“Subsídios às práticas pedagógicas da literatura infantil: Ênfase a história oral”

Por Paulo Marcos Ferreira Andrade | 27/07/2013 | Educação

 

“Subsídios às práticas pedagógicas da literatura infantil: Ênfase a história oral”

 

Paulo Marcos Ferreira Andrade, nascido em 08/10/1976 em Arenápolis estado do Mato Grosso, Licenciado em pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, pós- graduado em coordenação pedagógica Pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, atualmente é diretor da Escola municipal "Raimunda Arnaldo de Almeida Leão, no Município de Barra do Bugres- MT. "Há que se cuidar do Broto, para que cresça e dê frutos.

 

 

 

RESUMO

Para contar história não basta apenas ler, mas também interpretá-las. O educador que se propõe a prática de contar histórias deve desenvolver a melhor forma de levar a criança ao mundo encantado. Contar história é educar, é encantar com o que faz e viver um mundo cheio de fantasias e ludicidade é fazer com que tudo tenha vida, significado, emoção e prazer. Ao contar uma história deve-se encantar os ouvintes convidando-os a viajarem para o mundo da fantasia e da imaginação. Porem é preciso desenvolver estratégia que prendam a atenção dos ouvintes o tempo necessário, é só liberar a criatividade e exercer o lúdico na situação de ensino. A arte de contação de história infantil é colocada como recurso psicopedagógico, a narração trará para cada criança um espaço para momentos de alegria e sentimentos de prazer na leitura, além de auxiliar a compreender a si próprio e ao mundo a sua volta.

PALAVRAS-CHAVE:

Arte de contar histórias, Literatura Infantil.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Nos últimos anos, a questão de renovar ou reinventar a escola, tem se tornado a palavra de ordem na América latina e na Europa. Muitos são os debates que vem cada vez mais demonstrando o ensino quase decadente e a necessidade de repensá-lo, abrindo uma nova perspectiva pedagógica principalmente no que diz respeito a prática da literatura infantil, posto que a arte de contar e ouvir histórias tem sido brutalmente substituída por jogos da internet que não possibilita o resgate cultural do indivíduo.

Deste modo opta-se neste artigo pelo tema “Subsídios às práticas pedagógicas da literatura infantil: Ênfase a história oral”, no qual se busca uma forma simples, mas coerente resgatar uma literatura infantil que seja motora da fantasia e do faz de conta, num processo didático que valorize a história oral e o contexto dos indivíduos.

Uma vez que a arte de contar e ouvir histórias na escola tem perdido o seu caráter formador e vem cada vez mais sendo substituída por jogos da internet e outros oferecidos pelas novas ferramentas tecnológicas, que tem extinguido com as rodas de conversas, as histórias da vovó e outros momentos que se constituem em fortes ferramentas pedagógicas.                                                                       

Busca-se neste trabalho monográfico questionar o fato de o ato de contar histórias, pouco fazer parte do fazer pedagógico neste presente século ao que também apresentar algumas possibilidades de se trabalhar essa categoria da literatura infantil na escola. Apresentar ferramentas de como introduzir as histórias de autores como Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Eva Furnari, na prática pedagógica.

Estudar possibilidades de se trabalhar a literatura infantil na escola, dando ênfase a história oral como principal ferramenta para se trabalhar os valores do humanismo e da solidariedade no cotidiano escolar, bem como apresentar ferramentas capazes de introduzir as histórias de autores como Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Eva Furnari e outros, na prática pedagógica.

 A escolha deste tema se justifica na constante necessidade que tem a escola de repensar e reinventa a prática pedagógica com relação à literatura. Seja a literatura contida em livros, ou aquela que faz parte da oralidade dos povos. É que esta transmite a cultura e a maneira de enxergar o mundo, contada por pessoas da família ou da comunidade onde a escola está inserida. È, pois função da escola repensar esta ação cognoscente. Introduzir histórias na aprendizagem escolar é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo. Os envolvidos na situação de ensino e aprendizagem  têm a possibilidade de dar novos significados para a vida. Isso se dá pelo fato de que o homem cria e recria a sua história a todo instante. Assim a história contribui para a formação da identidade do indivíduo.

O que se propõe é o estudo deste fazer pedagógico, a saber, a arte de contar histórias, afim de que se possa apresentar ferramentas de implementação do mesmo. Deste modo pode - se perceber o quanto este trabalho é relevante para o processo de resignificação da prática docente. Por outro lado sua importância se mostra pelo envolvimento no estudo de diferentes pedagogias.

Para realização este trabalho monográfico, será tomado por base todo o material bibliográfico disponível. Desta forma pode-se afirmar que o caminho a ser percorrido é o da leitura de fontes bibliográficas, análise de dados e de experiências cedidas por professores das redes municipais e estadual, e posteriormente a produção textual.

 

 

 

 

Desenvolvimento

 

Embora a produção infantil possa se manifestar através de várias linguagens focaliza-se aqui o processo de produção verbal. Quanto à questão da expressão verbal é sabido por todos que o processo de ensino e aprendizagem tem se caracterizado muito pela produção escrita. Confira a seguir:

“Essa situação diz respeito à predominância                                                                                     de um trabalho com a modalidade escrita, está servindo                                                                          como modelo  para   realização do oral. A atenção insufi-                                                                     ciente que a escola vem dando a essas distinções constitu-                                                                    em a existência de uma situação peculiar na realidade do                                                            ensino. Geonowvrier, (1974,p.76)

            O processo pedagógico de tornar-se um professor um professor contador de histórias, requer necessariamente do olhar do outro. É esse olhar do outro, que sempre se mostra muito aguçado que irá dar formas, e aperfeiçoar o nosso fazer pedagógico de contar história.

Conforme Prieto, (1999, p. 23):

“O olhar do outro nos oferece respostas, regula                                                                            os nossos mecanismos de emoção, leva-nos por caminhos imprevistos, equaliza nos desempenho,  para  que  possamos  ir  construindo, as nossas  bases  e nossas  próprias  regras, que não serão exclusivamente imutável, e muito menos aplicáveis indistintamente a todos, ou em toda qualquer situação. As bases são movediças. E é bom que sejam assim, porque nos obrigam a uma atenção e a um re-fazer permanente.”

 

Contudo o principal fator que influencia na arte de contar história é o querer. É preciso querer. Querer muito. Posto que essa arte seja caracterizada pelo seguinte lema: “O contador de histórias traz o coração na mão.” A essa preciosa definição, queremos acrescentar: traz o coração na mão e o olhar bem aberto! Estabelece o diálogo com os alunos é essencial pois essa não pode ser uma ação de antagonismo.

Segundo Pilette (s.d p.20)

 

“O diálogo do professor com a turma é                                                                                       importante, porque vai estabelecer uma via de mão                                                                              dupla, isto é, a troca de experiências entre professor                                                                                      e aluno, fazendo que cresçam juntos.”

É frequente, no meio de professores, observarmos o uso da arte de contar história erroneamente para passar uma mensagem, dar lição de moral, para trabalhar o conjunto de conteúdo de uma disciplina. Não negamos que ao ouvir ou ler histórias, a criança parte para um processo de criação, porém não meramente. Às vezes o professor camufla essa intenção, mas na íntegra, sua preocupação é somente essa.

Não podemos reduzir um texto literário, poético, ficcional e aplicador da imaginação a uma mensagem única, exclusivista e especifica. Como se esta mensagem estivessem nas entrelinhas do texto, e demonstrasse um mau leitor aquele que não é sensível ao ponto de captá-la.

Conforme Machado (1993. P.24)

“Se não desejamos que perpetue um sistema                                                                                  de dominação de crianças, é mais seguro que lhes ofereçamos livros que tenha mais a ver com arte                                                                                                 que com ensino, com formulação de perguntas que                                                                                     com imposição de respostas. Textos que recusem o                                                                      estereótipos como ponto de   partida.  Que sejam                                                                                     distintos, novos, únicos em diferença e originalidades.”

Entendemos que mais importante que captar mensagens, e deixar-se tocar pelas histórias, estabelecendo com ela um diálogo de igual para igual, perceber no texto suas manhas e artimanhas.

Contar história no âmbito escolar, extrapola em suma o domínio de qualquer conteúdo. Usar história com o objetivo específico só é valido se a história e a situação que se armou for um momento de encantamento, preparado para contar uma história de humor dramático, com vocabulário simples, mais isso depende do seu público e isso cada contador de história conhece.

O educador deve ter o conhecimento de que nem todo texto escrito é bom para ser contado, por exemplo, um texto tradicional é mais fácil do que um texto poético.

Segundo Moraes:

“O pensamento de Cecília Meireles está, portanto,                                                                          na raiz das reflexões e projeções a respeito da literatura                                                                           para crianças que se fizeram frequentes no Brasil nos                                                                       últimos trinta anos de nossa história cultural.       

