Teoria Kabbalista
Por Germano Brandes | 10/05/2016 | FilosofiaTeoria Kabbalista
Até agora lidamos principalmente com os aspectos psicológicos e sociais do grupo, mostrando como são determinados por um conjunto de circunstâncias que se originam das necessidades gerais de uma época e dos requisitos particulares dos indivíduos atraídos pela Providência, ou pelo destino, ao contato com o tutor. Enquanto todos os diversos níveis e atividades sutis se adaptam, à medida que a experiência começa a preencher a estrutura inerente em estado latente no grupo, o aspecto mais óbvio da Kabbalh continua. Este consiste da teoria, devoções e rituais que são estudadas e executadas a cada semana sob direção do tutor. O primeiro estágio de qualquer grupo, após ter sido estabelecido sua organização inicial, é aprender os rudimentos do esquema kabbalístico. Isto é, em geral, efetuado através do estudo sistemático do diagrama da Árvore da Vida e da doutrina dos quatro mundos.
Para começar, o tutor esboçará as operações da Árvore. A unidade de toda a estrutura e de sua dinâmica é constantemente demonstrada e reafirmada, enquanto seus detalhes são examinados. Nunca deve ser esquecido que a totalidade da Existência emana de um único ponto, ao mesmo tempo que se desdobra em uma multiplicidade de facetas, expressando juntas a unidade de tudo, se estendendo até o seu máximo e retornando, então, àquele ponto singular de onde saíram na Coroa das Coroas. Esta noção de unidade será enfatizada muitas e muitas vezes, porque os que vêem apenas o aparente discernirão dualidades, triplicidades e muitas outras contradições aparentemente opostas, ou díspares, possíveis de serem resolvidas em uma unidade inclusiva. A importância de se ater à idéia da unidade mantém o conceito de Deus bastante separado do Espelho da Existência, mesmo que este reflita fielmente os Atributos do Divino. Esta realidade será experienciada em algum ponto, e se saberá que, de fato, apesar do mundo ser o lugar de Deus, o lugar de Deus não é o mundo. Isto torna o Universo e o Santo absolutamente distintos em suas ordens de realidade. Aqui fico em dúvida, pois acredito na existência de um panteísmo, em que tudo é uma coisa só; mas o reflexo no espelho, não importando quão perfeito seja, nunca é quem contempla.
Havendo estabelecido a diferença entre o Absoluto, sua manifestação, e o modo pelo qual todos os aspectos se relacionam e emanam do Uno, o tutor mostrará, então, como funcionam as diversas grandes leis que governam a Existência. Depois do princípio da unidade, simbolizado por Keter, a Coroa, vem a polaridade, representada pelos dois pilares externos da Árvore. Aqui, solicita-se que o grupo observe exemplos de expansão e contração, tolerância e severidade, e os muitos fenômenos polares que são encontrados na vida e exprimem a dualidade dentro da totalidade. As observações devem ser reais e concisas, tais como a polaridade observada na relação entre energia e matéria, ou na interação entre as pessoas, quando, em geral, durante a conversa, um está falando, ou ativo, enquanto o outro está escutando, ou passivo, até os papeis se invertem. Na verdade, se não o fizerem, o relacionamento se torna então conflituoso, quando ambos são simultaneamente ativos, ou se ambos forem passivos. Os exemplos trazidos ao grupo pelos estudantes devem se basear em fatos da semana, não em algo do passado remoto, ou de um livro, para que sejam formuladas observações novas e claras.
