Tempos modernos
Por Leonildo Dutras de Oliveira | 09/05/2012 | FilosofiaLembro com saudades dos tempos de lutas e movimentos. Tempo em que ficávamos parados nas esquinas, em praças públicas e tínhamos uma vontade enorme de mudança. Parados e pensando, era cabeça de gente que pensava. De um povo que sofre, mas, estava pronto para lutar.
Lembro com muita emoção, que cabeça que ficava parada pensando logo virava refeição de tropas famintas. Os estadistas não gostavam do raciocínio animal, apenas contemplavam o corpo celeste de suas ombreiras, eram estrelados. É com pesar, que comunico o falecimento do camarada e companheiro de tantas jornadas e bandeiradas, às vezes pintávamos a cara, outras íamos ao ABC. Queremos diretas já!
Tinha o Lula, Ulisses, Brizola e tanto outros que a memória já não dar conta de lembrar, são apenas lembranças. Foram anos de chumbo e flores, caminhamos juntos enquanto a ordem marchava armada. Éramos unidos contra a intolerância dos Generais.
Foram anos de lutas, caminhamos juntos, contra o gosto amargo de nosso próprio suor, era uma época em que o poder estava concentrado nas mãos de poucos. A polícia, essa velha e covarde força reacionária, repreendia com brutalidade nossos ideais, nos mantendo acordados para que não sonhássemos com o nosso futuro retumbante, era uma tortura escancarada, éramos constantemente obrigados a mentir para sustentar a verdade deles, uma maneira de alimentar o ego dos homens de coturno.
Lutamos juntos! Por uma democracia, por todos direitos perdidos. Éramos unidos, revolucionários sem partido, com o coração partido, éramos uma multidão. Nem sempre saíamos vitoriosos dos empates, mas, não tinha muita importância, pois, o amanhã nunca morre, era esse ideal que movia a luta, almas sem pátria, patriotas de pátria vazia, eram momentos e movimentos de aflição, que o pobre coração palpitava de tanta emoção.
Éramos errantes, líamos de Sócrates a Gramsci e lutamos ao lado de Che Guevara. Recitávamos poemas de Brecht, assistíamos tempos modernos e ouvíamos Geraldo Vandré. É com pesar, que comunico “para todos”, aos quatros quantos, e que o leve com a sua leveza poética que os companheiros abandonaram a causa, quase todos estão postumamente adormecidos pelos tempos modernos.
Hoje, não estamos mais juntos, uns se foram, outro estão aqui! Eu estou com o corpo cansado e a alma lavada, quero descanso, não escuto mais palavras de ordem, abandonaram a verdadeira causa, vencidos pela força do tempo em um espaço moderno, pela política do patrão, tempos não tão modernos assim.
Também, vejo com desconfiança os modernos, filhos da revolução, burgueses e socialistas da mesma religião, corrompidos pelo seu próprio tempo, são superáveis pelos nossos ideais, que ainda vivem, mas, não são proclamados.
Proclamo o fim da independência, e a morte da luta. Não existe mais movimento, apenas o deslocamento de forças para o lado obscuro da coisa. Não existe mais vontade, apenas obediência, tenho náuseas, vontade de dormir e nunca mais acordar, é fim dos companheiros e camaradas. O que é isso, companheiro? Hoje, nós homens entre os modernos, ainda usamos o vermelho, e daí se o diabo também veste vermelho e anda entre agente.