SURDEZ E ATIVIDADE FÍSICA

Por edna cristina goncalves dos santos | 24/01/2011 | Saúde

Edna Cristina Gonçalves dos Santos
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física. Universidade do Estado do Pará
Resumo
Esta pesquisa refere-se à prática de atividade física voltada para surdo, tendo como metodologia o referencial teórico. A surdez é uma deficiência que atinge um dos órgãos do sentido "a audição", é a deficiência de maior incidência na população, no Brasil a cada 1000 crianças que nascem de duas a sete tem problemas de surdez. A notícia do nascimento de uma criança com deficiência no meio familiar pode esboçar diversas reações, tais como, medo, repulsa, indignação ou resignação. É fato que as famílias brasileiras não estão preparadas para receber uma criança nestas circunstâncias. Em especial a criança surda, os pais inicialmente tentam oralizá-la, para então inserir a língua de sinais. O papel do professor de Educação Física é desenvolver a consciência corporal, elevar a auto-estima e propiciar momentos de ludicidade.


Introdução
A atividade física voltada para o público surdo, ainda é uma temática pouco explorada e mistificada, é normal associar à surdez "a incapacidade". Segundo (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003) "é muito comum, [...] nos depararmos, por exemplo, com termos como: anormais, diferentes, deficientes auditivos, surdo-mudo, pessoas portadora de deficiência auditiva."
Em alguns casos de acordo com (LIMA, PIROLO e BISINELA et al, 2000) "verifica-se também a tendência de negar a deficiência ou classificar o surdo como doente mental". Esses conceitos são oriundos da falta de conhecimento sobre o referido assunto: surdez.
(Gesser, 2009) antes de trabalhar com surdos, acreditava que: "deficiente auditivo era menos ofensivo ou pejorativo do que "surdo"...mas, na convivência com os próprios surdos, fui aprendendo que eles preferem mesmo é que os chamem de surdos e uns ficam até irritados quando são chamados de deficientes."
Neste contexto, abordaremos a prática de educação física voltada para esse público, pois (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003) defendem que "é necessário identificar e contextualizar esse sujeito, é uma exigência necessária para o profissional de Educação Física. É um caminho que deverá ser percorrido entre valores sociais, morais, filosóficos, éticos, religiosos e culturais de cada indivíduo dentro da realidade que se pretende trabalhar".

Metodologia
A proposta deste trabalho surgiu da necessidade em divulgar a educação inclusiva e/ou especial, pois a mesma propõe incluir os sujeitos que são excluídos da sociedade. Conforme o Ministro da Educação Fernando Haddad mesmo define " ... o benefício da inclusão não é apenas para crianças com deficiência, é efetivamente para toda a comunidade porque o ambiente escolar, sofre um impacto no sentido da cidadania, da diversidade e do aprendizado."
A modalidade de pesquisa aplicada neste trabalho é de caráter exploratório "tendo como objetivo primário a caracterização inicial do problema, sua classificação e sua definição" e teórico "que objetiva ampliar generalizações, definir, leis mais amplas, estruturar sistemas e modelos teóricos, relacionar e enfeixar hipóteses".
Após a coleta de dados bibliográficos, os mesmos foram sistematizados para o melhor desenvolvimento do trabalho.


