TÓPICOS IMPORTANTES EM PROGRAMAS DE MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL
Por Josiel Borges Ferreira | 01/04/2015 | ArteTÓPICOS IMPORTANTES EM PROGRAMAS DE MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL
J. B. Ferreira1, T. M. L. Sousa2
1Zootecnista, Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, Natal, RN. E-mail: jjosielborges@hotmail.com
2Graduação, Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, Natal, RN. E-mail: tml_sousa@hotmail.com
RESUMO: Os programas de melhoramento genético utilizam como guia os parâmetros genéticos e as mudanças de estimativa gênica e é através de mensurações que se pratica intuitivamente a seleção. Os princípios básicos dos programas de melhoramento genético selecionam os melhores indivíduos, garantido animais com característica favorável que são utilizados como pais em gerações futuras. Um bom desempenho de um programa de melhoramento genético esta associado a diversos fatores ligados ao planejamento da metodologia. Este trabalho tem por objetivo esclarecer os princípios básicos de um programa de melhoramento genético animal elencando alguns dos principais tópicos.
PALAVRAS CHAVES: bovino, biotecnologia, inseminação artificial, seleção artificial, sistemas de produção
INTRODUÇÃO
O melhoramento genético animal sempre prevaleceu entre criadores considerados de ponta, sendo estes os que apresentavam desempenho satisfatório no desenvolvimento de metodologias como esta e que segundo LIRA et al. (2013) se enquadra em uma das mais importantes decisões que maximizam a produção animal.
Apesar de grandes mudanças nas ultimas décadas nos programas de melhoramento genético animal, o desenvolvimento desse método não consegui alcançar os produtores de menor porte, como por exemplo, os agricultores familiares. A principal mudança existente no melhoramento estava voltada a substituição de medidas mais intuitivas, ou seja, que não tinham tanta precisão no melhoramento genético, pelos cálculos de predição, auxiliados por biotecnologias voltados as técnicas de reprodução e genética molecular (VAN DER WERF, 2006).
Atualmente espera-se que os sistemas de produção animal atendam aos requisitos básicos para que possivelmente atinjam a longevidade produtiva de forma sustentável. Dentre eles destacam-se: a viabilidade econômica, a conservação dos recursos naturais (água, solo e ar), a preservação do meio ambiente e a desenvolvimento humano. Entende-se que com a inserção de novas técnicas incluídas em sistemas de produção animal, exista uma atenção em relação a esses requisitos, existindo certa dificuldade nessa prática.
A utilização de programas de melhoramento genético geralmente abarca atividades de campo atribuídas a diferentes profissionais, possibilitando menores contratações e possivelmente maior desemprego no campo. Um exemplo dessa característica são os sistemas de produção modelos, criados desde a revolução industrial citados nos trabalhos de GUILHERMINO et al., (2009), em que homens eram substituídos por máquinas. Os programas de melhoramento genético apresentam grande importância, mas ainda são entendidos e manuseados de forma mecânica, não demonstrando sua real importância e deixando de ser eficaz o suficiente.
Este trabalho tem por objetivo esclarecer os princípios básicos de um programa de melhoramento genético animal elencando alguns dos principais tópicos.
PLANEJAMENTO DE UM PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO
O planejamento é uma ferramenta administrativa que transmite de forma sistêmica todas as etapas de um processo, além de apresentar predições da situação que se é trabalhada. No melhoramento genético esse planejamento inicia-se pelo objetivo: como chegar lá!
Os programas de melhoramento genético utilizam características quantitativas (produção de leite, rendimento de carcaça, altura, etc.) e que segundo Santos et al. (2012), a partir do conhecimento dos parâmetros genéticos e de mudanças de estimativa gênica que se inicia a formação das diretrizes que guiam um programa de melhoramento genético. Através destas mensurações pratica-se intuitivamente a seleção e posteriormente o descarte. Alguns programas de melhoramento genético são penalizados por não delinearem corretamente o seu objetivo e assim não conseguem resultados significativamente satisfatórios.
A coleta de dados é um item que o programa de melhoramento genético é completamente dependente, e esse por sua vez depende do homem. Esse fator carrega de forma intrínseca as grandes diferenças entre quem coleta os dados, o que deve ser coletado, o tamanho do banco de dados, como analisá-lo, etc. Outro fator que pode ser problemático pode ser considerado a terceira etapa: o processamento dos dados coletados e a transformação dos mesmos em informação e a quarta etapa: interpretação das informações.
UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO NO MELHORAMENTO GENÉTICO
As técnicas de reprodução são geralmente confundidas com a prática do melhoramento genético e na verdade são apenas técnicas auxiliares para o melhoramento genético animal. As principais técnicas utilizadas são a inseminação artificial (IA), a fertilização in vitro (FIV) a transferência de embrião (TE) e a clonagem.
A IA vem desempenhado grande papel na bovinocultura de leite e corte, que segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ABIA), auxilia na resolução de problemas referentes à impossibilidade de efetuar a monta natural e/ou problemas adquiridos (idade avançada, aderência de pênis, artroses, etc.).
Segundo VIANA & CAMARGO (2007), a técnica de produção de embriões em laboratório, conhecida como fertilização in vitro (FIV), somada ao desempenho da TE produzidos in vivo içou o Brasil a ser o maior produtor mundial de embriões bovinos e a condição de exportador desta biotecnologia.
O modelo tradicional dos programas de melhoramento genético (Figura 1) se baseia na distribuição de técnicas nos seguintes locais: Rebanhos Núcleo (N), Rebanhos Multiplicadoras (M) e os Rebanhos Comerciais (C). No núcleo as técnicas são usadas de forma constante e é claramente inevitável para essa fase, por sua vez, o núcleo fornece animais para as granjas multiplicadores que recebe animais prontos para entrada no sistema de produção nas granjas comerciais.
Figura 1 - Estrutura piramidal de organização da produção de carne, estratificada em rebanhos núcleos, multiplicadores e comerciais (ALVES et al., 1999).
SELEÇÃO PARA O MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL
A substituição é necessária! A taxa de reposição deve se manter a igual à taxa de descarte quando se pretende manter o rebanho com mesma quantidade de animais. Os reprodutores precisam produzir progênie que sobreviva e se tornem aptas à reprodução, sendo em quantidade mínima de dois indivíduos (FALCONER, 1996).
Alguns itens devem ser levados em consideração, como é o caso da taxa de sobrevivência e da fecundidade das fêmeas, tendo influencia sobre a quantidade de reprodutores no plantel. Por exemplo, se as cabras são mais prolíferas e produzem mais cabritos, há necessidade de manter menos reprodutoras no sistema de produção, desencadeando uma menor intensidade de seleção. Este fator pode ser usado como benefício ou não, afetando no equilíbrio ideal entre valores do intervalo de geração, acurácia de seleção e intensidade de seleção.
Os princípios básicos dos programas de melhoramento genético são caracterizados por selecionar os melhores indivíduos, garantido animais com carga genética favorável utilizando-os como pais em próximas gerações, aumentando a intensidade em que os pais são selecionados associada à acurácia na seleção dos pais e principalmente a velocidade da seleção por unidade de tempo. O conjunto de todos os princípios traduz maior ampliação de um programa de melhoramento genético e com isso ganhos serão facilmente observados de acordo com o objetivo da melhoria genética.
Um dos princípios é caracterizado por indicar quão boa pode ser a estimativa do verdadeiro mérito genético, a acurácia. Quanto mais fidedigna é a maneira de se determinar o mérito genético dos animais, maior será a superioridade dos pais selecionados para a transmissão na próxima geração. Essa característica também esta ligada a variação das características medidas, que é observada ligeiramente quando obtemos a média e o desvio padrão da característica. Quanto mais distante da média, estaremos mais longe do objetivo de melhoria superior selecionadas em unidades da característica.
A intensidade de seleção se baseia na superioridade dos subgrupos selecionados dentro de um grupo. Espera-se que quanto menos indivíduos são escolhidos dentro de uma população maior será a intensidade de seleção e quanto maior a quantidade de indivíduos selecionados dentro de uma população menor será a intensidade de seleção, mantendo ligação direta com o objetivo do programa de melhoramento genético.
De fora geral, a intensidade de seleção se apresenta de forma diferenciada de acordo com o sexo dos indivíduos, machos apresentam uma maior taxa reprodutiva, principalmente se forem utilizadas técnicas de reprodução como a inseminação artificial.