A seguir, os processos da trindade devem ser examinados. Aqui, a interação dos três pilares e das tríades menores é explorada tanto de maneira metafísica como prática. O princípio deve ser delineado pelo tutor, assim como a noção de que todas as “situações triangulares” possuem um elemento ativo, um passivo e um neutro, e então ilustrá-lo em um exemplo, como o da alavanca, com seus braços ativos e passivos sobre um suporte. Após o grupo haver discutido um conceito em detalhe, deverá então sair e buscar suas próprias observações das leis. Alguns as observarão agindo em suas casas, e outros, em suas profissões. Este projeto deveria ser a tarefa da semana, com cada pessoa trazendo um exemplo de sua própria vida. Vinte ou mais de tais análises sobre um determinado princípio observado em atuação esclarecem a lei da ação, passividade e neutralidade com maior lucidez que a melhor discussão metafísica, pois o grupo vê uma lei funcionando em diversos níveis e modos através de diferentes ângulos. Esta visão diversificada dos princípios em ação é uma das maiores dádivas de uma reunião.
Depois dos processos de unidade, dualidade e trindade, vem o princípio da quaternidade. Aqui, solicita-se ao grupo que percebam a forma pela qual os quatro elementos, fogo, ar, água e terra, exprimem a noção de consciência, intelecto, coração e corpo; ou, visto de outro modo, que encontrem exemplos da vontade, do espírito, da psique e da carne. Estes níveis devem ser claramente diferenciados, pois não só refletem os quatro aspectos de um ser humano, como também a composição da Existência nos quatro Mundos: Emanação, Criação, Formação e Ação. Muitos exemplos desta quaternidade podem ser trazidos ao grupo. Um deles seria o desejo de alguém querer construir um barco. Depois de decidir fazer isto (vontade), reflete então sobre qual tipo de barco (Criação, intelecto). Após elucidar sua especificação, começa a planejá-la (Formação, emoção), de modo a não ser apenas eficiente, mas também uma obra de arte. Depois de modificar e completar seus desenhos, constrói (Elementos, ação). Aqui temos o processo se originando de um simples impulso da vontade, atravessando o plano das idéias até um projeto, que é então construído. Havendo delineado as pricipais leis da Existência, pode haver o início de um estudo detalhado da Árvore e dos quatro mundos da Escada de Jacob.
Primeiro será observado como cada mundo é uma Árvore completa, ecoando em um nível inferior ao da Árvore Divina da Emanação original. Além do ângulo puramente metafísico, os dez SEfirot, e mais um não-SEfirah, são, também, estudados em sua manifestação humana para ser apreendida alguma noção de como possam operar em outros níveis. A Kabbalah segue aqui a antiga máxima esotérica, “Assim na Terra como no Céu”. Assim, a cada semana, os Sefirot são examinados em termos da vida comum. Como ponto de partida, pode-se solicitar às pessoas que tragam observações sobre Malkhut, o Reino, que por tradição está associado aos quatro elementos. Os estudantes observariam, por exemplo, como todos os processos terrenos são uma interação entre sólidos, líquidos, gases e radiação, ou como o corpo é uma máquina Elemental, assim como é uma locomotiva a vapor, já não mais em atividade. Assim também é o motor de combustão interna, com a sua gasolina (líquida), vapor (ar), e ignição (fogo), colocados em sólido cilindro (terra), que movimenta seu pistão quando o ciclo é iniciado pelo processo do fogo. Yesod, o ego, deve ser então examinado. Os estudantes são instruídos a observar sua própria imagem do ego, bem como a de outros, e a imagem de si mesmo. As pessoas podem trazer alguns exemplos reveladores ou faces falsas, personalidades bem-controladas, fachadas encantadoras, ou máscaras enganadoras. Neste exercício, o ego será visto como um complexo conjunto de funções em interação, se resolvendo em uma imagem dentro da psique inferior. O ego pode ser considerado um vilão por uns, e um bom serviçal por outros. Ambas as visões podem ser igualmente verdadeiras. Depende da motivação e da objetividade. Aqui temos o início da discriminação entre os diversos níveis de consciência.
