Sociologia da Educação: Reprodução Cultural
Por Manuel Manuel Mauro Mateus Mora | 21/07/2011 | FilosofiaA minha pesquisa do referido tema vai ajudar todos os amantes da matéria a conhecer melhor.
A REPRODUÇÃO CULTURAL
A reprodução cultural, tal como a reprodução social, respeita à renovação da cultura ou das relações sociais, sem que haja uma modificação. A reprodução cultural é, frequentemente, tratada no âmbito das funções de reprodução do sistema escolar. É o caso de Bourdieu, que se interessou pelas funções do sistema escolar na reprodução cultural e também pelos efeitos de diferenciação cultural provocados igualmente pela escola. A escola, segundo a análise de Bourdieu, participa não só na transmissão e renovação da cultura, como na renovação da desigualdade social, por intermédio da imposição da cultura dominante como cultura legítima. São as crianças dos meios sociais privilegiados que estão mais aptas a incorporar a cultura dominante veiculada pelo sistema de ensino.
Bourdieu insiste, assim, no facto de a cultura própria à escola e aos seus professores ser imposta às crianças, mesmo àquelas que são provenientes de meios culturais diferentes ou de uma outra cultura. A questão da reprodução cultural liga-se, deste modo, ao estudo das condições da reprodução da dominação, na qual a cultura tem um lugar. O caso da análise da escola é exemplar, na medida em que demonstra como esta instituição participa na reprodução das relações de dominação. Com efeito, a escola legitima o insucesso das crianças provenientes das classes populares, assim como, em contrapartida, as grandes escolas, cujos alunos são, na sua maioria, provenientes das classes superiores, asseguram a reprodução daqueles que dominam.
As análises de Bourdieu sobre a reprodução social e cultural utilizam determinados conceitos, como: violência simbólica (e legitimação das diferentes dominações), habitus (ou a herança cultural coletiva e comum, em função das aprendizagens dos modelos de conduta e dos modos de perceção e de pensamento), capital social e cultural (no sentido dos recursos disponíveis), campo social (há uma pluralidade de espaços sociais, marcados pelas relações de concorrência entre agentes ou pelas relações de dominação específicas de cada campo), dominação cultural (relações assimétricas entre os agentes e os grupos; certos agentes acumulam capitais culturais ou mesmo capitais económicos, culturais e políticos, enquanto outros são excluídos).
Em conclusão, pode entender-se por reprodução cultural os modos como a escola, a par de outras instituições, contribui para manter as desigualdades sociais e culturais, transmitindo os valores, as atitudes e os hábitos de cultura dominantes.
REPRODUÇÃO SOCIAL
Reprodução Social e Mudança Social:
REPRODUÇÃO SOCIAL
Processo de constante renovação da produção material e cultural dos seres humanos, processo esse determinado pelas necessidades de produção e reprodução económicas e pelo interesse da classe dominante em manter a ordem social.
Jorge Pité, Dicionário de Sociologia, Editorial Presença, 2ª edição, 2004, Lisboa
REPRODUÇÃO CULTURAL E REPRODUÇÃO SOCIAL
De acordo com o sociólogo francês Pierre Bourdieu, reprodução cultural é o processo social pelo qual as culturas são reproduzidas através de gerações, sobretudo pela influência socializante de grandes instituições. Bourdieu aplicou o conceito, em especial, a maneira como instituições sociais, como escolas, são usada para transmitir ideias culturais que servem de base e dão respaldo à posição privilegiada das classes dominantes ou governantes.
A reprodução cultural faz parte de um processo mais amplo de reprodução social através do qual sociedades inteiras e suas características culturais, estruturais e ecológicas são reproduzidas por um processo que invariavelmente envolve certo volume de mudança. Da perspectiva marxista, a reprodução social é sobretudo de escopo económico, incluindo as relações de produção, as forças produtivas e a FORÇA do TRABALHO da classe operária. Em sentido mais vasto, contudo, ela inclui muito mais do que isso, da forma das instituições religiosas e linguagens às variedades de música e outros produtos culturais.
