Tragédia do Pato Todinho
Por Norma Viana | 20/01/2010 | ContosSumário
Todinho descobrindo o mundo..........................
Todinho Pensativo.............................................
A festa Junina desperta Todinho.......................
O grande dia......................................................
O Círio de Nazaré............................................
A Volta do Todinho ao Pó...............................
Todinho descobrindo o mundo
-Ah! Que escuridão! Tenho feito toda força e não me liberto da escuridão!
-Toc, Toc, Toc. Assim faz o pato com o bico na casca do ovo. E assim o pequeno animal se esforça, quase que perdendo as forças. Tenta mais uma vez:
- Toc, Toc, Toc.
- Até que enfim! Agora sinto a liberdade, a luz, a alegria. Vou ver se já sei caminhar.
- Que dia é hoje?
- Ah! 29 de abril. Fala desconfiado.
Passaram-se os dias o patinho amarelinho passeia por todos os espaços no quintal e olha de forma desconfiada para o pequeno igarapé que flui no fundo do quintal.
- Hoje vou experimentar nadar nessa água fresquinha, perceber o que minha mãe sente ao nadar nesse riacho. Sempre ela sai feliz e me acalma, principalmente quando a minha dona me força a comer aquele grão de milho imenso, que às vezes me sufoca.
Pela manhã a Dona da casa grita junto à ingazeira chamando os patinhos para a primeira refeição:
- Pato!Pato!Pato!
- Vamos comer, comer tudo, dá jeito de não se afogar no igarapé, porque no Círio de Nazaré quero ter um bom dinheiro para trocar a minha cama!
A pata coma filharada comem com sofreguidão os grãos de milho e se vão a fileira para a sombra do limoeiro beber água que fora trocada sempre naquele instante pela sua dona. Bebem, bebem... Matando a sede com aquele liquido fresquinho e limpo.
Não fosse a distância de Belém, podia-se acreditar que estivessem aqueles patos nascido na Ilha de Marajó, Ledo engano, eles são nascidos no corolário dos lagos no estado do Maranhão, mais precisamente em Viana.
O patinho contestador, começou a perceber o interesse que sua dona possuía em tratá-los bem, resmunga:
- O que está havendo?! – A minha senhora não cuida bem das galinhas, as coitadas ficam ciscando, ciscando atrás de minhocas, ou comem o resto que deixamos. Além do mais ela come todos os seus ovos só restando às coitadas ficarem nervosas porque não os possuem para chocá-los e ficam a cacarejar o tempo todo, ciscam, batem as asas, é um desacerto.
- Andem, andem, meus patinhos! Clama a velha senhora com seu vestido de chita, e tigela na mão repleta de angu.
- Comam! Cresçam! Hei de vendê-los para o homem que vem comprá-los para a festa do Círio de Nazaré.
- Oba! Festa! Nossa, acho que vai ter muitos balões, quero que esse homem compre um balão azul bem bonito.
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- Vou pedir também que deem comigo uma volta na roda gigante.
_ Que estás a resmungar menino? Disse a pata requebrando-se pra lá e pra cá.
- Deita aqui debaixo de minhas asas, durma um pouco. Continuou a pobre pata.
Todinho Pensativo
O patinho lá se foi recolher.
Dormir, não conseguia, fechava os olhos via tremulando as bandeirinhas da festa. Ansioso, pensava no foguetório e resmungava:
- Tenho medo de foguetes, muita zoada, acho que vou sentir fortes dores de cabeça.
- O que resmungas Todinho? Pergunta-lhe a sua mãe.
- Nada, mamãe, estou pensado em voz alta.
A pata impõe-lhe:
-Cala! Vê se dormes!Não te contentas com meu acalanto?!
O patinho fecha os olhos e se esforça. Por fim dorme. Começa então a sonhar com a viagem, com a festa, com as músicas do arraial, com a procissão...
Às 05 horas da manhã a pata acorda sua ninhada e vai nadar no igarapé. Ainda está frio, mas os patinhos sacodem as asas e vão treinar.
Os dias se passam, os patinhos alimentados bem, já não têm as penas amarelas, estão pardacentas, no entanto, Todinho continua seu devaneio.
A festa Junina desperta Todinho
- Que dia é hoje? Perguntou todinho ao Toquinho seu irmão.