Causas e Consequências da Surdez
O surdo francês Ferdinand Berther ao ser perguntado como é ser surdo? o mesmo afirmou: "o que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a incurável surdez, é a da mente".
Existem duas formas de enxergar a surdez: (GESSER, 2009) "a surdez patológica" e "a surdez cultural". A surdez patológica é a corrente defendida por muitos médicos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos que acredita que a surdez pode ser tratada, incentivam a oralização do surdo. A surdez cultural aceita surdo e reconhece a língua de sinais como língua natural.
As causas da surdez de acordo com (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003) podem ser de origem:
? Congênita ou Adquirida: é a surdez adquirida antes do nascimento.
? Pré-natal: é a surdez oriunda de doenças como sífilis, rubéola, toxoplasmose, diabetes e outras patologias, bem como, alcoolismo materno.
? Perinatal: "podem ser anóxia ou hipóxia, parto traumático e/ou prematuro, drogas ototóxicas ou por infecções externas na hora do parto" (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003)
? Pós-natal: "infecções como sarampo, caxumba infantil, menigite, encefalite, eritroblastose fetal" (STROBEL e DIAS, 1995)
? Condutiva ou Neurossensorial: é ocasionada pelo envelhecimento coclear ou por exposição intensa a sons extremamente altos. (FLEMING,1988) acrescenta que podem ser também "resultado de alterações patológicas na orelha média, podendo ser produzidas por malformações congênitas ou adquiridas".
Há diferentes graus de surdez . conforme (GESSER, 2009) "o grau da surdez pode variar de leve a profundo. A surdez leve pode entretanto, ir se agravando com o tempo e virar uma surdez profunda". A classificação da surdez em decibéis (dB) poder ser "normal até de: 25 dB; leve: de 26 a 40 dB; moderada: de 41 a 55 dB; moderadamente severa: de 56 a 70 dB; severa: de 71 a 90 dB; profunda: maior que 91 dB." (SILMAN e SILVERMAN, 1991 apud SANTOS, LIMA E ROSSI, 2003).
? Surdez Leve: "[...] dificuldade para ouvir sons distantes. [...]na escola, pode precisar sentar-se em uma lugar privilegiado." (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003)
? Surdez Moderada: "dificuldade do indivíduo para acompanhar uma discussão [...] na escola, pode não ser capaz de acompanhar discussões." (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003)
? Surdez Moderadamente Severa: "atingem pessoas que precisam de uso de aparelho auditivo, mas conseguem ouvir sons próximos; precisam de treinamento em fala e linguagem. (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003)
? Surdez Severa: "caracterizada pela capacidade de ouvir somente sons próximos." (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003)
? Surdez Profunda: "grupo de pessoas surdas, mas com indicativo que podem perceber a vibração sonora quando emitida com intensidade muito forte; confia mais na visão do que na audição para processar informações" (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003)

Comunicação dos Surdos
Para trabalhar com surdos o professor de Educação Física deve ter conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), esta língua não é universal, mas é a língua de um povo que se alto denomina surdo e que tem o direito de se comunicar na sua língua de origem. (GESSER,2009).
Para tanto "as línguas de sinais, são línguas naturais tão humanas quanto às demais e que não se limitam a um código restrito de transposição das letras do alfabeto" (GESSER,2009).
É por meio dessa língua que o professor de educação física deverá interagir. Não cabe ao educador impor a oralização, a leitura labial ou a criação de sinal (somente o surdo pode criar) para facilitar a comunicação. No contato com os surdos a língua de sinal é essencial, caso o professor tenha dificuldade deverá requerer um intérprete.
A comunicação é um dos atributos humanos, pois, "expressar-se, expressando o mundo, implica comunicar-se. A partir da intersubjetividade originária, poderíamos dizer que a palavra mais que instrumento, é origem da comunicação_ a palavra é essencialmente diálogo. [...] diálogo autentico _reconhecimento do outro e reconhecimento de si no outro_ é decisão e compromisso de colaborar na construção do mundo" (FREIRE,1987).

Inserção de Atividade Física para Alunos com Surdez
A educação física quando vivenciada pelos surdos possibilita trabalhar a sua consciência corporal e desenvolver as suas habilidades motoras. O surdo do ponto de vista clínico não possui nenhuma restrição a prática de exercícios físicos, pois seu desenvolvimento motor é equiparado a um indivíduo dito "normal" (LIMA, YOSHIOKA e MORAES).
Para (RODRIGUES, NOCCHI et al, 2007) "o desenvolvimento motor de crianças surdas costuma seguir os padrões de normalidade, não havendo, portanto, nenhuma restrição à prática de atividade física. Quando a surdez é acompanhada de outra deficiência ou de algum outro comprometimento, as possíveis restrições estarão relacionadas a esses(s) outro(s) problema(s).
Conforme (WINNICK & SHORT, 1986) se as crianças surdas tiverem oportunidades iguais de aprender movimentos e participar da atividade física, as habilidades motoras devem ser equivalentes às de seus pares de mesma idade. Caso não tenham oportunidades iguais, podem sofrer atrasos nas habilidades motoras. Os índices de condicionamento físico de alunos ouvintes e surdos não apresentam diferenças significativas.
Diante deste parâmetro o professor deve basear suas aulas nas mais variadas práticas como: a dança, a ginástica, a natação, o esporte e as atividades recreativas, atentando sempre a ludicidade.
Alguns autores propõem as atividades para serem trabalhadas com alunos surdos: Bueno e Resa (1995) que as atividades devem explorar corporeidade, lateralidade, coordenação motora, equilíbrio, organização espaço-temporal, qualidades físicas básicas e socialização. De acordo Soler (2005) o professor deve estimular o crescimento a auto estima dos alunos sempre que possível, pois o sucesso dos alunos depende e está intimamente ligado a uma auto-estima saudável.
São inúmeras as possibilidades de atividades físicas, no que tange área da dança, por mais que o surdo não reconheça os sons, à vibração é sentida através do tato, adquirindo noção de espaço e movimentos corporais. A ginástica é outra possibilidade, podem ser vivenciados os elementos ginásticos como: correr, caminhar, trotar, os saltitos, entre outros.
Para (LIMA e FILUS, 2003) a natação é uma ferramenta que irá contribuir para que o surdo desenvolva a interação com o meio líquido, trabalhe a respiração e inspiração, desenvolva a imaginação e a criatividade, e aprimore a noção de espaço.
Na área do esporte, mais precisamente o voleibol (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003) enfatizam que o esporte não deve ser negligenciado, é prudente que o professor ensine as regras e os passes:"o toque, a manchete, os saques", que irão sendo vivenciados ao longo das aulas.

