Síntese do livro 1808
Por Isabela Cristina Mendes de Jesus | 09/04/2015 | EconomiaSÍNTESE
O livro 1808 aborda a história da fuga da corte portuguesa para o Brasil, falando dos acontecimentos antes, durante e depois do ocorrido. O enredo se inicia com uma explanação de todos os fatos ocorridos e utiliza de diversas fontes para tornar o texto o mais correto historicamente possível.
Para Gomes o livro tem dois focos básicos: “Resgatar a história da corte portuguesa no Brasil do relativo esquecimento a que foi confinada e devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás.” (GOMES, 2007, p.21) e “tornar esse pedaço de história brasileira mais acessível para leitores que se interessam por acontecimentos do passado.” (GOMES, 2012, p.22). O autor acredita que a obra mais completa sobre o período é do autor Manuel de Oliveira Lima, chamada Dom João VI no Brasil, de 1908.
Laurentino apresenta a questão semântica que todos os autores se defrontam, a corte fugiu ou se mudou para o Brasil, ele apresenta a opinião de diversos autores e a frase usada, mas ele chega ao consenso que a melhor forma de descrever é chamar de ‘fuga’ devido aos fatos que a precederam.
Após D. Maria ser considerada incapaz de governar, D. João assumiu o reinado em 1792 o poder régio em caráter provisório, sendo chamado assim de Príncipe Regente, o que fazia ele ser um rei sem coroa. D. João não havia recebido educação ou sido preparado para assumir o trono do país, isto devido a morte de seu irmão mais velho, D. José, que havia falecido devido a varíola em 1788, com 27 anos.
João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança, conhecido pela história como D. João IV (que viria a assumir este nome após a morte de sua mãe em 1716 e sua coroação em 1718). Ele não possuía atributos de um líder, segundo alguns relatos, D. João era baixo, gordo, feio, tímido, medroso e indeciso, quase todos os historiadores o descrevem como desleixado na sua higiene pessoal, apesar de todas estas características era considerado muito bondoso e muito religioso.
Seu cônjuge era Carlota Joaquina de Bourbon, com quem ele teve nove filhos, eles se casaram por procuração quando ainda eram crianças, ela tinha dez anos e ele dezessete. Seu casamento só foi consumado seis anos mais tarde, porém eles não possuíam um casamento bem sucedido, viviam em palácios separados devido a tentativa de golpe feito por ela contra D. João. Seus atributos eram retratados como sendo uma mulher feia, maquiavélica, infeliz, inteligente briguenta e criativa e uma esposa infiel (não comprovado). Conforme Gomes, “inegável foi a sua vocação para o poder e a ambição desmedida, que a levaram a participar de inúmeras conspirações e tentativas de golpes, algumas contra o próprio marido. Todas fracassaram. ” (GOMES, 2007, p. 161)
D. João, medroso e indeciso se via entre um grave impasse político da França com a Inglaterra, se por um lado havia sua aliada história a quem devia favores, do outro havia Napoleão, militar prodígio que depois de travar inúmeras batalhas contra os mais poderosos exércitos da Europa sem conhecer nenhuma derrota se autodeclarou aos 35 anos o imperador da França e se tornou o pior pesadelo dos monarcas europeus, e fazia pressão para que o governo português aderisse ao bloqueio continental imposto contra os ingleses. Por muito tempo D. João foi pressionado a tomar uma decisão, porém, se manteve neutro enquanto pode, até que em 1807 Napoleão deu o ultimato a Portugal, e diante da ameaça de represaria inglesa como já havia acontecido à Dinamarca, D. João decide pela estratégia britânica de fugir para o Brasil com a escolta da mesma.
No dia 29 de novembro de 1807 depois de alguns imprevistos e sobre e desespero da população portuguesa a corte embarca rumo a sua maior colônia. A viagem foi marcada pela precariedade, falta de conforto, escassez de alimentos saudáveis e água presentes nas naus portuguesas. Durante o percurso, devido a motivos ainda pouco esclarecido D. João resolve após uma tempestade que separou o grupo mudar a rota de parte da esquadra, fazendo um escala em Salvador antes de seguir para o Rio de Janeiro. Alguns indícios levam a crer que essa decisão foi tomada a partir de uma estratégia política, já que a província baiana tinha uma grande importância para as finanças do império e tinha sua população ressentida e com ameaças de revolta por ter deixado de ser a capital da colônia.
Depois de 54 dias parte do comboio, entre eles as naus que traziam o príncipe regente, Carlota Joaquina e a Rainha Maria I aportaram na Baía de Todos os Santos onde só desembarcaram no dia posterior a sua chegada. Essa escala em Salvador durou cinco semanas, nesse período foram tomadas a maior parte, e talvez as principais decisões do D. João como abertura dos portos para comércio internacional favorecendo principalmente a Inglaterra que sofria com o bloqueio continental na Europa.