Moraes (2002, p208)

 

Todo contador de histórias tem que ter a paixão pela história a ser contada é como se estivesse participando, interpretando, vivendo tudo aquilo que está narrando. A sabedoria está em saber usar toda essa emoção. Ter domínio da história é algo importante e necessário ao se apresentar a história ao seu público, mas isso tudo não é o suficiente, há a necessidade ainda de praticar exercícios de aquecimento vocal e corporal e mais é preciso querer contar e também que o público esteja preparado para ouvir. E que não seja um momento de cobrança e exortações em sala de aula. O que não impede de uma história ser usada de forma lúdica para um determinado assunto ou conteúdo. O que enfatizamos é que não se deve usar a história para lição de moral, ou cobranças individuais e coletivas.

A história em si estimula o debate e os questionamentos e isto independe da pessoa e da fase ao qual ela se encontra.

Diante da realidade do contexto se faz necessário e é de suma importância se utilizar todos os textos disponíveis tantos os documentários, histórico, jornalísticos como contos de fada, poesia e até mesmo a história contada como veiculo dentro de um conteúdo que possa levar conhecimentos aos educandos de uma forma que incentive ao hábito da leitura.

A história não pode ser contada apenas por contar para passar o tempo, é preciso algo mais que chame a atenção dos receptores e que estes entendam e saibam interpretar o texto.

O contador de histórias, ou seja, o educador tem que ter pelo menos uma razoável bagagem de leituras para ter conhecimento se a história é boa ou não. O educador deve estar em fonte de energia para que a narração se dê com vitalidade. O contador de histórias deve estar tranquilo e sem pressa, perceber o momento adequado se o espaço facilita o contato visual com cada um dos ouvintes.

Todo educador ao contar uma história deve dar tempo ao público para serem criadas as imagens no imaginário do seu ouvinte, pois é o momento de criação e recriação.

Deste modo podemos, afirmar que o aluno ao ouvir uma história que lhe desperte o interesse poderá levantar hipóteses e formular conceitos. Pois neste momento de criação e recriação de idéias a imaginação é planilha aonde irá se movimentar a história contada.

O ouvinte ouve a história e cria imagens inéditas com a imaginação, cujos horizontes não têm cercas, mas sim um caminho a percorrer ou quem sabe um barco para navegar, não se sabe ao certo, porém é possível dizer que este é um terreno fértil e deve ser levado muito a sério.

Após contar uma história, o contador deve sempre partir de algo que é concreto para aquele público, criando mecanismos pedagógicos que possibilitem a leitura da história e a leitura do contexto da história. Levar este público a interpretar, valorizar, expressar idéias pode ser uma forma pedagógica de usufruir dessa arte.  

Entendo que se faz importante ao educador, que queira inserir em sua práxis pedagógica, a arte de contar histórias, garantir alguns princípios importantes, para que essa seja de fato uma pratica libertadora. Levando sempre em consideração que a história deve contagiar, não só o ouvinte, mas também o contador. Nem todo contador de histórias é ou deva ser um professor por via de regra, mas penso que a arte de contar história deve fazer parte da docência.

É importante também, que tenha conhecimento das falas, que saiba conduzir a história, se isto for bem preparado, o professor não irá correr o risco de enfrentar surpresas desagradáveis. Busatto (2007), explica “que para contar uma história é preciso saber primeiro a intenção para com esta história.”

Vejamos alguns pontos cruciais, que se deva observar ao contar uma história.

I - De quem é esta história?

Autoria – quem escreveu esta história que irá ser contada? É muito importante se atentar para este detalhe, ao contar a história, deve-se divulgar o autor da mesma, a editora e a data da edição. Parece que não, mas é de extrema importância a divulgação destes elementos, pois é garantia dos direitos autorais, e exerçao da democracia. Ensinar este valor para criança constitui-se um aspecto relevante da práxis pedagógica.

II – Como se caracteriza o público?

Ter claro, para que o público se está falando é uma questão didático-pedagógica, que deve ser observada em qualquer prática pedagógica, e ao contar uma história não é diferente. Saber a faixa etária dos ouvintes, implica pensar estratégias especificas, objetivando o processo cognitivo e a atividade exeqüível.

III – O que quero ao contar a história?

Percebemos que contar história, é algo que precede as quatro paredes da sala de aula. Esse ato é tão prazeroso que vem rompendo as barreiras do tempo, e nem mesmo a televisão, internet ou outro aparato tecnológico tem ocupado seu espaço. Afinal quem nunca contou, ou ouviu uma história? Quem nunca parou em um ponto de ônibus, sala de espera, e se pegou ouvindo uma história contada a outro.

As mães contam histórias, para que os filhos durmam. Em hospitais que atendem crianças afetadas pelo câncer, grupos de voluntários, contam histórias para que as crianças não vejam o tempo passar e possivelmente tenham as dores diminuídas. E até mesmo para que consigam romper o preconceito. Na China, os imperadores ouviram histórias para se esquecerem dos problemas do império.

Uma história deve ser trabalhada procurando selecionar o que o educador quer ensinar ou de acordo com o contexto da aula que será dada, pesquisar algo que toque sua vida de maneira especial, se for uma contação que já veio incluído no material para seu usado, deverá ser lida várias vezes. Logo após, o educador deverá recriar a história e passá-la para uma linguagem oral para não ficar apenas como um texto exposto. Continuando deverá ensaiar os gestos, movimentos e voz, por último deverá observar a história como um todo, na introdução, no desenvolvimento e na conclusão.

E nós docentes o que queremos ao contar ao contarmos uma histórias na sala de aula? Qual é o objetivo a que me proponho? Quais os valores que se quer trabalhar ao contar a história? Esta prática, de contar história tal qual qualquer pratica pedagógica deve ser planejada e objetivada, afim de que se obtenha sucesso na situação de aprendizagem que se instala sempre como uma experiência humana.

Vejamos o que escreve Caldart sobre essa experiência humana:

“A experiência humana que constitui o processo histórico é uma experiência essencialmente formadora e educativa. Fazer-se humano é fazer-se sujeito de sua própria história. Fazer história e formar-se como humanidade, como sujeito humano. Trata-se de um olhar que altera substancialmente o jeito de pensar a ação educativa                                                    e que no exige uma postura dialética diante das diversas dimensões que constituem as possibilidades da formação humana.” Caldart, (2000, p.60)    

        

Esse é o mais interessante da arte de contar história contribuir com a formação humana, daí a grande necessidade de se ter claro o que quer. Objetivar essa pratica é fator social no processo cognoscente, já que formar é o objetivo maior na educação.

IV – Que histórias contar? Ou que poesia recitar?

 

Escolher criteriosamente a história é um fator relevante, em se tratando do público infantil. “As histórias deve conter algo que lhe chamem atenção. Estimular as crianças, fazer uma motivação antes, faz com que o imaginário se volte para o que se ouve daí é só aproveitar o momento, e se deixar levar ao mundo encantado das histórias”.

V – Onde vou contar esta história? (cenário)

 

Antes de adentrarmos mais profundamente neste assunto, vejamos, pois algumas considerações sobre cenário pedagógico.

“Quando em um lugar ocorre interação, colaboração,                                                            inter-subjetividade, desempenho assistido, ou seja, quando ocorre uma situação de ensino, dizemos que ali se armou um cenário favorável a atividade. O cenário de atividades é um conceito de múltiplas origens.” Vygotsky apud de Moll, (1996. P185)

 

O cenário é onde se dá a dramatização de uma história o recitar de um poema, incorpora duas características essenciais, que segundo Moll são:

A própria ação cognitiva motora, e os elementos                                                                objetivos, externos e ambientais, determinados pela ocasião                                                                        (o cenário). Elas representam o que, o onde e o porquê dos                                                         pequenos e recorrentes dramas... Todas essas peculiaridades                                                                    pessoas envolvidas, ocasião, motivações, objetivos, lugares                                                                    e momentos – não podem ser separadas...”

 

Desta forma pode-se afirmar que a sala de aula, no momento em que ocorre uma situação de aprendizagem se torna um cenário, onde se movimentam idéias e valores. Uma sala, um cantinho bem organizado, com motivações pode ser um bom convite para se contar uma história. O importante é fazer deste, um momento marcante e que produza aprendizados e possibilite a vivencia dos valores de humanismo e solidariedade. Para que isso aconteça de fato, não é necessário que a ação cognitiva a se desenvolver, esteja amparada somente por aparatos tecnológicos sofisticados, pois há lugares e momentos que por si próprios, já se constitui um cenário educativo. Há escolas, onde os professores se utilizam do ambiente natural, um jardim, a sombra de uma arvore o legal é que o ambiente estimule também, a imaginação, criativo e que facilite a assimilação do conceito que se quer construir.

