TÓPICOS EM ÉTICA E EDUCAÇÃO: algumas observações relevantes
Por Maria do Perpetuo Socorro Amorim | 15/01/2016 | EducaçãoRESUMO
O presente trabalho aborda a temática: Tópicos em Ética e Educação: algumas observações relevantes. Nosso objetivo geral será o de compreender de forma crítica e atualizada os principais aspectos éticos e filosóficos da educação na modernidade e na pós-modernidade. E como objetivos específicos: conceituar ética e educação; Caracterizar a modernidade e a pós-modernidade, e a partir das conclusões obtidas, nortear educandos e educadores da necessidade de conhecermos o sentido verdadeiro da palavra Ética e que os mesmos sejam pessoas mais críticas e éticas em suas funções. Na elaboração desse trabalho utilizamos o método bibliográfico, partindo dos escritos de livros de autores renomados que tratam do assunto aqui analisado, bem como de artigos publicados.
Palavras-chave: Ética. Pós-Modernidade. Educação
1 INTRODUÇÃO
Estamos em pleno século XXI e a palavra que mais se escuta é crise, embora em muitos países europeus essa palavra já vem sendo utilizada com mais frequência. Os brasileiros se tornaram mais precavidos diante de tantas incertezas e medos. A Educação com isso também sofre, os gastos estão sendo reduzidos e compras somente o necessário.
Neste contexto, percebe-se uma inquietação pelo sentido da vida e do ser no mundo e daí vemos reaparecer paulatinamente o interesse pelo tema da ética, enquanto eixo central de reflexão sobre a conduta do ser humano, nos debates intelectuais, nos currículos e cotidianos escolares (FERREIRA, 2007, p. 238).
A pós-modernidade não é apenas um período histórico posterior à chamada modernidade é, sobretudo uma crítica à modernidade. É definida como um ciclo que modifica os diversos níveis da realidade intelectual, econômica, política, social e inter-relacional, encerrando conceitos elaborados na modernidade, substituindo-os por definições fragmentadas e polivalentes.
A mudança de concepção de pensamento do homem não é resultado apenas, de eventos ocorridos durante a modernidade, no caso as duas Grandes Guerras, e do novo olhar em que o homem passou a encarar a si mesmo e suas relações, essa realidade é construída para a perpetuação do sistema econômico.
Por isso, a partir da nossa visão da realidade, existe sim uma crise ética na atualidade, e vem se refletindo de forma perniciosa em vários aspectos dentro do processo educativo.
Para melhor entendimento desse trabalho, dividimos nosso texto em cinco partes: introdução; Ética: conceito e algumas considerações; Ética e pós-modernidade; Pós-modernidade, ética e educação; Conclusões, Abstract e Referências.
2 ÉTICA: CONCEITOS E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Princípios como moral, ética, caráter, honestidade e dignidade são fundamentais para se conviver bem com pessoas de qualquer nível social ou educacional, mesmo quem jamais foi a uma escola ou os órfãos possuem conhecimento destes princípios.
Princípios estes, que se seguidos servem como bons condutores para uma vida mais harmônica em sociedade, pois, sabemos que não podemos viver sozinhos, somos seres sociáveis e, portanto, há a necessidade uns dos outros.
A palavra ética é de origem grega derivada de ethos, que diz respeito ao costume, aos hábitos dos homens. Teria sido traduzida em latim por mos ou mores (no plural), sendo essa a origem da palavra moral. Uma das possíveis definições de ética seria a de que é uma parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual (RIBEIRO, 2011).
A ética, construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais, é um conjunto de princípios morais que norteiam a conduta humana na sociedade. Embora não seja uma lei, a ética está relacionada com o sentimento de justiça social e, buscando fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão, serve para que haja um equilíbrio entre pessoas, grupos e classes sociais (LEAL, 2013).
Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento (VALLS, 1994, p. 7).
A ética seria uma reflexão acerca da influência que o código moral estabelecido exerce sobre a nossa subjetividade, e acerca de como lidamos com essas prescrições de conduta, se aceitamos de forma integral ou não esses valores normativos e, dessa forma, até que ponto nós damos o efetivo valor a tais valores (RIBEIRO, 2011).
Em certos casos, só chegaremos a descobrir qual a ética vigente numa ou noutra sociedade através de documentos não escritos ou mesmo não-filosóficos (pinturas, esculturas, tragédias e comédias, formulações jurídicas, como as do Direito Romano, a políticas, como as leis de Esparta ou Atenas, livros de medicina, relatórios históricos de expedições guerreiras e até os livros penitenciais dos bispos medievais) (VALLS, 1994, p. 13).
