Teorias críticas: Escola de Frankfurt

Por Jucelma Lima Pereira Fernandes | 12/12/2018 | Educação

TEORIAS CRÍTICAS: ESCOLA DE FRANKFURT

Gean karla Dias Pimentel[1]

Jucelma Lima Pereira Fernandes[2]

Lucimara José Pereira de Souza Silva[3]

Noêmia Pereira de Souza[4]

Raquel Rocha Drews Valadares[5]

Valquíria Mendes Marques[6]

Valquíria Rodrigues Dias[7]

A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 por iniciativa de Félix Weil, filho de um grande negociante de grãos de trigo na Argentina. O grupo migrou do Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt. A Escola de Frankfurt é o nome dado a um grupo de filósofos e cientistas sociais de tendências marxistas que se encontram no final dos anos 1920. Essa escola se associa diretamente à chamada Teoria Crítica da Sociedade. Deve-se à ela a criação de conceitos como "indústria cultural" e "cultura de massa".

O Instituto recém-fundado preenchia uma lacuna existente na universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo. Carl Grunberg, economista austríaco, foi seu primeiro diretor, de 1923 a 1930. O órgão do Instituto era a publicação chamada Arquivos Grünberg. Horkheimer, a partir de 1931, já com título acadêmico, pôde exercer a função de diretor do Instituto, que se associava à Universidade de Frankfurt. O órgão oficial dessa gestão passou a ser a Revista para a Pesquisa Social, com uma modificação importante: a hegemonia era não mais da economia, e sim da filosofia. Tratam de problemas da história, política ou sociologia decorrendo sobre Platão, Kant, Hegel, Marx, Schopenhauer, Bergson, Heidegger entre outros. A Teoria Crítica realiza uma incorporação do pensamento de filósofos "tradicionais", colocando-os em tensão com o mundo presente, apriende uma crítica radical daquele tempo.

Entre todos os principais intelectuais associados ao grupo de Frankfurt, salientam os nomes de Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Theodor Wiesengrund-Adorno, Max Horkheimer, Leo Lowental, Otto Kirchkheimer, Friedrick Pollock e Karl Witt Fogel. De diferentes maneiras traduziram a desilusão de grande parte dos intelectuais com respeito às transformações do mundo comtemporâneo seu citicismo quanto aos resultados do enganjamento político revolucionário, mas também o desejo de autonomia e de independência do pensamento. Ha uma interrogação a cerca do movimento revolucionário e sua “arma teorica”- marxismo no que concerne à teoria e a prática do movimento operário alemão depois da primeira Guerra Mundial. Não se satisfizeram com as diversas análises sobre a vitória do nazismo e a derrota das esperanças do revolucionismo-economistas historiadores e outros, inclusive Trotsky.

Os Frankfurtianos desenvolveram uma explicação sobre o fenômeno do totalitarismo que é de ordem metafísica: é na constituição do conceito de razão, e no exercício de uma determinada figura, ou modo de racionalidade, que esses filósofos alogam a origem do irracional. Para eles, em nome de uma racionalização crescente, os processos sociais são dominados pela racionalidade científica agressiva, característica do pensamento positivista. A realidade social, em sua complexidade e em suas transformações, é submetida a um método que se entende como universalizador e unitário, o método científico. A racionalidade da dominação da natureza para fins de lucro, colocando a ciência e a técnica a serviço do capital, e a primeira forma da ditadura, “A ditadura da produção”, os Frankfurtianos consideram as relações entre fascismo e capitalismo.

A teoria crítica revela as transformações dos conflitos economicos dominantes em seus opostos: a livre troca passa a ser o aumento da desiqualdade; a economilivre transforma-se em monópolio; o trabalho produtivo nas condições que sufocam a produção; a reprodução social, na pauperização de nações inteiras. A crítica à razão torna-se a exigência revolucionária para o advento da sociedade racional, porque o mundo do homem, até hoje, não é o “mundo humano”, mas o “mundo do capital”.

