Sobre Alexis de Tocqueville

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 03/09/2024 | História

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho

Artigo Escrito e Publicado em 2024

A análise dos mais recentes séculos da História Moderna nos faz crer que qualquer personagem que seja um de seus protagonistas o faz a partir de sua própria pátria. Mas há as nobres exceções: no decorrer do século XIX, um homem que teve parte de sua família dizimada na guilhotina de Robespierre, e que, tampouco, apoiou a monarquia francesa, que se restaurou com a autoproclamação de Napoleão Bonaparte como Imperador em 1804, exarou suas ideias do outro lado do Canal da Mancha: de Londres, Alexis de Tocqueville mandava suas mensagens aos ouvidos do Velho Mundo continental.

Tocqueville tinha todos os motivos para nutrir ódio pela Revolução Francesa, pois, como dito, vários de seus ascendentes foram injustamente guilhotinados, enquanto outros, igualmente inocentes, foram lançados às luzes da liberdade. Isso o levou a refletir sobre o real significado da democracia - se o popular apoio a um movimento com o intuito de estabelecê-la, e que, ao fim, tornou-se a tirania de Robespierre, se constituía numa genuína democracia, ou teria de transmutado numa ditadura da maioria, apoiadora dos demandos do chefe do "governo do terror".

Tocqueville conclui, após muito meditar, e especialmente com as palavras do antigo filósofo francês Saint-Simon, que não entendia quantos homens, quantas cidades, quantas nações se sentiam coagidas a seguir às ordens de um homem só, que não poderia fazer-lhes mal algum senão enquanto aceitariam suportá-lo. Com isso, concluiu que a França, com a Revolução de 1787, tinha se tornado uma ditadura da maioria, pois a tirania de Robespierre - como qualquer forma autocrática de comando - não subsistia sem uma rede de apoio, este da população.

Tocqueville, desta forma, lançou as bases para a rejeição da ortodoxia nas representações nacionais, visando a limitar tal fenômeno pela expressão individual de cada ser na sua essência: todo o discurso de antes da Revolução por parte de Robespierre, sobre a inclusão de minorias sociais no espectro político, com ideias antagônicas, mas nem por isso errôneas, foi estimulado por parte do grande político e filósofo. Só por meio dos pesos e contra-pesos, a exemplo do que ocorria nos EUA quanto à mútua limitação entre os Poderes , se poderia evitar uma indesejada homogeneidade, coatora dos desiguais na sua desigualdade, e, portanto, na sua individualidade, que é a essência da democracia. Não nos esqueçamos, caros, que em 1932 os nazistas pregavam tanta e tanta homogeneidade, que acabaram obtendo a maior parte das cadeiras do Rechstag. Com isso, o psicopata foi indicado ao cargo de Chanceler Federal.

De volta à França, Tocqueville tantou se tornar Deputado na década de 1830. Fracassou na primeira tentativa, mas, após, logrou êxito, tendo sido destituído pelo golpe havido na metade daquele século. Mas não importa a quem cassem, decapitam, doutrinem ou ensinem erronea e forçosamente: sempre haverá heróis como Tocqueville, Voltaire, John Locke e outros, que quebrarão os paradigmas e nos darão, literalmente, shows de Iluminismo, irradiado de mentes brilhantes que fizeram e farão com que muitas nações sejam verdadeiros bastiões da democracia e da igualdade.