Teoria da Sexualidade de acordo com a Epistemologia Psicanalítica
Por Paula Patrícia Santos Oliveira Martins | 14/09/2020 | PsicologiaTeoria da Sexualidade de acordo com a Epistemologia Psicanalítica
Impera elucidar que, em 2002, foi criado um grupo de consultores técnicos da Organização Mundial de Saúde, tendo como objetivo contribuir para a discussão sobre a saúde sexual, desta feita, definiu-se a sexualidade como:
Sexualidade é um aspecto central do ser humano durante toda sua vida e abrange o sexo, as identidades e os papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é experimentada e expressada nos pensamentos, nas fantasias, nos desejos, na opinião, nas atitudes, nos valores, nos comportamentos, nas práticas, nos papéis e nos relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões, nem todas são sempre experimentadas ou expressadas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, cultural, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais. Uma energia que nos motiva a procurar Amor, contacto, ternura, intimidade, que se integra no modo como nos sentimos, movemos tocamos e somos tocados; É ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, e por isso influência também a nossa Saúde física e mental.
Portanto, ao interpretar os dizeres acima, entende-se que a sexualidade não somente se trata de atos sexuais, mas sim, de todo um contexto no qual determinado indivíduo está circunscrito. Assim, seria incorrer em erro considerar que o sexo é tão somente instintivo, uma vez que, somente serviria para atender nossas necessidades. Ademais, pelo fato de os humanos possuírem a consciência, nos diferimos dos outros animais, de modo que para atingir prazeres, não necessariamente deve-se estar ligado à um ato sexual, mas sim, à determinado anseio, desejo.
Por conseguinte, Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise, pode ser classificado como um pioneiro sobre o estudo da sexualidade humana. Em meados de 1905, o mesmo veio a publicar o livro denominado “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, este, trouxe um grande impacto na sociedade da época, tendo em vistas que, defende a manifestação da sexualidade em fases precoces do desenvolvimento; observa-se que desde a infância, mesmo que em seu nascimento, a sexualidade mostra-se presente. Ressalta-se que, ao debruçar-se sobre a ideia trazida por Freud, no início de século XX (vinte), é percebido determinados impactos, uma vez que, sua concepção defendida gera, de maneira geral, uma certa inquietação em seus leitores, sejam eles adeptos à suas análises, ou não.
Contemplando os argumentos do parágrafo anterior, ilustra-se a observação de Freud que, logo após o nascimento, a criança demonstra o reflexo de sucção, essencial para sua alimentação e sobrevivência. O referido reflexo era sempre acompanhado do prazer existente ao haver contato de sua mucosa bucal com o seio materno. Seria essa, a primeira fase da sexualidade; a Fase Oral. Desde modo, Freud diz que:
Quem já viu uma criança saciada recuar do peito e cair no sono, com as faces coradas e um sorriso beatífico, há de dizer a si mesmo que essa imagem persiste também como norma da expressão da satisfação sexual em épocas posteriores da vida. A necessidade de repetir a satisfação sexual dissocia-se então da necessidade de absorção de alimento - uma separação que se torna inevitável quando aparecem os dentes e o alimento já não é exclusivamente ingerido por sucção, mas é também mastigado.
Há de ser enaltecido outro conceito criado por Freud; a libido, esse, que advêm do Latim e, significa desejo, anseio. Compreendido, à luz da Psicanálise, como a “energia” que enseja os impulsos da vida, sendo que, dentre eles, o mais importante é o impulso sexual.
Indo ao encontro do que foi exposto no parágrafo anterior, observa-se o segundo estágio, sendo esse, o anal. Iniciando-se por volta dos 2 (dois) anos de idade, quando a criança desenvolve a capacidade de controlar os esfíncteres. Controle esse, que provoca o sentimento de poder produzir suas próprias coisas, isto é, existe a compreensão, da criança, que ela determina, conduz algo, esse, que é simbolizado por suas próprias fezes.
O próximo estágio é contemplado como fálico, ocorrendo por volta dos 4 (quatro) anos de idade, sendo caracterizado como uma fase de descobrimento da libido nos órgãos genitais. Tal estágio deve ser compreendido como uma “descoberta” da genitália e da preocupação com a diferença entre os sexos. Há de ser ressaltado que, apesar da preocupação com os órgãos sexuais, interpreta-se por ser de caráter exploratório; uma curiosidade da criança. Não devendo ser confundido com a sexualidade adulta. É nesta fase também que marca o ponto culminante do Complexo de Édipo pela intimidação da castração. No caso do menino, a fase fálica se estabelece por um interesse narcísico que ele tem pelo próprio pênis, em contraposição à descoberta da ausência de pênis na menina.