Conclusões
Na educação especial/inclusiva o professor é a peça fundamental no trabalho de adequação e vivência. Dentro do universo escolar, ele é o responsável pela determinação da qualidade de interação, aquisição dos conceitos pelos alunos e a transferências destes conceitos, bem como para a funcionalidade da vida cotidiana. (MASUZAKI,1995).
Desta forma "cabe ao professor analisar e decidir sobre os procedimentos de ensino a serem adotados [...] esses procedimentos devem ser flexíveis, adequados às habilidades individuais dos alunos" (MIURA, 1999).
Este trabalho requer tempo, paciência e comprometimento, pois exige muito do educador. É necessário que ao trabalhar com crianças, adolescentes ou adultos surdos, o professor tenha algum conhecimento sobre LIBRAS, pois é por meio dela que o surdo relaciona-se.
O ato de ensinar só é efetivamente apreendido a partir de uma prática que valorize as diferenças e que o professor deve assumir suas responsabilidades políticas, pedagógicas, culturais e sociais, como um educador crítico, criativo, preocupado com a transparência de sua prática, buscando instrumentalizar o educando, munindo-o de reflexão político ?pedagógica.( (LIMA, SOUZA e TREVISAN, 2003).

Referência

BUENO.S.T., RESA, J. Educação Física para niños y niñas com necessidades educativas especiais, Málaga: Algibe, 1995.

FLEMING, J.W. A criança excepcional: diagnostico e tratamento. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987.

GESSER, Audrei. LIBRAS?: o que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.

HADDAD, Fernando. Entrevista. In: Inclusão:Revista da Educação Especial/v1.Brasília:Secretaria de Educação Especial, 2005.

LIMA, Sônia Maria Toyoshima; FILUS, Josiane Fujisawa. Conhecimentos para a prática da natação com surdos.In: atividade física para pessoas com necessidades especiais: experiências pedagógicas. Rio de Janeiro: Guanabara, 2003.

______; PIROLO, A. L; BISINELA, T. M et al. A prática do voleibol sob a ótica dos surdos. In: Educação Especial: Olhares e práticas, Londrina: UEL, 2000.

______; SOUZA, Nágela Terezinha de; TREVISAN, Renato Araújo. Experiência integrativa com o voleibol: Apontamentos para o educador. In: atividade física para pessoas com necessidades especiais: experiências pedagógicas. Rio de Janeiro: Guanabara, 2003.

LIMA, Thaize Cristina Souza; YOSHIOKA, Maria Cristina da C. P; MORAES, Renato de. Avaliação do desenvolvimento motor de crianças surdas. Disponível em:<htpp: www.usp.br/siicusp/Resumos/15Siicusp/2232.pd> Acessado em 29 de out. 2010.

MIURA, Regina K.K. Currículo funcional natural e o ensino de pessoas com necessidades especiais. Mensagem da APAE, Brasília, DF, 1999.

RODRIGUES, Ana Claudia Madruga; NOCCHI, Nice; RODRIGUES, Ana Luisa Madruga de. Desenvolvimento das possibilidades corporais do aluno surdo. Disponível em:<htpp: Colaboradorahttp://www2.ufrgs.br/xiipalops/Problemas/1011401_17_1321.pdf> Acessado em 30 de out. 2010.

RODRIGUES, William Costa. Metodologia Científica. Paracambi: FAETEC/IST, 2007. Disponível em:<htpp: www.ebras.bio.br/autor/aulas/metodologia_cientifica.>. Acessado em: 22 de out. de 2010.

SHIMAZAKI, E. M. A formação de conceitos e ciências naturais: uma experiência com alunos portadores de deficiência mental moderada. Campinas: UNICAM, 1994.

SOLER, R.. Educação Física inclusiva: em busca de uma escola plural, Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

STROBEL, K.L; DIAS, S.M.S. Surdez: Abordagem geral. Curitiba: Apta, 1995.

VYGOSTKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.


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