Socialização X Domesticação
Por Regina Sobreira | 18/09/2008 | FamíliaAutora: SOBREIRA,R.C.de F.
Introdução:
Este artigo se fundamenta na abordagem de Lasch, sobre a teoria social de Parsons e os Parsonianos, tendo como objetivo mostrar a importância da família, principalmente nos primeiros anos de vida da criança.
O avanço no desenvolvimento de uma teoria sociológica de socialização, seria a aplicação da teoria de pequenos grupos, com sua contribuição para prevenir conflitos sociais na família. A abordagem dos pequenos grupos proporcionaria uma descrição mais detalhada dos meios pelos quais a cultura popular é internalizada sob a forma de papeis. A divisão de papeis na família serve para facilitar o desenvolvimento da criança. O pai desempenha um papel importante ao liberar a criança da excessiva dependência com relação á mãe. A figura do pai como provedor, disciplinador, transmitindo conceitos e valores que são importantes na formação dos filhos. O tabu (proibição) do incesto evita que a criança seduza a mãe e a obriga a aceitar a socialização, onde ela se vê obrigada a aceitar a autoridade e os valores do pai.
A família nuclear torna-se um abrigo para os sentimentos intensos em que o mundo onde a competição rege as demais relações. A família se destaca como a instituição em que as relações são determinadas pelas atribuições, responsabilidades de cada um, do que pelo empreendimento, as realizações. A criança recebe amor, admiração, simplesmente porque é filho/filha, fora isso ela precisa conquistar o respeito e afeição através de suas realizações objetivas.
O sistema ocupacional requer padrões de comportamentos que vão contra as necessidades humanas, tais como: lealdade, amor e segurança, as quais, só podem ser satisfeitas na família. Esta é a justificativa sociológica da importância da família para a criança, na visão de Parsons. Para ele, cada fase do processo de socialização é análogo, semelhante a um processo terapêutico/tratamento. Em ambos os processos, o agente socializador tem um duplo papel, ao mesmo tempo instrumental (pai líder e provedor) e expressivo (mãe que gerencia as tensões as emoções), e sua atitude frente ao cliente/criança combina a tolerância á expressão, o apoio apesar do fracasso, a manipulação de recompensa e a negação da reciprocidade. A analise parnasiana da família como pequeno grupo, conclui que é a diferenciação funcional entre papeis instrumentais e expressivos que constitui o elemento básico da socialização.
É no lar que a criança aprende a desempenhar papeis apropriados na interação pessoal - nas relações sociais com os pais e irmãos, e no decorrer desse processo, progride num sistema de solidariedade centrado na mãe, para um sistema centrado na família. O fato decisivo na relação mãe/filho é a dependência da criança com relação aos cuidados da mãe.
Parsons conclui que o melhor que os pais podem fazer para os filhos é garantir-lhes uma segurança emocional sem cobranças nos primeiros anos de vida, e depois dar-lhes alto grau de liberdade, que tem por objetivo, facilitar o rompimento da criança com a família, ou seja , os pais fazem o melhor pelos filhos quando procuram conscientemente reduzir a intensidade emocional da vida familiar. Sobre a socialização, ele afirma que o envolvimento emocional da criança com os pais a torna mais capaz para a dura realidade da vida adulta e para uma carreira de empreendimentos satisfatórios.
Sem lutar contra as emoções ambivalentes despertadas pela conjunção/união de disciplina e amor na figura de seus pais, a criança jamais será capaz de dominar seus ódios íntimos ou seu medo de autoridades, é por isso que ela precisa dos pais.
Para Lasch, a retirada do pai para o mundo do trabalho priva os filhos de um modelo de pai e de um superego. Nas sociedades onde as famílias ainda atuam como centro de produção, ou transmitem conhecimentos profícuo-úteis aos filhos, estes aprendem algo mais que técnicas e papeis com os pais.
A ausência, o distanciamento ou a inacessibilidade do pai, não significa que a criança não forme uma idéia a seu respeito, significa apenas que essas idéias poucas vezes serão testadas em confronto com a experiência cotidiana. A criança aprende com a TV, os quadrinhos, o cinema como devem se comportar os pais e, coloca este ideal, o pai que idealizam, que queriam para si, acima dele. Quando a conduta do pai não corresponde ao ideal criado em seu imaginário, pela criança, ela se torna ate certo ponto auto-suficiente.
Na Escola, a distancia entre professores e alunos diminuíram, o professor tornou-se um líder de opinião e o currículo enfatiza o realismo, a criança é ensinada a se dar bem com os outros, não a pensar por si mesma. A imaginação fenece na maioria das crianças por volta da adolescência. Pais e professores abdicam de sua autoridade em favor do grupo.
