Sobre o que nós, mulheres, fazemos.

Por Flávio Henrique Da Silva | 04/05/2015 | Resumos

No texto, sobre o que nós, mulheres, fazemos, a autora aborda na introdução de sua obra, alguns questionamentos referentes a conceitos específicos que minimamente convidam a seus leitores a levantarem indagações que, a principio, passam despercebidas por grande parte dos indivíduos. Conceitos de gênero, feminização e femilização , e sobre as novas fronteiras das desigualdades de trabalho entre homens e mulheres. Dialogando com autoras clássicas da literatura feminista como Danièle kergoat, Silva Cristina convida as mulheres (e homens) a pensarem de forma profunda sobre suas atividades, ocupações e trabalhos sejam formais ou não. Entretanto, alerta para a convergência que os estudos de gênero e trabalho sofreram na virada do século XX para o século XXI e a importância deste acontecimento, segundo a autora:Essa convergência entre os estudos de gênero e os estudos do trabalho outorgou maior visibilidade acadêmica ao espaço reduzido e desprestigiado ocupado pelas mulheres nos mercados de trabalho. As pesquisas então demonstram de maneira contundente aspectos da dupla segmentação do mercado de trabalho, que já haviam sido apontados por trabalhos pioneiros (YANNOULAS. p. 32) Desta forma lançando luz, sobre as problemáticas da segmentação vertical e da segmentação horizontal do mercado de trabalho e a sua relação com a mulher, as pesquisas que surgiram a partir desta convergência tencionaram-se para apontamentos que evidenciavam mecanismos sociais que produziram a transformação dos comportamentos de atividades econômicas das mulheres. Entretanto, tais pesquisas relacionadas às formas de segmentação tiveram um impulso a partir dos estudos das formas dos mecanismos sociais e a relação ao trabalho feminino “gradativamente, o foco das análises foi mudando [...] a ênfase passou a estar colocada na especificidade e revalorização das experiências de trabalho produtivo e reprodutivo realizadas pelas mulheres”, deixando claro assim, que não é possível tecer análises sobre as características na presença e na ausência feminina no mercado de trabalho sem entender a responsabilização das mulheres pelas atividades produtivas. Estas pesquisas que incialmente, percorreram as problemáticas de verticalização, horizontalidade da segmentação dos trabalhos, do mercado de trabalho e a inserção das mulheres, logo foram mudando o foco. Iniciando assim abordagem em torno do trabalho produtivo e reprodutivo realizados pelas mulheres. Estas abordagens permitiram impulsionar as pesquisas relacionadas a feminização e a femilização dos empregos femininos. Estas análises permitiram observações sobre os avanços que as mulheres conseguiram nos empregos e ocupações, avanços como o crescimento do trabalho assalariado feminino e mudanças nas concepções de cidadania. Entretanto ao mesmo tempo que se teve rupturas em tais processos algumas continuidades ainda permaneceram como a divisão sexual do trabalho, acarretando assim permanências das desigualdade ocupacionais e a segregação estrutural da sociedade, onde ainda permanecem os “trabalhos específicos para homens e outros para as mulheres”. Em relação a esta problemática de continuidade nestes processos, a autora faz a citação de dois outros autores Bruschini e Lombardi (200;2007) onde ambos analisam tal situação no mercado de trabalho brasileiro sobre as ocupações. Segundo a autora, eles Analisam o mercado de trabalho brasileiro, destacando a constituição de dois polos opostos de atividade (bipolaridade): ocupações de má qualidade (em guetos femininos como o emprego doméstico) e boas ocupações ( em áreas profissionais prestigiosos masculinas como a Engenharia, arquitetura, medicina e direito), mas a persistência de ganhos femininos inferiores aos masculinos independentemente de setor de atividade econômica, número de horas trabalhadas, número de anos de estudo, posição na ocupação, confirmando o diferente valor atribuído socialmente aos trabalhos de homens e mulheres. ( P. 34). Podemos aqui, observar que a continuidade nos processos segregacionista nas ocupações ainda persistem, mas agora se encontram de maneira “camuflada” no meio social, pois o aumento do número de participação feminina em trabalhos “ditos” masculinos tiveram um real acréscimo, entretanto, as formas naturalizantes que o sistema capitalista emprega na sociedade e nos indivíduos causam um sentimento de avanço nestes segmentos, o que podemos identificar quando se tenciona o olhar para mais próximo destes “avanços” e que não se há de fato uma ruptura com antigas práticas no que se relaciona as ocupações femininas. O que encontramos são velhas práticas revestidas de novos mecanismos, e podemos ir em contraponto ao que dizia o grande compositor Belchior em sua música “Velha roupa colorida”, “No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Como foi mencionado indo em contraponto a tal letra