Os vários interesses dos pensadores de Frankfurt e o fato de não constituírem uma escola no sentido tradicional do termo, mas uma postura de análise crítica e uma perspectiva aberta para todos os problemas da cultura do século XX, torna difícil a sistematização de seu pensamento. Pode-se, no entanto, salientar alguns de seus temas, chegando-se a compor um quadro de suas principais idéias. De Walter Benjamin, devem-se destacar reflexões sobre as técnicas físicas de reprodução da obra de arte, particularmente do cinema, e as conseqüências sociais e políticas resultantes; de Adorno, o conceito de “indústria cultural” e a função da obra de arte; de Horkheimer, os fundamentos epistemológicos da posição filosófica de todo o grupo de Frankfurt, tal como se encontram formulados em sua “teoria crítica”; de Marcuse, a esperança em novas formas de libertação da Razão e emancipação do ser humano através da arte e do prazer; finalmente, de Habermas, as idéias sobre a ciência e a técnica como ideologia.

Com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, os membros do Instituto, na sua maioria judeus, migraram para Genebra, depois a Paris e finalmente, para a Universidade de Columbia, em Nova Iorque. A primeira obra coletiva dos frankfurtianos são os Estudos sobre Autoridade e Família, escritos em Paris, onde estes fazem um diagnóstico da estabilidade social e cultural das sociedades burguesas contemporâneas. Nestes estudos, os filósofos põem em questão a capacidade das classes trabalhadoras em levar a cabo transformações sociais importantes.  Com Erich Fromm e Herbert Marcuse inicia-se uma frente de trabalho que associa a Teoria Crítica da Sociedade à psicanálise. Fromm, precursor desta frente de trabalho, logo se distancia do núcleo da Escola, e este perde o interesse pela Psicanálise até o início dos trabalhos de Marcuse.

Marcuse, que permanece nos EUA após o retorno do Instituto para a Alemanha em 1948, foi o mais significativo dos frankfurtianos, do ponto de vista das repercussões práticas de seu trabalho teórico, já que teve influência notável nas insurreições anti-bélicas e nas revoltas estudantis de 1968 e 1969.  Adorno continuará o trabalho iniciado na Dialética do Esclarecimento, de reformulação dialética da razão ocidental, em sua Dialética Negativa, sendo considerado ainda hoje, o mais importante dos filósofos da Escola. Com a sua morte, começa o que alguns chamam de segundo período da Escola de Frankfurt, tendo como principal articulador o antes assistente de Adorno e, depois, seu crítico mais ferrenho: Jürgen Habermas.

A Teoria Crítica da Sociedade é abordagem teórica que, contrapondo-se à Teoria Tradicional, de tipo cartesiano, busca unir teoria e prática, ou seja, incorporar ao pensamento tradicional dos filósofos uma tensão com o presente. Essa Teoria Crítica tem seu início definido a partir de um ensaio-manifesto, publicado por Max Horkheimer em 1937, intitulado "Teoria Tradicional e Teoria Crítica". Foi utilizada, criticada e superada por diversos pensadores e cientistas sociais, em face de sua própria construção como teoria, que é auto-crítica por definição. A Teoria Crítica é comumente associada à Escola de Frankfurt.

Um dos principais objetivos do Instituto de Pesquisas Sociais era o de explicar, historicamente, como se dava a organização e a consciência dos trabalhadores industriais. A teoria parte do princípio de uma crítica ao caráter cientificista das ciências humanas, ou seja, de uma crítica da crença irrestrita na base de dados empíricos e na administração como explicação dos fenômenos sociais. A preocupação, pautada pela organização dos trabalhadores, está centrada, principalmente, em entender a cultura como elemento de transformação da sociedade.

Neste sentido, a Teoria Crítica utiliza-se de pressupostos do Marxismo para explicar o funcionamento da sociedade e a formação de classes, e da Psicanálise para explicar a formação do indivíduo, enquanto elemento que compõe o corpo social. Esta postura se fortalece, principalmente, com o Nazismo e o Fascismo na Europa. Um dos principais questionamentos se dava no sentido de entender como os indivíduos se tornavam insensíveis à dor do autoritarismo, negando a sua própria condição de indivíduo ativo no corpo social.

