Sob as Garras do WhatsApp

Por Denis Penna | 17/12/2015 | Crônicas

A gente nunca sabe quanto tempo vai durar uma modinha. Ou mesmo se o que a gente faz uso hoje é moda passageira ou realmente vai vingar por muito tempo. Fato é que a Internet tem a incrível capacidade de lançar modas que muitas vezes duram horas, outras dias, algumas anos e poucas realmente vêm para ficar. Um exemplo claro disso são as redes sociais.

MIrC e Orkut são pros mais experientes. Se você entra nessa categoria, boa sorte, você já deve estar beirando os 30 anos ou já passou um pouco dele. Você faz parte daquele seleto grupo que tinha Internet discada e que esperava até após a meia noite para entrar na Internet para ela ficar mais barata no fim do mês. Eles já estão mortos! Não, não estou falando que você está morto. Eles, o Mirc e o Orkut já faleceram. RIP para aquela era onde falar besteira na Internet ainda não dava processo e as pessoas ainda eram mais “humanas”, apesar de sempre terem tido vontade de chamar funkeira de vadia publicamente e expressar com orgulho seu ódio por minorias aqui e acolá.

Hoje a história é outra: as redes sociais demoram mais tempo para morrer e se unem umas às outras para ver se juntas conseguem sufocá-lo mais um pouco e prendê-lo com pés e mãos atados à necessidade de tê-las. Obviamente, é questionável a real necessidade de estarmos conectados a elas, porque vamos conseguir sobreviver. Contudo, a grande questão hoje não é mais sobreviver sem elas, mas como viver com elas.

Elas são ferramentas que aceleram toda e qualquer informação. Não só a produção da informação, mas especialmente o compartilhamento dela. Facebook, LinkedIn, Snapchat, Instagram, todos eles são universos paralelos fantásticos que, além de tomarem um tempo enorme dos nossos dias, ainda funcionam como uma vitrine de tudo, do cocô que se faz pela manhã até a cara desanimada já deitada no travesseiro à noite, passando pela busca de emprego, pela Crush, pelo corpo e, porque não, pela alma da maioria de nós. E não, não sou exceção à regra. Pelo contrário, inclusive. Adentro estes universos de forma quase-adicto. Ou viciado acabei de me confessar por não confessar o crime por inteiro? Enfim, verdade seja dita, parte do meu ser hoje “depende” das redes sociais e, consciente disso, tento diariamente equilibrar o uso dessas ferramentas.

Mas tem uma que talvez seja a pior de todas. Ela me persegue onde quer que eu vá. É intensa, feroz, sorrateira. Ela come meu tempo, me alimenta de esperanças, invade o meu sono, desafia a minha língua, reformata minhas estratégias e é, por fim, a mais confusa e vil de todas as redes sociais em forma de APP (aplicativo, para quem anda desantenado e ainda não sabe). Qual o nome desse menino mau? Claro, WHATSAPP. Há um pessoal por aí que já atribui variações ao termo e tentam transformar ele em amiguinho, já que dormem e acordam com ele todos os dias. Daí sugiram o ZapZap, Whats, ou um simples “manda msg”, porque isso já basta para você entender que “Eu não estou falando de SMS, estou falando de mensagem pelo Whatsapp. Claaaarrroooo”.

Bom, seja lá qual a alcunha pelo qual esse capeta atenda (até porque capeta também tem vários nomes), o whatsapp se tornou a ferramenta do momento na segunda década desse século XXI. Para não falar somente mal dessa coisinha linda e meiga, podemos citar que a velocidade com que as informações chegam a nós hoje em dia facilita resoluções, reconfigurações e ações “just in time”. Porque a gente não tem tempo a perder com bobagens e excessos de atitudes exacerbadas e inúteis no nosso dia a dia. Certo? Sei.

Seria certo, se não fosse errado. Fora a imensa variedade de vídeos, textos e imagens sem qualquer valia para o nosso cotidiano que são trocadas a cada segundo por milhões de grupos de conversação e conversas entre pares no Whatsapp, a gente ainda lida com velhos problemas de comunicação. Mais que isso, não só persistem os antigos problemas de comunicação que não conseguíamos resolver no passado com os primos velhos do Whatsapp, tais como cartas, SMS e emails, mas hoje ainda criamos outros vários que nos atormentam mais, talvez, que os enrugados e mofados obstáculos do passado. 
Pior que comunicar de forma errada, talvez seja não comunicar de forma alguma. Digo pior para gente, mas é um grande benefício à sociedade. Sim, a ovelha negra dos aplicativos de comunicação instantânea travestida de balãozinho verde de conversa foi retirada do ar e nos fez abrir uma estadia de dois dias no rehab da abstinência de outras tantas necessidades que vão muito além da comunicação.

Sim, porque comunicar com palavras é a última coisa que realmente importa no WhatsApp. Ele se tornou uma ferramenta que “comunica” e interfere em várias áreas da nossa vida: da autoestima alimentada por quem nos quer mais que lasanha e nos manda mensagem alisando nosso ego, à avaliação de amigos “verdadeiros” que nos respondem de imediato, passando pela eficiência do bom funcionário que realiza o que é pedido pelo chefe instantaneamente e, por isso, é superprofissional, finalizando na obrigação de dar aquela última olhada no app antes de dormir para se certificar que o mundo também está dormindo (ou não).

Essa dependência quase doentia nos transformou em bonecos manipuláveis que sob a luz de “se não houver WhatsApp, você estará isolado do mundo”, tal como o criador e o dono do aplicativo disseram após o fechamento dos serviços temporariamente no Brasil, nos faz perguntar: a que mundo eles se referem e a que mundo eu pertenço?

Eles se referem a dinheiro, disso não tenho a menor dúvida. Talvez tenha sido somente eu, mas me senti ofendido quando li tal afirmação, porque sei que para eles eu sou um número. Não importa muito a eles se meu crush visualizou e não respondeu minha mensagem, se meu chefe não viu a foto do gráfico que mandei, se fiquei chateado com meu amigo porque ele respondeu ao outro e não a mim no grupo ou, pior, se passei horas em um app ao invés de ficar com as pessoas que me amam e precisam de mim de verdade. O que está dentro de mim não importa a eles. E esse é o meu mundo.

Então, que mundo é esse que alguém, alem de mim, tem mais influência sobre ele que eu mesmo? Esse mundo é o WhatsApp hoje. Sorte que as modas são sazonais e passageiras. Mas, assim, tecnologia só é boa quando a gente consegue tirar dela o melhor. Que venha a próxima novidade tecnológica a nos ensinar algo mais sobre nós mesmos, afinal até a existência humana é sazonal. E só entre nós aqui: Tomara que o Whats volte logo! :P 

‪#‎DenisPenna‬