No que se diz respeito à arte de contar histórias, é importante ressaltar que os usos de símbolos e dizeres culturalmente construídos, atuam diretamente na possibilidade de construção e reconstrução das crianças. A principal premissa da teoria de Vygotsky é que a transformação dos processos cognoscentes mais elevados, ocorre na interação social das crianças e pelo uso de instrumentos e símbolos culturalmente determinados. As palavras, os gestos e os sinais do contador de histórias, regulam seu comportamento, direcionando a atenção da criança para longe das características perspectivamente proeminentes, e reorganizando o campo perceptivo da criança de uma maneira culturalmente relevante. Esse processo e chamado por Vygotsky de funções psicológicas superiores. Ele divide esta teoria em quatro etapas:

“1_ Auto-reguladas, em vez de limitadas ao campo                                                                          de estimulo imediato, 2 – sociais ou culturais, em lugar de biológicas na origem, 3 - objeto de uma atenção, em lugar de automáticas inconscientes, 4 – medidas através do uso de símbolos e instrumentos culturais.” Vygotsky (Apud de Moll, 1996. P189)

 

Incorporar na história elementos que possuam uma semântica, para o aluno partir da sua realidade, levando-o a descobrir o mundo em que vive em consonância com o imenso universo a ser perscrutado, é uma possibilidade ao se contar uma história. Diante do paradigma que tem se tornado a educação global no século XXI, revitalizar esta ferramenta pedagógica é uma missão para os educadores.    

Quando a arte de contação de história infantil é colocada como recurso psicopedagógico, a narração trará para cada criança um espaço para momentos de alegria e sentimento de prazer na leitura, além de auxiliar a compreender a si próprio e ao mundo a sua volta. Contar histórias é uma maneira de divertir, de estimular a união e principalmente uma forma muito eficiente de ajudar o ser humano em sua busca de autoconhecimento.

Uma história deve ser contada emocionalmente e não simplesmente apresentada em seu enredo, isto permitirá muitas leituras e muitos caminhos. Acrescenta Busatto. (2007, p.49)

“Contar uma história é fazer a criança sentir-se identificada                                                  com os personagens. É trazer todo o enredo à presença do ouvinte e fazer com que ele se incorpore à trama da história.”

Qualquer que seja o período histórico e contexto no qual ela se apresenta, uma das coisas que faz eco é a idéia de que a arte é o mundo em símbolos e por sua vez propicia a criação de um universo semântico entre o oral e o escrito. Confira a intervenção de Culler (1999)

“o educador deve respeitar a interpretação do oral                                                                                       no escrito. A criança elabora a principio, seu texto escrito muito próximo da maneira como fala, portanto é quase uma transposição direta de sua fala para o escrito. È claro que isso acarreta muitos “desvios” a escrita culta. Mas se isso deve ser aceito não significa que o professor não deva instrumentalizar o aluno para que a expressão seja gradualmente melhorada e, dessa forma, vá se conformando às normas.” Culler (1999, p.53)

 

As crianças agem, pensam, sentem, sofrem, alegram-se como se elas próprias fossem os personagens. Para se contar bem uma história é preciso possuir habilidade, treino e conhecimento técnico do trabalho, pois os valores artísticos, lingüísticos e educativos dependem da arte do narrador, que poderá fazer uso do instrumento da voz e das linguagens não verbais, como: gestos, olhar, músicas, cheiros, toque; e conta com audição, visão, olfato e tato.

SISTO (1992, p. 23) nos leva a pensar que: “Contar histórias na verdade é a união de muitas artes: da literatura, da expressão corporal, da poesia, da musica, do teatro”...

 Literatura, poesia, música e teatro fazem com que a criança aprenda os conteúdos que forem colocados junto com a história e participe do enredo expressando de maneiras diferentes dentro do contexto histórico, em cada momento e em diversos lugares, lembrando sempre que as histórias vão ficar para sempre.

Logo após o término da história podem-se reunir as crianças para encenarem com uma dramatização, fazer trabalhos manuais com recortes de revistas, dobraduras, colagem, pintura e atividades de acordo com o planejamento da aula sempre fazendo uma ponte entre a história e o conteúdo da aula.

As histórias podem ser vivenciadas pelas crianças, especialmente as mais novas, de diversas maneiras: lendo o livro, representando, dramatizando e com o auxilio de materiais, como desenhos ou fantoches. Desta forma é importante que se tenha definido o papel do professor para que não se perca suas características de educador. O educador é quem media e ordena as atividades e idéias, como registra Libâneo:

“Desta forma de trabalho pedagógico o professor é, pois                                                                 um mediador que deve caminhar junto, intervir o mínimo indispensável, embora não os furte, quando necessário a fornecer uma informação mais sistematizada , sobre determinada situação.” Libâneo (1985, p.65)

                 

 A partir de agora trataremos de apresentar sugestões que subsidiam a prática pedagógica de educadores contadores de histórias  e que visam o aprimoramento  de sua práxi. Antes porem de adentrarmos ao assunto, atente-se para essa reflexão tão relevante  para o processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista a pluralidade cultural e as diferenças  socioeconômicas existentes na sala de aula, pense um pouco  com este poema de Vinícius de Moraes.

É isso aí, contar histórias é pensar o novo, o cômico, sem desprezar o diferente, o especial. Pensar sempre que o mais importante é levar aos ouvintes a um processo interativo que respeite as especificidades mais peculiares de cada criança. A homogeneidade em sala de aula é inevitável, porém não vemos nisso o óbice no processo, pelo contrário celebramos as diferenças, posto que possibilita maior troca de experiências.

Falando em diversidade, um valor tão importante para construir em grupos humanos, é o da amizade. Sabemos que as relações humanas são conflituosas, porém há no ser humano a capacidade inata se superação de conflitos e de criação de valores que possibilite viver em respeito mútuo. É muito bom ter amigos e poder ajudar alguém quando for preciso, ser voluntário é um valor inestimável que só pessoas nobres possuem. Um ótimo meio de se trabalhar este valor é com o texto que segue como sugestão. Confira agora essa bela história

Ziraldo escreveu: A Saraiva editou...                                                                                                                                 E nós vamos contar! Era uma vez...

O menino Maluquinho em:                                                                                                   Obrigado Doutor

Ziraldo apud de Matos (2004. p144)

Esta é uma história que reforça a vivência harmônica, entre os homens, como canta com muita propriedade Milton Nascimento: Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do coração.”

Uns personagens da literatura infantil, que tem encantado a garotada nas escolas publicam do Brasil, é a bruxinha de Eva Furnari, que tem sempre uma novidade pra contar. E abre um leque par o despertar da curiosidade. O que será que ela está aprontando aqui? Vamos descobrir e contar para a garotada.

Eva Furnari escreveu  a FTD editou...                                                                                                           E nós vamos contar!                                                                                                                            Era uma vez... 

A bruxinha

 

Essa é uma história que pode ser contada para todas as idades, deixa-se aqui duas maneiras de se contar essa bela trama. A primeira sugestão é a história móvel, confira o passo para confecção:

1°-Passo- Ampliar os quadrinhos separadamente no tamanho desejado;

2°- Passo- Colorir, numerar e colar em papel cartão;

3°- Passo- Digitar os textos referentes a cada parte da história e colar no verso do papel cartão;

4°- Passo- Encapar com contact e usar e abusar de toda a piração da bruxinha;

A segunda sugestão é o álbum Sanfonado

Consiste em uma maneira prática, de se contar histórias ilustradas, em um ambiente onde não se dispõe de muitos aparatos. È simples e eficiente. Faça o processo da proposta anterior em pedaços de cartolinas no tamanho ofício na vertical, cole o contact a seqüência da história deixando uma lacuna de 1 cm de cena para cena.      

Possibilitar através do lúdico o cultivo de valores como, amizade, respeito e amor ao próximo. Existem várias histórias em quadrinhos que podem ser aproveitadas no cotidiano escolar. Por exemplo, as aventuras da turma do Pererê, personagens de Ziraldo. Conheça esses personagens que encantam e renovam a fantasia na escola que se propõe a perspectivar o novo na vida dos estudantes.

Além de contada as estória pode ser dramatizada com a garotada e apresentada na escola, ou em outro ambiente que lhe seja apropriado. Entendemos que para que construa um aprendizado consistente é, pois necessário que toda a turma participe, mesmo que para isso seja incorporados mais personagens no roteiro. Só essa interação entre a turma por si já consiste em um mecanismo pedagógico importante que deve pensado e elaborado intencionalmente. Para que todos participem das atividades da dramatização conheçamos, pois algumas tarefas que podem ser distribuídas  entre os colegas.

Quem?                                                           O que faz?

Diretor

Dirige o espetáculo: dá idéia de gestos usados pelos atores, alerta sobre a entonação de algumas frases e coordena o trabalho com figurino, cenário e contra-regra.

Atores

Representam as personagens.

Contra-regra 

Cuida dos objetos que são utilizados durante as representações.

Cenógrafo

Faz o cenário, ou seja, decora o ambiente onde as cenas são representadas.

Sonoplasta

É responsável pelo som. È ele quem cuida das músicas e dos barulhos que devem ser ouvidos durante as cenas,

Figurinista

Escolhe roupas para os atores, de acordo com as características de cada personagem.

Iluminador

Controla a luz, que pode ser mais fraca ou mais forte, colorida, etc.

