Tecendo Memórias

Por Cristiane Rivero | 20/08/2009 | Sociedade

TECENDO MEMÓRIAS

 

 

         Os fios de lã que doravante se entrecruzam entre texturas de maneira a produzir o tecido atam também memórias, enlace de tramas vestigiais, vívidas a cada testemunhar. Cada fio é responsável pelo todo e o produto deste entremear conduz a uma verdade, daquilo que se construiu com as próprias mãos, do que foi sonhado e do que se fez conhecer. Dos grandes feitos até mesmo do desgaste das memórias, que pela ação do tempo, vão perdendo aos poucos seu viço. Fios que guardam memória e que se completam a fim de permanecerem unidos, costurando uma nova história, enfim, TECENDO MEMÓRIAS.   

         A crescente Cidade de Rio Grande respirava ares de progresso, revestida de pioneirismo, recebia em julho de 1873 a firma Rheingantz & Vater, Sociedade comandita para o estabelecimento de fábrica de lã. Nasce a primeira indústria de tecidos de lã no Brasil, comandada por Carlos Guilherme Rheingantz, Miguel Tito de Sá e Hermann Vater. Logo, a sociedade dissolvera, assumindo a fábrica de lã, Carlos Guilherme, entre sua produção eram fabricados cobertores, panos, capas e sarjas. Porém, ao buscar maior desenvolvimento, aos 11 dias do mês de fevereiro do ano de 1884, a indústria volta a tomar forma de sociedade comandita sob a razão social de Rheingantz & Cia. Desta forma, ampliaram-se as instalações e o maquinário, podendo assim, fabricar tecidos de algodão. Face ao desenvolvimento das atividades, em 1891, é unida à fábrica de tecidos a produção de matéria-prima, trocando a sociedade comanditária por sociedade Anônima denominada Companhia União Fabril e Pastoril, logo alterada por Companhia União Fabril.

         De maneira a buscar maior crescimento, Carlos Rheingantz introduz a primeira fiação penteada do Brasil, possibilitando à Companhia a confecção de tecidos finos, casimiras entre outros. Por meio de tanto desenvolvimento, a Sociedade, em favor do bem-estar dos seus funcionários, dedicou-se ao serviço social, habilitando moradias, sistema cooperativo, chamado Sociedade de Mutualidade, favorecendo em exclusivo aos funcionários da empresa, prestação de serviços médicos e farmacêuticos, auxílio às famílias para enterros e pecuniaridade aos impossibilitados a trabalhar e mantinham, fundo de auxílios em casos de viuvez, casamentos, ainda, armazém, biblioteca, aulas noturnas e ambientes para laser.

         Dentre suas instalações, de imponentes prédios, como escritórios, escola, creches, e seus maquinários como alisadeiras, penteadeiras, fiandeiras, entre outros, a Companhia União Fabril, guardou em seu interior mais que progresso. As lembranças de um tempo feliz, de muito trabalho e de finais incongruentes, hoje o que guarda a Companhia são destroços de seu maquinário, ruínas de seus prédios e um desejo incansável de vê-la reativada. Os sonhos e a memória permanecem em cada espaço dessas instalações, em cada fio de lã ainda hoje entremeado às máquinas corroídas pelo tempo, aqueles mesmos fios condutores do progresso, responsáveis pelo crescimento de uma cidade, pelo pioneirismo de uma região, de um país. A antiga Rheigantz permanece vívida, em sua arquitetura imponente, em seus relatos e sua história, porém ainda mais viva em cada memória.