Sobre "Poética y política de las antologías" do Jaime Siles

Por Yéo N'gana | 08/10/2016 | Literatura

Este é um artigo – a meu ver – muito importante nas nossas reflexões que se querem retrospetivo-prospectivas. Os trabalhos já feitos são esquartejados e devidamente criticados por estudiosos que são quer motivados por um sentimento de adversidade entre estudiosos de grupos ou correntes diferentes, quer cônscios do preponderante papel desses trabalhos na própria elevação da nação tanto a nível da educação (formação de leitores e de uma literatura nacional) quanto a nível político (apresentação de novas ideologias principalmente diante das ondas da globalização que tudo derruba). Uma particularidade deste artigo foi tentar descrever a função dos atores envolvidos no processo. Os dois momentos da fala de Jaime que, de muito, me agradaram foram primeiro,

Una antología siempre es un acontecimiento literario: lo es para los poetas incluidos, lo es para los críticos y los estudiosos, y debería serlo también para el lector. A los primeros los sanciona y ratifica; a los segundos les presenta una hipótesis de trabajo, basada en un método y un modelo de lectura, que no necesariamente ha de ser provocativo y que la mayor parte de las veces, por arbitrario que parezca, acaba siendo clarificador.

Aliás, poucas vezes enxerga-se as antologias por essa lente. Não obstante, fiquei meio decepcionado ele não ter falado do inegável papel do leitor. De um lado, é este  quem - indireitamente - define a seleção dos textos por ser a "noiva" a quem se pretende seduzir. Seus gostos e humores são o que calibra e molda constantemente as políticas editorias. Entendo que muitas vezes, tende-se a estabelecer uma relação bilateral (editora-tradutor) em vez de multilateral:

leitor  - editora  - tradutor - editor - leitor

Mas olhando bem, o leitor está no início e no fim. Ele é quem encomenda. Do outro lado, a que serve ainda um tradutor quando este não passa de mero dactilógrafo? Quando suas palavras deixam de ser suas? Quiça seja por causa disso que os críticos em geral ignoram-nos ao criticar as obras [traduzidas no caso]. Teria Anthony Pym razão de que "se o tradutor quer que sua voz de tradutor seja ouvida de modo explícito, que escreva uma introdução, um posfácio, notas de rodapé — ou, melhor ainda, que publique um artigo ou um livro" (ver Britto) ? Argumento esse defendido por Arthur Schopenhauer na sua obra A arte de escrever (2005) que

o mesmo vale para os tradutores que, oa mesmo tempo, corrigir e reelaborar seus autores, o que sempre me parece uma impertinência. Escreva seus próprios livros dignos de serem traduzidos e deixe outras obras como elas são. (Schopenhauer, 2005, p.61)

Para Schopenhauer isso tudo não passa de simples manigância do mercado. No entanto, é no tribunal do tempo que se descobre o esforço e a valiosa contribução de ambos os tradutores e os antologizadores. Sobre o “traduzir” que constitui um dos fundamentos da antologia, Paulo Henriques Britto tem sua opinião formada e disse:

A tradução sempre amplia e renova a língua de chegada, introduzindo nela no mínimo um léxico novo, mas também inovações formais, prosódicas, até mesmo sintáticas. O ideal é que estas contribuições sejam oportunas e criativas, e não redundantes e ditadas pela mera preguiça do tradutor. Um exemplo positivo é a introdução no inglês da oitava-rima, forma originaria-mente ibérica, através de traduções de poetas italianos, que permitiu a Byron a criação de sua obra-prima,  Don Juan. (Britto, 1997, p.471)

Trata-se de uma relação profícua para as duas culturas, os dois sistemas envolvidos. Aquilo me permite apresentar o segundo momento interessante do Jaimes resumido neste parágrafo:

La selección de nombres es indiscutible y –aunque hay exclusiones no fáciles de justificar– todos los poetas incluidos tienen trayectorias modélicas y excelentes, que demuestran que existe una poesía otra y otra poesía, diferente –e incluso me atrevería a decir que bastante mejor– que la que goza de patente de corso y ocupa las principales vías de circulación. Esto no es nuevo, y los verdaderos lectores y poetas lo sabían, pero necesitaba una demostración tan fundada y convincente como esta, que no se limita a la poética política y la política poética del libro, sino que encuentra en los textos de los poetas elegidos su más clara e inequívoca comprobación.

Se a própria seleção dos textos a serem antologizados demanda tanto cuidado, então suas traduções – caso for preciso – exgiriam um duplo esforço por parte do tradutor. Ele deverá através da “otra poesía”, procurar na sua versão, criar ou revelar uma “poesía otra” que tenha o sabor misto. Para Jaimes isso tem que ir além de ambas “la poética política y la política poética del libro”. Terminando com a fala do Britto,

Acho bobagem essa história de "transcriação" poética — tradução de poesia é tradução mesmo. Há da boa, da média e da ruim, como em tudo. Augusto e Haroldo de Campos fazem da boa — aliás, fazem melhor que ninguém. (Britto, 1997, 476)

Referências

SILES, Jaimes. “Poética y política de las antologías”. In: Diario ABC. Disponível em: http://www.abc.es/cultura/cultural/abci-poetica-y-politica-antologias-201605161914_noticia.html

BRITTO, Paulo Henriques. In: Mauri Furlan e Walter Costa “Entrevista: Paulo Henriques Britto”. Cadernos de Tradução. Florianópolis: v.1, n°2, 1997, pp. 467-495.

SCHOPENHAUER, Arthur. (1516). A arte de escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2005, 198p.