Antes de fazer um teatro com a turma verifique-se se os mesmos já participaram de alguma apresentação, caso tenham participado é importante que desenvolva primeiro a atividade a seguir: crianças de 05 anos, tempo: de 30 a 40 minutos; material: várias fantasias; o objetivo é de desenvolver a expressão corporal, discernir e interagir com os colegas. Leve as crianças para uma sala após ter ouvido algumas histórias e saber de cor as falas de algumas delas. Escolha algumas bem conhecidas e oriente a turma para se dividir em grupos conforme as histórias que cada um deseja encenar.

As próprias crianças se encarregam de dividir os grupos para desenvolver a autonomia. Durante um tempo você pode ensaiar com eles algumas falas, gestos avulsos de cada personagem, e outros aspectos importantes em um teatro. Deixe que as crianças vistam as fantasias descomprometidamente afim de que elas se identifiquem com o personagem. Com essa parte resolvida, as crianças ensaiam um pouco a cada dia até estarem prontas para apresentar trechos de histórias e logo peças inteiras.                      

Vamos aproveitar para conhecer mais algumas partes importantes de um teatro?        

Palco

Local onde os atore se apresentam.

Proscênico

Parte da frente do palco, próximo a platéia.

Platéia

Nela o público fica sentado para assistir ao teatro.

Cortina

Limite entre os atores e a platéia, ela se abre para anunciar o início da apresentação e se fecha para  anunciar o final

Camarim

Dentro dele, os artistas se preparam para apresentação. Eles se vestem e fazem a maquiagem.

Bilheteria

Onde se vendem os ingressos para assistir o espetáculo.

Não podemos deixar de citar, os trabalhos de uma das mais importantes escritoras do teatro infantil do nosso país, que é a escritora Maria Clara Machado, que é autora de Pluft, o fantasminha, o cavalinho azul, e entre outras.

O teatro é uma manifestação artística muita antiga. Do teatro de sombras chinês, há 5000 anos a.C, até os nossos dias muitas estória já foram contadas e interpretadas nos palcos da vida.

A peça Pluft, o fantasminha, entrou estreou em 1995, desde então, já foi encenada incontáveis vezes nos palcos brasileiros, levando alegria e magia a crianças e adultos.

Para estórias como a de Pluft, o Fantasminha sugerimos que monte um pequeno cenário feito em papelão, mais ou menos do tamanho de uma janela normal, que possa ser levado para qualquer lugar, em seguida desenhe os personagens e cole em palitos de espetinho. Depois de ensaiar o roteiro com as crianças apresente primeiro na sala de aula, como se apresenta fantoches, e depois para toda escola.

Segundo Busatto (2007 p 12)

A arte de contar histórias é um instrumento capaz de                                                                                     servir de ponte para ligar as diferentes dimensões e conspirar para a recuperação dos significados que tornam as pessoas mais humanas, íntegras, solidárias, tolerantes, dotadas de compaixão e capazes “estar  com” os conceitos.                                                                                           

Desta forma encerramos este trabalho, deixando aberta uma discussão para educadores que queiram renovar sua práxis pedagógica, servindo-se desta ferramenta milenar e eficaz... A arte milenar de contar histórias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

ANDRÉ, S; COSTA, A.C.G.Sua Escola a 2000 por hora- Educação para o desenvolvimento Humano. Instituto Ayrton Senna/ Saraiva 2003.

 BAJARD, Elie. Afinal, onde está a leitura? Cadernos de Pesquisa. São Paulo. Nº33, novembro, 1992 p. 13.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Abril, 1995.

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Magia e Técnica, arte e política. Ensaios sobre Literatura e histórias da cultura. Obras escolhidas, v.1. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BOTH, Sérgio José, Claudinei J. De Souza. METODOLOGIA CIENTIFICA- Faça fácil a sua pesquisa. Tangará da Serra, MT: Editora São Francisco, 2004                                                  

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: 1997.

BRASIL, Ministério da educação e desporto. Lei de Diretrizes e Bases da educação. Lei nº9394/1996, de 20 de dezembro d 1996. Brasília, 1997.                                          

CABRAL, Álvaro e Nick, Eva – Dicionário Técnico de Psicologia, São Paulo, Cultrix,                                                                                                                 CASCUDO, Luís da C. Contos tradicionais do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Global, 2003.

CARNEIRO, Flávio. Entre o cristal e a chama: ensaios sobre o leitor. Rio de Janeiro. Eduerj. 2001.  

CASTRO, Cláudio de Moura. A prática de pesquisa. São Paulo; Mcgraw Hill do Brasil, 1977Coleção matemática aula por Autor: Benigno Barreto Filho   Cláudio Xavier da silva   FTC São Paulo 2003.                                                                                                               

CUNHA, Luiz Antônio. Os Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental: Convívio Social e Ética. Cadernos de Pesquisa, nº 99, São Paulo, 1996.                                                                                                                   

2000.                                                                                                                                                 CULLER, J. Teoria literária: uma introdução. Tradução S. Vasconcelos. São Paulo, Beca produções Culturais, 1999.

CUNHA, Luiz Antônio. Os Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental: Convívio Social e Ético. Cadernos de Pesquisa, nº 99, São Paulo, 1996.  

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 6ª ed. São Paulo: Autores Associados.1999.                                                                                                                                                                                                                                               

FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. Campinas: Editora Papirus, 1994.   

FREIRE, Paulo. Vida e obra/ organizado por Maria Ana Inês Souza- São Paulo: Expressão Popular, 2001        

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.

FREIRE, Paulo. Vida e obra/ organizado por Maria Ana Inês Souza- São Paulo: Expressão Popular, 2001.  

GADOTTI, Moacir. O que é ler? Leitura: teoria e prática. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.                                                                                        

Ginott, Hain G. – Psicoterapia de grupo com crianças: a teoria e a prática da ludoterapia, Belo Horizonte, Interlivros, 1979.

HEGEL, Georg W. F. Estética: A idéia e o ideal. 5ª ed. São Paulo, 1991.

JUNQUEIRA, Maria de Fátima Pinheiro da Silva – O brincar e o desenvolvimento infantil, http://www.saudedafamilia.hpg.ig.com.br, Rio de Janeiro.

KLEIMAN, Ângela B.; MORAES, Silvia E. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Editora Mercado de Letras, 1999.    

LAJOLO, M. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna. 2001. 

MATOS, Cloder Rivas, viver e aprender português- 3ª série / Cloder Rivas

MATOS, Joana D’arque Gonçalves de Aguiar-8 ed. São Paulo Saraiva, 2004.

MACHADO. A.M Contracorrente: conversas sobre leitura e política. São Paulo. Ática. 1999                                                                                                                                         

MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Tradutor Marcos Bagno. 2.ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2000.


MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Tradutor Marcos Bagno. 2.ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2000.  

MAGDALENA, B. C; COSTA, I.E.T. Internet na sala de aula: com a palavra, os professores. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.

MEIRELES. Cecília, Obra poética. Rio de Janeiro, Ed.  Aguilar:1972    

NÓVOA, Antonio. Os professore e sua formação: Lisboa Dom Quixote, 1992 

PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

Penteado, J.R.W. Os filhos de Lobato: O imaginário infantil na vida do adulto, Rio de janeiro: Qualitymark/ Dunya. E. 1997.

                                                                                                                             Pilette, Claudino, Didática especial, Ed Ática, São Paulo. S/d                                                                            

PRIETO, Heloísa. Quer ouvir uma história: Lendas e mitos no mundo da criança. São Paulo: Angra, 1999. Col. Jovem Século XXI.

 PCNs: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, MEC/SEF, 1997.  

PCNs: apresentação dos Temas Transversais. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, MEC/SEF, 1997.  

Revista Nova Escola, edição especial Parâmetros Curriculares Nacionais fáceis de entender de 1ª à 4ª série, p. 3.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler: formando leitores para a vida inteira. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997

VIEIRA, José Guilherme Silva Metodologia de pesquisa cientifica na prática/José Guilherme Silva Vieira – Curitiba – Editor Fael. 2010.                                                    História. 4.ª edição. Campinas: Ed. Papiros, 2003. 

SANCHES, Emilia Cipriano, Creche: realidade e ambigüidade: Petrópolis: Vozes, 2003.                                                                                                                                            

SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Trad. Claudia Schilling. Porto Alegre: Editora. Artes Médicas, 1998.


SIEBENEICLER, Flávio B. Encontros e Desencontros no Caminho da interdisciplinaridade: G. Gusdorf e J. Habermas. p 153-179. IN: Revista Tempo Brasileiro 98 Jurgen Habermas: 60 anos. Julho a Setembro. V.1 – n.º 1 – ed. Trimestral. Rio de Janeiro: CDU 130.1, 1962. 

