Tempos de crise

Por Avelino José Pereira Neto | 08/01/2016 | Política

Depois de um período de bonanza, ou vacas gordas, e muitos gastos, a população brasileira se sente desnorteada diante da estagnação da economia brasileira. “O que fazer para sair dessa crise?” Essa pergunta que paira na mente da grande parte da população, às vezes, parece ecoar no vazio. Para alguns oportunistas a solução é o impeachment. Os imediatistas acreditam que a saída está em empoçar outro partido no poder. Para os que não tem memória ou que exibem fartura de ignorância, a solução é a volta da ditadura. A real solução porém, está bem mais próxima de nós e muito mais tangível do que imaginamos.

Para ilustrar nosso artigo, tomemos dois exemplos muito piores que a nossa atual situação: Alemanha e Japão depois da segunda guerra mundial.

__Como dois países destroçados por uma guerra monstruosa se erguem e em menos de 40 anos para se tornarem grandes potências mundiais?

É claro que a fórmula para a recuperação não possui somente um ingrediente, porém existe um agente catalizador comum e importantíssimo para que a receita funcione bem. Esse agente catalizador capaz de mover montanhas e transformar a realidade eu dou-lhe o nome de “Unidade Nacional”!

Foi esse mesmo sentimento que uniu a nação; nos encheu de esperança; nos tirou da ditadura militar instalada em 1964 e nos empurrou para o futuro __Unidade Nacional! No caso da Alemanha e do Japão a receita foi a injeção de bilhões de dólares americanos e de outros países capitalistas; a recuperação de seus parques industriais; reformas profundas na economia e um alto investimento na educação. Entretanto, essa fórmula só produziu resultados positivos porque os povos dessas duas nações se uniram para construir, cada qual, um país muito melhor do que antes. Foi o sentimento de união nacional que propulsou as pessoas a acreditar que juntos, como irmãos, eles seriam capazes de realizar tal façanha. Nada adiantaria os bilhões de dólares do capital estrangeiro e nem as reformas administradas, se o povo não estivesse unido e determinado a mudar de fato aquela realidade de destruição e pobreza. Foi o sentimento de irmandade e união entre esses dois povos a real fonte de força e energia para que eles atingissem a meta de reconstrução do país e da dignidade de cada cidadão!

Nós Brasileiros podemos nos inspirar nesses dois exemplos de cidadania, de união e de dignidade para nos retirar desse atoleiro econômico e político. Claramente está comprovado que as ações imediatistas e oportunistas, constantemente adotadas em nossa sociedade, não nos leva a um futuro mais promissor. As ações irresponsáveis de muitos dos nossos políticos têm contribuído negativamente para que nós brasileiros percamos as nossas esperanças e nos posicionemos em total desunião e desconfiança com o próximo e com a nossa nação. Certamente essa é uma fórmula para o fracasso! A verdadeira receita está na união, no cooperativismo e no investimento em soluções a longo prazo como a educação, tecnologia, um planejamento responsável e o uso bem empregado dos recursos econômicos. Justamente o que não temos feito!

Em 1990, uma das nações mais adiantadas e mais estáveis do mundo moderno também suncubiu sob as vicissitudes das oscilações do mundo capitalista. A crise econômica dessa nação foi tão profunda que perdurou por quase sete anos. Vítima de uma dívida pública de mais de $500 bilhões dolares em 1994, uma política de exploração imobiliária desenfreada, investimentos sem credibilidade no setor de mineração e uma política de construção civil irresponsável, o Canadá se viu em um buraco econômico sem prescedente. Em 1995, a dívida do governo canadense atingiu a incrível marca de 71 % de seu PIB, ultrapassado somente pela Itália dentro das nações do chamado “G7 group of nations”. Em 1997, a dívida atingiu o pico de $563 bilhões de dolares.