O fato do Instituto ser patrocinado com recursos judeus, além de sua explícita linha marxista de análise, os pesquisadores como Max Horkheimer (diretor) e Theodor Adorno, entre outros, se veêm obrigados a deixar a Alemanha Nazista, fugidos da perseguição de Hitler. Já nos Estados Unidos, estes pesquisadores acompanham o surgimento do que os funcionalistas chamam de "Cultura de Massa" com o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, principalmente o Rádio.

Os pensadores da Escola de Frankfurt contestam o conceito de Cultura de Massa, no sentido de que ele seria uma maneira "camuflada" de indicar que ela parte das bases sociais e que, portanto, seria produzida pela própria massa. Ainda nos anos 1940, os pesquisadores de Frankfurt propõem o conceito de Indústria Cultural em substituição ao conceito de Cultura de Massa. Pensadores como Adorno e Lazarsfeld chegaram a desenvolver pesquisas em conjunto, buscando aproximar os conceitos do Funcionalismo com o da Teoria Crítica. Entretanto, a proposição de Indústria Cultural e de Cultura de Massa estavam distantes demais.

Ela propõe a teoria como lugar da autocrítica do esclarecimento e de visualização das ações de dominação social, visando não permitir a reprodução constante desta dominação. Neste sentido, a Teoria Crítica visa oferecer um comportamento crítico nos confrontos com a ciência e a cultura, apresentando uma proposta política de reorganização da sociedade, de modo a superar o que eles chamavam de "crise da razão" (nova crítica ao Funcionalismo). Eles entendiam que a razão era o elemento de conformidade e de manutenção do status quo, propondo, então, uma reflexão sobre esta racionalidade.

Desta maneira, existe uma severa crítica à fragmentação da ciência em setores na tentativa de explicar a sociedade. Assim, propõem a dialética como método para entender a sociedade, buscando uma investigação analítica dos fenômenos estudados, relacionando estes fenômenos com as forças sociais que os provocam.

Para eles, as disciplinas setoriais desviam a compreensão da sociedade como um todo e, assim, todos ficam submetidos à razão instrumental e acabam por desempenhar uma função de manutenção das normas sociais. A dialética se dá no sentido de entender os fenômenos estruturais da sociedade, fazendo uma crítica à economia política, buscando na divisão de classes os elementos para explicar a concepção do contexto social.

Em resumo, há uma tentativa de interpretar as relações sociais a fim de contextualizar os fenômenos que acontecem na sociedade. Partindo deste pressuposto, as ciências sociais que "reduzem" seus estudos à coleta e classificação de dados estariam vedando a si próprias a verdade, porque estariam ignorando as intervenções que constantemente ocorrem no contexto social.

Nesta pesrpectiva, a Teoria Crítica tem uma agenda clara. Ela não adota uma postura anti-management, mas percebe acadêmicos da área como ideólogos, servindo aos interesses de grupos dominantes. Sua meta maior é criar sociedades e organizações livres da dominação, em que todos possam contribuir e desenvolver-se.

 

EDUCAÇÃO PARA A RESISTÊNCIA CONTRA A BARBÁRIE

Theodor W. Adorno escreveu a respeito da educação escolar a partir do final da década de 1950. No decorrer da década posterior participou de vários debates e realizou conferências a respeito dessa temática. A preocupação com a formação do indivíduo, esta em toda sua obra.

A adaptação tem desenvolvido a instrumentação dos indivíduos e não mais a incorporação da cultura. A escola desenvolve competências para o trabalho e para a vida sem que se possa pensar o porquê delas serem necessárias.

Numa cultura prenhe de imagens, Adorno indica a retração da imaginação; a adaptação hiper-realista cria imagens que não falam mais do que mil palavras, pois são restringidas às poucas que as seguem. Sem imaginação não há pensamento. O pensamento não deve se reduzir às formas que reduzem todo conteúdo a elas, mas a experiência intelectual deve permitir o contraste entre o que é a forma de pensar do sujeito e o objeto pensado.   

Adorno propõe que a educação vise à autonomia, à emancipação. Assim, é necessário que se volte para as contradições sociais, e não tente negar a sua existência; para isso deve ser, sobretudo, política. Deve ser voltada para a crítica à ideologia que nos é transmitida pela indústria cultural. Crítica voltada para o conteúdo e para as disposições psíquicas – para a explicitação dos mecanismos utilizados nesses produtos, que visam a captar o consumidor, e o levam a manter desejos infantis. A educação deve combater a adesão irracional e irrefletida a qualquer coletivo. A escola deveria esclarecer a manipulação para seus alunos.