SCHON, Donald. Formação de professores como profissionais reflexivos. IN: Nóvoa, Antonio (coord.). Os professore e sua formação: Lisboa Dom Quixote, 1997

.                                                                                                                                       . ZABALA, Antoni, A prática educativa: como ensinar? Porto Alegre, Artmed, 1998.                                                                                                                                  

 

“Subsídios às práticas pedagógicas da literatura infantil: Ênfase a história oral”

 

Paulo Marcos Ferreira Andrade, nascido em 08/10/1976 em Arenápolis estado do Mato Grosso, Licenciado em pedagogia pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, pós- graduado em coordenação pedagógica Pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, atualmente é diretor da Escola municipal "Raimunda Arnaldo de Almeida Leão, no Município de Barra do Bugres- MT. "Há que se cuidar do Broto, para que cresça e dê frutos.

 

 

 

RESUMO

Para contar história não basta apenas ler, mas também interpretá-las. O educador que se propõe a prática de contar histórias deve desenvolver a melhor forma de levar a criança ao mundo encantado. Contar história é educar, é encantar com o que faz e viver um mundo cheio de fantasias e ludicidade é fazer com que tudo tenha vida, significado, emoção e prazer. Ao contar uma história deve-se encantar os ouvintes convidando-os a viajarem para o mundo da fantasia e da imaginação. Porem é preciso desenvolver estratégia que prendam a atenção dos ouvintes o tempo necessário, é só liberar a criatividade e exercer o lúdico na situação de ensino. A arte de contação de história infantil é colocada como recurso psicopedagógico, a narração trará para cada criança um espaço para momentos de alegria e sentimentos de prazer na leitura, além de auxiliar a compreender a si próprio e ao mundo a sua volta.

PALAVRAS-CHAVE:

Arte de contar histórias, Literatura Infantil.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Nos últimos anos, a questão de renovar ou reinventar a escola, tem se tornado a palavra de ordem na América latina e na Europa. Muitos são os debates que vem cada vez mais demonstrando o ensino quase decadente e a necessidade de repensá-lo, abrindo uma nova perspectiva pedagógica principalmente no que diz respeito a prática da literatura infantil, posto que a arte de contar e ouvir histórias tem sido brutalmente substituída por jogos da internet que não possibilita o resgate cultural do indivíduo.

Deste modo opta-se neste artigo pelo tema “Subsídios às práticas pedagógicas da literatura infantil: Ênfase a história oral”, no qual se busca uma forma simples, mas coerente resgatar uma literatura infantil que seja motora da fantasia e do faz de conta, num processo didático que valorize a história oral e o contexto dos indivíduos.

Uma vez que a arte de contar e ouvir histórias na escola tem perdido o seu caráter formador e vem cada vez mais sendo substituída por jogos da internet e outros oferecidos pelas novas ferramentas tecnológicas, que tem extinguido com as rodas de conversas, as histórias da vovó e outros momentos que se constituem em fortes ferramentas pedagógicas.                                                                       

Busca-se neste trabalho monográfico questionar o fato de o ato de contar histórias, pouco fazer parte do fazer pedagógico neste presente século ao que também apresentar algumas possibilidades de se trabalhar essa categoria da literatura infantil na escola. Apresentar ferramentas de como introduzir as histórias de autores como Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Eva Furnari, na prática pedagógica.

Estudar possibilidades de se trabalhar a literatura infantil na escola, dando ênfase a história oral como principal ferramenta para se trabalhar os valores do humanismo e da solidariedade no cotidiano escolar, bem como apresentar ferramentas capazes de introduzir as histórias de autores como Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Eva Furnari e outros, na prática pedagógica.

 A escolha deste tema se justifica na constante necessidade que tem a escola de repensar e reinventa a prática pedagógica com relação à literatura. Seja a literatura contida em livros, ou aquela que faz parte da oralidade dos povos. É que esta transmite a cultura e a maneira de enxergar o mundo, contada por pessoas da família ou da comunidade onde a escola está inserida. È, pois função da escola repensar esta ação cognoscente. Introduzir histórias na aprendizagem escolar é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo. Os envolvidos na situação de ensino e aprendizagem  têm a possibilidade de dar novos significados para a vida. Isso se dá pelo fato de que o homem cria e recria a sua história a todo instante. Assim a história contribui para a formação da identidade do indivíduo.

O que se propõe é o estudo deste fazer pedagógico, a saber, a arte de contar histórias, afim de que se possa apresentar ferramentas de implementação do mesmo. Deste modo pode - se perceber o quanto este trabalho é relevante para o processo de resignificação da prática docente. Por outro lado sua importância se mostra pelo envolvimento no estudo de diferentes pedagogias.

Para realização este trabalho monográfico, será tomado por base todo o material bibliográfico disponível. Desta forma pode-se afirmar que o caminho a ser percorrido é o da leitura de fontes bibliográficas, análise de dados e de experiências cedidas por professores das redes municipais e estadual, e posteriormente a produção textual.

 

 

 

 

Desenvolvimento

 

Embora a produção infantil possa se manifestar através de várias linguagens focaliza-se aqui o processo de produção verbal. Quanto à questão da expressão verbal é sabido por todos que o processo de ensino e aprendizagem tem se caracterizado muito pela produção escrita. Confira a seguir:

“Essa situação diz respeito à predominância                                                                                     de um trabalho com a modalidade escrita, está servindo                                                                          como modelo  para   realização do oral. A atenção insufi-                                                                     ciente que a escola vem dando a essas distinções constitu-                                                                    em a existência de uma situação peculiar na realidade do                                                            ensino. Geonowvrier, (1974,p.76)

            O processo pedagógico de tornar-se um professor um professor contador de histórias, requer necessariamente do olhar do outro. É esse olhar do outro, que sempre se mostra muito aguçado que irá dar formas, e aperfeiçoar o nosso fazer pedagógico de contar história.

Conforme Prieto, (1999, p. 23):

“O olhar do outro nos oferece respostas, regula                                                                            os nossos mecanismos de emoção, leva-nos por caminhos imprevistos, equaliza nos desempenho,  para  que  possamos  ir  construindo, as nossas  bases  e nossas  próprias  regras, que não serão exclusivamente imutável, e muito menos aplicáveis indistintamente a todos, ou em toda qualquer situação. As bases são movediças. E é bom que sejam assim, porque nos obrigam a uma atenção e a um re-fazer permanente.”

 

Contudo o principal fator que influencia na arte de contar história é o querer. É preciso querer. Querer muito. Posto que essa arte seja caracterizada pelo seguinte lema: “O contador de histórias traz o coração na mão.” A essa preciosa definição, queremos acrescentar: traz o coração na mão e o olhar bem aberto! Estabelece o diálogo com os alunos é essencial pois essa não pode ser uma ação de antagonismo.

Segundo Pilette (s.d p.20)

 

“O diálogo do professor com a turma é                                                                                       importante, porque vai estabelecer uma via de mão                                                                              dupla, isto é, a troca de experiências entre professor                                                                                      e aluno, fazendo que cresçam juntos.”

É frequente, no meio de professores, observarmos o uso da arte de contar história erroneamente para passar uma mensagem, dar lição de moral, para trabalhar o conjunto de conteúdo de uma disciplina. Não negamos que ao ouvir ou ler histórias, a criança parte para um processo de criação, porém não meramente. Às vezes o professor camufla essa intenção, mas na íntegra, sua preocupação é somente essa.

Não podemos reduzir um texto literário, poético, ficcional e aplicador da imaginação a uma mensagem única, exclusivista e especifica. Como se esta mensagem estivessem nas entrelinhas do texto, e demonstrasse um mau leitor aquele que não é sensível ao ponto de captá-la.

Conforme Machado (1993. P.24)

“Se não desejamos que perpetue um sistema                                                                                  de dominação de crianças, é mais seguro que lhes ofereçamos livros que tenha mais a ver com arte                                                                                                 que com ensino, com formulação de perguntas que                                                                                     com imposição de respostas. Textos que recusem o                                                                      estereótipos como ponto de   partida.  Que sejam                                                                                     distintos, novos, únicos em diferença e originalidades.”

Entendemos que mais importante que captar mensagens, e deixar-se tocar pelas histórias, estabelecendo com ela um diálogo de igual para igual, perceber no texto suas manhas e artimanhas.

Contar história no âmbito escolar, extrapola em suma o domínio de qualquer conteúdo. Usar história com o objetivo específico só é valido se a história e a situação que se armou for um momento de encantamento, preparado para contar uma história de humor dramático, com vocabulário simples, mais isso depende do seu público e isso cada contador de história conhece.

O educador deve ter o conhecimento de que nem todo texto escrito é bom para ser contado, por exemplo, um texto tradicional é mais fácil do que um texto poético.

Segundo Moraes:

“O pensamento de Cecília Meireles está, portanto,                                                                          na raiz das reflexões e projeções a respeito da literatura                                                                           para crianças que se fizeram frequentes no Brasil nos                                                                       últimos trinta anos de nossa história cultural.       

