Sociedade Contemporânea
Por Marcos Miliano | 02/10/2009 | FilosofiaA vida cotidiana de homens e mulheres
comuns, é regrada pela sociedade do consumo, há uma transformação do
indivíduo numa mercadoria, numa coisa, e assim é tratado como tal.
Mudanças culturais e sociais nas últimas duas décadas são suficientes
para falarmos em um novo período histórico.
Há uma nova
percepção do mundo, nas cabeças da última geração, uma hierarquia de
valores que, entre outras coisas, descarta a idéia de um tipo de
regulamentação normativa da comunidade humana, sem regras, assume-se
que todos se equivalem, como coisas, mais uteis ou menos uteis, mais
usáveis ou descartáveis em um dado momento. Todos são igualmente bons
ou maus, sem que isso seja realmente relativo ao seu significado,
adota-se a subjetividade como marco julgador, enfim, uma ideologia que
se recusa a fazer julgamentos baseados em ética, só em pressupostos de
utilidade pessoal. Recusa-se a debater seriamente questões relativas a
modos de vida viciosos ou virtuosos, pois, no limite, acredita-se que
não há nada a ser debatido.
Compreender esse tipo curioso e em
muitos sentidos misterioso de sociedade que vem surgindo ao nosso redor
faz-nos investigar que movimentos levaram a tais transformações, talvez
a revolução do trabalho, no ensino, o debate do pertencimento ou o
feminismo... contudo resta a necessidade compulsiva e as vezes
obsessiva de auto-afirmação, de afirmação sobre o outro, sobre o social
enquanto movimento, sobre os valores tradicionais.
Tudo é
temporário. Incapaz de manter-se. As instituições, quadros de
referência (vide Foucault), estilos de vida, crenças e convicções mudam
antes que tenham tempo de se estabelecer em costumes, hábitos e
verdades. Nada como antes, nenhuma mudança busca mais a enrraização,
tudo é volátil. Os empregos, o know-how, os relacionamentos. Tudo tende
a permanecer em fluxo, desregulados, flexíveis demais (usando o melhor
termo para expressar).
O "para sempre" dura 20 anos, dois anos,
alguns meses. Quais as consequências dessa situação? A lógica do
indivíduo desaparece, não sabemos o que esperar de ninguém na medida
que os próprios valores são voláteis ou não existem mais. O que esperar
do cotidiano? No trânsito onde mata-se por nada, no trabalho sem o
coleguismo, no aproveitar-se de tudo e todos em prol de interesses
sempre subjetivos. Não há coletividade, não há parceria, deixou de
haver lealdade.
Todos os aspectos da vida são afetados quando se
vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha sentido.
Não se faz mais planos por que não há identidade fixa. O ser humano é
cada vez mais individualista, e nessa individualização é cada vez mais
só. Ele precisa
do outro como o ar que respira, mas ao mesmo tempo, ele tem medo de
desenvolver relacionamentos mais profundos, que o imobilizam num mundo
em permanente movimento, cheio de possibilidades, mas totalmente fluido, sem solidez.
Antes
as ameaças eram óbvias, os perigos eram mais palpáveis e não havia
mistério sobre o que fazer para neutralizá-los ou ao menos aliviá-los.
Os riscos de hoje são de outra ordem, não se podendo sentir ou tocar
muitos deles apesar de estarmos todos expostos, em algum grau a suas
consequências. Antes a sociedade era menos ansiosa e tinha uma vida
mais segura e estável. Hoje não podemos medir a fortaleza de uma
relação pelos seus pontos fortes construídos por todos, mas pelos
pontos fracos, que pela subjetividade vai depender só de um.
Baseado em Zygmunt Bauman.