Para ele a educação deveria suscitar a crítica à ideologia vigente; criticou a violência simbólica, porém, sem esquecer de criticar a sua origem material. Imaginou a educação escolar como instituição necessária ao combate à violência, como formadora de cidadãos autônomos, democráticos e emancipados, sem desmerecer os limites desta sociedade.

Na educação escolar atual, a racionalidade técnica, que criticou, faz parte do pensamento administrativo, que aproxima a escola de um empreendimento comercial, já no burocrático, que facilita a educação em massa; faz parte da organização dos espaços e dos tempos escolares, na organização das disciplinas e nos conteúdos, na parafernália tecnológica, que ajuda no aprimoramento da didática, responsável em tornar o aprendizado mais fácil e mais agradável, ausentando-lhe de si, seu caráter formador.

Adorno repudia a educação pela dureza, pelo sofrimento e também a que se propõe por meio de compromissos vínculos com ideais. É contrário à primeira porque suscita impulsos sadomasoquistas, própria de uma sociedade hierárquica. É contrário à segunda, pois proporciona a heteronomia de se deixar guiar de que o próprio indivíduo não é necessariamente convicto.

Para Adorno, a formação do indivíduo em nossa sociedade tem em sua base o medo; antes reação à ameaça das forças da natureza, na civilização avançada, esse medo é suscitado por ameaças sociais, que se puseram no lugar daquelas forças, e obrigam os indivíduos a atuar em conformidade com o que é esperado. Devido a isso a educação deveria se voltar à primeira infância, quando a estrutura da personalidade ainda não está formada, e para a criação de um clima cultural contrário à violência. As crianças deveriam aprender a expressar todo medo que têm, pois quando o medo é reprimido, em seu lugar surge a violência como forma de defesa.

O combate ao anti-semitismo medidas a curto e longo prazo. As de curto prazo consistem em intervenção direta dos educadores, inclusive na família, se for preciso; rebater com firmeza e com argumentos racionais todas as afirmações anti-semitas e não ter medo de fazê-lo; as de longo prazo se referem a uma educação que leve o indivíduo a prescindir da autoridade, saiba pensar por si mesmo – ênfase na autonomia.

Promover a identificação entre os alunos é fundamental. Essa identificação envolve o afeto e as crianças deveriam ser educadas com amor, como forma de combater a frieza. Esse combate pode ser feito dentro dos limites da educação, por meio do desenvolvimento da sensibilidade, da possível identificação com os mais frágeis, de um clima cultural contrário à violência, pela crítica à pseudoformação, mas, sobretudo, por uma razão que pense em si mesma e reconheça a violência que pratica, podendo assim dela se desfazer, ou ao menos a ela resistir.

Adorno diz: que o progresso da educação, assim como o progresso em geral, não pode ser pensado linearmente; além do que é necessário entender que ele não se tem voltado, nos últimos tempos, de modo predominante para o bem-estar da humanidade, mas para a reprodução desta sociedade. A educação deve se voltar para a realidade; qualquer forma de idealismo deve ser combatida.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CROCHIK, Leon. Educação para a resistência contra a barbárie. In: Revista Educação. São Paulo, a.2, n. 10, p. 16-25, 2009.

 

MATOS, Olgária C.F. O que é a Escola de Frankfurt? In: __. A Escola de Frankfurt: luzes e sombra do Iluminismo. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005. pte. 1, p. 12-22.

 

MATOS, Olgária C.F. A Teoria Crítica Ontem e Hoje. In: ___. A Escola de Frankfurt: luzes e sombra do Iluminismo. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005. pte. 2, p. 23-35

 

 

[1] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[2] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[3][3] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Educação Infantil e Auxiliar de Higienização na Rede Municipal de Ensino público na cidade de Rondonópolis.

[4] Graduada em: História; Especialista em História e teoria da história e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[5] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[6] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[7] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

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