A cultura americana continua a atribuir grande importância ao ativismo instrumental, ao individualismo e ao empreendimento. As mudanças na estrutura social que podem ser consideradas sob o titulo genérico de diferenciação estrutural, aproximaram a sociedade da ideologia dominante. No setor ocupacional, os setores executivos e administrativos crescem as expensas, as custa da força de trabalho não especializada, os padrões de competência para empregados do setor terciário torna-se mais elevado e por duas razões:
a) a qualificação escolar assume cada vez maior importância na determinação do acesso aos melhoresempregos;
b) a demanda por pessoal treinado e a mobilidade geográfica da força de trabalho solapam, destroem os bastiões tradicionais do privilegio familiar. Esta segunda razão, não está de todo correta, pois os privilégios tanto familiar como políticos, se fazem presentes na sociedade, não só nas pequenas cidades como nos grandes centros urbanos.
Em uma sociedade em que a personalidade tornou-se de fato um recurso industrial importante, a família especializa-se na produção de personalidades, uma idéia que se reflete no novo interesse pela educação e criação dos filhos, dando ênfase á psicologia do ego (valorização do eu), e na crescente preocupação com a saúde mental. A família treina a capacidade de desempenhar papeis, mas este controle das relações interpessoais não deve ser confundido com a dominação de outras pessoas.
A produção da personalidade deve ser um desenvolvimento positivo, triunfo de todas aquelas forças que, na sociedade moderna, favoreçam o desenvolvimento da autonomia individual. Proporcionando segurança emocional á criança nos primeiros anos de sua vida e dando-lhe um alto grau de independência, a família nuclear isolada, treina um tipo de personalidade idealmente equipado para enfrentar os rigores do mundo moderno. A permissividade entendida por abdicação á responsabilidade paterna, na verdade, consiste em uma nova forma de treinamento para o empreendimento.
A criança precisa ser capaz de cuidar de si mesma, tomar decisões rápidas e adaptar-se rapidamente a diversos tipos de contingências-dificuldades, incertezas. Na visão de Parsons, os pais modernos só podem esperar proporcionar aos filhos os recursos necessários a que sobrevivam por conta própria. Ao evitarem inculcar preceitos, normas de comportamento que se mostram obsoletos, ultrapassados, em um mundo onde nada é fixo, o pai moderno cumpre sua obrigação para com o filho, de forma realista.
A subcultura (cultura de pequenos grupos) do adolescente americano preenche uma série de necessidades – ela completa a família e a escola. O autor contesta a afirmação de Parsons, de que a família "começou agora a se estabilizar", pois a instabilidade da família surpreende em toda parte. A própria cultura jovem, faz da família um dos seus alvos principais, como uma instituição corrupta e decadente, que deve ser derrocada, destruída.
As funções que, a teoria sociológica atribui á família, formam um sistema integrado, e a função mais importante é a socialização, enquanto a proteção, o trabalho e a instrução foram todos removidos do lar, até a socialização agora, passa a ser da educação infantil, na creche e pré-escola. O pai figura na vida da criança apenas como disciplinador e provedor. Para alguns autores, estabelecimento de educação infantil, tanto pode significar o pior lugar para educar e cuidar das crianças,como piores locais de trabalho para os adultos engajados nesta área. Esses locais podem ser vistos como o lugar de produção e reprodução de subalternidade, onde as crianças desde cedo são socializadas para a subalternidade, i. é, aprendem na tenra idade a estarem sob as ordens dos outros.
Mesmo as obrigações para com os pais dependem da medida em que o pai e considerado "merecedor em termos universais", vai depender do grau de eficiência do pai em prover certos bens e serviços de que os filhos necessitam. "A definição de gratidão de um filho e de sua obrigação para com sua mãe, baseia-se menos no fato biológico da relação do que nos serviços que ela lhe presta e nas atitudes que assume em relação a ele." Se a base da família moderna são os serviços que os pais prestam aos filhos, trata-se de uma base trepidante, já que eventos recentes reduziram a capacidade dos pais em prestarem tais serviços, pois eles não serão capazes de suprir as necessidades básicas sem a ajuda do Estado
Uma critica profunda á sociologia parsoniana, e ás ciências sociais em geral, são de que essa socialização total do instinto, em que se baseiam boa parte das ciências sociais, é uma ilusão.Confundindo a socialização com o aprendizado consciente e a aquisição de hábitos, as ciências sociais perderam de vista a resistência biológica, a socialização e o conflito intimo a que ela conduz. Para Mitscherlich, a sociedade moderna "confia com muita facilidade na domesticação do homem".
Bibliografia:
LASCH, Chrisropher. A Teoria Social da Terapêutica Parsons e os Parsonianos. In: Refugio num mundo sem coração. A família: santuário ou instituição sediada?Tradução de Ítalo Tronca e Lucia Szmrecsanyi.
Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 1991. Cap. VI,p. 152 – 176.
"Todas as informações contidas neste texto são de responsabilidade da autora".
Regina Célia de Freitas Sobreira
Titulo acadêmico: Pedagoga, Licenciada pela UFV/MG/1987
E.mail: ginacelia13@yahoo.com.br
Tel: (031) 3891 3408