Moraes (2002, p208)

 

Todo contador de histórias tem que ter a paixão pela história a ser contada é como se estivesse participando, interpretando, vivendo tudo aquilo que está narrando. A sabedoria está em saber usar toda essa emoção. Ter domínio da história é algo importante e necessário ao se apresentar a história ao seu público, mas isso tudo não é o suficiente, há a necessidade ainda de praticar exercícios de aquecimento vocal e corporal e mais é preciso querer contar e também que o público esteja preparado para ouvir. E que não seja um momento de cobrança e exortações em sala de aula. O que não impede de uma história ser usada de forma lúdica para um determinado assunto ou conteúdo. O que enfatizamos é que não se deve usar a história para lição de moral, ou cobranças individuais e coletivas.

A história em si estimula o debate e os questionamentos e isto independe da pessoa e da fase ao qual ela se encontra.

Diante da realidade do contexto se faz necessário e é de suma importância se utilizar todos os textos disponíveis tantos os documentários, histórico, jornalísticos como contos de fada, poesia e até mesmo a história contada como veiculo dentro de um conteúdo que possa levar conhecimentos aos educandos de uma forma que incentive ao hábito da leitura.

A história não pode ser contada apenas por contar para passar o tempo, é preciso algo mais que chame a atenção dos receptores e que estes entendam e saibam interpretar o texto.

O contador de histórias, ou seja, o educador tem que ter pelo menos uma razoável bagagem de leituras para ter conhecimento se a história é boa ou não. O educador deve estar em fonte de energia para que a narração se dê com vitalidade. O contador de histórias deve estar tranquilo e sem pressa, perceber o momento adequado se o espaço facilita o contato visual com cada um dos ouvintes.

Todo educador ao contar uma história deve dar tempo ao público para serem criadas as imagens no imaginário do seu ouvinte, pois é o momento de criação e recriação.

Deste modo podemos, afirmar que o aluno ao ouvir uma história que lhe desperte o interesse poderá levantar hipóteses e formular conceitos. Pois neste momento de criação e recriação de idéias a imaginação é planilha aonde irá se movimentar a história contada.

O ouvinte ouve a história e cria imagens inéditas com a imaginação, cujos horizontes não têm cercas, mas sim um caminho a percorrer ou quem sabe um barco para navegar, não se sabe ao certo, porém é possível dizer que este é um terreno fértil e deve ser levado muito a sério.

Após contar uma história, o contador deve sempre partir de algo que é concreto para aquele público, criando mecanismos pedagógicos que possibilitem a leitura da história e a leitura do contexto da história. Levar este público a interpretar, valorizar, expressar idéias pode ser uma forma pedagógica de usufruir dessa arte.  

Entendo que se faz importante ao educador, que queira inserir em sua práxis pedagógica, a arte de contar histórias, garantir alguns princípios importantes, para que essa seja de fato uma pratica libertadora. Levando sempre em consideração que a história deve contagiar, não só o ouvinte, mas também o contador. Nem todo contador de histórias é ou deva ser um professor por via de regra, mas penso que a arte de contar história deve fazer parte da docência.

É importante também, que tenha conhecimento das falas, que saiba conduzir a história, se isto for bem preparado, o professor não irá correr o risco de enfrentar surpresas desagradáveis. Busatto (2007), explica “que para contar uma história é preciso saber primeiro a intenção para com esta história.”

Vejamos alguns pontos cruciais, que se deva observar ao contar uma história.

I - De quem é esta história?

Autoria – quem escreveu esta história que irá ser contada? É muito importante se atentar para este detalhe, ao contar a história, deve-se divulgar o autor da mesma, a editora e a data da edição. Parece que não, mas é de extrema importância a divulgação destes elementos, pois é garantia dos direitos autorais, e exerçao da democracia. Ensinar este valor para criança constitui-se um aspecto relevante da práxis pedagógica.

II – Como se caracteriza o público?

Ter claro, para que o público se está falando é uma questão didático-pedagógica, que deve ser observada em qualquer prática pedagógica, e ao contar uma história não é diferente. Saber a faixa etária dos ouvintes, implica pensar estratégias especificas, objetivando o processo cognitivo e a atividade exeqüível.

III – O que quero ao contar a história?

Percebemos que contar história, é algo que precede as quatro paredes da sala de aula. Esse ato é tão prazeroso que vem rompendo as barreiras do tempo, e nem mesmo a televisão, internet ou outro aparato tecnológico tem ocupado seu espaço. Afinal quem nunca contou, ou ouviu uma história? Quem nunca parou em um ponto de ônibus, sala de espera, e se pegou ouvindo uma história contada a outro.

As mães contam histórias, para que os filhos durmam. Em hospitais que atendem crianças afetadas pelo câncer, grupos de voluntários, contam histórias para que as crianças não vejam o tempo passar e possivelmente tenham as dores diminuídas. E até mesmo para que consigam romper o preconceito. Na China, os imperadores ouviram histórias para se esquecerem dos problemas do império.

Uma história deve ser trabalhada procurando selecionar o que o educador quer ensinar ou de acordo com o contexto da aula que será dada, pesquisar algo que toque sua vida de maneira especial, se for uma contação que já veio incluído no material para seu usado, deverá ser lida várias vezes. Logo após, o educador deverá recriar a história e passá-la para uma linguagem oral para não ficar apenas como um texto exposto. Continuando deverá ensaiar os gestos, movimentos e voz, por último deverá observar a história como um todo, na introdução, no desenvolvimento e na conclusão.

E nós docentes o que queremos ao contar ao contarmos uma histórias na sala de aula? Qual é o objetivo a que me proponho? Quais os valores que se quer trabalhar ao contar a história? Esta prática, de contar história tal qual qualquer pratica pedagógica deve ser planejada e objetivada, afim de que se obtenha sucesso na situação de aprendizagem que se instala sempre como uma experiência humana.

Vejamos o que escreve Caldart sobre essa experiência humana:

“A experiência humana que constitui o processo histórico é uma experiência essencialmente formadora e educativa. Fazer-se humano é fazer-se sujeito de sua própria história. Fazer história e formar-se como humanidade, como sujeito humano. Trata-se de um olhar que altera substancialmente o jeito de pensar a ação educativa                                                    e que no exige uma postura dialética diante das diversas dimensões que constituem as possibilidades da formação humana.” Caldart, (2000, p.60)    

        

Esse é o mais interessante da arte de contar história contribuir com a formação humana, daí a grande necessidade de se ter claro o que quer. Objetivar essa pratica é fator social no processo cognoscente, já que formar é o objetivo maior na educação.

IV – Que histórias contar? Ou que poesia recitar?

 

Escolher criteriosamente a história é um fator relevante, em se tratando do público infantil. “As histórias deve conter algo que lhe chamem atenção. Estimular as crianças, fazer uma motivação antes, faz com que o imaginário se volte para o que se ouve daí é só aproveitar o momento, e se deixar levar ao mundo encantado das histórias”.

V – Onde vou contar esta história? (cenário)

 

Antes de adentrarmos mais profundamente neste assunto, vejamos, pois algumas considerações sobre cenário pedagógico.

“Quando em um lugar ocorre interação, colaboração,                                                            inter-subjetividade, desempenho assistido, ou seja, quando ocorre uma situação de ensino, dizemos que ali se armou um cenário favorável a atividade. O cenário de atividades é um conceito de múltiplas origens.” Vygotsky apud de Moll, (1996. P185)

 

O cenário é onde se dá a dramatização de uma história o recitar de um poema, incorpora duas características essenciais, que segundo Moll são:

A própria ação cognitiva motora, e os elementos                                                                objetivos, externos e ambientais, determinados pela ocasião                                                                        (o cenário). Elas representam o que, o onde e o porquê dos                                                         pequenos e recorrentes dramas... Todas essas peculiaridades                                                                    pessoas envolvidas, ocasião, motivações, objetivos, lugares                                                                    e momentos – não podem ser separadas...”

 

Desta forma pode-se afirmar que a sala de aula, no momento em que ocorre uma situação de aprendizagem se torna um cenário, onde se movimentam idéias e valores. Uma sala, um cantinho bem organizado, com motivações pode ser um bom convite para se contar uma história. O importante é fazer deste, um momento marcante e que produza aprendizados e possibilite a vivencia dos valores de humanismo e solidariedade. Para que isso aconteça de fato, não é necessário que a ação cognitiva a se desenvolver, esteja amparada somente por aparatos tecnológicos sofisticados, pois há lugares e momentos que por si próprios, já se constitui um cenário educativo. Há escolas, onde os professores se utilizam do ambiente natural, um jardim, a sombra de uma arvore o legal é que o ambiente estimule também, a imaginação, criativo e que facilite a assimilação do conceito que se quer construir.