As Instituições Sociais e a Reprodução Social
Noção de Reprodução Social
Reprodução Social ? acção da sociedade no sentido da manutenção da ordem social e da perpetuação das condições em que a vida social se desenrola (Gallo).
Conjunto de acções e mecanismos sociais orientados no sentido de assegurar a ordem social estabelecida (status quo ou establishment).
Necessidade de Reprodução das Condições Sociais de Produção
Uma formação social ou sociedade é solicitada, em cada momento, a produzir os bens necessários à sua sobrevivência imediata.
Porém, a sua continuidade exige também que sejam garantidas as possibilidades futuras da produção. Cada formação social deve assegurar-se de que as gerações vindouras poderão continuar a produzir, garantindo, assim, a sua reprodução.
Ao assegurar a reprodução material, a sociedade deverá garantir também a sua reprodução cultural e ideológica.
Se os valores, ideias e modelos que sustentam o funcionamento de uma sociedade e que traduzem sempre uma certa hierarquia social não forem reproduzidos, esses alicerces sociais transforma-se-ão e, com eles, todas as características da formação social.
A reprodução cultural e ideológica assegura a aceitação do sistema de estratificação social vigente.
A reprodução dos meios de produção
A actividade produtiva deverá produzir não só os bens essenciais à nossa subsistência imediata, como prover à substituição dos meios de trabalho deteriorados, à reprodução das matérias-primas agrícolas e industriais, à utilização racional dos recursos naturais renováveis e não renováveis...
A REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO
A reprodução dos meios de produção não chega para que haja a garantia de continuidade do processo produtivo.
A reprodução da força de trabalho é condição indispensável à reprodução social.
A reprodução da força de trabalho exige que cada um de nós tenha acesso aos resultados da produção.
Nas formações sociais em que os indivíduos se situam em estratos e classes sociais que se posicionam de forma diferenciada face à propriedade dos meios de produção, a reprodução da força de trabalho tem sido assegurada pelo salário.
O salário deverá assegurar a reprodução da força de trabalho, garantindo a sobrevivência dos trabalhadores e ainda dos seus descendentes, pois são eles que irão garantir a continuidade do processo produtivo.
A reprodução das relações sociais de produção
Relações sociais de produção ? relações que se estabelecem entre os detentores dos meios de produção e os detentores da força de trabalho.
A reprodução social reproduz, também, o sistema de estratificação social que caracteriza a formação social.
Classes e estratos dominantes vêem manter-se a sua situação de dominação.
A reprodução de certo sistema de hierarquias exige que se mantenham os diferentes tipos de relações que se estabelecem entre os indivíduos, ao longo do processo produtivo.
As relações de dependência e de subordinação deverão ser reproduzidas, como factor imprescindível à reprodução do modo de produção dominante.
A reprodução social exige, pois, não só a reprodução das forças produtivas, isto é, a força de trabalho e os meios de produção, mas também a reprodução das relações sociais de produção.
Em todo este processo de reprodução social, a ideologia tem um papel fundamental.
Perspectivas teóricas
As abordagens conflituais : a perspectiva credencialista; a teoria da reprodução social directa; a teoria da reprodução social e cultural
Teorias críticas (ou do conflito) funcionalismo conflitual ênfase na relação entre as desigualdades de oportunidades educativas e as desigualdades sociais Sistema educativo - reprodução das relações sociais de dominação existente
Teoria credencialista (Randall Collins) Escola ? espaço de luta entre grupos sociais para alcançar posições de poder económico, político e prestígio ? fornecedora de credenciais - ensino da cultura de determinados grupos de status.
