem acaba com quem..."
"Meu Deus! A mulher dos meus sonhos!", Cedric usou toda sua força e envergadura para poder impressionar sua parceira. Ao tentar uma posição mais extravagante, ficou totalmente de costas para Melinda, que viu ser o momento certo. Cedric estava tão compenetrado em demonstrar sua técnica sexual que não percebeu quando Melinda, mesmo aos gemidos conseguiu alcançar sua marreta e o atingiu forte e repetidamente na nuca. Cedric ficou desacordado por um longo tempo. Melinda, cuidadosamente vestiu suas luvas e buscou algo em sua bolsa. Depois de gastar um bom tempo na cozinha atrás de mais champanhe, retirou de sua bolsa, uma seringa. Virou o corpo de Cedric, deixando suas costas para cima. Cedric já começava a recuperar os sentidos, quando sentiu uma agulha perfurando-lhe as costas. Em poucos minutos estava totalmente adormecido. Melinda retirou o seu brinquedo comprado horas antes, no açougue: Uma máquina moedora de carne portátil.
"Você vai aprender que nenhum verme consegue competir comigo na cama!", dizia Melinda enquanto retirava a cueca de Cedric. Procurou a tomada mais perto testou seu novo brinquedo sádico: "Tudo funcionando perfeitamente." Retirou uma enorme faca, aparentemente comprada juntamente com a máquina de moer. Deu fortes tapas no rosto de Cedric: Não houve resposta corporal. "Perfeito!", disse Melinda.
Sem nenhum tipo de pena, Melinda, com auxílio de sua faca, cortou o pênis de Cedric. Nenhum movimento de dor ou incômodo. "Essa anestesia é tiro e queda!", disse com o pênis ensangüentado em uma das mãos. "É por isso que o doutor Waits insiste que eu usa anestesia local quando vou doar sangue..." Ligou a máquina de moer carne: "Vamos ver se isso funciona." Funcionou.
Melinda, com muito sangue frio, esperou o efeito de a anestesia passar, para poder ter o prazer de jogar os restos genitais em Cedric. Assim que o francês acordou, sentiu fortes dores na região púbica. Ao perceber o que tinha acontecido, entrou em desespero. Tentou se levantar, mas ainda estava um pouco tonto: Desabou no chão de seu quarto.
"Eu não sou tão mal quanto pareço.", disse Melinda. "Vou te poupar da vergonha entre seus amigos...", disse Melinda abrindo sua bolsa.
"Quem fez isso comigo? Eu senti uma dor forte na cabeça e não me lembro de nada.", gritava Cedric. A dor era imensa. "Você vai me ajudar?", perguntou com súplica.
"Digamos que é uma ajuda..." O tiro foi abafado pelo silenciador da pistola.
Sete
Anoitecer de domingo, Melinda e Canova chegaram um pouco mais cedo do que foi combinado. Canova fez o esforço de satisfazer as vontades carnais de uma mulher que é capaz de cortar o pênis de um homem logo após de ter feito sexo com ele. No final das contas, Canova até gostava das noites ? ou tardes ? que passava com Melinda. Aparentemente, ela era apenas uma louca sádica com os outros homens. Ao ouvirem o barulho do carro de Bishop, rapidamente vestiram-se e ficaram calmamente sentados no sofá velho.
"Ah, vocês chegaram mais cedo...", disse Bishop ao abrir a porta. "E então, como tudo aconteceu? Esperei sua ligação, esperei durante horas. Seu celular estava desligado, resolvi ir embora.", justificou-se.
"Aconteceu como tudo deveria acontecer.", disse Canova. "Malena anda me fazendo um ótimo trabalho."
"E ontem, no apartamento do francês, também fiz tudo certo."
"Comporte-se.", disse Canova. "Mas e com você?", perguntou Canova para Bishop. "Ouviu algo nos noticiários?"
"Você ficou louco? Com 100% dos soldados e policiais americanos no Afeganistão, tiveram que aceitar ajuda dos policiais brasileiros. Estamos mais seguros do que vaginas em mãos homossexuais."
"É sério?", perguntou Melinda.
"Claro! Eles não gostam de vagina!"
"Não, imbecil! Estou falando dos policiais brasileiros!", disse Melinda.
"E de quem você acha que ele está falando?", perguntou Canova.
"Vamos sair para comemorar!", disse Bishop.
"Hoje não posso...", disse Canova. "Hoje a noite é a estréia do meu filho no time de futebol da escola dele. Tenho que participar de alguma coisa na vida dele. Não sei até quando os policiais brasileiros vão ficar por aqui..."
