Sobre Salazar e o Fascismo Português

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 11/02/2025 | História

Fascismo. Esta é uma palavra que nos remete a Benito Mussolini, ou, mais realisticamente, a Adolf Hitler. Mas nem só de Itália e Alemanha viveu o Fascismo, tendo uma de suas facetas mais bizarras sido implantada pelo Estado Novo Português, de António de Oliveira Salazar e Marcello Caetano.

Voltemos ao início do século XX, em 1910, quando a Monarquia Portuguesa foi derrubada. Logo após, houve a promulgação da primeira Constituição Republicana de Portugal, que apenas alguns anos depois ingressou na Grande Guerra, como era assim chamada. 

O conflito deixou marcas profundas na sociedade portuguesa, e o sucessivo revezamento de governos sob a égide de dita Carta fora incapaz de fazer frente diante da extensão da crise econômica. Assim, em 1926 ocorreu um golpe militar, liderado por Óscar Carmona, que estranhamente intitulou o novo sistema de “Ditadura Nacional”. Naquele contexto, em 1928 Carmona convidou o professor e jurista António de Oliveira Salazar a chefiar a transição econômica do país. Tendo sucesso na sua empreitada, os militares portugueses nele confiaram e o alçaram a líder de facto de Portugal em 1932, de modo que sua permanência no cargo foi juridicamente efetivada pela Constituição do Estado Novo, de 1933. Começou, assim, um dos regimes fascistas e corporativistas mais longos do século XX, que só cessaria com a Revolução dos Cravos, derrubadora do seu sucessor e último ditador luso, o também professor e jurista Marcello Caetano, em 1974. 

A estabilização econômica outrora obtida por Salazar durou pouco, até a intervenção de Portugal na Guerra Civil Espanhola, iniciada em 1936, e em auxílio ao general Francisco Franco e sua República falangista. O apoio português foi fundamental para elevar Salazar à categoria de aliado do nazifascismo, ao lado de Franco, razão pela qual, numa falsa neutralidade, Portugal não foi atacado pelas forças do Eixo (assim como a Espanha).

Terminada a Segunda Guerra Mundial, Portugal quase nada recebeu do Plano Marshall, de reconstrução da Europa Ocidental, eis que durante o conflito sofreu danos apenas colaterais. A falta desse suporte financeiro dos EUA, aliada às questões de o apoio a Franco ter drenado parte das finanças, e de Portugal ser o último e derradeiro dos Impérios Coloniais a significativamente subsistir, fez com que Salazar pensasse que o contínuo domínio de tais terras seria a última possibilidade de sobreviver politicamente. Assim, lançou todas as forças, erroneamente, na manutenção autocrática do Ultramar, com o consumo cada vez mais voraz dos recursos disponíveis (tornando-se, assim, o Ultramar uma obsessão autofágica do ditador, que iniciou mencionadas guerras de manutenção e delas não conseguia honrosamente se esquivar, em especial dos territórios de Angola e Moçambique, que viriam a ser seccionados, respectivamente, por Agostinho Neto e Samora Machel).

Ao final da década de 1960, Portugal e Espanha eram as únicas ditaduras da Europa Ocidental, com a atenuante, aos espanhóis, de que já não mantinham nenhuma colônia por meio do uso da força (há controvérsias em relação ao Saara Ocidental, disputado com o Marrocos, e ao Enclave de Ceuta).

Não resistindo à pressão, em 1968 Salazar renunciou, mas o Estado Novo ainda resistiu com Marcello Caetano. E isso só durou até 25 de abril de 1974, quando o regime foi definitivamente sepultado pela Revolução dos Cravos (que tem esse nome pelo fato de os soldados, numa licença poética e visando uma tomada sem sangue, colocarem flores na ponta das baionetas).

Portugal, terra maravilhosa. Tem seus fascínios e encantos, mas também não foi imune aos tiranos. Portugal de Florbela Espanca e de Camões, que hoje, na Democracia, faz jus ao grande Concerto das Nações.