Teoria da Mente

Por Rubens Camelô | 24/06/2009 | Psicologia

Buscando compreender os estados mentais (sentimentos, desejos, crenças e intenções) dos outros e se si mesmo, e compreender como essas habilidades emergem e como se desenvolvem, são aspectos que têm sido pesquisados por várias ramificações de estudiosos em diversas áreas sob o nome de Teoria da Mente. Essa teoria procura compreender a gênese e desenvolvimento das questões referentes à aquisição de linguagem infantil e a necessidade de entender os diferentes níveis de compreensão que elas têm da mente e como absorvem essas informações dentro de uma visão metalista.

No que diz respeito a esta visão, pode-se citar Piaget como o primeiro investigador a se deter em pesquisas sobre o conteúdo mental infantil e pelos processos responsáveis por esse conteúdo. Embora os estudos piagetianos enfatizarem a assimilação da criança a cerca da lógica do mundo físico em que ela está inserida, Piaget foi um dos precursores no que diz respeito ao estudo da capacidade infantil de entender estados mentais, dando muitas contribuições sobre a compreensão dos estados mentais e físicos.A teoria da mente, definida como a área que investiga a habilidade das crianças pré-escolares de compreenderem seus próprios estados mentais e dos outros e, dessa maneira, predizerem suas ações ou comportamentos, começou a ser desenvolvida com maior intensidade somente nos anos 80 e 90. Isto aconteceu por vários motivos. O primeiro deles é que, até o final da década de 70, a tradição da psicologia do desenvolvimento estava muito orientada para o marco teórico piagetiano. A maioria das pesquisas tinha como objetivo confirmar ou retrucar Piaget. Em segundo lugar, a influência da Filosofia, da Primatologia e das Ciências Cognitivas somente começa a aparecer nos últimos anos, trazendo novas propostas ao pensamento piagetiano. Em busca de respostas para explicar os mecanismos mentais de aquisição e desenvolvimento da linguagem propostas pela teoria da mente, vários estudos voltados para esta problemática foram iniciados.

Noan Chomsky, ao desenvolver a teoria gerativa apresentou a linguagem como um processo gerativo de sentenças, estruturado e regido por regras e padrões de transformação e espelhados em modelos formais que descrevem padrões regulares, "universais" da comunicação e manipulam a linguagem constituindo uma gramática profunda das línguas naturais.

Segundo essa teoria, esses modelos formais de "regras gramaticais" fazem parte de uma capacidade intuitiva que todo o falante, mesmo aqueles que não possuem conhecimento linguístico gramatical, possui uma gramática universal e inata, e por isso é capaz de combinar e recombinar símbolos verbais de acordo co regras especificais de formalidade, produzindo inúmeras sequencias gramaticalmente aceitas, dentro de uma perspectiva "computacional" da sintaxe, desconsiderando os aspectos semânticos e fonológicos da língua. A sintaxe propõe-se compreender não apenas a formação e desenvolvimento das regras lingüísticas, mas também a relação dessas regras com os processos psicológicos, as estruturas cognitivas.

A concepção inativa da linguagem, desenvolvida por Chomsky, considera que o homem possui uma estrutura mental biologicamente pré-disposta para a aquisição da linguagem, essa teoria explica, inclusive, a maneira com que as crianças aprendem uma determinada língua, fato que constata o aspecto abstrato da linguagem o que levou Chomsky a firmar uma posição mentalista, levando em conta os conceitos de mente, já abolidos anteriormente pelos estudos behavioristas, fato que faz com que muitos apontem o teórico como o pioneiro dos estudos cognitivos.

Diante da dificuldade de formular um modelo único, global dos processos cognitivos, novas perspectivas foram principiadas para dar conta desta representação, entre elas, destaca-se a abordagem modular dos processos cognitivos, iniciada por Chomsky e aperfeiçoada por Jerry Fodor em sua Teoria da Modularidade da mente. Esta abordagem buscava entender no que consiste a estrutura da mente e como são organizadas as capacidades cognitivas partindo do pressuposto de que o processo de informação opera em "módulos" de forma, relativamente independente uns dos outros, processando somente um tipo de informação de cada vez, possuindo uma forma de funcionamento inato e não apreendida. Segundo Fodor, o que ocorre na verdade, é que ao longo de nossas vidas, é uma adaptação desses módulos ao ambiente, o que possibilita a aprendizagem.

