Timbuktu

Por Hiury C. Botelho | 22/06/2016 | História

O cineasta mauritano Abderrahmane Sissako usou em sua narrativa, alguns fatos históricos, para pode afirmar, acusar, expuser e realçar a opressão, a ignorância e o extremismo do fanatismo religioso. A forma que eles pegam as palavras que estão escritas na bíblia deles e as distorcem para que assim possam justificar suas atitudes por “estarem” em nome de Deus.

De primeira instância, uma das primeiras cenas que marcará todo o decorrer do filme, é a imagem de uma quadrilha de homens que ostentam opressão, fortemente armados com fuzis de grande calibre, que atiram incessantemente contra uma gazela, (mamífero comum em pequenos antílopes africanos e asiáticos) que representa simbolicamente á liberdade e a pureza. Ou seja, a opressão e a repressão são claramente vista, quando os homens tentam ferir o pequeno animal. Mas no decorrer do filme, esse animal será trocado por um ser humano, que é onde se resulta o ápice da violência e do fanatismo religioso. O fanatismo é tão dominador, que faz com que os próprios islâmicos se declarem guerra entre si, onde quem não seguir os seus princípios ''alienados'' é declarado como um inimigo. A bandeira do Estado Islâmico é mostrada diversas vezes, e assim deixando clara aversão do fanatismo, e o obscurantismo irracionalista, e ao mesmo tempo relata a enorme discordância entre a prática religiosa dos jihadistas, que se consideravam acima da lei de Deus. Mas também devemos deixar claro que houve resistência, e que essas imposições não eram aceitas de forma passiva pelo povo. Ou seja, o filme também critica a falta de comunicação que existia entre os habitantes e os invasores jihadistas, que não falavam as línguas dos primeiros e ignoravam os costumes e as tradições locais. Diante á tanta opressão, as famílias tentam sobreviver entre os desertos de Mali, lidando com o abuso sexual contínuo, diante das leis ditadas, e sob a pobreza latente que os deixam em uma situação precária e desconfortante.

No filme “Timbuktu” a história se desenrola em passos fluidos, e aos poucos conseguimos perceber o crescente domínio inflexível do fundamentalismo islâmico sobre os habitantes da cidade. Antes, vivendo sob a religião muçulmana de forma benevolente e pacífica, os moradores agora se veem às voltas de regras rígidas impostas pela vertente extremista que acaba por lhes retirar as forças de vida e alegria. De um dia para o outro, os moradores são obrigados a conviver com restrições às suas liberdades. Há um toque de recolher, a proibição de confraternizações mesmo em casas e homens que passam a agir como juiz e executor. Vemos diante de um lugar que não tolera mais a alegria ou o amor. O som é uma das únicas formas que os resistentes encontram para expressar sua indignação e protesto. Uma das cenas mais pungentes de todo o longa é quando uma mulher leva chibatadas por estar cantando com um grupo de amigos. Depois de soltar um grito de tristeza, ela começa a cantar enquanto sofre com a dura punição, deixando claro sua resistência. Assim como a música eles também usam de sua imaginação, para poder resistir. Indignados com a proibição do esporte, alguns meninos começam a imitar uma partida de futebol em uma cena simbólica em que a bola não está presente no jogo. Tristemente vemos os rapazes tocar uma bola invisível pelo campo, tentar acertar o gol para ter sua expectativa frustrada pelo goleiro que consegue capturá-la e depois disputar a posse assim que ele a lança para longe no campo. Tudo isso sobre o olhar inflexível dos jihaditas, interrompendo a “partida” assim que os jihaditas chegam fazendo sua patrulha.