TALENTOS
Por João Felinto Neto | 15/02/2015 | CrônicasA arte se revela de muitas formas, pintura, escultura, literatura, música etc. É compreensível que constantemente através dos anos venham surgindo novos artistas e com eles novas formas de expressão que divergem e até mesmo se distanciam dos grandes expoentes de suas respectivas épocas. Um exemplo, na pintura, do barroco-rococó de Manuel da Costa Ataíde, o mestre Ataíde ao grafite de Francisco Rodrigues da Silva, o Nunca. No entanto, no caso específico da música, a coisa está feia, vejamos.
Dois dos compositores mais tocados e vendidos atualmente no país se encontram no estúdio de gravações do qual são sócios proprietários na sala iluminada e climatizada de sofás macios em um dia ensolarado e quente, e se cumprimentam:
- Diga aí mano.
- Fala meu.
- Vamo fazê música.
- Vamo lá.
- Eu digo Vá.
- Eu digo Vô.
Os dois juntos:
- Eu digo Vá Vô Vô.
- Aí meu que letra.
- Só duas cabeça mermo pra tanto talento mano.
- E o resto meu?
- Os cara improvisa, vai tocando e falando o nome da banda. É sucesso na certa mano.
- Isso prova que o jovem tem bom gosto meu.
- Só jovem não mano, tem muito coroa aí que curte a gente.
- E quem num curte, tô nem aí, escuta mermo, é cada paredão meu.
- Os carro tão que é só som, mal cabe o motorista, eles adoram nossas letra mano, põe nas altura, último volume, placa balançando, e ainda canta junto.
- É incrível meu. Vamo compô mais?
- Segura essa mano:
Tira tira tira tira tira tira a minha
Ela tá lôcona
Fora da coisinha.
- Meu essa tá muito comprida, os cara não vão conseguir cantar a música toda.
- Eles divide mano, cada um decora uma parte da música, é só cantá em dupla de dois.
- Valeu meu, essa vai estourá.
- Não, pera aí meu, agora é minha vez, covardia, dexa eu usar a minha criastividade, botá meu cabeção pra funcioná, escuta só essa, não meu, presta atenção...
- Vamo porra, dexa de suspenso, canta logo mano.
- Ah se eu te cego
Ah se eu te cego
- Da vista, Da vista.
- Dá na vista meu, tu acha?
- Né isso não mano, eu completei a letra.
- Pôxa, eu tenho certeza, vai sê show, exportação meu, exterior.
- Falar em estrangero, tu reparô que o gosto musical se sofisticou no mundo todo, num é só aqui que se dá valô a música de qualidade não mano.
- É, aí, é, sê tem razão meu.
- Vamo fazer uma parada pra rapaziada gospel mano.
- Vende bem meu.
- Pô mano, eu acho que tô tendo uma inspiração.
- Né caganeira não meu, cólica?
- Não, escuta só, coisa de Deus mano.
A minha filha é do Senhor.
- Meu, num vai fazê os corôa dizer: minha mesmo não ou os boy gritá: dê cá cumpade.
- Mano, nosso Senhor, o lá de cima.
- Ah bom, assim sim.
- Tá ficando tarde mano, vamo cuidá nas melodia, nos ritmo.
- Vamo botá qualquer ritmo meu, letra universal pô.
- Tem razão mano, se a gente põe sertanejo, os cara também grava forró, tanto faz mermo.
- Tá tarde meu, já me vou.
- Té mais mano, fui.