Max Weber, pensador alemão do início do nosso século, mostra que esta ética não era, em todo o caso, simples, clara e acessível a todos (VALLS, 1994, p. 15).
2.1 ÉTICA E PÓS-MODERNIDADE
Um dos maiores problemas que a humanidade passa é por uma crise de ética. Entendemos que todos os demais problemas enfrentados pelo homem, isto é, econômicos, sociais, políticos e culturais são decorrentes da ausência de formação de preceitos éticos nas relações humanas (CUNHA, 2012).
Cada ser humano pensa somente em si, constrói muros e fortalezas para se proteger da humanidade, cuidando dos bens materiais e esquecendo o contato verdadeiro com sua família. Substituindo esse contato familiar por presentes caros, tecnologias de última geração, viagens, tudo girando ao redor do capitalismo.
Nas reuniões familiares, nos barzinhos, nos encontros com amigos, os celulares dominam as pessoas que esquecem quem realmente está perto e se comunica com quem está muito longe ou talvez, nem conheça.
Ouve-se muito falar nas mídias sociais em roubos, mortes, corrupções e tantas outras mazelas que destoem a sociedade. Pergunta-se: Por que humanidade sofre tanto? Por que há tantas desigualdades sociais e financeiras? Se todos respeitassem os direitos uns dos outros, certamente se pensaria duas vezes antes de lesarmos um companheiro, um amigo.
O caráter, qualidade inerente a uma pessoa desde seu nascimento e reflete seu modo de ser. É o conjunto de características e traços particulares que caracterizam um indivíduo, e não sofre influência do meio. Uma pessoa “de caráter” é aquela com formação moral sólida e incontestável, enquanto a “sem caráter” é aquela desonesta, que não possui firmeza de princípios ou moral (LEAL, 2013).
Entendemos que a crise ética existente é grandemente influenciada pelo capitalismo, por seu processo de coisificação e mercantilização dos seres humanos e das relações humanas (CUNHA, 2012).
O poder, o dinheiro, o status valem mais para muita gente do que o respeito, a honestidade, a dignidade. Quando se tem muito dinheiro, queremos mais; quando temos pouco, sabemos fazer valer cada centavo ganho.
O desejo desenfreado pelo poder leva muita gente a não perceber o outro como um irmão, a ver no outro um inimigo prestes a lhe tirar o que tem, gerando desconfiança, desavenças e inimizades.
Os verdadeiros valores éticos estão se perdendo em algumas pessoas. O dinheiro e o poder consomem e interferem nas verdadeiras amizades.
Os principais modelos éticos estabelecidos da idade média até o século XIX foram marcados pela rigidez e absolutismo, isto é, a sociedade trabalhava com sistemas éticos cujo fundamento era a existência de uma moral universal objetiva, pela qual todos os seres humanos eram dotados de uma sensibilidade natural e intuitivamente conseguiam discernir o certo e o errado (CUNHA, 2012).
No plano das relações intersubjetivas, sociais e familiares, constata-se o surgimento de um período de marcante indiferença pelo outro indivíduo, no qual as pessoas não conseguem orientar claramente suas vidas e seguir valores. A verdade passa a ser relativizada, assim como a convivência familiar perde espaço para os instrumentos tecnológicos (ex.: televisão e internet) (CUNHA, 2012).
A realidade vivenciada pela maioria das pessoas pela ausência de carinho, afeto, companhia, mostra a grande dificuldade da humanidade de reencontrar um padrão ético definido para as suas relações. A educação é um dos caminhos para essa superação de distanciamento familiar, pois através dela é possível que se tenha um conhecimento maior de si mesmo e se dê autonomia e sentido às relações afetivas, à necessidade de estar com o outro, conversar, dialogar cara a cara. Isso fará com que as pessoas tenham mais consciência de sua cidadania e seus respectivos papeis na sociedade.
A formação moral do ser humano tem papel fundamental na educação, pois este somente adquire uma educação completa quando for livre e autônomo para agir conforme a máxima moral universal. De acordo com a filosofia kantiana a liberdade e a autonomia são essenciais na formação ética e pedagógica do homem.
A educação é imprescindível na transformação do processo educativo do ser humano, com o intuito de modifica-lo para um ser mais autônomo, e torná-lo um agente transformador na construção de uma sociedade mais solidária, vencendo os empecilhos do capitalismo, bem como dos grandes meios de comunicação que transmitem o consumismo, o individualismo e a moda.
Assim, as técnicas pedagógicas bem direcionadas na educação devem orientar no sentido de recuperação da capacidade de sentir e de pensar do homem, um pensar certo, agir corretamente, não agredir o espaço do outro e nem a privacidade.