"Relaxa homem! Você acha que daqui cinqüenta anos os soldados americanos terão abandonado o Afeganistão?", perguntou Bishop.
"Tem razão. Estamos seguros pelo resto da vida. Vamos deixar as comemorações para o próximo domingo. Vamos nos reunir aqui, nessa mesma hora para decidirmos o último capitulo dessa história."
"Até domingo.", disse Bishop.
"Até mais.", respondeu Canova.
"Então... Estamos sozinhos novamente. Quer repetir?", perguntou Melinda. "Temos muito atraso para tirar."
"Tem razão, meu filho vai ter outros jogos. Vamos nessa!"
Depois de uma noite muito agradável junto à Melinda. Canova acordou cedo, deu um beijo no rosto de Melinda e apressou-se em chegar na casa de sua mãe. Teria que pensar em alguma desculpa para a perda do jogo do filho. Para sua tristeza, o time do filho goleou o time adversário por 6x1 e seu filho, um atleta promissor, marcou nada mais nada menos que cinco gols. Canova disse estar em uma entrevista de emprego, desculpa que foi facilmente absorvida pelo filho.
"Deus, os dias não passam!", pensava Canova, enquanto tentava conseguir emprego nas empresas concorrentes de sua ex-empresa. Depois de receber um telefonema de uma empresa de design, ficou animado ? não a ponto de esquecer seu plano de vingança ?, pois achou que sofreria para conseguir outro trabalho.
"Muito bem!", disse o entrevistador. "Gostamos do seu perfil. O senhor começa no próximo sábado."
"Vocês não vão se arrepender!", disse Canova. "Tenha um bom dia.", saiu apressado, pois Bishop, um pouco antes, mandou uma mensagem de texto, marcando um encontro. O assunto em questão era ? obviamente ? a morte de Blake. Todos ? Melinda, Bishop e ele, mais do que nunca ? queriam participar das torturas contra o último bastardo. Mas Canova não entrou em detalhes: Limitou-se a dizer que todos participariam do último capítulo dessa vingança. Já que estavam discutindo o plano, resolveu fazer uma ligação para Melinda, para que assim, fizesse parte da reunião ? que oficialmente estava marcada para domingo. Ao receber o recado, Melinda apressou-se em chegar ao ponto de encontro.
"Qual o motivo das mudanças de horários?", perguntou assim que entrou. "Eu estava no meio de um filme francês!"
"Nosso plano é mais importante que suas atividades culturais.", ao dizer isso, Bishop provocou, fazendo sinal de aspas ao pronunciar a palavra cultural.
"É o seguinte.", começou Canova. "Blake costuma freqüentar o clube aquático toda tarde. Ele fica cerca de quarenta minutos na piscina. Em seguida, geralmente, ele passa vinte minutos na sauna. Você ? disse Canova, olhando para Melinda ? deve encontrá-lo nesse clube no momento em que ele estiver saindo da sauna. Como todos os outros homens, ele sai da sauna usando apenas uma toalha enrolada na cintura. Ao cruzar seu caminho, você deve simular um tombo e segurar sua toalha, fazendo com que ele fique nu à sua frente..."
"Deus, eu adoro esse plano!", disse Melinda.
"Anyway,", disse Canova, com sua péssima mania de usar expressões em inglês. "Quando ele estiver nu, você elogiará a genitália..."
"Você está dizendo que eu devo elogiar. Certo?"
"Não. Você elogiaria de qualquer maneira."
"Como você tem tanta certeza?", perguntou Bishop.
"Isso não vem ao caso!", desconversou Canova. "Como eu estava falando... Ao elogiar a enorme genitália, você deve, explicitamente, usar todo seu charme para fazer com que ele te convide para sair. Como sabemos a fama de conquistador de Blake, ele obviamente vai fazer algum tipo de proposta. Não interessa o que vocês irão fazer durante a noite. Isso vai ser um assunto seu. O mais importante é que no final da noite, você consiga fazê-lo ir com você até esse endereço ? entregou um cartão com um endereço de um apartamento alugado por ele. ? e deixá-lo o mais cansado possível."
"Claramente isso não vai ser um problema...", sussurrou Bishop.
"Como é?", perguntou Melinda.
"Nada... Quer dizer... Como você conseguiu esse apartamento?"
"Aluguei com identidades falsas.", respondeu Canova. "Voltando ao assunto... Bishop e eu, estaremos escondidos na suíte do quarto. Você além de deixá-lo muito cansado, deverá fazer com que ele beba o máximo de cerveja possível, para que assim, acabe indo ao banheiro o mais rápido possível."