Após examinar os dois Sefirot inferiores, o grupo prosseguiria e identificaria as funções de Hod e Nezah, os dois SEfirot do pensamento e da ação. Aqui descobrir-se-á que Hod, ou Reverberação, é reflexivo e responsivo em suas funções, tais como escutar e colecionar dados, enquanto, no pilar ativo, Nezah, ou Eternidade, é encontrado como um iniciador impulsivo e espontâneo, bem como o princípio que estimula os ritmos cíclicos dos pulmões e da batida do coração. Estes dois Sefirot surgirão também como os pilares do portal do limiar que paira entre o corpo e a psique. Duas semanas devem ser dedicadas unicamente a estes dois sefirot, para que os estudantes possam reconhecer coisas como a diferença entre o amor ao ritmo de Nezah, e a fascinação com a qualidade do som de Hod. Uma pessoa observará, por exemplo, estar Hod relacionado à percepção de misteriosas influências no ar, de que algo está iminente, enquanto outra notará ter Nezah reações internas ao que acontece, ou ser Nezah o desejo instintivo básico durante o namoro, enquanto Hod escreve as cartas de amor e a delicada e sutil resposta.
O par emocional Gevurah e Hesed é digno de várias semanas de estudo. São facilmente identificáveis como os aspectos severo e amoroso da psique. Mais tarde, os SEfirot da razão e o profético, Binah e Hokhmah, serão relacionados às polaridades do intelecto. O grupo deve trabalhar em conjunto arduamente nestes SEfirot, de modo a ver como estes, e todos os outros, SEfirot e seus caminhos se focalizam abaixo, acima, e no Sefirah central de Tiferet, ou self. Ao término de um período, o grupo deveria começar a ter alguma idéia do modo pelo qual a Árvore funciona como unidade. Será notado, tanto na teoria como na observação, que tudo acontecendo na Árvore, seja em um dos Sefirah, em um Caminho ou em uma tríade, tem alguma conexão com este lugar do Self. O Trono de Salomão é aquilo que observa de algum lugar bem de dentro. É aquilo a vigiar e a saber de tudo o que se passa, mesmo se for desconhecido do ego. É onde o grupo começa a definir a diferença entre o consciente e o inconsciente, como delimitado pelo caminho entre Hod e Nezah. Devem, também, começar a observar, em especial durante as reuniões, que esta autoconsciência é intensificada, à medida que se torna cientes de estarem presentes com outros no mesmo estado de desenvolvimento. Isto revela a diferença entre as tríades mecânicas que cercam o ego do pensamento, do sentimento e da ação, e a tríade do Despertar, apenas acima da linha do limiar, e entre o ego e o Self. Tudo isso é auxiliado pelo esforço do grupo.
Quando tais fenômenos começam a ter lugar, há então, em geral, uma transformação no nível das reuniões. As pessoas se tornam mais alertas, observam e escutam de maneira bastante diferente. Não é mais uma reunião de pessoas interessadas em receber e partilhar informação, mas um corpo de almas que principia a se tornar receptivo a algo mais que aquilo que está sendo dito. Na verdade, alguns observarão que muitas coisas serão reveladas durante os silêncios ocasionais que ocorrem enquanto se olha para a Árvore, à qual sempre se recorre para se obter elucidação. Algumas das pessoas , as mais sensíveis, podem até mesmo perceber a presença do Espírito do grupo começando a se manifestar abertamente em tais momentos. Isto é devido à elevação gradual do nível de consciência do grupo aumentar cada vez que qualquer pessoa da reunião cruzar o limiar da Árvore do grupo, e entrar em contato com a tríade do Despertar encabeçada pelo tutor. Este nível, contudo, é uma área vulnerável, pois é aqui, no que é chamado de êxtase, que a intromissão luciférica acontece. Neste estágio, o equilíbrio entre a visão e a ilusão é muito delicado. Assim sendo, o grupo deve suar a camisa firmemente na imutável rotina de aprender e exercitar os princípios kabbalísticos. Esta base elimina os que buscam apenas excitação, ou são apenas curiosos, e mantém o grupo com os pés na terra, enquanto começa a se familiarizar com vivenciar os níveis inferiores dos mundos superiores. Simultaneamente à teoria estudada, deverão ser executados alguns dos exercícios propostos.