2.3 PÓS-MODERNIDADE, ÉTICA E EDUCAÇÃO
A educação “[…] é um dos principais meios de realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das pessoas, em um mundo em mudança […]” (BRANDÃO, 1996, p. 23).
Educação é o tempo-espaço que se faz do encontro entre teoria e prática, entre as potências da compreensão e da ação que configuram a ética e, na sua potencialização, a política (TIBURI, 2012).
A relação entre Educação e Ética precisa ser enfatizada de modo a potencializar o caráter prático do pensamento que está no cerne da Educação (TIBURI, 2012).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96 – trata da educação nos seguintes termos:
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9 394/96) .
4 CONCLUSÕES
A escola, no mundo atual, é a instituição responsável pela formação ética do ser humano, mas, para cumprir essa missão, enfrenta grandes desafios. Dentre eles: transformar a escola em um espaço que respeite a diversidade cultural; pensar uma sociedade que contribui para a democratização da escola e, é influenciado por esse mesmo espaço.
Nesse trabalho procurou-se conceituar ética para um melhor entendimento dentro do contexto. Necessitou também de conceituarmos educação, pois ela é o instrumento de construção de uma ética voltada para uma reflexão crítica, um saber-ser.
Esta ética tem como objetivo educacional, fornecer ao indivíduo uma variedade de conhecimentos, para que os estudantes sejam educados para se tornarem autônomos não sendo um mero expectador da própria vida.
São pessoas que se tornam capazes de expressar seu próprio pensamento, vontade e procuram agir dentro da mais criteriosa verdade ética, esquecendo um pouco as modernidades e se voltando para a família.
Em sala de aula, formando educandos críticos e éticos, o educador precisa considerar e valorizar a defesa de princípios éticos diversos, autonomia, responsabilidade, solidariedade, criatividade e sensibilidade dos seus alunos. Estimular e respeitar a participação dos educandos nas mais variadas práticas sociais, bem como naquelas planejadas, realizadas e avaliadas pela escola. Assim, evolui-se para combater a discriminação, e integrar as diversas áreas do conhecimento, para ampliar a formação e o exercício da cidadania.
A ética não é uma norma, não nos indica o que devemos fazer. A ética nos leva a questionar o porquê de obedecer essas leis. E essas perguntas diante do contexto pedagógico, podemos questionar: o que significa o respeito na relação entre professor-aluno?
É uma relação de respeito, de amizade, de conhecimento, de troca entre professor-aluno e entre aluno-professor. Observou-se uma relação estreita entre ética e educação, pois deve haver essa relação também entre professor-aluno para que seja quebrado esse paradigma de afastamento de um educador com seus educandos. Para que haja uma verdadeira aprendizagem, ambos devem caminhar juntos, um aprendendo com o outro.
O professor precisa e deve atentar para expor no seu cotidiano escolar os ensinamentos éticos para formar cidadãos dignos de caminharem sozinhos e sempre para o caminho do bem, para que esses alunos trilhem com garra e otimismo, vençam preconceitos e sejam pessoas de bem, capazes de fazer desse planeta um lugar melhor de se viver.
Concluiu-se, portanto, que numa relação pedagógica o que se aprende, não é tanto o conteúdo ensinado, mas, a natureza da relação entre educador e educando que se estabelece nesse convívio escolar.
5 REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 38 ed. São Paulo: Brasiliense,1996.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96.
CUNHA, Helvécio Damis de Oliveira. A crise ética na pós-modernidade e seus reflexos sobre a educação jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 100, maio 2012. Disponível em: < http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11655 >. Acesso em 1 de nov. 2015.
FERREIRA, Márie dos Santos, 2007. A natureza Filosófica da Ética segundo Lima Vaz. FORTALEZA, VOL. III, Nº 4, 2007, P. 237-250. Disponível em : http://www.uece.br/polymatheia/dmdocuments/polymatheia_v3n4_natureza_filosofica_da_etica_lima_vaz.pdf .Acesso em 1 nov. 2015.
LEAL, João Bosco. 2013. Princípios básicos. Disponível em : http://www.campograndenews.com.br/artigos/principios-basicos. Acesso em: 1 nov. 2015.
RIBEIRO, Paulo Silvino. "O que é ética?"; Brasil Escola. Disponível em <http://www.brasilescola.com/sociologia/o-que-etica.htm>. Acesso em 1 de nov. de 2015.
TIBURI, Márcia. 2012. Educar para a Vida: uma reflexão sobre Ética e Educação. Disponível em : http://revistacult.uol.com.br/home/2012/03/educar-para-a-vida-uma-reflexao-sobre-etica-e-educacao/ .Acesso em : 1 nov. 2015.
VALLS, Álvaro L. M. O QUE É ÉTICA. Editora Brasiliense. Coleção primeiro passos 177