A educação pode ser olhada como sinal de pertença a um grupo particular e não como a marca de competências técnicas
Teoria credencialista (Randall Collins) Educação ± função de certificação/credencial Títulos escolares ? sinal de pertença a um grupo particular - recurso de competição no mercado de trabalho - critério de edificação e legitimação das hierarquias (teoria do filtro ± meio de selecção e de controlo)
Teoria credencialista (Randall Collins)
Selecção escolar ± processo de cooptação e não de competição Perspectiva conflitual
Interacções conflituais entre os diferentes grupos sociais, visando controlar e regular o processo de estratificação social
Teoria credencialista (Randall Collins)
Expansão do sistema educativo americano
- 1ª fase ± preservação da cultura anglosaxónica - 2ª fase - canal de mobilidade social - 3ª fase - desvalorização dos diplomas
A teoria da reprodução social directa (S. Bowles H. Gintis)
Adequação do sistema educativo às necessidades do sistema económico capitalista Formar trabalhadores adequados à manutenção da divisão do trabalho na economia capitalista.
Funções Socialização - transmissão das ideologias meritocrática e tecnocrática visando a legitimação da organização do trabalho e a estratificação social das sociedades capitalistas
Selecção social ± reprodução das relações sociais de dominação existentes
A teoria da reprodução social directa (S. Bowles H. Gintis)
As escolas transmitem não só conhecimentos e técnicas exigidas pelo desenvolvimento económico, mas também as características não cognitivas adequadas as diferentes posições nas relações de produção
Principio da correspondência entre as relações sociais na escola e as relações sociais de produção ± a importância do currículo oculto e dos factores não cognitivos
A teoria da reprodução social directa (S. Bowles H. Gintis)
Correspondência entre as relações sociais no mundo do trabalho e da escola Currículo oculto aprendizagens não planeadas mas que decorrem da organização da instituição escolar e das interacções sociais que aí se estabelecem
Relações de autoridade - distribuição de poder Esquemas de recompensas Organização de tarefas
Teoria da reprodução cultural de P.Bourdieu e J.C Passeron
Reprodução da estrutura social através da reprodução da estrutura da distribuição do capital cultural entre os diversos grupos sociais A reprodução da estrutura da distribuição do capital cultural opera-se através da relação entre as estratégias familiares e a lógica específica do funcionamento da instituição escolar.
Autonomia relativa do sistema educativo Violência simbólica da acção pedagógica imposição, por um poder arbitrário, de uma arbitrariedade cultural, dissimulando as relações de poder que a sustentam desconhecimento das relações de poder
Teoria da reprodução cultural de P.Bourdieu e J.C Passeron
Importância dos processos culturais ± o conceito de capital cultural Selecção social baseada na proximidade/distância entre a cultura dominante e a cultura dos indivíduos
Herança cultural Competências técnicas, sociais, linguísticas Reconversão em capital escolar
Códigos linguísticos Saberes específicos Normas e modelos comportamentais
Teoria da reprodução cultural de P.Bourdieu e J.C Passeron
Habitus ³Esquemas geradores de classificações que funcionam na prática sem aceder às representações explícitas, e que são o produto, sob a forma de disposições, de uma posição diferencial no espaço social´ Sistemas de percepção, apreciação, avaliação, acção Articulação constrangimentos sociais e acção do sujeito Posições sociais Disposições Opções
Teoria da reprodução cultural de P.Bourdieu e J.C Passeron
Importância da acção pedagógica primária ± práticas educativas familiares
Estratégias familiares de reprodução
Social volume e estrutura do capital familiar delimitação do campo dos possíveis ± trajectórias modais de classe
Teoria da reprodução cultural de P.Bourdieu e J.C Passeron
Lógica específica de funcionamento da escola Cultura escolar ± cultura das classes dominantes Violência simbólica Resultados escolares dependem das orientações familiares na aquisição de disposições culturais e opções mais adequadas A escola favorece os já favorecidos Ideologia dos dotes naturais ou do dom naturalização das desigualdades sociais em desigualdades de competências Alteração do processo selectivo ± eliminação diferida e reorientação para vias desvalorizadas
Teoria da reprodução cultural de P.Bourdieu e J.C Passeron
Mecanismos de dissimulação do modo de
reprodução de componente escolar
Autonomia relativa da escola Valor do título escolar Transmissão do capital cultural nas práticas quotidianas Escola com canal de mobilidade social
Críticas e limitações do paradigma reprodução
Papel central da escola no processo de hierarquização social poder de distinção dos títulos escolares relação título/posto capacidade de impor as normas legítimas
Desvalorização da função ³produtora´ da escola Produção de novos grupos sociais Difusão de novas visões do mundo Canal de mobilidade social
Críticas e limitações do paradigma reprodução Não explicam a singularidade, mas apenas as regularidades estatísticas
Carácter reducionista e mecanicista
Não analisa a ³caixa negra´ da escola ± processos de interacção escolar quotidiana Concepção passiva dos professores e alunos Desigualdades de classe, não abordando as desigualdades de género nem de etnia
A reprodução social
Quando se fala de reprodução social (por vezes também designada por reprodução cultural) tem-se em mente a "transmissão de normas e valores culturais de geração em geração".
