Socialismo ou Capitalismo? – Uma discussão de bar

Por Thiago Zschornack | 17/12/2016 | Economia

Certa vez um grupo de amigos, reunidos em um bar, resolveu discutir qual o melhor sistema de governo, o Socialismo ou o Capitalismo.

Feito o pedido ao garçom cada grupo começou a apresentar seus argumentos. Em pouco tempo a discussão foi ganhando robustez.

Os que defendiam o Socialismo alegavam que as pessoas neste sistema tinham os mesmos direitos e deveres, não existindo, assim, classes sociais nem a figura do patrão, pois todos trabalhariam com o mesmo propósito: melhorar a sociedade.

Os que defendiam o Capitalismo, por sua vez, alegavam que o esforço e a capacidade das pessoas eram fatores que determinavam o grau de riqueza de cada individuo, e, por consequência, a classe social a qual este pertenceria, logo, o mercado deveria ser livre.

Os defensores do socialismo, contrariados, alegavam que a tal livre concorrência de mercado era perversa, uma vez que valorizava a maximização do capital a qualquer custo, gerando exploração da mão-de-obra mais humilde e a exclusão dos detentores de menor renda, por isso, o Estado deveria garantir esse equilíbrio.

Os defensores do capitalismo, já exaltados, argumentavam que o Estado era incapaz de controlar todos os meios de produção, inviabilizando constantes inovações e melhorias tecnológicas, atrasando, assim, o desenvolvimento econômico do país e desmotivando os funcionários mais esforçados.

A discussão se prolongava, os argumentos pareciam não ter fim e os exemplos práticos citados fomentavam ainda mais discórdia. Neste contexto, o garçom que atendera aqueles jovens, atento aos possíveis desdobramentos daquela conversa, resolveu então intervir e propor um desafio.

- Meus amigos, disse ele. Percebo que esta discussão está afastando cada vez mais vocês de um consenso, por isso, se vocês me permitirem, gostaria de propor um simples desafio.

Os jovens se entreolharam e já convictos de que aquela discussão realmente não levaria a nenhuma conclusão, não hesitaram em aceitar a proposta.

O garçom então enunciou o desafio:

- Amigos, gostaria que vocês fizessem duas coisas. Primeiro, escrevessem em um pedaço de papel o maior sonho da vida de vocês. Em seguida, depois que todos já tiverem cumprido a primeira tarefa, gostaria que compartilhassem os papeis entre todos e elegessem o melhor sonho do grupo. Vocês conseguem fazer isso?

Por alguns segundos os jovens ficaram quietos, apenas refletindo, mas logo surgiram as primeiras manifestações.

- Isso é impossível, disse o primeiro.

- Como julgar o sonho de outra pessoa? Disse o segundo.

- Qualquer priorização que fizéssemos seria injusta com alguém, concluiu o terceiro.

E todos se manifestaram no mesmo sentido, concluindo ser realmente impossível realizar aquele desafio de forma a agradar todos os participantes.

O garçom, então, calmamente e com um ar nítido de presciência, iniciou sua explicação:

- Meus amigos, antes de tudo, gostaria de salientar que discussões desta natureza são muito comuns, especialmente em períodos de crise. E como as crises são cada vez mais comuns, é preciso de muito cuidado e reflexão.

Os jovens continuavam atentos a cada palavra proferida pelo garçom, embora a ansiedade pela explicação fosse nítida em cada olhar.

E o garçom continuou:

- Bem, quanto ao desafio, como vocês mesmos perceberam é muito difícil chegar a um consenso quando se fala de algo tão íntimo do ser humano - os sonhos. Os sonhos assim como os sistemas políticos podem ser perfeitos no campo da teoria, porém, precisam da prática para a sua efetivação. Ai está a grande diferença entre os dois.

Enquanto a realização dos nossos sonhos só depende de nós e, eventualmente, de mais alguém que os compartilhe, os sistemas políticos precisam de uma nação inteira compartilhando de ideais sonhados originalmente por uma ou duas pessoas. Então, se vocês já não chegaram a um consenso enquanto grupo imaginem milhares ou milhões de pessoas, cada uma com suas convicções, percepções e dúvidas acerca da realidade que as rodeia. O fato é que os sistemas políticos ignoram totalmente o ser humano que existe dentro de cada individuo.

O capitalismo, por exemplo, resume o homem a um ser que se realiza na vida pelo trabalho, ou seja, quanto mais ele trabalha mais riqueza e liberdade ele adquire. Neste sistema ter poucos bens é sinônimo de fracasso, já um patrimônio robusto significado de sucesso, poder e felicidade. O socialismo, por sua vez, resume o homem a um ser simplista, desprovido de ambições, vontades, peculiaridades culturais, entre outras características que natureza o concedeu e que, por isso, seria capaz de viver harmonicamente numa sociedade com distribuição igualitária das riquezas.

Sejamos realistas, os dois sistemas enxergam um ser humano incompleto. Por isso amigos, não coloquem em risco a amizade de vocês. Pensem, discutam, mas não se esqueçam: Para ser livre só há um caminho: o desprendimento de todas as coisas que não dependem de nós.

E assim o garçom encerrou a sua explicação e rapidamente colocou-se a servi-los, cumprindo a sua missão.