Graças a vários tropeços econômicos, irresponsabilidade fiscal e uma desenfreada dívida pública o país pagou um alto preço por erros de seus estrategistas econômicos. Nessa ocasião, eu trabalhava como arquiteto para uma firma escocessa de alto prestígio na cidade de Toronto. Eu havia sido contratado em 1988 para desenvolver projetos comerciais na região da grande Toronto. Como arquiteto recém formado eu não tinha a menor ideia do que estava por vir nos anos seguintes. Em um curto espaço de tempo a “bonanza” canadense se havia transformado num ambiente de total desespero. Me recordo que em 1989 haviam mais de duzentos e cinquenta mil pessoas desempregadas na cidade de Toronto recebendo seguro desemprego em meio a uma crise dramática. A província de Ontário havia perdido sua credibilidade e o dolar canadense havia perdido seu poder de compra antes nunca visto. O ambiente econômico era tão inóspido que a provincia de Ontário não tinha crédito sequer para pedir impréstimos aos bancos americanos sem que fosse imposto juros absurdos, empenhos e venda de títulos do setor público como garantia para os credores americanos. O setor da construção civil havia parado, a classe média estava atolada em dívidas com hipotecas e cartões de crédito, as empresas automobilísticas faziam demissôes em massa e para complentar o desastre, a imprensa internacional reportava que o então o maior grupo de mineração do Canadá, o Bre-X Minerals Ltd. sediado em Calgary, estava involvido no maior escandalo de mineração de ouro da história com a falsa descoberta de ouro em BusangIndonesia. Isso levou a economia, já fragilizada, ainda mais para o fundo do poço. Agora além da fraca economia, o governo tinha que explicar aos investidores e aos bancos internacionais que ainda era possível acreditar na economia canadense. Em meio a tantos infotúnios parecia que a sorte canadense estava fadada a um final negro e desesperador. O jornal Wall Street chegou a publicar em 1994 a seguinte nota chamando o Canadá de “honorary member of the Third World” (Canadá, membro honorário do terceiro mundo).

No entanto o espírito de união e responsabilidade foi maior do que o desastre econônimo. O país se uniu para encontrar a saída para crise e retornar ao crescimento. O setor empresarial em parceria com o setor público inventaram saídas que até hoje estão em vigor no país. O país investiu no reciclagem de conhecimento oferencendo curso subsidiados à massa desempregada. Incrementou-se o número de cursos profissinalizantes nas divesas instituições de ensino financiados em parte pelo setor público com a parceria do setor privado. O comércio em geral passou a abrir suas portas também aos domingos gerando mais empregos. O bancos também seguiram o mesmo caminho. Era possível a partir daquele momento ir ao banco sete dias por semana. O governo lançou mão de seus fundos de pensão de diversos setores para investir na abertura de frentes de trabalho e criar novas oportunidades em parceria com outros países além dos americanos. A grande parte do ajuste fiscal veio dos cortes nos gastos públicos (cerca de 8.8%) e redução 14% nos empregos públicos, algo que o Brasil já deveria ter implementado há anos. Inevitávemente os cortes nos serviços públicos tiveram que ser feitos para balancear o orçamento. Muitas das responsabilidades do governo central passou para os governos das províncias como foi o caso da saúde e energia. O governo canadense reverteu o dolar fraco em forte instrumento para incrementar suas exportações, gerar mais empregos e descobrir novos compradores para seus produtos. Na segunda metade dos anos 90, as medidas começam a surtir efeito e o país retorna ao seu crescimento. E em 2002 o país reganha o status de AAA como sólido país para se investir.

Porém, isso só foi possível pela união nacional em torno de medidas austéras, mas responsáveis para retirar o país de uma crise extraordinária! Esse elemento ainda não foi descoberto pela sociedade brasileira que ainda acredita que se queimarmos tudo será melhor. Que o pior é melhor! Uma facção da população alimentada pela a imprensa irresponsável acredita que quebrando a constituição e caçando a presidenta iremos resolver nossos problemas. Políticos, empresários e a social em geral, todos nós devemos acordar para a realidade que é urgente e tratar o problema de forma lógica e séria. As guerras entre parlamentares, o “racha” na sociedade entre o impeatchment e o apoio à presidente democraticamente eleita, o detrimento do interesse pessoal contra o interesse nacional e o egoísmo dos grupos econômicos inescrupulosos só nos enfraquece e nos deixa vuneráveis aos demônios do consumismo e da alienação! Contrariamente a solução está do lado oposto. Nós brasileiros devemos nos unir em torno desse interesse maior e fazer as reformas necessárias para que possamos também dar exemplo de responsabilidade e de grandeza que é o Brasil. Se países destroçados pela guerra ergueram-se das cinza, por que o Brasil não pode sair desse atoleiro político-econômico? Nós devemos nos espelhar pela lição ensinada de países como o Canadá. Não só pelas medidas austeras, mas também pelo espírito de que é possível sair de uma crise econômica com dignidade e com responsabilidade. As fórmulas apresentadas pelos políticos brasileiros até o momento não possui esse elemento catalizador que é a unidade nacional. Pelo contrário, as receitas apresentadas estão repletas de discórdias, interesses pessoais e desunião. Eu digo que o caminho é outro. Somente sob um grande guarda-chuva de união e de irmandade entre nós, é que seremos capazes de cruzar esse largo rio de crise e desesperança no Brasil.

Arq. Avelino Neto