A noção de modularidade mental contraria a perspectiva associacionista na qual ontogênese dos processos mentais opõe-se à explicação inatista, surgindo assim, a psicologia das faculdades mentais que entende a mente como um heterogêneo complexo e destaca as diferenças entre noções e funções mentais, tais como, a sensação e percepção, volição e cognição, aprendizagem e memória, linguagem e pensamento. O principal objetivo da metáfora da mente modular é entender no que consiste a estrutura da mente e como a organização das capacidades cognitivas. Para essa indagação, Fodor apresenta quatro explicações sobre a natureza das estruturas mentais: neocartesianismo, estrutura horizontal da mente, estrutura vertical da mente e associacionismo. Essas explicações diferenciam-se em alguns pontos e identificam-se em outros, tornando-se a base no contraste entre as explicações que favorecem os estudos da psicologia das faculdades mentais, fundamentando assim, a tese da Modularidade da Mente, porém o teórico reconhece que essas explicações não são necessariamente as únicas existentes.

A principal contribuição do sistema modular apresentado por Fondor, diz respeito à noção de "sistema central". Esse sistema é formado por módulos que já vêm embutidos em nossa mente no momento em que nascemos. Nossa cognição, porém está, entretanto, situada em uma região central entre os módulos de entrada chamada "sistema central". O teórico entende que os sistemas de entrada podem ser relacionados com partes específicas do cérebro, o que não é possível dizer dos sistemas centrais. A cognição deve ser vista de forma holística, o que implica a impossibilidade atual de descrição. Com base nessa teoria, Fondor explica que a mente possui dois tipos de projeção que funcional em diferentes níveis: a primeira diz respeito a um nível que resulta do processo evolutivo, é a formação da mente moderna que se deu de acordo com a necessidade de adaptação do homem ao mundo em que vive. Este nível diz respeito às reações imediatas, praticamente impensáveis e muitas vezes "estúpidas", que possibilitam a percepção sobre a coerência do mundo.

O segundo nível é chamado de lento e contemplativo, e retrata a possibilidade de aprimoramento da racionalidade humana para a identificação da ordem e estruturas do mundo, diz respeito às reações mais reflexivas.

Em contrapartida ao universalismo comportamental, apresentado pela teoria da modularidade da linguagem e ao inatismo, o Conexionismo estuda a aquisição da língua por meio de uma perspectiva computacional, tentando descrever o processo cognitivo ao funcionamento de um computador, o qual possui três níveis processuais: os dados que alimentam a mente (input ou dados de entrada), o processamento, propriamente dito (dados ocultos) e o produto ou output (dados de saída). Para o conexionismo, todo o conhecimento é incorporado por uma rede de unidades de simples processamento por meio de conexões que se fortalecem ou se enfraquecem e acordo com as respostas regulares aos padrões de imput.

O modelo conexionista possui como algumas características:

● Baseia-se na arquitetura cerebral usando conceitos de nós e redes computacionais;

● Acredita que esses nós são interconectados para formar uma rede de interconexões, sendo que cada nó pode estar conectado a diferentes redes;

● Afirma que o conhecimento é armazenado nessas interconexões e é associado com outros conhecimentos contidos em uma grande rede com outras conectoras, isso explica a relação com o associalismo.

Por estar imbricado às perspectivas behavioristas e ao associalismo, o modelo conexionista recebeu críticas que se assemelham atais modelos, pois para os estudiosos, esse modelo não dá conta de explicar os fenômenos de representação interna, como a criatividade, negando a influência de fatores sociais, ou aspectos motivacionais adquiridas por meio das experiências sociais, porém, esse modelo também recebeu elogios por ter se depreendido das estruturas tradicionalista de estudos liguísticos.

O modelo conexionista não nega o inatismo de aquisição, porém considera a importância do uso social da linguagem, seja ela oral ou escrita, essencial para sua aquisição, já que acredita que é o acumulo das experiências advindas com as práticas sociais do uso da linguagem é que fortalece as associações, facilitando a aquisição.