Sobre Maximilien de Robespierre

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 09/08/2024 | História

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho

Artigo Escrito e Publicado em 2024

Karl Marx já disse que as ações do homem são condicionadas aos fatos e às circunstâncias históricas que o cercam, influenciando-o. Já Jean-Jacques Rousseau nos informou que "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe". Talvez por ambas as afirmações se saiba mais - ainda que não o suficiente - sobre os acontecimento que, integrados, constituem o que chamamos de "revoluções", que a respeito de seus líderes em si. E esse perece ser o caso quando se questiona a respeito de Maximilien de Ropesbierre e da Revolução Francesa de 1789.

Nascido em 1758 numa família não exatamente abastada, Robespierre já se destacava intelectuamente, tendo sido enviado ao Colégio de Arres para, ali, fazer fluir e concluir seus estudos pré-universitários. No ambiente acadêmico médio foi aluno brilhante, que conviveu com pessoas do calibre de Françoise-Marie Arouet - ninguém menos que o festejado filósofo iluminista Voltaire, célebre por sua reverência a uma Inglaterra liberal e então recentemente industrializada, à moda de John Locke, num contraste com a França, absolutista e majoritariamente pobre, onde viviam. Talvez por uma ironia do destino, Robespierre também conheceu, em pessoa, a figura de Maria Antonieta, que seria, na condição de Raida da França, por ele mandada à guilhotina no auge de sua então futura Revolução.

No início da década de 1780, Robespierre concluiu seus estudos universitários em Direito, vindo a advogar em favor dos menos favorecidos. Suas defesas, seus discursos e sua oratória eram inquestionáveis. A proposta de concessão da cidadania francesa a mulheres, pessoas de cor e integrantes do Terceiro Estado (o povo, também conhecido como "burguesia"), ganharam força. Ainda na década de 1780, e invariavelmente tendo este como um dos seus principais motes, junto à abolição total e completa da pena de morte, foi eleito deputado à Assembleia dos Estados Gerais, que se reunia anualmente desde o início do século anterior. E talvez esta tenha sido a maior ironia relacionada à sua morte.

Naquela época, os ideais revolucionários estavam ganhando força. O dispêndio, pelo Estado Francês, de apoio maciço e belicista à Revolução Estadunidense, em contraposição aos ingleses - mesmo com a admiração a estes dirigida por Voltaire - estava sob questionamentos. Polos políticos se formaram, sendo dois dos principais Clubes o dos Girondinos e o dos Jacobinos (ao qual Robespierre se filiava). Estavam em marcha a suposta implantação de ideais que permeavam a agitação na luta pela derrubada da monarquia absolutista, com um Estado Laico e impessoal (afinal, Robespierre era tido como "o incorruptível"), numa oposição clara aos reis da época, bem como ao restante do Primeiro e a todo o segundo Estados.

A clara insatisfação tomava conta do Terceiro Estado. A rebelião ganha força, e, em 14 de julho de 1789, a Tomada da Bastilha (prisão política na qual não havia mais que uma dúzia de prisioneiros, naquele exato momento), é concretizada por Georges Danton, que compartilhava os ideários gerais de Robespierre, mas não desistiria de, com ele, competir pela carismática liderança da Revolução, que se consubstanciaria na formação do Comitê de Salvação Pública, liderado por Robespierre, e que, não obstante sua oposição pessoal à pena de morte, guilhotinou, com sua autorização, centenas de supostos opositores, desde os confirmados por interesse próprio (como foi o caso de Maria Antonieta). Como acontecera, e aconteceria em dezenas de revoluções em torno do mundo, figuras que eram fiéis aos movimentos, mas não aos seus líderes, também foram vítimas de seus antigos aliados, como o próprio Georges Danton, guilhotinado em abril de 1794. E nem mesmo o próprio Robespierre sobreviveu à sua recém-adquirida tirania: a insuportabilidade para com seus arroubos autoritários chegou ao auge em julho de 1794, quando foi preso, e, também, executado na guilhotina.

No cárcere véspera-morte, escreveu que o Estado laico não significaria a crença na inexistência de Deus, e que a morte não seria um sono eterno, expondo, assim, aos futuros historiadores partes de suas crenças metafísicas. Afinal, seu conhecido Voltaire já afirmara que, se Deus não existisse, teria de ser inventado...Mas nada foi capaz de lhe salvar da crueldade do destino, que o privou, até mesmo, de ser sepultado no Panteão dos Heróis Nacionais, em Paris. Triste para quem comandou os ideais de toda uma geração, e que inspiraria dezenas de outras posteriores.