No que se diz respeito à arte de contar histórias, é importante ressaltar que os usos de símbolos e dizeres culturalmente construídos, atuam diretamente na possibilidade de construção e reconstrução das crianças. A principal premissa da teoria de Vygotsky é que a transformação dos processos cognoscentes mais elevados, ocorre na interação social das crianças e pelo uso de instrumentos e símbolos culturalmente determinados. As palavras, os gestos e os sinais do contador de histórias, regulam seu comportamento, direcionando a atenção da criança para longe das características perspectivamente proeminentes, e reorganizando o campo perceptivo da criança de uma maneira culturalmente relevante. Esse processo e chamado por Vygotsky de funções psicológicas superiores. Ele divide esta teoria em quatro etapas:

“1_ Auto-reguladas, em vez de limitadas ao campo                                                                          de estimulo imediato, 2 – sociais ou culturais, em lugar de biológicas na origem, 3 - objeto de uma atenção, em lugar de automáticas inconscientes, 4 – medidas através do uso de símbolos e instrumentos culturais.” Vygotsky (Apud de Moll, 1996. P189)

 

Incorporar na história elementos que possuam uma semântica, para o aluno partir da sua realidade, levando-o a descobrir o mundo em que vive em consonância com o imenso universo a ser perscrutado, é uma possibilidade ao se contar uma história. Diante do paradigma que tem se tornado a educação global no século XXI, revitalizar esta ferramenta pedagógica é uma missão para os educadores.    

Quando a arte de contação de história infantil é colocada como recurso psicopedagógico, a narração trará para cada criança um espaço para momentos de alegria e sentimento de prazer na leitura, além de auxiliar a compreender a si próprio e ao mundo a sua volta. Contar histórias é uma maneira de divertir, de estimular a união e principalmente uma forma muito eficiente de ajudar o ser humano em sua busca de autoconhecimento.

Uma história deve ser contada emocionalmente e não simplesmente apresentada em seu enredo, isto permitirá muitas leituras e muitos caminhos. Acrescenta Busatto. (2007, p.49)

“Contar uma história é fazer a criança sentir-se identificada                                                  com os personagens. É trazer todo o enredo à presença do ouvinte e fazer com que ele se incorpore à trama da história.”

Qualquer que seja o período histórico e contexto no qual ela se apresenta, uma das coisas que faz eco é a idéia de que a arte é o mundo em símbolos e por sua vez propicia a criação de um universo semântico entre o oral e o escrito. Confira a intervenção de Culler (1999)

“o educador deve respeitar a interpretação do oral                                                                                       no escrito. A criança elabora a principio, seu texto escrito muito próximo da maneira como fala, portanto é quase uma transposição direta de sua fala para o escrito. È claro que isso acarreta muitos “desvios” a escrita culta. Mas se isso deve ser aceito não significa que o professor não deva instrumentalizar o aluno para que a expressão seja gradualmente melhorada e, dessa forma, vá se conformando às normas.” Culler (1999, p.53)

 

As crianças agem, pensam, sentem, sofrem, alegram-se como se elas próprias fossem os personagens. Para se contar bem uma história é preciso possuir habilidade, treino e conhecimento técnico do trabalho, pois os valores artísticos, lingüísticos e educativos dependem da arte do narrador, que poderá fazer uso do instrumento da voz e das linguagens não verbais, como: gestos, olhar, músicas, cheiros, toque; e conta com audição, visão, olfato e tato.

SISTO (1992, p. 23) nos leva a pensar que: “Contar histórias na verdade é a união de muitas artes: da literatura, da expressão corporal, da poesia, da musica, do teatro”...

 Literatura, poesia, música e teatro fazem com que a criança aprenda os conteúdos que forem colocados junto com a história e participe do enredo expressando de maneiras diferentes dentro do contexto histórico, em cada momento e em diversos lugares, lembrando sempre que as histórias vão ficar para sempre.

Logo após o término da história podem-se reunir as crianças para encenarem com uma dramatização, fazer trabalhos manuais com recortes de revistas, dobraduras, colagem, pintura e atividades de acordo com o planejamento da aula sempre fazendo uma ponte entre a história e o conteúdo da aula.

As histórias podem ser vivenciadas pelas crianças, especialmente as mais novas, de diversas maneiras: lendo o livro, representando, dramatizando e com o auxilio de materiais, como desenhos ou fantoches. Desta forma é importante que se tenha definido o papel do professor para que não se perca suas características de educador. O educador é quem media e ordena as atividades e idéias, como registra Libâneo:

“Desta forma de trabalho pedagógico o professor é, pois                                                                 um mediador que deve caminhar junto, intervir o mínimo indispensável, embora não os furte, quando necessário a fornecer uma informação mais sistematizada , sobre determinada situação.” Libâneo (1985, p.65)

                 

 A partir de agora trataremos de apresentar sugestões que subsidiam a prática pedagógica de educadores contadores de histórias  e que visam o aprimoramento  de sua práxi. Antes porem de adentrarmos ao assunto, atente-se para essa reflexão tão relevante  para o processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista a pluralidade cultural e as diferenças  socioeconômicas existentes na sala de aula, pense um pouco  com este poema de Vinícius de Moraes.

É isso aí, contar histórias é pensar o novo, o cômico, sem desprezar o diferente, o especial. Pensar sempre que o mais importante é levar aos ouvintes a um processo interativo que respeite as especificidades mais peculiares de cada criança. A homogeneidade em sala de aula é inevitável, porém não vemos nisso o óbice no processo, pelo contrário celebramos as diferenças, posto que possibilita maior troca de experiências.

Falando em diversidade, um valor tão importante para construir em grupos humanos, é o da amizade. Sabemos que as relações humanas são conflituosas, porém há no ser humano a capacidade inata se superação de conflitos e de criação de valores que possibilite viver em respeito mútuo. É muito bom ter amigos e poder ajudar alguém quando for preciso, ser voluntário é um valor inestimável que só pessoas nobres possuem. Um ótimo meio de se trabalhar este valor é com o texto que segue como sugestão. Confira agora essa bela história

Ziraldo escreveu: A Saraiva editou...                                                                                                                                 E nós vamos contar! Era uma vez...

O menino Maluquinho em:                                                                                                   Obrigado Doutor

Ziraldo apud de Matos (2004. p144)

Esta é uma história que reforça a vivência harmônica, entre os homens, como canta com muita propriedade Milton Nascimento: Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do coração.”

Uns personagens da literatura infantil, que tem encantado a garotada nas escolas publicam do Brasil, é a bruxinha de Eva Furnari, que tem sempre uma novidade pra contar. E abre um leque par o despertar da curiosidade. O que será que ela está aprontando aqui? Vamos descobrir e contar para a garotada.

Eva Furnari escreveu  a FTD editou...                                                                                                           E nós vamos contar!                                                                                                                            Era uma vez... 

A bruxinha

 

Essa é uma história que pode ser contada para todas as idades, deixa-se aqui duas maneiras de se contar essa bela trama. A primeira sugestão é a história móvel, confira o passo para confecção:

1°-Passo- Ampliar os quadrinhos separadamente no tamanho desejado;

2°- Passo- Colorir, numerar e colar em papel cartão;

3°- Passo- Digitar os textos referentes a cada parte da história e colar no verso do papel cartão;

4°- Passo- Encapar com contact e usar e abusar de toda a piração da bruxinha;

A segunda sugestão é o álbum Sanfonado

Consiste em uma maneira prática, de se contar histórias ilustradas, em um ambiente onde não se dispõe de muitos aparatos. È simples e eficiente. Faça o processo da proposta anterior em pedaços de cartolinas no tamanho ofício na vertical, cole o contact a seqüência da história deixando uma lacuna de 1 cm de cena para cena.      

Possibilitar através do lúdico o cultivo de valores como, amizade, respeito e amor ao próximo. Existem várias histórias em quadrinhos que podem ser aproveitadas no cotidiano escolar. Por exemplo, as aventuras da turma do Pererê, personagens de Ziraldo. Conheça esses personagens que encantam e renovam a fantasia na escola que se propõe a perspectivar o novo na vida dos estudantes.

Além de contada as estória pode ser dramatizada com a garotada e apresentada na escola, ou em outro ambiente que lhe seja apropriado. Entendemos que para que construa um aprendizado consistente é, pois necessário que toda a turma participe, mesmo que para isso seja incorporados mais personagens no roteiro. Só essa interação entre a turma por si já consiste em um mecanismo pedagógico importante que deve pensado e elaborado intencionalmente. Para que todos participem das atividades da dramatização conheçamos, pois algumas tarefas que podem ser distribuídas  entre os colegas.

Quem?                                                           O que faz?

Diretor

Dirige o espetáculo: dá idéia de gestos usados pelos atores, alerta sobre a entonação de algumas frases e coordena o trabalho com figurino, cenário e contra-regra.

Atores

Representam as personagens.

Contra-regra 

Cuida dos objetos que são utilizados durante as representações.

Cenógrafo

Faz o cenário, ou seja, decora o ambiente onde as cenas são representadas.

Sonoplasta

É responsável pelo som. È ele quem cuida das músicas e dos barulhos que devem ser ouvidos durante as cenas,

Figurinista

Escolhe roupas para os atores, de acordo com as características de cada personagem.

Iluminador

Controla a luz, que pode ser mais fraca ou mais forte, colorida, etc.

