Sou tumulto!
Por luciana carneiro nunes | 06/11/2012 | LiteraturaSou tumulto!
Estou vazia!
Ao meu redor gira o mundo falante.
Risos! Falas! Gritos! Corridas!
Que espasmo!
Estou vazia desse vácuo.
No banco lotado da Praça do Carmo há dois grupos.
Amigos soltos
Um de conversas banais
Outro de loucuras reais.
Estou me embriagando do álcool factual
Para sobreviver ao álcool subjetivo.
Bebi! Bebi!
Palavras, versos, física e ritmo.
Bebi!
Lá e aqui estão Clarices!
Suas amantes!
Suas fotos!
Seus cheiros!
Sua alma
Seu eu...!
Nesses bancos que também sentou
A cá estou.
Sentir, ver!
Irreal?
Há movimento no mundo
Um grupo teatral recitando
Poesia cantada ecoando
Falaram versos de poetas pernambucanos
Citaram Clarice
Com seus movimentos
Também encantos.
O mundo gira!
Olinda respira!
Conto três mil pessoas
Nos arredores delimitados
Sou três mil pessoas dentro de mim.
Uma pausa para um gole!
Uma lembrança do passado bom
Mas com cores de ruim.
Um gole na cerveja!
Cevada!
Ritmada!
Quem sou eu agora!?
Quais das três mil estou?
Sou uma faminta!
Preciso ler-me!
Escrever!
Cantar!
Fumar!
Aglutinar!
Talvez sorrir
E terminar chorando
As emoções desses dias.
A presença real dela
Os poetas
Prosistas
Vivos!
Sentando e andando
No instante real.
Que impacto!
Que abismo!
São cristais admiráveis
Mas são vivos e mortais
Não os quero agora!
O português bem falado
E também já esquecido
Tomou os ares da Oh! Linda!
Eloquência!
História!
Mas estão vivos
São mortais.
Não os quero agora!
Sou tormento!
Sou eu sem querer ser
Não quero esse plano
Não aguento essa dor!
Vem, Lispector!
Socorrei-me!
Ouvi meu nome agora!
Olhei e não era ninguém
Ouço isso às vezes!
Meu nome ao vento
Na repetição do tinir do ouvido
Será o atender do grito clamado?
Não tenho medo!
Quero tocar esse ingrato
Infindável eterno!
Quem eu sou!?
Estou viva!?
A dormência faz-me esquecer.
Enfim!
Há uma palestra daqui a meia hora
O tempo!
Não esse pragmático
Que amarra o homem
Falo do ir indo
Que se penetra
Que Se confunde
Que se irradia
Deixe-me falar, tempo!
Não me confunda
Não me mate ao gritar!
Tempo, duro e finito.
Quero esse grito agora
Esse ermo real
Esse ritual
Que me finda
Sem findar
Um momento!
Alguém me interrompeu
Um transeunte entregando um panfleto
A vida dizendo
Que há hora
Que o é agora
Que o tempo é malvado.
Que situa!
E Apaga!
Esse sonho do novo
Traz o efêmero cruel
Agora!
Já!
Eis o momento
Vou-me!
Não para pasárgada
Alimentada um dia
Mas sim
Ao copo companheiro
Embargável de álcool
Artes e sensações.
Hoje, estou só!
Porém cheia!
Enfim!
Sou um tumulto!