- Bobo, hoje são 06 de de junho. – Não Vês que o pessoal da casa está se arrumando para a festa de santo Antonio. Bordaram chapéus, enfeitando-os com fitas e espelhos, fizeram lindas tangas de veludo com lantejoulas e ensaiam a matraca dia e noite.
- Que festa é essa ? Perguntou Todinho.
- É a quadra Junina, que começa nesta época e só acaba dia de São Marçal com a morte do Boi.
Todinho já mais maduro fala:
- Morte do Boi? E no Círio de Nazaré será que morre a vaca?
Toquinho andando de um lado para outro responde:
- Não sei, acredito que o Círio é muito diferente do Bumba – Boi.
Os dias vão-se passando, D. Leonarda, a dona da casa, deleita-se em alimentá-los bem e fugindo da rotina sempre lhes oferece angu, minhocas até mesmo pipocas. Não desleixa mesmo, Está atenta a todos os movimentos dos patos do seu quintal.
Toquinho já está apaixonado pela patinha Dilce filha de sua tia, e com ela passeia sozinho por entre as bananeiras, mergulham no igarapé e sorrateiramente comem minhoca.
Todinho não consegue pensar ou fazer outra coisa. Continua absorto em sua viagem para Belém. Deita-se isolado debaixo da Jaboticabeira e pensa no Círio de Nazaré, ilustrando a seu modo a festa da qual acredita que vai se divertir.
A ninhada já cresceu. A Pata, mãe de Todinho já o alforriou e a seu irmão para namorar as patinhas do terreiro.
Todinho, já forte e tenaz, não vê o dia da viagem chegar, até que um belo dia D. Leonarda exclama:
O Grande Dia
- Pato! Pato! Pato!
Todos correm mais uma vez para perto da ingazeira para comer, porém saboreando o milho, Todinho Ouve:
- Hoje vocês irão para o Pará.
Foi um alvoroço, todos corriam para livrar-se da prisão empreendida pelos netos de D. Leonarda, só todinho abaixou-se e se fez refém.
- Não adiante correr como louco, estou próximo a andar de roda-gigante e brincar com meu balãozinho azul. Pensou Todinho.
Preso num caminhão-gaiola, próprio para aves, partem de Viana. Todinho não se contenta de alegria, bica o irmão, o primo e assim se entrega ao sonho da festa do Círio de Nazaré.
Três dias se passaram... O caminhão chegou a Belém. Diz o condutor do Veículo:
- Vamos desembarcar. Temos muita encomenda no ver-o-Peso.
Saem todos os patos e patas, inclusive Todinho que vai direto para a barraca do Jorjão.
Cansado Todinho resmunga:
-Isto é o Círio? Que bagunça! Fica a ouvir as vozes dos vendeiros:
- Temos cheiro-do-Pará, olho-de-boto, malva-grossa, hortelã, tucupi, jambú. Vamos comprem, comemorem o Círio!
O Círio de Nazaré
- Aqui tudo fede, não vejo nenhum cheiro, só urubu, gritaria e confusão. Diz Todinho.
No primeiro sábado de outubro chegou um senhor e disse:
_ Quero esse pato aqui . Oba! Ele está gordo e bonito. Vai ser uma bela festa.
Todinho acomodou-se feliz no porta-malas daquele carrão luxuoso e pensou: Esse moço é rico, acredito que passearei mais, e me divertirei de montão.
Pelas ruas de Belém lá ia Todinho com seu dono, até que:
_ Suely, vê que belo pato!
A senhora prontamente acode:
-Nossa, vai ser beleza nosso círio! Com pato no tucupi e jambú.
Chegando no apartamento, foi colocado na área de serviço preso pelos pés, mas ele compreendia que era necessário ficar desse jeito pois o prédio poderia cair e ele ser roubado. Preso ele se sentia parte daquela família.
Mais uma vez Todinho passou a noite pensando na roda gigante, com as bandeirinhas azuis, e nos balões coloridos que subiam ao céu nas manhãs alegres do Largo de Nazaré.
Na manhã seguinte, o vapor subia da panela, o fogão fervia a água que o nosso pato sonhador mergulharia direto para a morte.
A senhora, tomou o pato, e ele eufórico pessou:
- Agora vou para o arraial! Que felicidade!
Mas...
Torceram-lhe o pescoço. Ei-lo morto.
Tiraram-lhe as penas, tiraram- as vísceras.
E ao meio dia fumegava, o prato na mesa ornada que recendia o cheiro agridoce do prato tipicamente paraense.