musical, observamos que apesar de tentarmos refletirmos sobre o passado feminino preferimos supera-lo, acarretando assim a falsa ilusão de inserção social feminina no mercado de trabalho, sendo assim, a “velha roupa” nos serve sim para análises sobre esta problemática. O que ocorre é um falseamento situacional das ocupações, contribuindo assim para o processo de reprodução revestido de novas formas. Estas continuidades processuais mecanicista e reprodutivas, podem ser identificadas em diversos setores do mercado de trabalho brasileiro desde a construção social a sua reprodução por parte de indivíduos e instituições que compõem a sociedade civil . Este processo que se deu de forma histórica o meio social brasileiro é alimentando por práticas legitimadas tanto por instituições quanto pelo senso comum social. O convite que a autora nós em pensarmos as reais rupturas e continuidades nas perspectivas do mercado de trabalho e a inserção feminina no mesmo é uma tentativa de análise conjuntural histórica-social sobre as condições “naturalizantes” que o sistema capitalismo imbrica no meio social. Poderíamos aqui retornar a fatos históricos sociais de nossa sociedade para ilustrarmos o que consideremos de processos legitimados pelas instituições da sociedade civil, como por exemplo a separação de cursos técnicos oferecidos pelas as ETFs desde sua fundação. Como podemos observar a perspectiva de Cunha sobre a divisão de oficinas nos cursos técnico: Para homens- carpinteiro, marceneiro, torneiro de madeira, entalhador, escultura, em gesso, madeira e pedra, fundidor de tipos, fundidor de metais, tipografia, litografia, gravura em pedra, gravura em madeira, serralheiro, modelagem, torneiro de metais, instrumentos de precisão. Para mulheres- tipografia, litografia e gravura, relojoaria, telégrafos e correios, papelaria, fabrico de vidros, preparo de tecidos. (CUNHA, 2005, pág. 10). Nesta proposta de aprendizagem industrial juntamente com divisão de gênero presente nas oficinas, é possível notar um processo de disciplinarização para o mundo do trabalho, tendo em vista que as produções fabris detinham e ainda detém a separação de tarefas, sendo algumas destinadas aos homens e outras as mulheres, esta diferenciação de tarefas nos permite observar uma continuidade na atualidade. No decorrer do seu texto a autora vem se fundamento a partir da inserção feminina dentro de atividades que são denominadas masculinas e a permanência de mulheres em atividades que são socialmente construídas para serem femininas como por exemplo: o magistério e o serviço social. Mas o que nos chama atenção é fato de que mesmo em atividades que a mulher exerce o mesmo trabalho que os homens as condições de ascensão na carreira (promoção e melhores salários) são de extrema dificuldade pois os empregadores ainda se apegam em discursos com caráter mimetista e reprodutivo, estes discursos colaboram para a não ascensão da mulher dentro de seus empregos. Um outro fato que nos chama a atenção é que, a participação masculina dentro de atividades julgadas femininas não são empecilhos para ascensão dentro dos empregos, pois os discursos que a maior parte dos empregadores mencionam e que a grande maioria dos “homens exercem o papel natural de líder”, entre outros atributos como por exemplo: responsabilidade, ambição, estratégia, força e determinação enquanto as mulheres não são vistas desta forma. Estas interpretações destes discursos são facilmente resinificadas por empregadores, causando assim uma reprodução cíclica dos construtos sociais sobra as ocupações femininas e masculinas. Poderíamos aqui ilustrar as lutas femininas para a inserção e o reconhecimento no mercado de trabalho e no meio social como o mito de Sísifo , onde as lutas avançam e retrocedem, um luta árdua de se levar uma pedra ao topo da montanha e depois ela retorna. Evidentemente que esta analogia deve ser entendida com as suas devidas proporções conceituais. Alguns fatos sobre estas reproduções de construtos sociais são evidenciadas quanto analisamos justamente no processo de ascensão das carreiras femininas e masculinas, os homens levam intensa vantagem para conseguirem a vaga dos elevadores promocionais enquanto as mulheres sofrem para permanecerem em suas atividades. Consideramos que a autora busca evidenciar tais problemáticas a partir de uma perspectiva histórico social, onde a reprodução dos construtos sociais sobre o que define uma ocupação de mulher ou de homem contribuem para o não rompimento de pensamentos culturais imbricados na sociedade e legitimados por instituições da sociedade civil. Evidenciando assim a necessidade de análises de gênero. Referencias: YANNOULAS, Silvia. Introdução: sobre o que nós, mulheres, fazemos. In: Yannoulas, Silvia. ( org.). Trabalhadoras. Análise da feminização das profissões e ocupações.1 ed. Brasília: Abaré,2013. CUNHA, Luiz Antônio. O ensino de ofícios nos primórdios da industrialização. São Paulo. UNESP, 2005a