Ter ou não ter Copa?

Por Abraão D'Angelo Ferreira | 09/06/2014 | Sociedade

TER OU NÃO TER COPA, EIS A QUESTÃO?
Ultimamente tenho visto e ouvido muitas pessoas dizendo, “não vai ter copa”, “o
Brasil tem que perder a copa”, etc. várias afirmações negativas sobre a Copa do
Mundo de Futebol que terá seu início daqui a poucos dias. Diante desse quadro
gostaria de fazer algumas ponderações.
Alguém lembra quando o Brasil foi confirmado como sede da copa de 2014?
Provavelmente a maioria das pessoas não se recorda desta data, então irei fazer um
breve histórico para refrescar a memória.
Em 3 de junho de 2003 a CONMEBOL (Confederação Sul‐Americana de Futebol)
anunciou Argentina, Brasil e Colômbia como candidatas a sede do evento. Há mais de
11 anos foi a 1ª vez que esse assunto veio em voga.
Em 17 de março de 2006, a CONMEBOL votou de forma unânime pela adoção do Brasil
como seu único candidato, há 8 anos atrás.
No dia 13 de abril de 2007 Joseph Blatter, veio ao Brasil e após visitar o Maracanã, no
Rio de Janeiro, o Morumbi, em São Paulo, o Mineirão, em Belo Horizonte e o Beira‐Rio,
em Porto Alegre, disse que o país não tinha nenhum estádio em condições de sediar a
Copa.
Apesar de tudo, tanto Joseph Blatter quanto o Presidente Lula estavam otimistas na
reunião. O Ministro dos Esportes do Brasil, Orlando Silva, disse: "o Brasil fará o que for
preciso para que a Copa seja realizada no país."
Em 31 de julho de 2007 a CBF entregou na sede da FIFA em Zurique, os documentos da
proposta, na qual apareciam as dezoito cidades selecionadas.
No final do mês de agosto de 2007, uma comissão formada por inspetores da FIFA
visitou as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre,
para vistoriar pessoalmente os estádios e a infraestrutura das cidades sedes.
No dia 30 de outubro de 2007 a FIFA declarou o Brasil como país sede da Copa do
Mundo de 2014. Exatamente 6 anos e 8 meses antes da copa.
A pergunta que não quer calar, durante todo esse tempo o que fizeram esses grupos
contra a copa do mundo? Tiveram 11 anos, desde o 1º anúncio, para fazer protestos
contra e não me lembro de nada, onde vocês estavam?
Tudo bem, o problema foi o superfaturamento das obras dos estádios, BRT’s,
aeroportos, etc. que são um absurdo e nos deixaram revoltados. Ok, concordo com
isso, é um absurdo mesmo! Mas alguém achava que isso não aconteceria? Existe
alguma obra pública neste país que não tem aditivos, atrasos, etc. não me lembro de
nenhuma. Então irei falar um pouco das obras públicas no Brasil.
Estamos num país que constrói obras faraônicas sem o mínimo de projeto e
planejamento, mas o por quê disso? Se todos sabemos que isso é uma prática errônea
e prejudicial a qualidade das obras e aos cofres públicos.
Algumas pessoas imputam essa culpa para as empreiteiras, o que na minha concepção
é um erro. As empreiteiras precisam construir para ganhar dinheiro e manterem‐se
operantes, pois não são entidades filantrópicas e por tanto têm fins lucrativos. O
grande vilão desse sistema é a política, ou melhor, os políticos.
Os políticos são o câncer do nosso país, uma mazela que parece não ter cura e fim!
Todos os dias aparecem novos políticos, novos partidos, todos querendo sugar a teta
da “Mãe gentil”, uma mãe que não se cansa em ser usurpada e estuprada por esses
calhordas.
A título de informação cito uma reportagem da revista Exame de 12/08/2012, “As 15
empresas que mais empregam no Brasil”, dessas, duas são grandes empreiteiras:
1ª Odebrecht ‐ 124.356 funcionários
12ª Construtora OAS – 42.589 funcionários
Somando as duas empresas temos 166.945 funcionários que sustentam as suas
famílias com a construção civil. Como disse anteriormente as empreiteiras são
empresas e precisam dar lucro para manterem‐se ativas.
Irei explicar como funcionam as obras públicas no Brasil. Primeiramente algum político
tem uma idéia maravilhosa de fazer um estádio de futebol ou quem sabe transpor um
rio para irrigar terras improdutivas, coisas bem singelas que não necessitam de projeto
ou planejamento para serem executadas.
Para qualquer pessoa leiga é obvio que são obras complexas e precisam de
planejamento, mas então porque os nossos excelentíssimos políticos ainda não foram
informados desse processo, que é primeiro planejar, projetar e depois executar, um
roteiro simples que iria poupar bilhões de reais aos cofres públicos. Fica claro que eles
não fazem isso, porque não interessa para eles fazerem isso.
Como eles iriam inventar tantos aditivos nas obras para colocarem esse dinheiro no
bolso, se existissem projetos executivos, orçamentos detalhados e planejamento de
execução. As obras seriam melhores e mais baratas, mas isso não interessa para eles,
que estão apenas pensando em sugar os cofres públicos.