"E nós acabamos com a raça daquele inseto!", disse Bishop. "Estou esperando por esse momento há muito tempo."
"Isso mesmo. Cansado já seria fácil... Cansado e bêbado vai ser moleza.", disse Melinda.
"Mas,", continuou Canova. "Temos que fazer com que tudo seja muito silencioso. Não podemos ser ouvidos e vistos por ninguém. Entendido?", perguntou seriamente.
"Perfeitamente!", responderam os compassas.
"Então estamos entendidos. Amanhã será o grande dia.", levantou-se e concluiu: "Bishop e eu estaremos escondidos no apartamento desde as dez da noite."
Os três saíram separadamente pela porta dos fundos. Melinda foi terminar o filme, Bishop foi para casa e Canova foi comprar um presente de aniversário para seu filho e roupas novas para seu novo emprego, que começará no sábado. Para ele, esse emprego é o começo de uma nova vida, e o final de uma vida vergonhosa. Prometeu à si mesmo que depois que tudo isso chegar ao fim, ia converter-se à uma religião e segui-la seriamente, assim como fazem todos os tipos de pessoas que no passado cometeram crimes, usaram drogas, mataram e estupraram. Como se assim, garantisse um lugar no reino dos céus. A grande maioria dos "arrependidos" é assim: Depois de anos fazendo atrocidades, acham que ao entrar e freqüentar uma religião, são aptos para pregar a palavra de Deus. O pior não é achar que freqüentar cultos semanais de uma igreja em que o culto é mais barulhento do que uma reunião de família italiana é salvação. O pior fica para as pessoas que não freqüentam igreja alguma, ou são de outras religiões ? não menos hipócritas ?, que terão que atender as desagradáveis visitas aos sábados pela manhã. Um sujeito que ontem matou, hoje bate em minha porta pregando a palavra. Chega a ser cômico.
Como de costume, o plano de Canova foi perfeitamente executado. Melinda conseguiu fazer com que o galanteador Blake, aceitasse uma aventura no apartamento alugado. Depois do episódio da toalha e da enorme genitália ? nas palavras de Canova ?, seguiram para um famoso bar no centro da cidade, vários drinques e cervejas depois, terminaram a noite no apartamento alugado.
"Vamos... tire essa roupa!", disse Melinda, retirando as calças de Blake.
"E você? Vai continuar com esse casaco?", perguntou Blake.
"Não se preocupe com ele.", disse Melinda. Com um movimento rápido, deixou o casaco deslizar sobre seu corpo completamente nu. "Costumo fazer surpresas aos homens que sinto atração."
"Estou vendo!", respondeu Blake. "Belo apartamento, você mesma decorou?"
"Não... Fiquei com o apartamento depois do divórcio."
"Divórcio?", perguntou Blake.
"Divórcio?", se perguntaram no banheiro, Canova e Bishop.
"É...", respondeu Melinda. "Mas não quero falar disso. Vamos começar a diversão!"
Melinda e Blake começaram suas aventuras carnais. Não satisfeitos com a cama, começaram um tour pelo apartamento: cozinha, banheiro, varanda, dispensas e escadas. Como foi combinado, Melinda não fez muito barulho. Já Blake parecia um porco sendo morto para o jantar. Várias horas iam passando, e Blake não ia ao banheiro.
"Poderíamos ganhar uma grana se filmássemos as cenas de sexo.", disse Bishop. "O pornô amador é a nova moda da pornografia atual. O público não gosta de mulheres inatingíveis, com seios de silicone e com jeito de atrizes americanas. Estão preferindo mulheres normais. Mulheres que você esbarra ao comprar pão, mulheres que você encontra pela rua."
"Como você sabe disso?", perguntou Canova.
"Um primo de um amigo meu assiste muita pornografia..."
"Sei...", ouviram a porta do banheiro sendo aberta. "É ele! Faça silêncio."
Blake entrou cambaleando pela porta e permaneceu em frente ao espelho durante alguns segundos. Jogou um pouco de água no rosto e respirou fundo. Por fim, urinou durante longos quarenta segundos. Bishop, não conseguia segurar a ansiedade: Com sua faca, ele saltou de trás da cortina da banheira e cravou a faca nas costas de Blake, que deu um grito. Canova fez o mesmo, saltou da banheira e à base de socos e pontapés, derrubou Blake. Melinda ao perceber o que estava acontecendo, correu ao banheiro com sua arma em punho e mirou na nuca de Blake, que ainda estava confuso com tudo aquilo.