Antes de fazer um teatro com a turma verifique-se se os mesmos já participaram de alguma apresentação, caso tenham participado é importante que desenvolva primeiro a atividade a seguir: crianças de 05 anos, tempo: de 30 a 40 minutos; material: várias fantasias; o objetivo é de desenvolver a expressão corporal, discernir e interagir com os colegas. Leve as crianças para uma sala após ter ouvido algumas histórias e saber de cor as falas de algumas delas. Escolha algumas bem conhecidas e oriente a turma para se dividir em grupos conforme as histórias que cada um deseja encenar.

As próprias crianças se encarregam de dividir os grupos para desenvolver a autonomia. Durante um tempo você pode ensaiar com eles algumas falas, gestos avulsos de cada personagem, e outros aspectos importantes em um teatro. Deixe que as crianças vistam as fantasias descomprometidamente afim de que elas se identifiquem com o personagem. Com essa parte resolvida, as crianças ensaiam um pouco a cada dia até estarem prontas para apresentar trechos de histórias e logo peças inteiras.                      

Vamos aproveitar para conhecer mais algumas partes importantes de um teatro?        

Palco

Local onde os atore se apresentam.

Proscênico

Parte da frente do palco, próximo a platéia.

Platéia

Nela o público fica sentado para assistir ao teatro.

Cortina

Limite entre os atores e a platéia, ela se abre para anunciar o início da apresentação e se fecha para  anunciar o final

Camarim

Dentro dele, os artistas se preparam para apresentação. Eles se vestem e fazem a maquiagem.

Bilheteria

Onde se vendem os ingressos para assistir o espetáculo.

Não podemos deixar de citar, os trabalhos de uma das mais importantes escritoras do teatro infantil do nosso país, que é a escritora Maria Clara Machado, que é autora de Pluft, o fantasminha, o cavalinho azul, e entre outras.

O teatro é uma manifestação artística muita antiga. Do teatro de sombras chinês, há 5000 anos a.C, até os nossos dias muitas estória já foram contadas e interpretadas nos palcos da vida.

A peça Pluft, o fantasminha, entrou estreou em 1995, desde então, já foi encenada incontáveis vezes nos palcos brasileiros, levando alegria e magia a crianças e adultos.

Para estórias como a de Pluft, o Fantasminha sugerimos que monte um pequeno cenário feito em papelão, mais ou menos do tamanho de uma janela normal, que possa ser levado para qualquer lugar, em seguida desenhe os personagens e cole em palitos de espetinho. Depois de ensaiar o roteiro com as crianças apresente primeiro na sala de aula, como se apresenta fantoches, e depois para toda escola.

Segundo Busatto (2007 p 12)

A arte de contar histórias é um instrumento capaz de                                                                                     servir de ponte para ligar as diferentes dimensões e conspirar para a recuperação dos significados que tornam as pessoas mais humanas, íntegras, solidárias, tolerantes, dotadas de compaixão e capazes “estar  com” os conceitos.                                                                                           

Desta forma encerramos este trabalho, deixando aberta uma discussão para educadores que queiram renovar sua práxis pedagógica, servindo-se desta ferramenta milenar e eficaz... A arte milenar de contar histórias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

ANDRÉ, S; COSTA, A.C.G.Sua Escola a 2000 por hora- Educação para o desenvolvimento Humano. Instituto Ayrton Senna/ Saraiva 2003.

 BAJARD, Elie. Afinal, onde está a leitura? Cadernos de Pesquisa. São Paulo. Nº33, novembro, 1992 p. 13.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Abril, 1995.

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Magia e Técnica, arte e política. Ensaios sobre Literatura e histórias da cultura. Obras escolhidas, v.1. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BOTH, Sérgio José, Claudinei J. De Souza. METODOLOGIA CIENTIFICA- Faça fácil a sua pesquisa. Tangará da Serra, MT: Editora São Francisco, 2004                                                  

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: 1997.

BRASIL, Ministério da educação e desporto. Lei de Diretrizes e Bases da educação. Lei nº9394/1996, de 20 de dezembro d 1996. Brasília, 1997.                                          

CABRAL, Álvaro e Nick, Eva – Dicionário Técnico de Psicologia, São Paulo, Cultrix,                                                                                                                 CASCUDO, Luís da C. Contos tradicionais do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Global, 2003.

CARNEIRO, Flávio. Entre o cristal e a chama: ensaios sobre o leitor. Rio de Janeiro. Eduerj. 2001.  

CASTRO, Cláudio de Moura. A prática de pesquisa. São Paulo; Mcgraw Hill do Brasil, 1977Coleção matemática aula por Autor: Benigno Barreto Filho   Cláudio Xavier da silva   FTC São Paulo 2003.                                                                                                               

CUNHA, Luiz Antônio. Os Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental: Convívio Social e Ética. Cadernos de Pesquisa, nº 99, São Paulo, 1996.                                                                                                                   

2000.                                                                                                                                                 CULLER, J. Teoria literária: uma introdução. Tradução S. Vasconcelos. São Paulo, Beca produções Culturais, 1999.

CUNHA, Luiz Antônio. Os Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental: Convívio Social e Ético. Cadernos de Pesquisa, nº 99, São Paulo, 1996.  

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 6ª ed. São Paulo: Autores Associados.1999.                                                                                                                                                                                                                                               

FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa. Campinas: Editora Papirus, 1994.   

FREIRE, Paulo. Vida e obra/ organizado por Maria Ana Inês Souza- São Paulo: Expressão Popular, 2001        

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.

FREIRE, Paulo. Vida e obra/ organizado por Maria Ana Inês Souza- São Paulo: Expressão Popular, 2001.  

GADOTTI, Moacir. O que é ler? Leitura: teoria e prática. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.                                                                                        

Ginott, Hain G. – Psicoterapia de grupo com crianças: a teoria e a prática da ludoterapia, Belo Horizonte, Interlivros, 1979.

HEGEL, Georg W. F. Estética: A idéia e o ideal. 5ª ed. São Paulo, 1991.

JUNQUEIRA, Maria de Fátima Pinheiro da Silva – O brincar e o desenvolvimento infantil, http://www.saudedafamilia.hpg.ig.com.br, Rio de Janeiro.

KLEIMAN, Ângela B.; MORAES, Silvia E. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Editora Mercado de Letras, 1999.    

LAJOLO, M. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna. 2001. 

MATOS, Cloder Rivas, viver e aprender português- 3ª série / Cloder Rivas

MATOS, Joana D’arque Gonçalves de Aguiar-8 ed. São Paulo Saraiva, 2004.

MACHADO. A.M Contracorrente: conversas sobre leitura e política. São Paulo. Ática. 1999                                                                                                                                         

MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Tradutor Marcos Bagno. 2.ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2000.


MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Tradutor Marcos Bagno. 2.ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2000.  

MAGDALENA, B. C; COSTA, I.E.T. Internet na sala de aula: com a palavra, os professores. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.

MEIRELES. Cecília, Obra poética. Rio de Janeiro, Ed.  Aguilar:1972    

NÓVOA, Antonio. Os professore e sua formação: Lisboa Dom Quixote, 1992 

PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

Penteado, J.R.W. Os filhos de Lobato: O imaginário infantil na vida do adulto, Rio de janeiro: Qualitymark/ Dunya. E. 1997.

                                                                                                                             Pilette, Claudino, Didática especial, Ed Ática, São Paulo. S/d                                                                            

PRIETO, Heloísa. Quer ouvir uma história: Lendas e mitos no mundo da criança. São Paulo: Angra, 1999. Col. Jovem Século XXI.

 PCNs: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, MEC/SEF, 1997.  

PCNs: apresentação dos Temas Transversais. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, MEC/SEF, 1997.  

Revista Nova Escola, edição especial Parâmetros Curriculares Nacionais fáceis de entender de 1ª à 4ª série, p. 3.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler: formando leitores para a vida inteira. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997

VIEIRA, José Guilherme Silva Metodologia de pesquisa cientifica na prática/José Guilherme Silva Vieira – Curitiba – Editor Fael. 2010.                                                    História. 4.ª edição. Campinas: Ed. Papiros, 2003. 

SANCHES, Emilia Cipriano, Creche: realidade e ambigüidade: Petrópolis: Vozes, 2003.                                                                                                                                            

SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Trad. Claudia Schilling. Porto Alegre: Editora. Artes Médicas, 1998.


SIEBENEICLER, Flávio B. Encontros e Desencontros no Caminho da interdisciplinaridade: G. Gusdorf e J. Habermas. p 153-179. IN: Revista Tempo Brasileiro 98 Jurgen Habermas: 60 anos. Julho a Setembro. V.1 – n.º 1 – ed. Trimestral. Rio de Janeiro: CDU 130.1, 1962. 

SCHON, Donald. Formação de professores como profissionais reflexivos. IN: Nóvoa, Antonio (coord.). Os professore e sua formação: Lisboa Dom Quixote, 1997

.                                                                                                                                       . ZABALA, Antoni, A prática educativa: como ensinar? Porto Alegre, Artmed, 1998.                                                                                                                                  

Artigo completo: