Tempos modernos e lágrimas

Por Edson Terto da Silva | 01/11/2012 | Sociedade

Na quarta-feira, 31 de outubro, Dia das Bruxas para quase todo o mundo, um brasileiríssimo Dia do Saci para quase todos brasileiros, circulou a última edição do Jornal da Tarde, o JT, após 46 longos anos. Em nome da modernidade, o Grupo Estado tirou o produto do mercado e hoje, eu, jornalista há 30 anos, me dou conta de como tive relação muito próxima com o referido vespertino.

 

Eu tinha uns 12 anos quando, vez ou outra, acompanhava meu pai até a banca de jornais, que chamava Ouro Verde, que ele mantinha na Praça Carlos Gomes, centro de Campinas. Sempre no começo da tarde, clientes e mais clientes passavam a pé ou em seus carros em busca das notícias fresquinhas do JT, já que os matutinos quase nada traziam de diferente do que telejornais tinham passado na noite anterior.

 

Eram anos 70 e, talvez, os mais novos nem acreditem que havia revista semanal que era mais esperada do que programas de TVs, isto porque trazia reportagens especiais, completas, atraentes e com credibilidade. Difícil visualizar isto em tempos de Internet, de imediatismo, de pesquisas que podem saciar qualquer fome ou curiosidade sobre os mais variados assuntos.

 

O fim do JT, vencido pelo modernismo, me faz pensar no filme Tempos Modernos, do genial e insubstituível, Charles Chaplin. Se algumas cenas, como a da máquina de alimentação descontrolada, que faz a espiga de milho “esmerilhar” os dentes do operário, nos levam ao riso frouxo e compulsivo, outras, do conjunto da obra, mostram que todos do sistema (humanos ou produtos) deslizamos na linha de montagem a caminho da reciclagem ou (quem sabe?) para o descarte da inutilidade, do obsoleto...

 

Se a Internet e outros sistemas da moderna comunicação não deixam minhas mãos manchadas pela tinta, seja do Jornal da Tarde ou de tantos outros jornais, a mancha, ou melhor, a marca, com cheiro e cores de nossa profissão de jornalista, fica no coração e, mesmo que na condição de simples lembrança, é como uma emocionante obra em preto e branco de Chaplin, fazendo da lágrima salgada o alimento que adoça sorrisos. Descanse em paz JT!