Uma reprodução é uma repetição da mesma coisa. A reprodução social consiste na transmissão e aquisição de valores, normas e costumes sem proceder a alterações significativas, sem inovar, sem mudar o legado recebido. Diz-se que os seres humanos são produtos e produtores da cultura. O conceito de reprodução social significa que muitos indivíduos não são produtores mas meros reprodutores da cultura que adquiriram no processo de socialização (e que os "produziu", isto é, fez deles seres humanos).
Essa reprodução é assegurada por diversos "mecanismos através dos quais é mantida e assegurada a continuidade da experiência social ao longo do tempo. Os processos de escolaridade nas sociedades modernas estão entre os principais mecanismos da reprodução cultural, em virtude das aprendizagens formais mas também das aprendizagens informais (currículo oculto)."
A reprodução social não consiste apenas na repetição da cultura actualmente existente, mas também na repetição, na manutenção, da própria estrutura social e do sistema de estatutos e papéis sociais existente num dado momento. Por isso, a reprodução social é um modo de manter as desigualdades sociais, económicas, políticas, etc.
Os agentes de socialização, ao promoverem a aprendizagem da cultura de uma sociedade e a integração do indivíduo na sociedade e em grupos sociais específicos, promovem simultaneamente a reprodução da estrutura social existente num dado momento ? promovem o "status quo". Ou seja: levam o indivíduo a aceitar como "naturais" os estatutos atribuídos, a limitação do leque dos estatutos adquiridos e a definição dos direitos inerentes a cada estatuto social e dos deveres inerentes a cada papel social.
"Estudar o equilíbrio existente entre a reprodução social e a transformação social é uma tarefa da sociologia. A reprodução social diz respeito ao modo como as sociedades persistem no tempo. A transformação social refere-se às mudanças pelas quais passam. A reprodução social tem lugar na medida em que há uma continuidade entre o que as pessoas fazem de dia para dia e de ano para ano e as práticas sociais que seguem."
Todos os excertos entre aspas foram retirados de: Anthony Giddens, "Sociologia", 3ª edição, Gulbenkian, 2002, Lisboa.
Agentes de socialização como a televisão e o cinema contribuem activamente para a reprodução social. Por exemplo: durante muitas décadas nos filmes americanos os actores negros só representavam papéis de criminosos ou de pessoas com profissões pouco valorizadas socialmente (criados, porteiros, etc.); tal situação contribuía para reforçar a discriminação que existia.
A Escola pode ser um factor de mobilidade social, mas muitas vezes limita-se a participar no processo de reprodução social (e a reproduzir as desigualdades sociais existentes). Por exemplo:
«Em 1980, duas investigadoras realizaram um estudo intitulado "Obstáculos ao Sucesso na Escola Primária", em que verificaram que a taxa de repetências variava nitidamente com a classe social de origem. Por exemplo, nos alunos cujos pais pertenciam ao grupo socioprofissional dos "quadros", a taxa de insucesso era apenas de 3%: Nos filhos de "empregados e funcionários" passava para cerca de 8%. Para os alunos com pais "operários", a taxa de insucesso atingia já a casa dos 30%. Para os alunos com pais em situação socioprofissional precária (ocupações ocasionais, desqualificadas) ou mal definida, a taxa de insucesso atingia os 50%. (?) Estes resultados são convergentes com os de outras pesquisas.» - (A. Costa, "O que é ? Sociologia, Difusão Cultural", pp. 25-26.)