Como último estágio, tem-se o de latência, que será desenvolvido a partir dos 6 (seis) aos 11 (onze) anos de idade, isto é, na adolescência, vindo a ser compreendida/determinada como uma aparente inatividade do impulso sexual, haja vista que, comitantemente, inicia-se a prática da masturbação biológica, sendo essa, uma forma de estimulo ao impulso sexual, que, em busca do objeto de amor fora de seu grupo familiar, assume-se as características necessárias para ser adquirida a sexualidade adulta.
Em seu estudo autobiográfico, Freud (1935) elucida que seus achados da psicanálise causaram alvoroço na sociedade, muitos geraram uma explosão de indignação ao ser afirmado que as funções sexuais iniciam-se desde o começo da vida. Ou ainda que a sexualidade começa por manifestar-se na atividade de muitas pulsões, estas encontram-se na dependência de zonas erógenas do corpo; atuam independentemente umas das outras numa busca de prazer e deparam-se com seu objetivo, na maior parte, no corpo do próprio indivíduo, indicando o autoerotismo. É sempre bom lembrar que suas análises, acerca do tema, foram publicadas em meados de 1905, cuja temática era eivada de preconceitos e tabus.
Adentrando na sexualidade adulta, há de ser dito sobre a homossexualidade, uma vez que, pode ser referida à bissexualidade constitucional de todos os seres humanos e aos efeitos secundários da segunda fase da sexualidade; a primazia fálica. Desde já, enaltece que a psicanálise não imputa julgamentos de valor a respeito da sexualidade, mas sim, um objeto exclusivamente de estudo.
É compreendido como pertencente à vida sexual todas as atividades dos sentimentos ternos que possuem os impulsos sexuais originários como fonte, mesmo quando haja uma tentativa de inibição desses impulsos, em relação a seu fim sexual primário, ou de trocar esse fim por outro que não seja compreendido como sexual. (Freud, 1910). A ausência mental da satisfação pode existir independente da abstinência de sexo, pois, o coito é apenas uma forma de expressar a sexualidade, mas não necessariamente a própria sexualidade. (Freud, 1910).
Por conseguinte, Freud abordou a temática da Sexualidade Feminina, durante a Conferência XXXIII (trinta e três) das New Introductory Lectures, em 1933, tratando a temática de forma não tão técnica; sintetiza-se como uma observação das características das mulheres no curso de sua vida adulta. De tal forma, há de ser claro em garantir que, durante o complexo de Édipo, tanto a menina, quanto o menino, possui seu primeiro objeto de desejo sexual, sua própria mãe. Entretanto, com o passar de seu desenvolvimento, nota-se que o menino visualiza o pai como seu verdadeiro rival, enquanto a menina tende a criar laços de hostilidade com relacionamentos do seu próprio sexo. Desta forma, Freud explica:
Há muito tempo compreendemos que o desenvolvimento da sexualidade feminina é complicado pelo fato de a menina ter a tarefa de abandonar o que originalmente constituiu sua principal zona genital - o clitóris - em favor de outra, nova, a vagina. Agora, no entanto, parece-nos que existe uma segunda alteração da mesma espécie, que não é menos característica e importante para o desenvolvimento da mulher: a troca de seu objeto original - a mãe - pelo pai.
Portanto, a complexidade existente quanto a sexualidade da mulher estaria ligada à uma mudança abrupta quanto seu objeto original, sendo que, o primeiro foi o de que onde a ligação da mulher com o pai era particularmente intensa, a análise mostrava que essa ligação fora precedida por uma fase de ligação exclusiva à mãe, igualmente intensa e apaixonada. (Freud, 1931). Mesmo que aparentemente contraditório, há ainda o esclarecimento de que a sexualidade feminina apresenta uma duplicidade quanto sua sexualidade, havendo uma migração em referência ao seu objeto sexual, e a criação de um relacionamento de cumplicidade imputada ao seu objeto “secundário” – o pai.
Comecei por enunciar os dois fatos que me impressionaram como novos: que a intensa
dependência de uma mulher quanto ao pai simplesmente assume a herança de uma ligação igualmente forte com a mãe, e que essa fase primitiva demora um período inesperadamente longo.
Em conclusão ao relatório sobre “A teoria da Sexualidade de acordo com a epistemologia psicanalítica”, afirma-se que a humanidade permanece envolvida pelas questões que versam sobre sexo, prazeres, erotismo e sexualidade genital, cultura após cultura, revelando cada vez mais, o fascínio pelas abordagens das teorias sobre sexualidade.
REFERÊNCIAS
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FREUD, Dr. Sigmund. Um caso de histeria: Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos. [s. n.], 1905. Disponível em: http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-07-1901-1905.pdf. Acesso em: 18/05/2020.
MOURA, Joviane. Sexualidade na Psicanálise. Psicologado, [S.l.]. (2008). Disponível em https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/sexualidade-na-psicanalise . Acesso em 18/05/2020.
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FREUD, Sigmund Schlomo. SEXUALIDADE FEMININA. [S. l.: s. n.], 1931. Disponível em: http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-21-1927-1931.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
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