Com isso as obras públicas são licitadas sem projeto ou apenas com anteprojeto e
assim como seria possível orçar o valor da obra? Para resolver este problema
complicadíssimo os nossos técnicos precisam utilizar um método chamado de “Cálculo
Hipotético Utilizando Técnicas Estatísticas” ou traduzindo para o popular CHUTE. É
assim que nossas obras são orçadas, no chute, baseado em índices e comparativos que
não conseguem ter a precisão necessária para serem construídas corretamente. Por
que não fazemos como os ingleses que projetam e planejam em 2 anos e constroem
em 6 meses? Porque provavelmente nossos políticos acham‐se melhores do que os
coitadinhos dos ingleses, “nós projetamos em 6 meses, somos muito mais rápidos” ...
porém construímos em 2 anos ...
Mas por que entro nesse mérito das obras e das empreiteiras? Para deixar claro que o
problema de superfaturamento das obras da copa, dos aeroportos, etc. são problemas
e culpa dos nossos políticos. Não é a Copa que construiu estádios superfaturados,
foram os políticos corruptos e ladrões!
Outro aspecto importante nesse contexto é o povo, o torcedor brasileiro. O povo é
sempre o mais prejudicado em todas as situações, quem sofre com os hospitais caindo
aos pedaços, as escolas degradadas, os meios de transportes superlotados, a falta de
segurança, etc. é o povo. Os políticos corruptos não sofrem com nenhum desses
problemas. Então por que tirar a única alegria que esse povo sofrido possui. A única
coisa que dá orgulho para esse povo é a Seleção Brasileira de Futebol, o único
momento que o povo sente que faz parte de algo vitorioso é quando a seleção joga!
A Seleção Brasileira é a única que participou de todas as edições de Copa do Mundo, é
a maior campeã (pentacampeã), foi a 1ª a ser tricampeã (1958, 1962 e 1970),
tetracampeã (1994) e pentacampeã (2002), tem o maior jogador de futebol de todos
os tempos (Pelé), o maior goleador de todos os tempos (Pelé), o único jogador
tricampeão do mundo (Pelé), o maior artilheiro de todas as copas (Ronaldo
Fenômeno), tem a melhor seleção campeã de todos os tempos (seleção de 70), a
seleção mais lembrada por não ter ganhado uma copa (seleção de 82) e se fizermos
uma lista com os 100 melhores jogadores de todos os tempos, teríamos pelo menos
50% da lista com brasileiros.
O futebol é a única disciplina que nós brasileiros somos melhor do que qualquer
outro país do mundo! Então porque retirar do povo brasileiro o único orgulho que ele
tem? Todas essas revoltas deveriam ter sido feitas há muitos anos atrás, para evitar
que o mal fosse feito. Agora não há mais o que ser feito, o dinheiro já foi gasto e
desviado, os hospitais, as escolas, as estradas, etc. continuam em péssimas condições
e mais uma vez quem sofre com isso? O povo.
Quem torce contra a seleção quer repetir o “Maracanazo”? Para quem não lembra ou
não sabe irei relembrar, este episódio trágico ocorreu em 1950. Naquela altura o Brasil
foi o candidato único para sediar a Copa do Mundo, já que a Europa tinha acabado de
sair da 2ª Guerra Mundial e estava destruída. Isto serviria também para demonstrar ao
mundo que o Brasil era um país em desenvolvimento e não apenas um “pobre
coitado”, então construímos para a copa o Maracanã que se tornou o maior estádio do
mundo e que conservou este título por várias décadas, parafraseando Miriam Leitão
“A saga brasileira” estava completa. A copa ocorreu às mil maravilhas para a seleção
brasileira, até a chegada do jogo final contra o Uruguai no Maracanã, onde o Brasil
precisava apenas do empate para ser campeão. O Brasil começou vencendo e depois o
Uruguai empatou, mas esse resultado dava o título ao Brasil, até que aos 79 minutos
Ghiggia virou o placar para os uruguaios, dando o segundo título ao Uruguai. Esta
partida é considerada uma das maiores decepções da história do futebol brasileiro,
cerca de 200.000 pessoas ficaram caladas dentro do Maracanã, o público demorou
cerca de 30 minutos para deixar o estádio, tanta era a desolação da torcida. O goleiro
da seleção, Barbosa carregou nos seus ombros durante décadas o fardo do 2º gol
uruguaio. Essa derrota foi tão traumática que irei citar um detalhe que pouca gente
sabe, naquela altura a seleção brasileira jogava com uma camisa branca, que depois
dessa derrota foi excluída da lista de uniformes oficiais do Brasil. A seleção nunca mais
jogou de branco e esta camisa foi substituída pela camisa amarela, o “canarinho de
ouro”, que diga‐se de passagem trouxe muito mais sorte para o Brasil.
Como diz o ditado: “Não adianta chorar pelo leite derramado.”
Agora nós temos que receber bem os turistas, fazermos um evento perfeito (na
medida do possível) e torcermos pela seleção. Porque se fizermos badernas, quebraquebras,
etc. só iremos degradar ainda mais a imagem do povo brasileiro no exterior,
irão falar ainda mais mal do povo brasileiro, que não merece ser ainda mais pisoteado
e massacrado.
Vamos torcer pela seleção e após a copa vamos para a rua protestar contra o governo,
expulsar do congresso esses bandidos, fazer tudo o que for preciso para mudar a
situação do nosso país!
“Então, deem a Cesar o que é de Cesar”, como disse Jesus. Não vamos sacrificar e
entristecer ainda mais o nosso povo, vamos fazer pagar pelos erros os bandidos e
deixar o povo ter um momento de alegria.
05 de junho de 2014
Abraão D’Angelo Ferreira
E‐mail: dangeloferreira@hotmail.com