Teoria das rimas

Por Carlos Alexandre Pires Araujo | 24/05/2011 | Literatura


A rima tem íntima ligação com o ritmo. Ela pode ser apreciada mas não é sentida quando aparece aleatóriamente nos versos. O melhor efeito estético da rima é aparecer onde se espera dentro de um certo ritmo. O invervalo deixa um vazio estético uma vez que uma estrofe pode terminar com duas rimas seguidas por duas pausas na estrofe seguinte. Apresento aqui um esquema de sinais representando o som da rima e o silêncio. O asterisco vai representar um som repetido no final do verso que é quando a rima dá seu efeito de eco do som de outro final de verso. O sinal de positivo vai representar o som onde a rima começa, a preparação da rima, o som que será depois repetido no final de outro verso. O sinal negativo vai representar os versos sem rima conforme esse esquema:

- Verso sem rima
+ Preparação da rima
* A rima

CREPÚSCULO SERTANEJO?

Carlos Aires

Quando o sol no ocidente-
Vai perdendo seu clarão+ -
A noite baixa a cortina,-
Negra da escuridão*+
Num crepúsculo majestoso+ -
Tornando mais prazeroso*
O anoitecer no Sertão*+

Causa-nos grande emoção*
Esse momento reverso+ -
Quando os poetas se inspiram-
Trazendo para seu verso*+
Beleza pura e constante+ -
De cada ponto brilhante*
Que surge no universo*+

Na inspiração fica imerso*
Silencioso e soturno+ -
Ao ver por traz da colina-
Num momento taciturno*+
Quando na copa da mata+ -
A lua da cor de prata*
Exibe o brilho noturno*+

Pra quem o habito é diurno*
Já está se aquietando+ -
Enquanto a coruja triste-
Dá o seu grito agourando*+
Já se encontra agasalhada+ -
No pátio, toda a boiada*
Bem tranqüila ruminando*
[...]
Observo as Serranias+ -
Com fenomenais rochedos+ -
Vales encostas lajedos*
Ventos brandos, brisas frias*
Belas noites lindos dias*
Nessas fantásticas paisagens+ -
Aqui recebo as mensagens*+
Nesse ar puro que respiro+ -
Deus me ajuda e eu me inspiro*
Diante dessas imagens*

Olhando desses mirantes+ -
Inebrio-me com a beleza+ -
Que oferece a natureza*
Vejo lugares distantes*+
Ou cenas hilariantes*
Passando por essas trilhas+ -
Avistando rios, ilhas*+
Isso tudo me consiste+ -
Em saber que Deus existe*
Entre tantas maravilhas*

Vendo essas rochas gigantes+ -
De formas arredondadas+ -
Nem calculo as toneladas*
Por serem exorbitantes*+
Abismos estonteantes*
Vê-se nas íngremes ladeiras+ -
Nascentes e corredeiras*+
Formando mananciais+ -
Surgindo desses canais*
Riachos e cachoeiras*

Daqui é inebriante+ -
Contemplar o por do sol+ -
A madrugada o arrebol*
O crepúsculo alucinante*+
É muito emocionante*
Ouvir nas noites serenas+ -
As sonoras cantilenas*
Vindo das aves noturnas+ -
Nas horas mais taciturnas*
Dão-se as virtuosas cenas*


Além da apreciação que se faz de um vocabulário adequado ou vasto em, por exemplo, um acróstico e na aliteração, a rima proporciona em certos poemas o prazer melódico. E a estrofe ideal é, considerando uma distância máxima de dois versos entre as rimas e apenas um verso sem rima, está no esquema em que a rima do último verso seja repetida no primeiro verso da estrofe seguinte. Porém, mesmo em estrofes com tais rimas, na sua estrutura interna podem acontecer os vazios mencionados, mesmo que no verso em que está um som que prepara uma rima já haja o trabalho do
poeta. Nos casos citados dois sinais positivos ou um positivo seguido de um negativo são pausas quase anulando o ritmo imposto ao ouvido pela rima quando os versos são cantados ou declamados. Esse ritmo fica dependendo então de uma métrica perfeita. O verso com o sinal *+ é o ideal porque tem já o efeito do eco e a preparação para o próximo. O verso com o sinal - é, dentro deste critério de som, o mais pobre.