"Esperem!", disse Canova. "Quero que ele saiba o motivo de estar morrendo."
"Canova? É você?", perguntou Blake. "Isso tudo é por ter te despedindo anos atrás?"
"Não... É uma questão de princípios. A culpada de tudo isso foi a Norah. Ela é irmã mais nova do Cale.", começou Canova.
"Cale?", perguntou Blake.
"Cale. Um antigo empregado da sua empresa. Ele trabalhou lá durante muito tempo. Certo dia, ele passou mal e foi mandado para o médico da empresa. Esse médico o deixou no quarto e foi paquerar a enfermeira. Ele tentou alcançar uma revista sobre a mesa, e acabou caindo no chão..."
"Ele morreu ao cair no chão?", perguntou Blake.
"Não. O médico ao ouvir os gemidos de dor dele, foi até ele e tampou a boca dele com um pedaço de fita. Cale estava sonolento devido à anestesia, então acabou tropeçando e caindo pela janela do oitavo andar."
"Ah!", exclamou Blake. "Agora estou lembrando. Foi o sujeito que caiu nas grades do muro..."
"O próprio! Norah era a irmã mais nova. Fez de tudo para entrar conseguir se vingar da morte do irmão. Ela me usou. Ela me prometeu um ménage com três gêmeas loiras contorcionistas. Quando ela foi surpreendida na sua sala tentando sabotar a campanha publicitária, colocou a culpa em mim..."
"Já chega!", disse Melinda. "Ele já entendeu tudo. Vamos acabar logo com isso."
"É verdade!", concordou Bishop. "Só me falta isso ficar sentimental com crises existenciais."
"Contorcionistas gêmeas?", perguntou Blake.
"Viu como não tive escolha?", respondeu Canova com outra pergunta. "Eu estava cego de excitação pela idéia..."
"Qualquer um ficaria!", disse Blake. "Imagina a quantidade de possibilidades da coisa..."
"Pois é. E o pior foi que mesmo concordando em ajudá-la, fiquem sem o ménage!"
"Que vadia!", disse Blake. "Escute, vamos acabar com isso. Eu te dou o cargo de presidente da empresa. Fingimos que não aconteceu nada. Nós vamos até um hospital, eu conto que fui atacado por algum remanescente da família Manson... Se precisar dou emprego para seu amigo e sua sexy amiga."
"Tem certeza?", perguntou Melinda.
"Oh, sim! Você é muito sexy.", disse Blake.
"Esqueça isso!", disse Bishop. Vamos acabar com isso de uma vez!"
"Sinto muito Blake, mas não estou com ânimo de discutir salários a essa hora da noite. Mas vou facilitar te facilitar as coisas..."
"Você ficou maluco?", disse Bishop ao cravar sua faca no peito de Blake. Retirou a faca e deu vários golpes no peito e estômago de Blake, que já estava sem respirar. "Pronto! Está acabado...", disse Bishop. "Você e suas crises de bondade...", disse Bishop, olhando para Canova.
"Do que você está falando?"
"Você estava a ponto de perdoá-lo... Com esse papo de facilitar as coisas..."
Canova riu: "Você achou que eu ia levá-lo ao hospital? Pelo amor de Deus! Eu iria dar um tiro em sua cabeça, para morrer de uma vez."
"De qualquer forma. Conseguimos ter sucesso no final!", disse Melinda.
"Olhem!", disse Bishop ao abrir a carteira de Blake. "Vamos pegar o cartão de créditos e sacar todo o dinheiro de sua conta!"
"Boa idéia!", disse Canova. "Vamos tomar um banho e procurar caixa eletrônico mais próximo."
Saíram do apartamento sem pressa e caminharam lentamente até um ponto de táxi. Canova dividiu a enorme quantia de dinheiro retirada da conta de Blake entre os três. Com a sua parte, pretendia garantir o futuro de seu filho. Melinda iria investir em uma carreira de diretora de cinema, e Bishop iria fazer uma viagem ao Brasil para conhecer o carnaval e o tráfico no Rio de Janeiro.
"Canova,", disse Bishop.
"Diga.", respondeu Canova.
"Você se recorda do dia em que estávamos traçando os planos para Melinda e Blake na sauna?"
"Sim."
"Então, você tinha razão... Que genitália!", respondeu Bishop.
"Deus do céu!", disse Melinda. "Vocês são muito estranhos!"
"Sem querer interromper seus estranhos desejos sexuais, mas já interrompendo... Para onde os levo?", perguntou o taxista.