SILÊNCIO PÉTREO
Por rafael freitas reis | 20/08/2010 | CrônicasSILÊNCIO PÉTREO
Esse é um estigma próprio daqueles fieis que se entregam ao excesso de orações e contemplações das personalidades que oficiam os ritos religiosos. Essa postura adquirida é um interregno entre o pensamento mágico, religioso, simbólico e a suposta fé adquirida por permanência e contato.
Recentemente escrevi uma crônica intitulada "Matriz", que foi publicada em uma edição de jornal local. Nele, e por pura verve, dou conta do formato do nariz de um fiel que exerce uma função de ministro na casa.
Amigos me afiançaram que algumas senhoras que freqüentam a igreja, alisam excessivamente os bancos, paparicam os coordenadores e ao lerem o texto do dia, ameaçam invocar tufões e tempestade dos céus e terra. Sapateiam e pulam como uma farândola de diabretes.
Essas cristãs desatentas costumam vestir a roupagem da síndrome da imagem projetada. Projetam-se em algum herói próximo, notadamente os que exercem funções de mando. Diz Edward Soul: "acalantam uma imagem secreta de si mesmo como o outro".
Nós, oriundos de pequenas cidades campesinas, nos integramos nos personagens de "Dom Camilo e o Seu Pequeno Mundo", como sejamos, predominantemente boçais e subjetivos.
Sendo a alma plástica e suscetível à força do próprio pensamento atávico, quando a alma seletiva é ferida busca a razão usando o ódio como moto.
A fé, sem o exercício do amor em sua forma incondicional, não é fé, é enganação do ego cambaleante.
Dentre as fieis que reagiram de forma agressiva e nada cristã, à leitura do texto diário, está uma "cabeceira da fé", ou seja, uma crente atávica. Ela é a primeira que chega bem cedo à porta ainda fechada do templo, portando e dedilhando o seu terço.
Conseqüentemente, é a última que sai, com o mesmo terço à altura do coração, abrindo caminho entre supostos infiéis, exibindo, de maneira inútil, a sua religiosidade excessiva em local público.
É puro exercício de "guerra santa", pois a autêntica verdade religiosa quase sempre é buscada de forma subjetiva e apenas seletiva! Daí o risco do praticante se tornar um receptor de razão/ódio.
Quem passa a vida buscando somente aplausos, fatalmente encontrará críticas negativas, pois a alma, na reflexão platônica, apresenta-se como instrumento de tragédias e comédias.
E, sendo bipolar, é, tão somente, um feliz instrumento para se fazer cumprir a Vontade Divina.