Nota-se que a intensidade de seleção é inversamente proporcional à proporção de indivíduos selecionados, afetando também a resposta em longo prazo direta e indiretamente por meio da influência do tamanho efetivo da população, particularmente para seleção intensiva (HILL, 1985 & MEUWISSEN, 1990).
O número de animais utilizados na reprodução é um dos principais problemas na obtenção do diferencial de seleção, muitas vezes um número grande de indivíduos não é necessário e uma das medidas que podem ser tomadas é utilizar apenas os melhores animais para a reprodução, mantendo uma relação de machos e fêmeas bem menos que um (1).
Outro problema é a seleção de indivíduos para características diferentes. Por exemplo, o programa de melhoramento objetiva a produção de lã em ovelhas da raça Corridale, entretanto existem outras características que são também critérios secundários para escolha desses animais (tamanho, peso, cor do velo, pelame, etc.). Então a escolha deve ser realizada com os critérios efetivamente ligados a produção de lã, sendo assim menos animais serão escolhidos.
A seleção de animais de grupos desuniformes em relação a lugar e tempo, pode se caracterizar como outro problema. Animais apresentam características particulares de acordo com a idade (podem ainda não estar aptos em relação à idade para a avaliação do programa genético), a lugar de onde vivem (país, estado, cidade, fazenda, etc.) e também podem ser de gerações muito dispersas. Também podem ser considerados os fatores de individualidade, manejo, nutrição, sanidade e dentre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os programas de melhoramento genético necessitam de uma atenção privilegiada, quando se trata de planejamento da metodologia, portanto a aplicação da mesma depende de esforço, responsabilidade e profissionalismo dos indivíduos atuantes na área.
A adequação dos programas de melhoramento genético há diferentes sistemas produtivos que apresentem condições específicas de ambientes e manejo, por exemplo, é um viés que deve ser levado em consideração à aplicação da metodologia com um desempenho satisfatório.
BIBLBIOGRAFIA CITADA
ALVES, R.G.O.; SILVA, L.O.C.; EUCLIDES FILHO, K.; FIGUEIREDO, G.R. Disseminação do melhoramento genético em bovinos de corte. R. Bras. Zootec. [online]. 1999, vol.28, n.6, pp. 1219-1225. ISSN 1516-3598.
ASSOCIAÇAO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE. Disponível em: http://www.abiec.com.br/3_pecuaria.asp#. Acesso em 01/03/2015.
FALCONER, D. S. and MacKay, T. F. C. 1996. Introduction to qualitative genetics. (4thEd.) Longham.
GUILHERMINO, M.M.; FAÇANHA, D.A.E. Mudanças climáticas e uso da energia nos sistemas de produção pecuários. 2009. In: Congresso Nordestino de Produção Animal, 2009. Anais...Mossoró: SNPA, 2009. CD – ROM.
HILL, W.G. Effects of population size on response to short and long term selection. J. Anim. Breed. Genet., v.102, p.161-173, 1985.
LIRA, T.S; PEREIRA, l.S.; LOPES F.B.; FERREIRA, J.L.; LÔBO, R.B.; SANTOS, G.C.J. Tendências genéticas para características de crescimento em rebanhos Nelore criados na região do trópico úmido do Brasil. Ci. Anim. Bras., Goiânia, v.14, n.1, p.23-31, jan./mar. 2013.
MEUWISSEN, T.H.E. Reduction of selection differentials in finite populations with a nested full half sib family structure. Biometrics, v.47, p.195-203, 1990.
SANTOS, G. C. J; LOPES, F. B.; MARQUES, E. G; SILVA, M. C; CAVALCANTE, T.V; FERREIRA, J. L. Tendência genética para pesos padronizados aos 205, 365 e 550 dias de idade de bovinos nelore da região Norte do Brasil. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v. 34, p. 97-101, 2012.
VIANA, J.H.M.; CAMARGO, L.S.A. A produção de embriões bovinos no Brasil: Uma nova realidade. Acta Scientiae Veterinariae, v. 35, p.915-924, Suplemento 3, 2007.
VAN DER WERF, J. Teoria da seleção e componentes da mudança genética. In.: KINGHORN, B.; VAN DER WERF, J.; RYAN, M. Melhoramento animal: uso de novas metodologias. Piracicaba: FEALQ, 2006. p.39-58.