Teoria e Prática à luz do Materialismo-histórico dialético
Por Larisse Miranda de Brito | 22/03/2011 | SociedadeSANTOS, Cláudia Mônica. "Na Prática a Teoria é Outra?". Rio de Janeiro: Lumem Júris, 2010. p. 1- 35
Larisse Miranda de Brito
Teoria e Prática à luz do Materialismo-histórico dialético
Santos, propõe em sua obra fazer uma análise do discurso corrente entre a categoria de profissionais de Serviço Social o qual afirma: "na prática a teoria é outra!" A autora irá mostrar os equívocos existentes nesta afirmação no primeiro capítulo, nas subseções 1.1 e 1.2; para tanto lança mão da concepção de Teoria e Prática no materialismo-histórico dialético de Marx, método de análise hegemônico no Serviço Social.
Buscarei neste trabalho refletir, à luz das subseções supramencionadas da obra Santos, como aparecem Teoria e Prática no materialismo-histórico dialético, bem como demonstrar a relação dialética existente entre essas duas categorias.
Para empreender tal análise é necessário, a priori, que tenhamos claro por que o materialismo-histórico dialético é assim chamado. A teoria de Marx se afirma primeiro como materialista por que se contrapõe ao idealismo de Hegel ao afirmar que, a matéria existe antes mesmo de existir o conhecimento sobre ela, ou seja, o material antecede o ideal; segundo como histórica, por que a análise feita por este método nos diz que, o Ser social constrói e é construído pelo processo histórico, portanto, devemos analisar a realidade a partir das determinações históricas (em movimento), de cada época, sociedade e cultura ali existente; por último dialético por que compreende o Ser enquanto produto e produtor de múltiplas determinações e ou complexos que formam uma totalidade maior, sendo que o conhecimento sobre esta só se efetiva ao apreendemos esta totalidade em seu constante movimento.
Esclarecidos tais pontos, temos agora claro que, segundo o materialismo-histórico dialético a matéria se nos apresenta como produto da ação prática dos homens no seu movimento histórico de produtor e produto da realidade, este homem (Ser social) só será compreendido- e, portanto suas ações práticas, só serão compreendidas- tendo em vista as determinações existentes no processo histórico no qual ele está inserido. Para tanto precisamos apreender estas determinações para a partir daí compreender a totalidade que o forma. Passaremos então para a discussão que mais nos interessa: Como o materialismo-histórico dialético compreende teoria e prática?
Na Ontologia do Ser social desenvolvida por Marx, a prática ocupa lugar central. Pois, o Ser social através de suas práticas, constrói e modifica a história bem como é construído e modificado por ela. Isto não quer dizer, contudo, que a prática apareça no método de Marx como categoria suprema e/ou superior com relação à teoria, pois como iremos observar no decorrer deste trabalho teoria e prática não podem se dissociar, por existir entre elas uma relação dialética.
É a partir das ações práticas dos homes que o conhecimento sobre elas é construído, ou seja, a ação prática "produz" o conhecimento teórico, a teoria pode então ser concebida como o conhecimento ou a tentativa de conhecimento sobre as ações práticas dos homens. Tomemos a realidade como uma concretude, esta concretude nos é apresentada na vida cotidiana, a existência da realidade não é produzida pela consciência que temos dela, mas antes nossa consciência é construída através da existência dessa realidade, concluímos então que, a consciência da existência do concreto não produziu o concreto, pois ele já existia antes mesmo da consciência, por parte dos homens, de sua existência.
Temos claro, portanto que, no materialismo-histórico dialético a teoria é o esforço que empreendemos no processo de compreendermos a prática, ou em outras palavras, através da teoria percorremos um caminho que nos leva ao conhecimento da prática, da realidade humana como processo histórico. Entretanto, a prática não nos é apresentada imediatamente tal como ela é, suas determinações e complexidade estão envolta num nevoeiro cinzento.
Voltemos ao concreto, o concreto nos é apresentado no cotidiano sobre muitas formas, entretanto todas estas formas nos são apresentadas em sua maneira aparente, ou em outras palavras, suas determinações não nos são claras- como foi supramencionado- esta forma aparente sob a qual nos é apresentado o concreto pelo cotidiano é o que Kosik denomina de pseudoconcreticidade. Portanto temos que, no cotidiano o concreto é pseudoconcreto, pois suas determinações estão camufladas, a teoria se nos apresenta então como o esforço empreendido para desvendarmos esta aparência na qual está envolto o concreto no cotidiano; pretendemos então conhecer o concreto na sua essência através da destruição da pseudoconcreticidade, para tanto realizamos um movimento ao qual Marx chama dialético. Vejamos por que: na busca do conhecimento da realidade como ela é, sem a nuvem da aparência, mas na sua essência, percorremos o seguinte caminho, saímos do aparente (singular), quando compreendemos suas determinações (particular) e ao compreendermos suas determinações atingimos a essência do concreto (Universal) e só então voltamos ao singular ou ao pseudoconcreto como concreto pensado ou concreto, realizamos então um caminho dialético, saímos da simples observação da prática (fenômeno/realidade/concreto) ao percebermos as determinações que a formam compreendemos o todo, o universal, e voltamos ao singular tendo desvendado as determinações que o formam.
Desta maneira a afirmação que diz: "na prática a teoria é outra!" está equivocada, uma vez que, se no método ao qual a afirmação se refere, diz que, a teoria "nada mais é" que o conhecimento sobre a prática, na teoria a prática só poderá ser a mesma, pois ela é o conhecimento da mesma. Prática e teoria estão ligadas pela realização dialética que se nos apresenta da seguinte forma; saímos da prática para o conhecimento teórico, voltamos à prática já a conhecendo teoricamente e retornamos a teoria para pensarmos possibilidades de transformações no campo prático. Santos conclui então que, a afirmação- supramencionada- corrente entre os (as) assistentes sociais é inválida pelo menos por três equívocos: 1) os (as) profissionais do Serviço Social imaginam que a teoria se transforma em prática, quando na verdade a teoria é construída através da prática, eles esperam que, como a teoria de Marx se nos apresenta como uma teoria revolucionária, pois pretende a transformação, ela nos instrumentalize de imediato para uma prática revolucionária, o que não parece está claro para estes (as) profissionais é que, a teoria marxiana desenvolveu uma teoria que enxerga através da análise que faz, a possibilidade de uma prática revolucionária isto não quer dizer, que teoria revolucionária implique em prática revolucionária; 2) os (as) profissionais entendem a teoria como mera sistematização da prática e acabam por confundir prática profissional com prática social ou engajamento político; e por último; 3) eles (as) acreditam que "(...) a teoria social de Marx não instrumentaliza para a ação." (SANTOS, 2010, p.13), esta crença parte da compreensão que nos diz que, a teoria por si só deveria nos oferecer os instrumentos para a prática, quando na verdade é necessário construí-los através da mesma.