Tira obediente e bração

Por Edson Terto da Silva | 13/02/2012 | Crônicas

Ser prestativo é bom, mas tentar fazer aquilo que não sabemos e ainda mais se for uma ação que pode por em risco a nossa vida e a dos outros não é nada recomendável. Este fato ocorreu no coração de Campinas(SP), pleno cruzamento da avenida Francisco Glicério com rua Benjamim Constant. Uma viatura da Polícia Civil, literalmente, entrou numa loja de departamentos, isso após avançar a faixa de segurança e a calçada.

O caso deu-se no final dos anos 80 ou começo de 90 e, graças à Deus, ninguém saiu ferido gravemente. Mas ficou a pergunta: policiais normalmente são hábeis motoristas(agente policial, como é chamado o encarregado de pilotar a viatura), então porque o acidente ? Alguns telefonemas explicariam o enigma.

Naquela tarde, o então delegado geral da Polícia Civil, o já falecido Amândio Augusto Malheiros Lopes, tinha ligado algumas vezes para delegacias de Campinas e determinado urgência no atendimento de um possível caso de suicídio envolvendo o pai de uma famosa atriz global. Uma das seguidas ligações teria sido recebida justamente pelo policial que depois se acidentaria com a viatura.

Ele não era especialista em pilotagem, mas ao ouvir a determinação expressa do chefe da Polícia Civil do Estado, dizendo que uma equipe seguisse imediatamente para o condomínio de luxo onde tinha ocorrido a morte, o tira não pensou duas vezes, pegou a viatura, ligou o giroflex e saiu rasgando primeiro pela avenida Andrade Neves, depois pela rua Sebastião de Souza, passou o viaduto Penido Burnier, entrou na avenida Orosimbo Maia e subiu pela Francisco Glicério, até acidentar-se.

Acredito que neste meio tempo, pelo menos outras três ou quatro viaturas já tinham chegado ao local do suicídio. O tira prestativo foi socorrido, mas com certeza não se livrou de uma sindicância interna, assim como em todas as profissões desse mundo, também na Polícia a corda arrebenta para o lado mais fraco.

Fosse o rapaz dizer ao chefão, no calor da conversa, que não era especialista em pilotar, não é mesmo? Como eu não sei dirigir nem cego, peço desculpas ao tira obediente pelo "bração" registrado no título da crônica. Mas que ficou bom ficou, não é mesmo?! Ah, a loja de departamentos mudou-se do local, mas o prédio continua sendo usado como ponto de comércio no principal corredor bancário do centro de Campinas.