Em 7 março de 1808 finalmente a esquadra de D. João e da família real portuguesa chega a Baía de Guanabara com um grande festejo que incluíam cerimonias religiosas e civis, danças e diversões populares. Nos primeiros dias D. João, Carlota Joaquina e seus filhos ficaram hospedados no Paço Real por tempo temporário e depois o príncipe foi morar em um palácio no atual bairro de São Cristóvão, e sua mulher e seus filhos se instalaram em uma chácara na praia de Botafogo, enquanto a Rainha ficou no convento dos carmelitas. A acomodação do restante da corte foi motivo de um grande problema no Rio de janeiro, pois a cidade era relativamente pequena e não havia espaço para todos, com isso as casas eram requisitadas para o uso da nobreza o que se tornou um estorvo para a população já existente já que muitos tiveram que ceder suas casas em situações muitas vezes desfavoráveis.
A colônia, agora sede da coroa, tinha como característica de uma população analfabeta, pobre e carente de tudo, não havia hábitos de etiqueta mas destacava-se os cuidados com a higiene pessoal. Boa parte da população era composta por mulatos e negros. Com a chegada da corte várias eles queriam transformar o Brasil, D. João tinha planos ambiciosos para fazer do Brasil um sonhado império americano de Portugal, implantando novidades que teriam grande impacto do futuro do país, além da abertura dos portos teve a concessão de liberdade do comercio e indústria manufatureira no Brasil outras modificação ocorreram entre elas abertura das estradas que ajudou a romper o isolamento que existia entre as províncias. E também foi introduzido no Brasil ensino leigo e superior.
No Rio de Janeiro no mercado de Vangolo havia o maior mercado escravista das Américas, eram trazidos da África cerca de 22 000 escravos, que permaneciam em quarentena para serem tratados e quando adquiriam uma aparência boa eram comercializados. No sec. XVI e XIX, cerca 10 milhões de escravos africanos foram vendidos para as Américas, apesar de muito lucrativo tratava-se de negócio que envolvia risco. Os escravos viviam no campo ou a cidade, na cidade os escravos também eram usados para aluguel, seus senhores alugavam seus serviços, e alguns senhores dividiam a parte do dinheiro recebido com os escravos, e o maior problema relatado na época era a fuga dos escravos que ao serem aprendidos sofriam duras penalidades.
No ano 1817, o comerciante chamado Antônio Gonçalves da Cruz conhecido como o Cabugá que morava no estado do Pernambuco estava tramando uma conspiração contra a corte portuguesa tinha três missões a serem compridas, uma delas era captura Napoleão Bonaparte que tinha sido aprisionado na Inglaterra após a sua derrota na Batalha de Warteloo. Todas as missões fracassaram, porém elas foram o primeiro indício do processo de independência.
Com a chegada da corte no Brasil, Portugal ficou literalmente jogado as minguas, os português passaram fome, alguns fugiram do país, e do ano 1807 a 1814, Portugal perdeu meio milhão de habitantes. Com a chegada de Napoleão a Portugal ele se sentiu enganado e impôs duras penalidades a cidade. Com a ajuda dos franceses e portugueses a colônia britânica conseguiu furar o bloqueio continental imposto por Napoleão, com o país novamente livre espera a corte retorna a Portugal, entretanto não era essa vontade de D. João.
As semanas que anteciparam a volta do rei foram agitadas, já havia chegado no Brasil a notícia de que Portugal já estava livre, o que causou uma insegurança por parte dos brasileiros e dos portugueses que moravam no pais e no dia 26 de fevereiro de 1821, na atual praça de Tiradentes um aglomerados de pessoas exigiu a presença do rei para assinar a constituição que lhe tirava parte de seus poderes, D. João aceitou assinar a constituição, porém líderes mais radicais queria que o rei cedesse mais, e no dia 21 de abril aniversario do enforcamento de Tiradentes houve uma manifestação popular que terminou em tragédia. E no dia 26 de abril, cinco dia após a manifestação, contra a sua vontade D. João VI foi embora do Brasil, com a sua comitiva de 4000 portugueses, e no dia 3 de julho chegou a Lisboa após 68 dias de viagem, agora ele era refém da nova corte portuguesa que lhe impôs várias condições.
Em nenhum outro período da história foi tão importante para o Brasil, no período de 13 anos acorreram mudanças profundas e no lugar de uma colônia atrasado o Brasil se tornou um país independente.
REFERÊNCIAS
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 3. ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2009. 366p.